Informo todos os que gostam de me ler, que o lançamento do meu livro se fará dia 18 de Fevereiro.
Alguns já possuem o livro, mas se quiserem estar presentes, terei muito gosto em recebê-los.
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31.1.16
LANÇAMENTO DO MEU LIVRO
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lançamento do meu livro
26.1.16
AMANHECER TARDIO XLII
Eram quase nove e meia, quando a campainha da porta tocou. Pensando ser a porteira, Isabel abriu e deparou com Luís. Tentou fechar a porta mas o homem apressou-se a
colocar o pé entre esta e o batente impedindo-o.
- Desculpa Isabel mas vou entrar.
Preciso falar contigo. Depois de me escutares, se entenderes que devo sair,
prometo que o faço.
Ela não respondeu. Estava
espantada. Como é que ele sabia a sua morada? E se ela não lhe abriu a porta da
rua como é que a porteira o deixou subir sem ao menos avisá-la? Ele entrou e
fechou a porta atrás de si.
- Vem. Já vais entender tudo, -
disse como se tivesse lido os seus pensamentos.
Tremente Isabel dirigiu-se à sala
seguida por ele.
- Senta-te Isabel. A
conversa vai ser longa. Mas antes, deixa que te dê o livro que deixaste lá esta
tarde. Tem uma dedicatória especial.
Estendeu-lhe o livro, que ela
pousou sobre a mesinha. Estava pálida e os olhos apresentavam sinais evidentes
de choro.
- Lê Isabel. A conversa vai ser
mais fácil depois.
Ela abriu o livro e leu:
“Para a mulher da minha vida. Luís” E logo por baixo “Com muito amor. Nuno Luís Teixeira Fraga”
Olhou-o espantada.
- Esse é o meu nome completo.
Quando eu era menino, e porque o meu pai se chama Nuno, toda a família me chamava
de Luís. Usei esse nome até aos dezanove anos. Depois…
E então, Luís falou de Odete, da
sua traição e de como esse facto influenciara a sua vida, e a sua relação com as mulheres, daí para a frente. Falou
da sua vida de aventureiro, dos muitos anos vividos no estrangeiro, da sua auto
caravana, do trabalho de jornalista independente até há bem pouco tempo, do
êxito do primeiro livro, "Amanhecer tardio", da decisão de se dedicar só à sua carreira de
escritor, do desejo dos pais em vê-lo de volta ao País.
Isabel quase não se atrevia a respirar.
Percebia que o homem estava desnudando a sua alma para ela, e isso era tão
grandioso, tão emocionante, que todas as suas dúvidas se dissiparam.
- Quando cheguei, e antes de
iniciar a minha nova vida, decidi ir uns dias de férias. Nem sei porque escolhi
Lagos, - continuou Luís. Naquele dia, o meu último dia de férias, por causa do nevoeiro não me apetecia
ir à praia, mas sentia-me atraído para lá como se alguma coisa me empurrasse.
Quando me cruzei contigo fiquei intrigado. Mas quando tropeçaste e te segurei
nos braços, não sei o que me aconteceu, que nunca mais deixei de pensar em ti.
Depois, começaram a acontecer muitas coisas estranhas. Passei a encontrar-te em
diversas ocasiões. Por vezes nem sequer me vias, mas eu sim. Quando naquele dia
chocámos na esquina da rua, e te disse que me chamava Luís, o meu
subconsciente já tinha entendido aquilo que eu só entendi bem mais tarde.
Porque hoje, eu sou Nuno para toda a gente, excepto para duas pessoas a quem
muito amo. Meus pais, para quem continuo a ser o Luís.
As lágrimas rolavam silenciosas
pelas faces de Isabel.
- Na altura nem me apercebi
disso, mas hoje vejo que nesse momento, já estava a dar-te um lugar muito
especial na minha vida. Ontem, quando saí do metro, vi-te entrar neste prédio.
Espantado, bati à porta da porteira. Acreditas que eu moro no 6º C deste mesmo
prédio?
- Não é possível!
- É. E nem imaginas, a minha luta
ontem, para não descer e vir ter contigo. Mas eu tinha um plano e queria
cumpri-lo. Tinhas aceitado ir almoçar comigo no Domingo. Sabes onde ia levar-te? A casa dos meus pais. E lá, com eles por testemunha, ia pedir-te para
partilhares a minha vida, oferecendo-te em troca o meu amor.
Levantou-se.
-Só não esperava que aparecesses no hotel e estragasses a surpresa!
-Só não esperava que aparecesses no hotel e estragasses a surpresa!
- Oh! Luís, e eu que pensei tão
mal de ti. Sentia-me enganada. Perdoa-me.
Ele estendeu-lhe a mão e puxou-a
para si. Apertou-a de encontro ao peito, segurou-lhe o queixo, e com a urgência
de quem se buscou por toda a eternidade aprisionou a sua boca num longo e apaixonado beijo.
FIM
Elvira Carvalho
Elvira Carvalho
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25.1.16
AMANHECER TARDIO XLI
foto do google
- Que aconteceu Isabel? – Perguntou-lhe a
amiga. Estás a tremer.
- O Luís, - murmurou
- O Luís? – Admirou-se a amiga - Mas o que é que tem
o Luís?
- É ele.
- Ele quem, mulher? O escritor?
Acenou com a cabeça, os olhos marejados de
lágrimas.
Virando-se para o companheiro Amélia disse:
- Afonso por favor volta para lá. Nós vamos
tomar qualquer coisa ali na pastelaria em frente e já lá vamos ter.
- Não se preocupem. Eu vou. Afinal de contas
ainda não tenho o autógrafo do autor.
Quando ficaram sós, Amélia disse.
- Não fiques assim. Deve haver uma
explicação.
- Claro que há. Servi de cobaia ao escritor
da moda. Quem sabe até devia sentir-me honrada, - disse com amargura.
- Como tu sofres Isabel. Sabia que
estavas apaixonada, mas não pensei que fosse um sentimento tão intenso.
-Como é que eu ia adivinhar? Se nunca tinha
visto nenhuma fotografia dele? E depois parecia tão sincero, era tão
convincente, que pelas suas palavras fui alimentando sonhos e sentimentos. Só
mentiras. Estou destroçada. Por favor Amélia, leva-me a casa. Quero ficar
sozinha.
- Claro. Vou ligar ao Afonso. Levo-te a casa
e volto depois. Quero ver melhor esse homem.
Mas quando meia hora depois
voltou, Afonso já se encontrava cá fora com o livro autografado, e não teve
ensejo de rever o escritor.
