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31.7.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE XII


Na hora do almoço, não se falava de outra coisa no refeitório, que não fosse o novo dono, e a recente reunião.
As duas amigas, que sempre partilhavam a mesma mesa, não fugiam à regra.
- Que te pareceu Tê?
- Implacável.
- Sabes que tive a mesma sensação? Um homem disposto a tirar do seu caminho, tudo o que possa impedi-lo de chegar aonde quer. Desculpa, - disse ao ver as lágrimas assomarem ao rosto da amiga. – Não queria magoar-te.
- Não tens culpa. É verdade. Só que às vezes as verdades magoam. Apesar de tudo, acredito que se alguém pode salvar a empresa, esse alguém é ele.
- Ontem à noite, fui ao Google pesquisá-lo. Já o fizeste Tê?
- Não. Não quero saber nada dele, a não ser que de momento é o meu patrão. Já te disse que vou começar a enviar currículos para outras empresas.
- Pois digo-te que é impressionante o que descobri. Tem imensos e diversificados negócios, a maior parte na Inglaterra.  É muito rico. E deve ser solteiro. Não li nada sobre casamento.
- Não me interessa, Luísa.
- Não mesmo, amiga? Então porque pensas ir-te embora? Se fosse como dizes, tinhas necessidade de fugir dele? Esqueces que te conheci antes e depois que te deixou sozinha, que acompanhei toda a tua gravidez, as tuas noites de choro? Pode um amor tão forte, morrer assim sem deixar uma réstia de esperança, uma pequena fagulha pronta a reacender-se?
- Pode. Não há amor que sobreviva a uma grande traição. E o seu abandono sem uma explicação, ao fim de dois anos de entrega total da minha parte, foi uma traição sem tamanho. Temo que ele descubra o Martim. E que mo queira tirar. Como viste à pouco, é implacável quando quer alguma coisa.
- Não me convences Tê. Já te olhaste ao espelho? És uma mulher muito bonita. Tens tido nestes anos vários pretendentes. E mantens – te só. Não sais com um homem há séculos, se é que saíste com algum depois do Martim nascer. E se ele é o pai do teu filho, diz-me tu, se houve mais algum homem na tua vida.
- Não quero dar um padrasto ao meu filho. Estamos muito bem os dois sozinhos.
-E à noite na cama? Não sentes falta de um homem? O corpo não te anseia por nada?- perguntou Luísa quase num murmúrio.
- Sabes bem que há outras coisas, capazes de aliviar a tensão do corpo, sem recorrer ao homem. - Respondeu no mesmo tom
Tinham acabado a refeição, iam voltar aos seus postos de trabalho.
- Para o corpo sim, e para o coração? – Perguntou Luísa pondo-se de pé.
Teresa não respondeu.


30.7.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE XI




Às onze em ponto, Mário chegou à sala de reuniões. Saudou os empregados com um rápido bom dia, mandou que se sentassem e começou a expor a situação da empresa. Durante quase meia hora, mostrou mapas de produção dos últimos meses, registos das dívidas da empresa, notas das poucas encomendas em carteira, e fez perguntas sobre cada um das secções. Por fim fechou o portátil e disse.
- Agora, já sabem a situação real da “Tudilar”. Neste momento devem estar a pensar.”Se a situação é tão crítica, porque é que ele comprou a empresa”  A verdade é que reerguer esta empresa é um desafio, e eu sempre gostei de desafios. Depois porque acredito que daqui a algum tempo, ela vai ser uma empresa muito maior do que é hoje, talvez até a maior do país. Eu vou fazê-la crescer. A minha dúvida é se os senhores são capazes de me acompanhar.
Percorreu com o olhar um a um dos seus subalternos. Não era um olhar amistoso. Era um olhar duro, impiedoso, como o da ave de rapina, que estuda a sua vítima antes de se lançar sobre ela. Continuou.
- Quero que cada um de vós, estude com rigor a sua secção e me faça um relatório detalhado, sobre o que se pode melhorar, de modo a aumentar a produção, sem aumentar o preço final da produto, nem diminuir, a sua qualidade. Estes dois itens finais são muito importantes, pois são eles que nos vão levar para cima. Também quero que me especifiquem, cada componente da matéria-prima usada em cada produto. Se alguma das máquinas está obsoleta, enfim tudo o que entendam necessário, para que eu possa tomar medidas.  Preciso desse relatório, rápido. Creio que uma semana é suficiente para isso. É esse o vosso prazo. E devo avisá-los que não terei contemplações com falhanços. Só com gente competente à minha volta, posso fazer com que esta empresa cresça mais do que no passado e dar-vos o descanso de não pensarem no  desemprego. Com as encomendas, me preocupo eu e asseguro-vos que não vão faltar.
Olhou o relógio.
- Não tenho mais nada a acrescentar, está na hora do almoço, podem sair. Não esqueçam na próxima quinta-feira, quero os vossos relatórios na minha secretária. Bom trabalho.



