Porque têm sido muitos os amigos que me têm manifestado o desejo de conhecerem esta história, a única publicada em livro até agora, e esgotada, e de momento não ter hipótese de fazer uma nova edição, eis aqui a ROSA
Obra licenciada pelo IGAC nº 1283 e publicada em livro
(esgotado)
Olhou-se uma vez mais no velho espelho do desconjuntado armário. Não se reconhecia naquela estranha de grandes olhos negros que a olhavam com um misto de pena e desespero, na imagem que o espelho lhe devolvia. Sentia-se cansada e sem vontade de nada. Era como se dentro daquele corpo não habitasse ninguém. E se habitava não era ela. Ela ficara lá longe, na sua aldeia, muitos anos atrás. Quem sabe, andava lá pelo monte da Landeira, pastoreando as ovelhas.
Como era feliz nessa altura! Por que é que estamos sempre desejando mais do que aquilo que temos e lastimando a nossa infelicidade, para depois chegarmos à conclusão que aquela era afinal a felicidade?
Ela fora uma miúda normal numa aldeia do interior, maioritariamente povoada por gente pobre. Tivera uma infância exatamente igual à das outras meninas na aldeia. Só com a diferença que nunca conheceu o pai. Mas nem nisso era muito original, já que havia na aldeia, mais duas ou três meninas que ela pensava que eram suas irmãs, porque eram filhas do mesmo pai. Sim porque ela sabia que o seu pai se chamava “pai incógnito” e o pai dessas meninas também se chamava assim. Um dia, a avó explicou-lhe que “pai incógnito” significava que ninguém sabia quem era o seu pai. Não era nome de gente. Rosa ficou espantada. Como era possível? Não sabiam quem era o pai? Não era da aldeia? Então e as outras meninas? Também não sabiam quem era o pai? Então se calhar eram mesmo irmãs. Que não, tornou a avó. Eram filhas de outro pai. Ela não percebia. Então se não sabiam quem era como é que sabiam que não era o mesmo? Mais tarde, quando fora para a escola, atreveu-se a perguntar à professora e esta fizera-lhe entender o mistério. Ela gostava da escola. Como gostava! Os livros contavam cada história! Infelizmente, quando tinha oito anos, a mãe morreu e ela ficou sozinha com a velha avó. A vida que lá em casa já não era fácil, piorou drasticamente. Teve que deixar a escola.
Continua amanhã