AMANHECER TARDIO - PARTE XL
Na Sexta-feira ao fim da tarde, Luís, teve uma enorme surpresa. Ao sair do metro viu Isabel entrar no prédio onde ele morava. Ficou perplexo. O que é que ela ia fazer ali? De repente lembrou do encontro ali mesmo ao voltar a esquina. Será que estavam a morar no mesmo prédio? Não podia ser. Era absurdo demais.
Entrou no edifício e tocou a campainha da porteira.
- Boa noite D. Rosa. Preciso da sua ajuda. Disseram-me hoje, que uma amiga minha morava neste mesmo prédio. Uma senhora de nome Isabel Mendes. Será verdade?
- Boa noite, senhor Nuno. Mora uma menina no 2º D com esse nome, sim. Quer que lhe dê algum recado?
- Não, por favor. Nem lhe diga que perguntei por ela. Um dia destes faço-lhe uma surpresa. Muito obrigado
Entrou no elevador. Sentiu uma vontade louca, de sair no segundo e bater-lhe à porta. Mas conteve-se e seguiu para o seu andar. Precisava pôr as ideias em ordem.
Que coisa. Como é que ele tinha ido morar precisamente para aquele prédio?
Era um absurdo . Até mesmo para ele, que era escritor. Nunca se lembraria de escrever uma história assim. Não era credível. Aquilo não podia ser coincidência. Alguém lá em cima os queria juntos. Devia ser por isso, que ele se impressionara tanto com ela, naquela manhã de nevoeiro. Nunca acreditara em histórias de amor à primeira vista. Sempre pensara que isso era fruto da imaginação delirante de certos romancistas. E ele até estava vacinado contra as flechas do pequeno Cupido, desde a traição de Odete. Mas então que sentimento era aquele que o envolveu quando a segurou tremente em seus braços? Que aos poucos, foi minando todas as suas convicções e defesas em relação às mulheres? E que cada dia se tornava mais forte ao ponto de desejar passar o resto da vida a seu lado? Estava decidido. No dia seguinte seria o lançamento do seu livro e no Domingo levá-la-ia a casa dos pais. E depois… bem depois, iriam viver uma grande história de amor. Não era isso que o destino lhes andava a preparar?
Era um absurdo . Até mesmo para ele, que era escritor. Nunca se lembraria de escrever uma história assim. Não era credível. Aquilo não podia ser coincidência. Alguém lá em cima os queria juntos. Devia ser por isso, que ele se impressionara tanto com ela, naquela manhã de nevoeiro. Nunca acreditara em histórias de amor à primeira vista. Sempre pensara que isso era fruto da imaginação delirante de certos romancistas. E ele até estava vacinado contra as flechas do pequeno Cupido, desde a traição de Odete. Mas então que sentimento era aquele que o envolveu quando a segurou tremente em seus braços? Que aos poucos, foi minando todas as suas convicções e defesas em relação às mulheres? E que cada dia se tornava mais forte ao ponto de desejar passar o resto da vida a seu lado? Estava decidido. No dia seguinte seria o lançamento do seu livro e no Domingo levá-la-ia a casa dos pais. E depois… bem depois, iriam viver uma grande história de amor. Não era isso que o destino lhes andava a preparar?
Pensar que ela estava ali, à distância de quatro andares, desconcentrava-o Nessa noite não conseguiu acrescentar uma só linha à novela, mas o telefonema foi mais íntimo que nunca. Tão intimo, que os dois jurariam ter ouvido a tal palavra mágica. Fora ele que a pronunciara? Fora ela? Que importava isso, se era igualmente sentida pelos dois?
24.1.16
AMANHECER TARDIO - PARTE XXXIX
foto do google
Quando acabou Amélia disse:
-Mas que progresso Isabel. Nem dá
para acreditar. Mas... como sabia ele o teu nome? Donde é que te conhecia?
- Ah! Desculpa, esqueci de te
contar. Pouco antes de ir à Alemanha encontrei-o aqui mesmo no quarteirão.
Melhor dizendo esbarrámos um no outro e apresenta-mo-nos. Com o convite do Hans
e a viagem não cheguei a contar-te. O que é que achas?
- O que eu acho é que estás
perdidinha por ele. Já é tempo de enterrares o
passado e seres feliz. Fico tão contente por ti.
- E se ele não se interessa por
mim?
- Ó mulher não sejas tonta. Então
se não estivesse interessado tinha forçado o jantar de ontem?
- Sim, mas eu não quero ser uma
aventura na vida de ninguém.
- Isso, Isabel, só depende de ti.
Até pode ser que seja essa a intenção dele. Cabe-te a ti, fazê-lo mudar de
ideias. Não percebo a tua insegurança. És uma mulher muito bonita, inteligente,
culta, com uma excelente carreira profissional. O que é que um homem pode
querer mais?
Esta conversa animou Isabel, e no
resto do dia, o trabalho progrediu e não se falou mais no assunto.
Nessa mesma noite às nove e meia Luís telefonou. Perguntou onde estava, como estava, como tinha sido o seu
dia, enfim nada de especial.
No dia seguinte à mesma hora
voltou a ligar, mas desta vez disse-lhe que tinha saudades dela. E foi ligando todos os dias, e a cada dia os telefonemas eram mais íntimos.
Na quinta-feira convidou-a para almoçar com ele no próximo Domingo. Nunca falavam de amor. No entanto os dois sabiam que ele estava presente em cada frase, em cada sussurro. Mas a palavra mágica, aquela que todos os amantes sonham ouvir, que se sussurra no ouvido de um, e é mais adivinhada que ouvida pelo outro, essa, nenhum dos dois ainda a pronunciara.
Mal anoitecia, Isabel aguardava com ansiedade o telefonema.
Na quinta-feira convidou-a para almoçar com ele no próximo Domingo. Nunca falavam de amor. No entanto os dois sabiam que ele estava presente em cada frase, em cada sussurro. Mas a palavra mágica, aquela que todos os amantes sonham ouvir, que se sussurra no ouvido de um, e é mais adivinhada que ouvida pelo outro, essa, nenhum dos dois ainda a pronunciara.
Mal anoitecia, Isabel aguardava com ansiedade o telefonema.
Entretanto Luís, procurou os
pais, e desabafou com eles. Falou-lhes de Isabel, de como se tinham conhecido,
da inquietação que ela lhe causava, e das vezes que se surpreendia a pensar
nela.
Quando acabou o pai disse:
- Se fosse no meu tempo, eu diria que encontraste a tua meia laranja.