Esclarecimento

Antes que os meus prezados leitores desencadeiem uma guerra de palavras, me puxem as orelhas, ou me chamem ignorante, devo esclarecer uns pontos. 
1º O que leem aqui é pura ficção.  Mas mesmo na ficção as histórias para obedecerem ao rigor, devem ser datadas, e esta não o é. Quer isto dizer que o organograma empresarial hoje é muito diferente do que era há trinta, quarenta anos atrás.  No século passado, e não é preciso recuar muito, as empresas de construção de alguma coisa, eram divididas em sectores ou secções, e em cada uma dessas secções havia um chefe, em algumas fábricas também designado por capataz, que recebia e dava contas da sua secção ao gerente. 
Foi baseado num esquema desses que eu elaborei a história, e o Mário, que aqui sendo patrão, atua também como gerente da empresa, reuniu não com os trabalhadores, mas com os chefes de Secção.
2º Se eu situasse esta história em 2019, provavelmente também não utilizaria o organograma empresarial delineado e optaria pela holocracia, por ser revolucionário, e muito mais produtivo, e como devem saber neste sistema, não existem gerentes, todos trabalham em torno do mesmo objectivo.

29.7.19

A NOTÍCIA QUE NÃO QUERIA TER RECEBIDO


Acabo de saber da sua partida amigo Rui. Meu Deus, estou tão triste. Nem sei o que dizer, ou escrever. Lembro-me de tudo o que me ensinou, e de todo o apoio que de si recebi. Mais do que um amigo o Rui era como um irmão. E só posso agradecer a Deus por tê-lo colocado na minha vida. Descanse em Paz. Tenho a certeza que encontrou a Paz e a Luz eterna.






Poema do amigo morto

Quem morreu, não foi ele.
Foram as coisas, que deixaram
de ser vistas pelos seus olhos.
Quem morreu, não foi ele.
Foram os objetos que a sua
mão deixou de tocar...
(...)
Não foi o sangue que lhe parou
de fluir, nas veias:
foi, antes, o vinho que ficou imóvel,
na garrafa.
Não é ele o defunto,
é o mundo
que morreu nos seus cinco sentidos.
É o sol,
o grande sol pendido
que ainda lhe ilumina o rosto.
É a rosa,
a rosa quente que já esfria,
no corpo onde, a todo momento,
abria e fechava a corola...

Cassiano Ricardo

Junto-me aos demais amigos na dor pela partida do nosso amigo Rui

LONGA TRAVESSIA - PARTE X


Quando naquela manhã, Teresa chegou a casa de Luísa, a amiga viu logo que a noite não tinha sido benévola para ela.
Teresa, saudou Tiago e entregou-lhe o filho, de quem se despediu com um beijo e as habituais recomendações. 
Depois entrou no carro da amiga, que já a esperava para seguirem para o emprego.
- Estás pálida. Não conseguiste dormir?
Teresa que apertava o cinto de segurança, retorquiu:
- Tu dormirias se estivesses no meu lugar? Hoje mesmo vou começar a procurar emprego. Não será fácil, mas não posso continuar na “Tudilar”
- Porquê? Amaste-o tanto que ainda mexe contigo passados todos estes anos?
- Nem devias perguntar isso. Tu, melhor que ninguém, sabes que o amei mais do que tudo no mundo. Sofri muito. Não foi só o seu abandono, foi a falta de uma qualquer explicação, o que implica uma rejeição total ao meu amor e à minha pessoa. Tenho medo de não ser, suficientemente forte, para que não se reacendam sentimentos antigos. E não quero voltar a passar pelo mesmo.
- Já pensaste que pode ter casado?
- Não. Não acredito que alguém o tivesse interessado a esse ponto. Teria que ter mudado muito.
- Chegamos. Vamos lá a ver como corre o dia. Almoçamos juntas?
- Claro.
Separaram-se à porta do escritório. Teresa seguiu para o seu gabinete no outro extremo da empresa. Tirara o casaco e preparava-se para o pendurar quando o telefone interno tocou.
- Teresa? – Era a voz de Luísa
- Já tinha saudades de te ouvir – disse rindo. Até ela chegou o riso da amiga. Depois…
- Tê, ele deixou uma nota em cima da minha secretária. - Não precisava nomear quem deixara. As duas sabiam-no. - Quer todos os chefes de secção na sala de reuniões às 11 horas. Estou nervosa. Será que vai haver despedimentos?
- Não fiques. Logo se verá. Já avisaste mais alguém?
- Não. Vou fazê-lo agora. Até logo.
Desligou e ficou pensativa. Que quereria ele? Todos sabiam que a firma  estava quase na falência. Será que ele ia despedir pessoal?
Trabalhava naquela empresa, há quase seis anos. Quando lá entrou, a situação era bem diferente do que estava hoje. Havia muitas encomendas, exportavam muito, mas também vendiam bem para o mercado nacional. Depois veio a crise, as encomendas começaram a diminuir, o preço dos o materiais subiram, e a situação começou a deteriorar-se.


Peço desculpa se continuo um tanto ausente, não está fácil conseguir tempo para blogar, enquanto os problemas atuais se mantiverem. Tenham no entanto a certeza que sempre que puder estarei convosco.



28.7.19

PORQUE HOJE É DOMINGO


No Alentejo

-Manele , compra-me uma máquena de lavar roupa! Estou farta de lavar à mão.
-Está beim, Preciosa!Amanhã mesmo vou a Beja e hê-de comprar a da última moda!
O Manele foi e regressou com a máquina
-Aqui tens Preciosa, comprei a mais moderna que existe!
Leram as instruções e puseram-na a lavar. Tudo ia bem até que...
-Manele, o que se passa? A máquena está arrebentando! Isto está girando munto depressa (estava a centrifugar).
Como a casa era desnivelada, a máquina foi andando até à porta da rua.
-Manele, faz alguma coisa! A magana vai-se abalando!
-Ê nã te disse que era a última moda? Lavou a roupa, agora vai estendê-la, pôrra!




                            ******************* 


A empregada quer aumento


-Madame, estou precisando de um aumento.
A senhora muito chateada pergunta:
- Maria, porque você acha que merece um aumento? Você só está aqui há três meses.
-Madame, há três razões porque acho que mereço um aumento. Em primeiro lugar eu passo as roupas melhor que a senhora.
-Quem disse isso?
Foi o patrão quem disse. E em segundo lugar cozinho melhor que a senhora.
-Que absurdo, quem disse isso?
-Foi o patrão quem disse. Em terceiro lugar, eu sou melhor noutra coisa que a senhora.
-Ai a... Foi o meu marido quem disse isso também?
-Não Madame, foi o motorista...
- QUANTO VOCÊ QUER DE AUMENTO?


                                *********************

Inquérito


Uma jovem que andava pelo campo a fazer inquéritos pergunta a um camponês:
-Boa tarde. Estamos aqui para recolher informação sobre a razão de ter aparecido a doença das vacas loucas.Tem alguma ideia de qual será a razão?
Pergunta o camponês (muito admirado)
-A menina sabe que o boi só dá uma queca na vaca uma vez por ano?
-Bem...essa é uma informação nova para mim. Mas...qual a relação desse fenómeno com a doença?
O camponês pergunta então:
-E a menina sabe que nós mugimos as vacas quatro vezes ao dia?
-Sim senhor é uma informação válida se dúvida, mas... e se respondesse à questão?
-Eu estou a responder à questão.  Imagine se eu brincasse quatro vezes por dia com as suas mamas e só lhe desse uma queca uma vez por ano. A menina também não ficava louca?


                                ********************

Mais uma do Joãozinho


Na escola a professora pergunta:
- Bruno se você estivesse num jantar romântico com uma garota e precisasse ir ao banheiro o que lhe diria?
-Com licença garota, vou ao banheiro.
-É muito feio dizer banheiro num jantar. E você Vítor o que diria?
- Com licença senhorita, mas preciso tirar água do joelho.
-É vulgar dizer isso. E você Joãozinho, como diria?
- Com licença senhorita! Preciso ausentar-me por uns minutos, pois vou dar a mão a um grande amigo, que pretendo apresentar-lhe após o jantar.