E a mãe acrescentou:
-Até que enfim, filho. Essa rapariga deve ser
uma santa, para fazer o milagre de te reconciliar com a vida e o amor. Gostaríamos muito
de conhecê-la.
Luís, prometeu que iriam lá
almoçar no Domingo.
23.1.16
AMANHECER TARDIO XXXVIII
foto do google
- Vamos tratar-nos por tu? Parece estranho continuar com o você…
- Que até já nem se usa, - disse ela rindo.
- Agora tenho que ir, - disse Isabel algum tempo depois do jantar.
- Não me ofereço para te levar, porque não tenho carro. Como já te disse estou na cidade há pouco tempo e ainda não comprei.
- Eu estou com carro. Queres que te deixe nalgum lado?
- Não. Vou caminhar um pouco. Dás o teu número de telefone?
Ela abriu a mala e tirou um cartão, da firma.
Ela abriu a mala e tirou um cartão, da firma.
- Fax e telefone são da firma, mas o telemóvel é o meu número.
-Não tenho comigo nenhum cartão, - disse ele. Tens onde escrever?
Ela retirou uma pequena agenda da mala, e anotou o número que ele lhe ditou.
- Agora tenho mesmo de ir, - disse estendendo-lhe a mão.
Ele segurou-a, e olhos nos olhos, puxou-a para si. Abraçou-a.
Isabel sentiu as pernas a tremer. Tanto que receou não se segurar de pé.
Sentindo o beijo eminente,baixou a cabeça, fazendo com que os lábios masculinos apenas roçassem a sua testa, enquanto o seu intimo se revoltava, amaldiçoando-a pela falta de coragem.
-Não tenho comigo nenhum cartão, - disse ele. Tens onde escrever?
Ela retirou uma pequena agenda da mala, e anotou o número que ele lhe ditou.
- Agora tenho mesmo de ir, - disse estendendo-lhe a mão.
Ele segurou-a, e olhos nos olhos, puxou-a para si. Abraçou-a.
Isabel sentiu as pernas a tremer. Tanto que receou não se segurar de pé.
Sentindo o beijo eminente,baixou a cabeça, fazendo com que os lábios masculinos apenas roçassem a sua testa, enquanto o seu intimo se revoltava, amaldiçoando-a pela falta de coragem.
O homem sentiu-lhe o corpo tremente. Percebeu-lhe a emoção. Se fosse mais jovem, teria -lhe-ia levantado o queixo e forçado o beijo. Mas Luís tinha quarenta e cinco anos, e nessa idade, um homem já não se preocupa tanto com a satisfação imediata dos seus desejos. Preocupa-se mais com as emoções da alma. Ele sabe que o resto vem por acréscimo. Soltou-a.
Ela entrou rápida no carro e arrancou. Ele ficou ali largos minutos fazendo dançar o cartão entre os dedos. Depois iniciou o caminho de regresso à sua nova casa pensando completamente desconcertado.
"Que raio de sentimento é este que me inibe, e ao mesmo tempo me deixa ansioso como um adolescente?"
Em casa Isabel revivia os acontecimentos dessa noite e chegava à conclusão que tinha falado imenso de si, da sua vida pessoal e profissional, enquanto Luís se limitara a ouvir e pouco falara sobre ele.
De uma coisa ela tinha a certeza. Estava irremediavelmente apaixonada por aquele homem. Como nunca estivera em toda a sua vida. Já não era uma menina. A vida é como brisa de verão em fim de tarde. Passa rápida e poucos dão por ela. Um dia destes acordava e a brisa tinha virado vento de inverno, derrubando-a como folha morta. Estava decidida. Se houvesse uma hipótese de ganhar o amor de Luís, ela lutaria por ele.
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22.1.16
AMANHECER TARDIO - PARTE XXXVII
Perturbada, Isabel levou alguns segundos para reagir. Algo dentro dela lhe dizia que não podia, nem devia fugir.
- Boa tarde Luís. Não esperava encontrá-lo
aqui.
“Caramba não te ocorre nada mais original?”-
pensou sem saber se devia ou não estender-lhe a mão.
Ele sorriu. Um sorriso que iluminava o seu
rosto dando-lhe um ar mais jovial.
- Com os encontros que a vida nos tem
proporcionado, eu já não me admiro se a encontrar à mesa do pequeno-almoço.
A alusão era inconveniente, pensou Isabel
corando.
- Desculpe Luís, preciso comprar umas coisas
para o jantar. Outro dia falamos, -disse tentando sair dali o mais depressa
possível.
- Não precisa, - disse rápido. Vai jantar
comigo. E não me diga que não, será um jantar de amigos, aqui mesmo num destes
restaurantes.
- Não pode ser. Mal nos conhecemos…
- Então? Mais uma razão. Vamos conhecer-nos
agora.
Baixou a cabeça e murmurou quase ao seu
ouvido.
- Não tenha medo. Não sou nenhum lobo mau. E
depois estamos num lugar público, cheio de gente.
Hesitou. No fundo Isabel desejava
aceitar. Mas por outro lado aquele homem mexia demasiado com ela, e isso
dava-lhe medo.
Luís era um homem experiente. Por isso não lhe passou ao lado, a hesitação de Isabel. Suavemente pousou a sua mão no ombro dela.
- Venha. Prometo que a deixo seguir em paz, mal termine o jantar.
Sentir o calor da mão masculina na sua pele
quase fazia Isabel perder o controlo. Afastou-se rapidamente.
- Sendo assim vamos lá jantar.
Ele colocou-se a seu lado mas não voltou a
tocar-lhe. Percebera perfeitamente a reacção dela e de novo se mostrava
perplexo.
Porque é que aquela mulher era tão diferente
de todas as que conhecera até ali? Lembrou-se de uma conversa que tivera com a
mãe, nos tempos em que ela tentava a todo o custo, convencê-lo de que devia casar. A mãe dizia-lhe, que ele não podia tratar todas as mulheres
da mesma maneira.
Havia milhares de mulheres abnegadas e amorosas, incapazes de qualquer espécie de traição. Claro que ele soltara uma gargalhada de incredulidade.
Havia milhares de mulheres abnegadas e amorosas, incapazes de qualquer espécie de traição. Claro que ele soltara uma gargalhada de incredulidade.