Bom Domingo





27.7.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE IX


Mário ficou até tarde no escritório. Era seu hábito quando adquiria uma empresa, verificar todos os sectores, ver o que se produzia, ou se vendia mais, e o contrário. Verificar custos e margens de lucro, fazer novos planos de modo a que as empresas em pouco tempo estivessem no caminho do sucesso e claro a engrossar a sua conta bancária. Era o que pretendia fazer também nesse dia. Porém, o rever inesperadamente Teresa, e mais, saber que estava ali, sob as suas ordens, fazia com que não conseguisse concentrar-se no trabalho. Estava mais bonita que nunca. A jovenzinha de há dez anos atrás era hoje uma mulher capaz de fazer perder a cabeça a qualquer homem.
Teria casado? Não usava aliança. Mas será que isso queria dizer alguma coisa nos tempos atuais? De súbito lembrou-se. A ficha dos empregados. Rapidamente procurou a pasta. Leu-a avidamente.
Teresa Carvalho, trinta e um anos, solteira, licenciada em Gestão de Recursos Humanos. Seguia-se a morada e número de telefone.
Alegrou-se de saber que estava solteira, muito embora pensasse que isso não quereria dizer que estava livre.
Durante dois anos, viveram juntos, uma intensa relação de amor e nunca fora casada.
Abanou a cabeça, como se com isso conseguisse afugentar os pensamentos que lhe impediam a concentração.
Sentiu pena de si mesmo. Da sua solidão. De saber que chegava a casa, e a encontrava vazia.
Decididamente a idade mudava um homem. Noutros tempos quando se sentia só, ia até um qualquer bar e pouco depois estava em casa de alguma dama, ou num quarto de hotel. Na sua casa não. Na sua casa, jamais entrara outra mulher que não fosse Teresa, e isso fora há tanto tempo...
Ultimamente essas saídas, deixavam-lhe um travo amargo na boca.
Como se finalmente a sua alma acordasse de um longo sono e quisesse assumir o controlo da sua vida.
E ele, que sempre lutara para não lhe dar espaço, sentia-se impotente perante a sua revolta.
Desligou o computador, arrumou as duas pastas que tinha abertas na secretária e levantou-se decidido a ir-se embora.
Tinha fome, nem se dera conta das horas, era quase meia-noite.
Muito tarde para jantar. Comeria qualquer coisa em casa.
Antes porém escreveu numa folha de papel a seguinte mensagem.
“D. Luísa por favor, convoque uma reunião com todos os chefes de secção, para as onze horas, na sala de reuniões.
Mário”
Vestiu o casaco, guardou as chaves e o telemóvel, abriu a porta do escritório, e pousou sobre a mesa de Luísa a folha de papel.
Apagou as luzes e dirigiu-se à saída onde se cruzou com o segurança que efetuava a ronda de rotina.
Por fim saiu e dirigiu-se ao automóvel.
Os dias seguintes iam ser complicados.



Como de costume a história só volta segunda-feira. 
Bom fim de semana.

26.7.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE VIII




Todos os dias, Teresa, saía de casa de manhã, com o filho e dirigia-se a casa de Luísa. Aí, deixava Martim com o padrinho, Tiago, o marido de Luísa, e o filho deles, André.
Tiago trabalhava por conta própria, tinha flexibilidade de horário, pelo que se encarregava de levar os meninos à escola e ir buscá-los à tarde.
Teresa deixava o carro junto à casa da amiga e ia com ela, para o emprego. Por vezes trocavam, era ela quem levava o carro e a amiga.  O regresso era feito também em conjunto. Assim naquele dia, quando Teresa, desceu ao estacionamento já a amiga estava no carro à sua espera.
- Então? O que te pareceu? - Perguntou Luísa, iniciando a marcha, mal a amiga entrou no veículo,
-É o Rui. – Respondeu quase sem voz
- O Rui?- Perguntou com estranheza. Que Rui? Perguntava-te o que te pareceu o novo dono da empresa, Mário Silveira.
- Sim. Antigamente chamava-se Rui.
A amiga travou a fundo, fazendo com que o carro se imobilizasse, com um longo lamento dos pneus. Olhou para ela e só naquele momento reparou na palidez da jovem, e no tremer das suas mãos.
- Queres dizer que é… o pai do Martim?
Assentiu com a cabeça
- Caramba Tê, não tinhas dito que era milionário.
- Não era. Ou se o era, eu não sabia. Bem na verdade, eu nunca soube nada dele. Apenas que trabalhava num Banco e que fazia traduções para uma editora. Nada mais. Tinha pouco mais de vinte anos, era uma miúda loucamente apaixonada, e isso era tudo o que me importava.
- E agora?
-Agora é melhor que ponhas o carro a trabalhar. Se nos atrasamos as crianças ficam impacientes.
- Tens razão, - disse obedecendo. E acrescentou:
- Vais contar-lhe do Martim?
- Não. Nunca. Não quero que saiba. É meu filho.
Fez-se silêncio. Depois…
- Achas que te reconheceu?
- Para meu sossego e do Martim, gostaria de dizer que não. Mas tenho a certeza de que me reconheceu. Outra coisa, Luísa, por favor, não contes nada ao Tiago.
- Claro que não. Fica descansada.
Tinha acabado de estacionar. Tiago já estava à porta com as crianças. Martim despediu-se com um até amanhã, e correu para a mãe, que se baixou para o abraçar.
 Depois, despediu-se dos amigos, entrou no carro, e seguiram para casa.
Como sempre Martim não se calava, contando as peripécias do dia escolar. Porém Teresa tinha a mente ocupada com outras coisas



25.7.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE VII


Os dois homens chegaram às dezassete em ponto. Depois das apresentações, trocaram-se e leram-se documentos. Tudo confirmado, os documentos foram assinados, e a venda efetuada.
Depois disso, o novo dono quis ver as várias secções e ser apresentado ao pessoal. Assim, e não por reunião coletiva, como o anterior dono tinha pensado fazer. Percorreram então a empresa, com o homem fazendo perguntas pertinentes aos chefes de secção, tentando inteirar-se de tudo.
- E aqui, é o gabinete da gestora de Recursos Humanos,- disse o anterior dono, abrindo a porta do gabinete e afastando-se para que Mário entrasse.
A mulher que estava atrás da secretária, ergueu a cabeça, e fitou nele um olhar apavorado, enquanto o seu rosto empalidecia.
-Teresa Carvalho, a nossa gestora de Recursos Humanos. Teresa, este é Mário Silveira o novo dono da “Tudilar”
Teresa, tinha-se posto de pé, e olhava com surpresa e dor para o homem, que se aproximava da sua secretaria de mão estendida, e um sorriso indefinido no rosto.
-Seria possível que não a reconhecesse? – Interrogou-se mentalmente. Teria significado tão pouco na sua vida? Entendeu-lhe a mão, sem deixar de o olhar. Seria impressão sua, ou uma ligeira sombra perpassou o olhar masculino?  Ela não poderia dizer, se a viu ou se a imaginou, mas quando apertaram as mãos, teve a certeza absoluta que ela não se esquecera dele. Todo o seu corpo reconheceu o calor e o toque da mão do homem.
Depois de algumas palavras de circunstância, os dois homens saíram deixando atrás de si uma mulher completamente destroçada.
Tanto tempo depois, daquele fatídico dia em que regressou das férias de Natal e encontrou a casa vazia, sem sequer uma curta missiva de despedida. Como se ela nunca tivesse feito parte da sua vida. E a verdade é que nunca fizera. Viveram juntos dois anos, e nunca soube onde nascera, quem eram seus pais, onde viviam. Nunca conheceu ninguém da sua família. Nem amigos. 
Só sabia que era um homem extremamente apaixonado na cama. Capaz de a levar à loucura.
Mas fora dela? Interessava-se por ela, pelo que sentia, pelo que desejava? Decididamente não. Não se lembrava de um só dia, naqueles dois anos em que viveram juntos, que lhe tivesse perguntado como fora o seu dia, o que fizera o que sentia. Era como se ela fosse um objeto da casa, que lhe pertencia porque lá estava, e a casa era dele. E o golpe final foi o abandono. Sem uma morada, ou uma nota de despedida. Nada.  A rejeição total.
Ela não o esquecera. Como podia fazê-lo se lhe deixara a germinar a sua semente? E se o filho cada dia se parecia mais com ele? E agora passados quase oito anos, eis que se apresentava de novo na sua vida.




24.7.19

NOTÍCIAS DO DIA.