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21.1.16
AMANHECER TARDIO - PARTE XXXVI
Aquelas duas semanas, tinham sido muito intensas para Luís, dividido entre o trabalho temporário que estava fazendo, a preparação do seu novo livro, cujo lançamento seria já no fim do mês, e o acompanhamento sempre que possível do trabalho de decoração da sua nova casa. O trabalho, no centro comercial, nada tinha a ver com jornalismo, mas Luís precisava dele para estudar as rotinas das pessoas que trabalhavam no local, já que algumas das personagens da novela que estava a escrever, viveriam grande parte da trama num sítio assim. De qualquer modo, o patrão, um empresário amigo do seu pai, sabia que ele só estaria ali um, ou no máximo dois meses, e não foi por favor que acedeu, antes pelo contrário, pois a transferência do seu homem de confiança tinha-o apanhado desprevenido e sem tempo para preparar de forma conveniente um substituto. Assim, sempre dispunha de algum tempo para encontrar um bom director. Chegava à noite cansado e sem vontade de fazer outra coisa que fosse tomar um bom banho e dormir. Escusado será dizer que a promessa de telefonar à mãe e ir jantar com os pais, foi completamente esquecida.
Porém e apesar de tudo, não raras
vezes se surpreendia a pensar em Isabel. Por onde andaria ela? Onde viveria, o
que faria? Tentava afastar estes pensamentos, mas eles permaneciam lá como erva
daninha sempre pronta a estender as suas raízes.
Naquele dia tinha acabado de
preparar com o editor, o lançamento do seu segundo livro, o fim do mês era já na próxima semana. A sua vontade era continuar incógnito, mas segundo o
editor, seria um erro. Os leitores acharam muito interessante um primeiro livro de um autor que queria permanecer incógnito. Mas um segundo nas mesmas condições, podia parecer que se tratava de snobismo, e
desprezo por eles, leitores.. E isso podia ditar o fracasso do livro. Outra boa notícia
desse dia foi a chegada do director comercial para o lugar que ele ocupara naqueles quase dois meses. Claro que ele continuaria por lá mas agora rescindido o contrato, só
algumas horas por dia, porque a novela teria que estar pronta no fim de
Novembro para estrear em Março.
Escrever uma novela é muito diferente de escrever um livro. Ele escrevia o livro, e apresentava-ao editor para a publicação.
A novela teria que ser aprovada pela direcção de programas, depois, haveria a escolha do
elenco, o que resultava de imensos castings. A escolha do roupeiro e adereços,
que compõem cada personagem, os cenários, enfim um mundo de coisas antes de
começarem as gravações. Mais tarde a campanha de lançamento e só depois a
estreia. Ou seja antes do primeiro episódio ir para o ar eram meses e meses de trabalho
intenso. E depois o trabalho continuava, pois depois da novela ir para o ar, eram as audiências que comandavam. Se o sucesso fosse grande, teria que esticar ao máximo a trama, e os duzentos episódios, poderiam ir até aos trezentos. Se fosse um fracasso, teria que reescrever grande parte da trama, matar alguns personagens, introduzir novos personagens etc.
Na verdade, ele não pretendia dedicar-se a esse tipo de escrita, aceitara fazer aquela, como se fosse um desafio.
Na verdade, ele não pretendia dedicar-se a esse tipo de escrita, aceitara fazer aquela, como se fosse um desafio.
Por tudo isso e porque acabara de
se mudar para o seu apartamento, finalmente pronto, Luís sentia-se um homem
realizado.
Aprestava-se para regressar a
casa, quando a viu entrar no centro. Ou o destino lhe estava a dar uma ajuda,
ou estava a brincar com ele. Reparou que ela não o tinha visto.
- Boa tarde Isabel, – saudou, pondo-se a seu lado.
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AMANHECER TARDIO - PARTE XXXV
Os quatro dias que Isabel passou
em Munique, foram de autêntica loucura.
Foi recebida no aeroporto por
Hans, que a transportou para sua casa onde Anne os esperava para jantar.
Contrariamente ao que o telefonema de Hans fizera supor, a mulher estava no
quarto mês de gravidez e quase não se notava ainda a barriga. De resto estavam
muito felizes e notava-se-lhes um brilho diferente no olhar.
- Mas como foi isso de casarem
assim de repente? – Perguntou Isabel enquanto jantavam
- Não foi assim tão de repente –
disse Hans. Na verdade desde o princípio do ano que tínhamos programado o
casamento para este ano. A gravidez só veio alterar um pouco a data, já que
pensámos no fim do ano como data, mas Anne diz que nessa altura já estará com
um grande barrigão e não terá graça nenhuma.
- Nós, mulheres, -explicou Anne - sonhamos com o
casamento, desde que ainda meninas, começamos a perceber o que se passa à nossa volta. Depois quando acontece, é algo que vamos recordar toda
a vida. No fim do ano estarei com 8 meses, uma barriga enorme, provavelmente
com dificuldade em calçar uns sapatos decentes, por causa dos pés inchados.
Decerto ia sentir-me cansada, com dores nas pernas e os rins, sem conseguir dançar, e sem vontade para nada. Não quero um casamento
assim.
Depois, bem depois, o tempo passou
a correr entre a ida ao cabeleireiro, os ensaios da cerimónia, o ajudar a noiva
a vestir-se, a cerimónia, e a festa que se lhe seguiu. Por sorte Isabel
conseguiu passar na véspera do casamento às 17 horas pela Marienplatz uma das
praças mais movimentadas de Munique e pode ver e ouvir Glockenspiel o famoso
carrilhão composto por 43 sinos, e a dança dos bonecos de madeira que ao som musical
vão representando cenas históricas da Alemanha, na torre do Neues Rathaus.
No dia da cerimónia, ao
colocar-se no altar, ao lado do padrinho, Isabel não pôde deixar de sorrir
divertida, ao lembrar as considerações de Amélia sobre o padrinho. É que este, era o avô do noivo, um empertigado octogenário.
Depois da cerimónia, a sessão de
fotos no Jardim Inglês, e por fim a festa onde não faltou muita alegria e
cerveja.
Depois da partida dos noivos para
a lua-de-mel, Isabel recolheu ao hotel extremamente cansada.
No dia seguinte antes de seguir
para o aeroporto, ainda conseguiu visitar a Catedral de Frauenkirche em honra de Nossa
Senhora Bendita. Aí, quando depois da visita, que incluiu uma subida à torre sul,
onde pode apreciar uma maravilhosa vista da cidade, se recolheu em oração,
reconheceu perante Deus, aquilo que nunca tinha deixado ninguém adivinhar.