Boa noite amigos.
 O marido já está em casa. Muito frágil, já não tem visão dupla, mas ainda não vê nítido. Mais magro, perdeu 7 Kilos mas graças a Deus, tão bem quanto possível, e esperamos que o tempo e a fisioterapia que terá que ir fazer todos os dias ao hospital, lhe restituam o anterior vigor.
Dia 12 de Agosto vai repetir a RM. E dia 26 terá nova avaliação neurológica.
Quanto a mim, o braço está um pouco melhor, mas o olho continua na mesma.  Estou desejando que chegue o dia 2 de Agosto para voltar à consulta.
Obrigada a todos pelo vosso apoio nestes tempos tão difíceis.
Bem Hajam

LONGA TRAVESSIA - PARTE VI




- Vens almoçar, Teresa?- perguntou Luísa espreitando à porta do seu gabinete.
- Se esperares dois minutos para acabar isto, vou. Não queres entrar?
- Não vale a pena. Vou indo para o refeitório. Espero lá por ti. – Disse fechando a porta.
Teresa acabou de imprimir o documento, procurou uma pasta e arquivou-o.  Pôs-se de pé. Era uma mulher muito bonita. Alta, esguia, sem ser demasiado magra, morena, de cabelo castanho doirado, que nesse momento tinha preso no alto da cabeça, num elegante carrapito. O rosto oval, os olhos amendoados, a boca pequena e carnuda, o ar sereno que ostentava, tudo contribuía para fazer dela uma mulher muito bonita. Vestia um camiseiro vermelho, e uma saia justa preta, que lhe moldava o corpo até aos joelhos, deixando à mostra um perfeito par de pernas. Completava o conjunto com uns sapatos pretos de salto alto que estilizavam ainda mais a sua figura.
Alisou a saia, e saiu do gabinete em direção ao refeitório, onde a amiga já a esperava.
Esta era também uma mulher bonita, embora junto de Teresa, a sua beleza ficasse um tanto ofuscada. Porém Luísa não se importava. Era a sua melhor amiga, a madrinha do seu filho, e sua confidente.
Eram amigas de longa data. Teresa tinha partilhado um quarto com a amiga, muitos anos atrás, quando estava na Faculdade, e Luísa já trabalhava na "Tudilar". Depois Teresa apaixonou-se e foi viver com o namorado, Luísa casou, pouco depois, mas sempre continuaram amigas. Anos mais tarde, teve a sorte de se empregar na mesma empresa, embora tivessem posições diferentes. Luísa era a secretária do chefe, Teresa a Gestora de Recursos Humanos.
- Sabes que vamos reunir esta tarde com o novo dono? – Perguntou Luísa, enquanto cortava uma porção do seu bife.
Teresa respondeu com outra pergunta:
-Então sempre é verdade que a empresa vai  ser vendida?
- Não tem outra hipótese. É vender ou declarar falência.
- E tu sabes quem são os novos donos?
-Não. Até agora, só conheço o advogado do homem.  Sei que se chama Mário qualquer coisa, que não lembro. Eu chamo-lhe o senhor Mistério.
- Porquê senhor Mistério?
- Porque nem o chefe parece saber muito sobre ele. Dizem que vive a maior parte do tempo no estrangeiro onde tem diversos negócios, embora o advogado diga que ele tem um escritório em Lisboa, mas parece que pouco pára por cá. Deve ser um velho excêntrico, que não sabe o que fazer ao dinheiro.
- Sabes se vai remodelar alguma coisa, prescindir de pessoal ou isso?
- Não. O advogado não deixou transparecer nada sobre as intenções do seu cliente. Deus queira que não seja daqueles que despedem toda a gente e metem pessoal novo.
-A que horas vêm?- Perguntou Teresa
Às dezassete. O advogado diz que ele quer conhecer todos os empregados ainda hoje, - retorquiu Luísa.
Tinham acabado a refeição e dirigiam-se para os seus gabinetes.



23.7.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE V






O homem acordou a tremer. Esticou o braço e acendeu a luz.
Quatro da madrugada. Passou a mão tremente pela testa. Há um bom tempo que não sonhava com aquilo. Será que não ia apagar nunca aquela cena da sua memória? Será que o fantasma do passado o ia atormentar toda a vida? Fugira da terra, do país, deixara para trás a vida de miséria, era um homem rico e bem-sucedido, temido no mundo dos negócios, mas onde quer que estivesse, de vez em quando o passado batia-lhe à porta para o atormentar.
Lembrava-se daquela noite como se a estivesse a viver agora. Do momento em que a vizinha entrou em casa depois de ter telefonado à polícia, da história que a mãe contou, da retirada do corpo do pai, do momento em que a mãe algemada partiu com a polícia, de ter ficado dois dias na casa da vizinha, até que os tios o foram buscar, do tempo que viveu com eles, até a mãe ser libertada, após o julgamento por ter dado como provado que não houve intenção de matar, apenas se tratara de uma acidente, provocado por um gesto de legitima defesa. Apesar disso, e porque eles não tinham dinheiro para um bom advogado, a mãe tinha aguardado julgamento em prisão preventiva durante quase três anos.
Foi nessa altura que ele jurara a si próprio que havia de ser um homem muito rico, nem que para isso tivesse que passar por cima dos seus próprios sentimentos.
Trabalhou de dia, estudou de noite. À medida que ia progredindo nos estudos, ia melhorando no emprego. Vivia com a mãe, que depois da prisão nunca mais foi a mesma. Estava sempre apática, ausente, como se a vida à sua volta tivesse deixado de ter importância. Ele sentia-se responsável pela mãe. Acreditava que era o único culpado, do seu sofrimento. Devia ter dito a todo o mundo que fora ele quem matara o pai. 
Tinha vinte anos quando a mãe morreu, Pouco depois conseguiu emprego num banco, o ordenado aumentou e passou a frequentar a Universidade à noite. Queria ser economista. E consegui-o. Ia de casa para o trabalho, do trabalho para a Universidade. Não tinha amigos, não frequentava festas. Não parou após ter-se formado.
Voltou a matricular-se e desta vez em Letras. Inglês e Alemão, eram o seu objetivo. Que ele concretizou à custa de muitas horas de sono roubadas ao corpo. E da abstenção de outros prazeres, próprios da juventude. 
Quando conheceu Teresa, tinha vinte e nove anos e um pequeno pecúlio amealhado, não só graças ao bom ordenado no banco, como ao que auferia de uma conhecida editora, pela tradução para português de obras estrangeiras, e ainda por algumas aplicações na bolsa, bem sucedidas.
Dois anos depois, pensou ter o suficiente para se lançar no mundo dos negócios, e escolheu para começar uma nova vida a Inglaterra.


Aqui termina por agora a apresentação do personagem masculino. Um homem com uma vontade de ferro para atingir os seus objetivos, mas que guarda lembranças que são feridas abertas na sua alma. Presente na sua memória a lembrança de Teresa, que através dele, vos vem acompanhando.
Curiosos? Quem voltar amanhã, vai conhecê-la


22.7.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE IV




O rapazinho, encolheu-se mais na cama ao ouvir os gritos do pai.
-Outra vez, não,- gemeu tapando os ouvidos com as mãos.
Era sempre assim, quando o pai vinha bêbado para casa. O pai gritava com a mãe, e batia-lhe. E o pior é que ultimamente o pai vinha todos os dias bebado. Nessas alturas, Rui ficava cheio de raiva contra o pai. Queria crescer para poder enfrentá-lo. Às vezes pensava que se pudesse o mataria.
Até ele chegou um baque surdo e ouviu nitidamente o choro da mãe. Ele estava a bater-lhe de novo. Sem poder conter-se saltou da cama e dirigiu-se à cozinha, local donde vinham os gritos.
Sabia que o pai lhe iria bater mal chegasse lá, mas não se importou.
Naquele momento o pai tinha a mão fechada e preparava-se para a deixar cair de novo no rosto da mãe.
O menino arrancou, com o ímpeto dos seus onze anos e arremeteu com toda a força contra o pai. Este cambaleou, desequilibrou-se e caiu para trás, bateu com a nuca na esquina da mesa e finalmente imobilizou-se no chão.
Por momentos mãe e filho ficaram imóveis esperando que ele se levantasse.
Como isso não aconteceu, a mãe com o rosto ferido, e um olho violáceo, resultado dos maus tratos do marido, baixou-se tentando ajudá-lo, mas ao ver os seus olhos, e a poça de sangue que se ia formando à volta da sua cabeça,  teve a certeza de que ele nunca mais lhe faria mal.
Levantou-se e encarou o menino.
-Está morto, filho, -disse quase sem voz
O menino estava a tremer.
-Matei-o? - Perguntou assustado.  
- Não, filho, não. Fui eu quem o empurrou. Estava cansada de apanhar pancada. Mas não queria matá-lo.
- Mas mãe…
-Nem mas, nem meio mas. Ficas proibido de dizer o contrário, - disse erguendo a voz autoritária. - Agora vai bater à porta da vizinha e pede-lhe que chame a polícia. Mas vê lá o que fazes. Aconteça o que acontecer, fui eu quem empurrou o pai. Ouviste?
- Sim mãe. 
A tremer, de frio e de medo, abriu a porta para ir chamar a vizinha.