Nunca seria uma mulher realizada, se não conseguisse ter uma família. Sonhava
encontrar um homem, capaz de retribuir o imenso amor que lhe sufocava o peito, e
sonhava ser mãe. Esse era no momento o seu maior anseio.
20.1.16
AMANHECER TARDIO - PARTE XXXIV
foto do google
-Não queremos que o Peter nasça
antes do casamento.
Isabel ficou maravilhada. Então
eles iam ser pais. Apesar de Hans ter feito o convite quase em cima da hora,
faltavam cinco dias para o casamento, aceitou sem hesitar.
Desligou.
- O Hans vai casar e convidou-me
para madrinha, disse com a alegria duma criança a quem prometem um brinquedo
novo.
Amélia, já tinha ouvido falar
muito deste alemão. Levantou-se e foi até à secretária de Isabel.
-Quer dizer que te vais ausentar
de novo? E para quando é o casório?
- Sábado.
- Este sábado?- Espantou-se
Amélia. Como é possível? Desculpa mas o teu amigo é doido.
Isabel riu.
- Luísa, liga para o aeroporto e
vê se consegues marcar voo para amanhã à tarde ou para Quarta. Amélia, preciso
de ti, esta tarde para me ajudares na compra da “fatiota”
- Retiro o que disse. O teu amigo
não é doido. Vocês são doidos.
Isabel não respondeu. Afinal
aquele convite era como uma bênção divina. Seria maravilhoso rever os amigos e
sobretudo sair à rua sem recear encontrar Luís.
Não sabia ao certo se temia o
homem ou os sentimentos que ele lhe despertava. Mas sabia que temia encontrá-lo
de novo.
Nessa mesma tarde depois de
despachar as coisas mais urgentes saiu com Amélia para escolherem a "toilette" para a cerimónia. Escolheu um vestido longo em crepe cor de vinho, que punha em destaque a beleza do seu colo, e ombros. Sapatos de salto alto em cetim
bordado e uma pequena bolsa a condizer. A empregada da loja disse-lhe que não
era necessário ser tudo a condizer, a moda actual permitia jogar com as cores,
mas Isabel não estava muito convencida disso, e sentia-se mais confortável
assim. Como o clima na Alemanha era diferente, comprou também um bolero em
veludo, cor de marfim para o caso de precisar.
- Se o homem dos olhos cinzentos
te visse assim, nunca mais te largava. E se ele for o padrinho?
Estremeceu
- Não sejas tonta Amélia.
- Eu? Já pensaste nas voltas que
a vida dá e nas coisas estranhas que nos acontecem?
-Não tenho pensado noutra coisa nos últimos tempos.
-Não tenho pensado noutra coisa nos últimos tempos.
Quando dois dias depois se
despediam no aeroporto Amélia disse-lhe.
- Um casamento é sempre uma
óptima ocasião para se arranjar namorado. Oxalá o padrinho seja interessante.
Não pode deixar de rir. E
retorquiu:
- Não estou à procura de
namorado, muito menos vou lá com essa intenção. Vou porque adoro aqueles dois e
estou muito feliz por eles.
- Era bem melhor que
estivesses feliz por ti,- resmungou Amélia.
19.1.16
AMANHECER TARDIO - PARTE XXXIII
O telemóvel tocou. Isabel pousou o livro e atendeu. Era Amélia a reforçar o convite para irem ao tal bar. Isabel voltou a descartar qualquer hipótese de sair. Desligou e olhou para o relógio. Dez e vinte, era muito cedo para se deitar, mas a chamada fizera-a perder o interesse pela leitura. Que fazer? Olhou o portátil na mesinha de bambu e vidro junto ao sofá. Mas não lhe tocou. Na verdade navegava tanto por questões de trabalho que em casa muito raramente o abria. Aconchegou o robe ao corpo seminu e estendeu-se no sofá. Fechou os olhos e reviveu a cena dessa tarde. Quem seria aquele homem? Luís. Ele dissera que se chamava Luís. Bom pelo menos a partir de agora o desconhecido tinha nome. Mas isso mudava alguma coisa? Lembrou-se da mãe. Ela sempre dizia que cada um nasce com o seu destino traçado. Costumava dizer que não há coincidências. As coisas acontecem, para seguir a ordem natural, dos caminhos do destino de cada um. Ela não acreditava muito no destino. Sempre acreditou que o destino, é obra do que cada um faz na vida. Agora já não tinha tanta certeza disso. Ela não fizera nada para trazer para a sua vida aquele homem, nem os estranhos desejos que a assaltavam desde que o conhecera.
Será que a mãe tinha razão? Que
ele estivera sempre no seu destino, à espera da hora certa para aparecer? E se
assim era, que papel ia interpretar no teatro da sua vida? Seria um grande
papel, ou era uma figuração apenas? De súbito deu-se conta de algo muito
estranho. Ultimamente quase não se recordava de Fernando. E quando o recordava
tinha dificuldade em lembrar as suas feições. Que estranho poder tinha aquele
homem para invadir assim a sua vida e a sua mente, e esvaziar a gaveta das
memórias que ela guardou com esmerado cuidado durante quase 20 anos?
Isabel jamais acreditaria que situações assim
acontecessem na vida real. E porque haviam de lhe acontecer logo a ela? Que já
tinha desistido de ter uma família e estruturara toda a sua vida, sobre
recordações? E agora que fazer? Esperar que o destino ou lá o que era os
juntasse de novo? Tentar esquecer e reconstruir a muralha atrás da qual vivera
todos aqueles anos? E se voltassem a encontrar-se o que ela faria? Tentaria dar
uma hipótese a si mesma com dizia Amélia, ou fugiria de novo? E mais importante
que tudo. Quem lhe dizia que o homem não era comprometido? E ainda que o não
fosse quem lhe dizia que se ia interessar por ela? Um homem como ele devia ser
como uma flor à beira de uma colmeia.
Exausta acabou por adormecer ali
mesmo no sofá.
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18.1.16
AMANHECER TARDIO - PARTE XXXII
No ano anterior, publicara o seu primeiro livro, "Amanhecer Tardio." Talvez por não ter muita confiança no sucesso do livro, ou porque não lhe interessava de momento, disse ao editor que não queria dar-se a conhecer, e por isso não houve fotografias nem no livro, nem nas notas da imprensa. Além disso fizera-se representar, por um advogado, já que na altura se encontrava na Índia.
Apesar disso, o livro foi um grande êxito, já ia na sétima edição, e toda a gente andava meio doida, para saber quem era o escritor mistério.
E tinha já agendado a data de lançamento do segundo livro, para o fim do mês. Pelo meio ficava o projecto de reunir em livro algumas das suas reportagens, como documento histórico. E, no momento encontrava-se às voltas com uma telenovela, que o seu editor lhe fizera chegar, encomenda de um canal de TV.
Esses projectos e a idade avançada dos pais, tinham-no levado à compra de casa em Lisboa, e a pensar que desta vez, talvez ficasse mais tempo do que habitualmente.
Começava a pesar-lhe a solidão. Como agora. Não é que estivesse a pensar em casamento ou constituir família. Não. Não era isso. Ainda não tinha chegado a esse ponto.
O que ele queria, era ter dois ou três amigos com quem sair, beber um copo, trocar ideias. Apenas isso. Era muito jovem quando partira de Portugal, e depois disso, sempre que vinha era de passagem, apenas para ver e abraçar os pais. Dos amigos da faculdade, que não via há mais de 20 anos, nem sabia se estavam no país, se tinham emigrado, ou mesmo se ainda se lembravam dele. E dos miúdos da sua rua, os seus companheiros de brincadeiras na infância, todos tinham casado, e partido para outros pontos da cidade, alguns até para o estrangeiro, atraídos por uma perspectiva de vida melhor. Parecia impossível, mas era a realidade. Tinha amigos espalhados pelo mundo, mas ali, na cidade onde nascera, não tinha um único amigo.E era disso, que ele sentia falta naquele momento. Alguém com quem trocar dois dedos de conversa.
Deu uma volta pela Praça do Comércio, totalmente diferente da última vez que ali estivera, foi até ao cais das colunas, admirou o manto de águas serenas, que a lua cheia beijava descarada, a ponte 25 de Abril, o Cristo Rei, do outro lado do Tejo, e murmurou:
- Tanta beleza só é possível com a Tua bênção.
Mergulhou de novo nas suas memórias, ao mesmo tempo que iniciava o regresso ao hotel.
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17.1.16
AMANHECER PARTE XXXI
foto do google
E foi assim que após o serviço
militar cumprido, partiu à descoberta do mundo. Para se sustentar fez de tudo um
pouco. Foi servente de pedreiro, empregado de mesa em cafés e restaurantes,
entregador de flores, e até empregado de uma funerária. Em Paris, teve a sorte de
ver uma das suas crónicas publicadas, no Le Monde. Depois, conseguiu um lugar
de estagiário na redacção desse mesmo jornal. Aproveitou o estágio para se
inscrever num curso intensivo de jornalismo, aprimorando e pondo em prática conhecimentos adquiridos na universidade. Conheceu Sara, uma conterrânea a
estudar arte contemporânea, com quem viveu uma conturbada história de amor, que durou pouco mais de um ano. Conturbada, porque Sara pretendia muito mais do que aquilo que ele
queria, ou podia dar. O povo diz que gato escaldado de água fria tem medo. A traição de Odete, rasgara-o interiormente. Acreditava que nunca mais iria confiar noutra mulher. E Sara queria uma relação estável e douradora. Um dia despediu-se, comprou um auto caravana e rumou para
África. A partir daí passou a trabalhar sempre como jornalista independente. Mas as suas
crónicas e reportagens publicavam-se em vários jornais, um pouco por todo o
mundo. Especialmente as que fizera no Iraque, Timor e Myanmar. Vira e vivera
situações, que até o diabo temia.
O seu espírito aventureiro, o seu físico, os belos olhos cinzentos, aliados ao seu ar trocista, acicatavam a imaginação feminina. Daí que aventuras amorosas, não lhe faltassem.
O seu espírito aventureiro, o seu físico, os belos olhos cinzentos, aliados ao seu ar trocista, acicatavam a imaginação feminina. Daí que aventuras amorosas, não lhe faltassem.
Aventuras que duravam horas ou dias e que não faziam qualquer mossa nos seus sentimentos
nem convicções. Sara fora uma excepção, pelo tempo que durou.
15.1.16
AMANHECER TARDIO - PARTE XXX
foto do google
Aborrecido pelo implicância da mãe, decidiu mostrar-lhe que o namoro não o impediria de ser bom aluno e sempre passou com excelentes notas.
Acabado o liceu era necessário
escolher a carreira, mas na altura ele não se sentia vocacionado para nada, e
escolheu Direito como podia ter escolhido qualquer outra coisa. Tinha dezoito anos, e continuava demasiado alto e magro. E cada dia mais apaixonado. Com vinte anos, Odete era agora uma linda mulher, que gostava demais dos galanteios de outros homens que não o namorado. Toda a gente no bairro via isso excepto Luís. Abandonara a escola há muito, antes mesmo de completar o nono ano, e sem emprego, passeava-se na rua sem outro motivo que não fosse exibir a sua beleza e provocar a libido masculina. A mãe de Luís, bem que tentava abrir os olhos do filho, dizendo-lhe que Odete não era mulher para ele, mas Luís, qual D. Quixote, sempre defendia a namorada, dizendo que a mãe não precisava ter ciúmes, o amor que sentia por Odete, em nada beliscava o que sentia por ela. Se a jovem não queria estudar, que mal havia nisso? Afinal a vontade que ele tinha de estudar também não era grande, mas a mãe
voltava à carga, pois o namoro já se prolongava demais. Intuições de mãe, - respondia quando o filho lhe
perguntava, o que ela tinha contra a sua namorada. Estavam as coisas neste pé
quando um dia ao chegar a casa da namorada não a encontrou, e a mãe dela, lhe
contou a chorar, que a filha tinha fugido com o sobrinho do Henrique do talho,
ela nem sabia para onde, pois não o dizia na carta de despedida que lhe deixara .
Sentiu que o seu mundo ruía e
teve vontade de morrer.
Luís havia completado dezanove anos, na semana anterior. Aos dezanove anos, um homem ainda tem uma visão muito romântica da vida. E afinal ele crescera a amar Odete e namoravam há mais de cinco anos. Fechou-se no quarto e chorou de frustração e raiva. E jurou a si mesmo que nunca mais ia confiar em mulher alguma. Nesse dia morreu Luís e nasceu o Nuno. Estava no primeiro ano e como continuava sem grande interesse pelo curso, resolveu mudar. Optou por Literatura e Línguas. Aos 25 anos ingressou na Marinha já com o Curso terminado.
Luís havia completado dezanove anos, na semana anterior. Aos dezanove anos, um homem ainda tem uma visão muito romântica da vida. E afinal ele crescera a amar Odete e namoravam há mais de cinco anos. Fechou-se no quarto e chorou de frustração e raiva. E jurou a si mesmo que nunca mais ia confiar em mulher alguma. Nesse dia morreu Luís e nasceu o Nuno. Estava no primeiro ano e como continuava sem grande interesse pelo curso, resolveu mudar. Optou por Literatura e Línguas. Aos 25 anos ingressou na Marinha já com o Curso terminado.
AMANHECER TARDIO - PARTE XXIX
Ele, era muito céptico em
relação às mulheres. Costumava dizer duas coisas quando o assunto eram mulheres.
Primeiro, as mulheres não prestam. Traem os homens e pior ainda traem-se as si
mesmas. Segundo, a excepção era a sua mãe, a única mulher no mundo que não
desiludira o Criador.
Horas depois, no seu quarto no
hotel, escrevia rapidamente. Acabara de ter uma
ideia para um novo livro, e imediatamente tratara de registar as primeiras
linhas, do primeiro capítulo. Parou ao perceber que tinha descrito a protagonista
com as características físicas de Isabel. Fechou o portátil e foi até à janela. Depois de um rápido olhar para a rua, atravessou o quarto a passos largos.
Sentia vontade de sair. Afinal era Sexta-feira, noite de Verão. Luís não era homem de reprimir os seus desejos. Nunca o fizera. Chegou à rua e olhou em volta. A noite estava quente, e a lua cheia, redonda como ventre fecundado, extremamente brilhante, derramava sobre a cidade toda a sua luminosidade. Se ele fosse romântico diria que estava uma noite para namorar. Mas não o era. Apetecia-lhe caminhar. Observar as pessoas com quem se cruzava.
Caminhou pela baixa até à Praça do Comercio. Sempre gostara de ver o Tejo em noites assim. Desde o tempo em que ele era “o outro”. As memórias lutavam para vir à superfície e aos poucos foi deixando que elas ocupassem o seu espaço no presente.
14.1.16
AMANHECER TARDIO - PARTE XXVIII
A campainha tocou e a senhora
levantou-se rapidamente. O coração dizia-lhe que era o filho. Abriu a porta e
uns braços fortes levantaram-na e rodopiaram com ela.
- Pára filho. Pões-me tonta.
- E como está a mulher mais linda
do mundo? – Perguntou Luís enquanto a punha de novo no chão
Parecia impossível que a mulher pequena e franzina pudesse ser a mãe daquele homem.
- Há quase 15 dias que não
apareces nem dás notícias, - queixou-se a mulher. Tinha acabado de comentar com o
teu pai, que afinal estares em Lisboa ou na Índia, para nós era a mesma coisa.
Entraram na sala e Luís abraçou
o homem que se levantara ao vê-lo entrar. Foi um abraço forte emocionado que
fez os olhos da mulher encherem-se de água. Era sempre assim quando se
encontravam. Os dois grandes amores da sua vida.
Luís era fisicamente muito
parecido com o pai. A mesma altura, embora o pai fosse mais magro. O desenho da
boca e o queixo voluntarioso. Da mãe herdara os belos olhos cinzentos.
- Íamos jantar. Jantas connosco?
- Claro, mãe. Porque julgas que
apareci a esta hora? - Riu. Não me apetecia jantar no
hotel. E depois tenho novidades para vos contar.
- O casal trocou um olhar onde
havia uma ténue esperança, mas nem um nem outro se atreveu a dizer nada.
- Fiz hoje a escritura da minha
casa. Já contratei um decorador. Dentro de duas semanas deve estar pronta. Depois vão lá conhecê-la, e retribuo o jantar.
- Que bom filho. Fico tão contente.
Estar num hotel é bom em férias. Mas para viver é muito frio, muito impessoal,
- disse a senhora. E acrescentou: - Isso quer dizer que estás a pensar
assentar?
- Se por assentar, queres dizer, passar uma temporada em Lisboa, talvez sim. Se te referes às ideias do costume
digo-te já que não.
A mãe dirigiu-se à cozinha. Luís sentou-se no sofá, ao lado do pai, e encetaram uma animada conversa. Luís gostava da casa dos pais, admirava o amor que os unia, sentia-se bem entre eles, e mesmo quando andava em viagem, muitas vezes se surpreendia a pensar neles. O pior era a mania que a mãe tinha de querer vê-lo "arrumado".
A mãe voltou chamando-os para a mesa.
A mãe dirigiu-se à cozinha. Luís sentou-se no sofá, ao lado do pai, e encetaram uma animada conversa. Luís gostava da casa dos pais, admirava o amor que os unia, sentia-se bem entre eles, e mesmo quando andava em viagem, muitas vezes se surpreendia a pensar neles. O pior era a mania que a mãe tinha de querer vê-lo "arrumado".
A mãe voltou chamando-os para a mesa.
Foi um
jantar animado. A senhora não se cansava de fazer perguntas, e quase não jantou,
mais preocupada em olhar com enlevo o rebento, ainda que o frango de cabidela
estivesse uma delícia.
13.1.16
AMANHECER TARDIO - PARTE XXVII
foto google
Entrou no prédio e dirigiu-se ao elevador
- Boa tarde menina, - saudou a porteira que
se dirigia para a porta da rua com um balde e uma esfregona.
- Boa tarde D. Rosa. Desculpe não a tinha
visto. E dizendo isto abriu a porta do elevador.
- Não faz mal menina. Tenha cuidado ao sair
do elevador, o chão pode não estar seco ainda.
- Terei cuidado. Até logo e obrigada pelo
aviso
- Até logo menina. Vá com Deus.
A conversa com a porteira tivera o condão de
a desviar dos seus pensamentos e sentia-se agora mais calma.
Quando em 2007 ela fora morar para o prédio
já a D. Rosa lá estava. Era uma mulher sozinha. O marido morrera há anos e o
único filho que tivera emigrara para França. Queria fugir dum futuro sem
esperanças. Lá casou e lá foi pai por duas vezes. A princípio vinha sempre a
Portugal, todos os anos em Agosto. Depois os filhos começaram a crescer, foram para
a escola, arranjaram amigos e foram-se desinteressando das férias em Portugal.
Afinal lá é que era a sua terra e lá estava o seu futuro. Se a nora fosse
portuguesa, decerto faria pressão para vir ver a família. Mas não era. Aos
poucos as visitas foram rareando. A última vez que viu o filho e os netos foi
no funeral do marido. Nessa altura o filho insistiu em levá-la, tinha lá boa
vida que comprara há poucos meses, e até tinha um quartinho para a mãe. Mas ela não quis.
Costumava dizer “Vivi aqui toda a vida, quero repousar aqui". E depois
eles têm lá a sua vida os seus costumes e eu ia para lá servir de estorvo. São
outras terras, outras modas."E burro velho não aprende línguas".Aqui,
tenho a sorte de ter este trabalho, tenho a casa, não pago renda, os inquilinos
são como amigos, tratam-me com carinho que mais hei-de querer?”
Um dia Isabel perguntou-lhe: - Mas não tem
saudades deles?
-Ai menina, se tenho. É uma mágoa sem
tamanho. Mas sabe a minha avó sempre dizia. Quando casamos uma filha, ganhamos
um filho, quando casamos um filho perde-mo-lo.
- Nem sempre D. Rosa, nem sempre.
- Claro, menina há excepções. Mas do mesmo
modo que uma filha puxa o marido para nós, a nora também puxa o marido para a
família dela. É a ordem natural das coisas.
Isabel gostava dela. Talvez fosse a solidão
das duas que as aproximava.
Tomou um duche rápido, envolveu-se num roupão
de seda e dirigiu-se à cozinha.
Na dispensa havia sempre uma
latinha de milho. Decidida fez uma salada de frango.
12.1.16
AMANHECER TARDIO - PARTE XXVI
Depois retomou o percurso apressando o passo. Acabara de sair do notário, onde fizera a escritura da sua nova casa. Há muito tempo, que Luís não tinha uma casa, no sentido convencional do termo, muito embora os seus pais estivessem sempre a dizer que a casa deles, era também a sua casa, e que se sentiriam muito felizes, se fosse viver com eles. Mas ele era demasiado independente para isso. Vira na agência um apartamento que lhe agradara, era perto, ali mesmo no quarteirão, e com o metropolitano quase à porta. Uma vantagem para quem não tinha carro nem pretendia comprar. Luís tinha uma auto caravana maravilhosa, que essa fora a sua casa, na vida de aventureiro que levava há anos.
Abriu a porta do edifício e viu uma senhora idosa a regar as plantas que adornavam o átrio.
- Boa tarde – saudou
- Boa tarde, senhor – respondeu a mulher endireitando-se
- Sou o novo proprietário do 6º C. Suponho que a senhora
seja a porteira. Esperava a visita do decorador às cinco horas e atrasei-me. Sabe
se alguém me procurou?
- Não Senhor. A mim não. Nem sabia que o andar já tinha
novo proprietário.
- Obrigado. Vou então subir e aguardar. Até logo.
- Até logo. Se precisar de alguma coisa é só dizer.
- Para a semana vou tratar da mudança de nome da água, gás e electricidade. Depois falo consigo quando souber o dia que vêm, - disse abrindo a porta do elevador.
- Para a semana vou tratar da mudança de nome da água, gás e electricidade. Depois falo consigo quando souber o dia que vêm, - disse abrindo a porta do elevador.
Mal abrira a porta a campainha tocou. Era o decorador.
- Boa tarde. É o senhor Nuno Fraga? Eu sou Pedro Carvalho, o
decorador enviado pela agência que o senhor contratou.
- Boa tarde,- respondeu. Entre. Vamos ver o apartamento.
Este era composto por um quarto grande, com roupeiro e casa de banho, um mais pequeno só com roupeiro, uma grande sala com lareira, uma casa de banho no corredor e uma cozinha não muito grande mas bem equipada e com muita luz.
Este era composto por um quarto grande, com roupeiro e casa de banho, um mais pequeno só com roupeiro, uma grande sala com lareira, uma casa de banho no corredor e uma cozinha não muito grande mas bem equipada e com muita luz.
- Tem alguma ideia sobre a qual possamos trabalhar, ou fica tudo por minha conta? – Perguntou Pedro.
- Bom, eu sou sozinho. Pretendo um apartamento simples e confortável. O quarto mais pequeno será onde vou trabalhar a maior parte do tempo, portanto será um escritório. Tudo o resto deixo consigo. O que acontece é que tenho uma certa pressa.
- Bom. Se me deixar tirar agora as medidas, amanhã à tarde apresento-lhe os croquis. Se estiverem a seu gosto, discutiremos então os elementos decorativos, cores, tecidos, quadros.
- Muito bem. E depois disso quanto tempo mais?
- Bom, se tudo ficar delineado amanhã, depois é rápido. Numa semana, o máximo duas, fica pronto.
- Combinado. Passo então amanhã pela agência a que horas?
- Às 17 pode ser?
- Claro. Lá estarei.
Pedro acabara de anotar as medidas. Guardou a fita e os apontamentos na pasta. Dirigiu-se para a porta e estendeu-lhe a mão.
- Até amanhã, senhor Fraga.
Até amanhã, Pedro. - Disse apertando-lhe a mão.
Fechou a porta e dirigiu-se à janela. Decididamente gostava do apartamento. Ocorreu-lhe que a mãe ia gostar do lugar. Sorriu. Gostava muito dos pais mas irritava-o a mania, que a mãe tinha, de que ele devia “arrumar-se”. Anos atrás, de cada vez que ele voltava de uma viagem, todos os dias a mãe tinha um lanche com alguma amiga. Nada demais se essa amiga não se apresentasse sempre com uma filha casadoira a tiracolo. Por mais que lhe dissesse que não estava interessado nesses encontros a mãe não desistia. Então, tomara uma atitude radical. A partir daí, passou a ficar num hotel e a visitar os pais sempre de surpresa. Claro que depressa a mãe percebeu e deixou de se armar em casamenteira.
Quando os pais soubessem que ele tinha comprado uma casa, decerto iam ficar muito contentes.
Fechou a porta e dirigiu-se à janela. Decididamente gostava do apartamento. Ocorreu-lhe que a mãe ia gostar do lugar. Sorriu. Gostava muito dos pais mas irritava-o a mania, que a mãe tinha, de que ele devia “arrumar-se”. Anos atrás, de cada vez que ele voltava de uma viagem, todos os dias a mãe tinha um lanche com alguma amiga. Nada demais se essa amiga não se apresentasse sempre com uma filha casadoira a tiracolo. Por mais que lhe dissesse que não estava interessado nesses encontros a mãe não desistia. Então, tomara uma atitude radical. A partir daí, passou a ficar num hotel e a visitar os pais sempre de surpresa. Claro que depressa a mãe percebeu e deixou de se armar em casamenteira.
Quando os pais soubessem que ele tinha comprado uma casa, decerto iam ficar muito contentes.
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