Ó p'ra vocês a franzirem a testa e a perguntarem: " Donde saiu este episódio? Quem é este Rui? Será que a autora exagerou no alentejano do jantar de ontem?" 
Gente estou a brincar para aliviar um pouco a violência do texto.


21.7.19

PORQUE HOJE É DOMINGO





A mulher diz para o marido:
-Amor temos que avisar o nosso filho para não se casar com aquela bruxa que ele namora.
Responde o marido:
-Eu não vou dizer nada. Quando foi a minha vez ninguém me avisou.


                               *****************

Um bêbado sai da igreja e pega na bicicleta. Diz-lhe o padre:
-Vai com Deus meu filho e que São Pedro, Santa Luzia, Santo António e Nossa Senhora te acompanhem.
O bêbado montou na bicicleta e abalou. Uns metros mais à frente caiu. Levantou-se com dificuldade dizendo:
- Eu sabia que tanta gente na bicicleta não ia dar certo...


                              *****************

O chefe pergunta ao empregado:
- Você acredita na vida após a morte?
- Claro que não, chefe. Não existem nenhumas provas disso. Nunca ninguém voltou para provar que está do outro lado.
E o chefe diz:
- Está enganado. Ontem, depois que você saiu mais cedo para ir ao funeral do seu tio, ele esteve aí à sua procura.

                          
                      ********************

Na escola a  professora pergunta:
-Joãozinho o que o menino quer ser quando crescer?
-Milionário, gastar dinheiro a rodos, ter uma Kenga só para mim, vou dar um cartão de crédito sem limite para ela, um carro importado...
-Basta! Que coisa feia - diz a professora irritada. 
E voltando-se para uma menina pergunta:
-E você Mariazinha o que vai querer ser quando crescer?
-Eu queria ser médica, mas agora quero ser a Kenga do Joãozinho.



                                 *****************
Dois amigos conversam.
- Minha mãe nunca gostou de nenhuma das minhas namoradas. Uma era alta demais, a outra baixa de mais, uma burra demais, a outra inteligente demais, uma magra demais, outra gorda demais, uma falava demais, a outra calada demais.Finalmente achei a mulher ideal. Ela se parece com a minha mãe, fala como a minha mãe, anda como ela, enfim é uma cópia exata da minha mãe.
- Mas não pareces muito feliz -diz o amigo. Qual é o problema?
-O meu pai. Desta, quem não gosta é o meu pai!






20.7.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE III





Teresa sempre lhe dizia que trabalhava demais. Numas férias, pelo Natal, há oito anos atrás, quis que ele a acompanhasse à terra a fim de conhecer a sua família. Aquilo cheirou-lhe a compromisso e isso era algo que estava fora das suas ambições. Ela foi sozinha, e ele aproveitou para se despedir do banco, entregar na editora, o trabalho que tinha em mãos e partir. A Inglaterra pareceu-lhe o melhor sítio para levar a cabo o seu plano de enriquecimento e foi para lá que seguiu. Nunca mais soube da jovem Teresa.
  Que seria feito dela? Teria regressado à terra quando acabou o curso, ou teria ficado na cidade? Devia ter… trinta e um anos. E se era linda quando a conheceu, agora devia ser uma mulher muito bela. Talvez tivesse casado, quem sabe tinha filhos. Passou a mão pela testa, como se quisesse afastar aqueles pensamentos.
Devia concentrar-se no negócio do dia seguinte. Estava prestes a comprar mais uma empresa, para juntar ao lote das que já tinha. Naqueles oito anos, construíra quase um império. E tudo começou com a compra de uma pequena fábrica de loiça, em vias de falência. Quando conseguiu erguê-la e já lhe dava lucro comprou outra.
Tinha-se rodeado de pessoal eficiente e de confiança. Tornara-se num negociador implacável. Por vezes, sentia – se como um abutre humano sempre seguindo aqueles que estavam na pré falência.
Os seus negócios eram tão diversificados que iam desde a fruta até aos medicamentos.
Agora estava na eminência de adquirir uma empresa de produtos para o lar, no seu país. Já tinha apresentado uma boa proposta, e no dia seguinte se veria se o negócio se concretizava.
Pensou que talvez fosse a sua última aquisição. Sentia-se cada dia mais cansado. Quase não viveu com a ânsia de enriquecer, e agora que sentido tinha a sua vida? Com quem partilhar aquela esplêndida casa?
Se ao menos a mãe fosse viva. Mas coitada, partira antes de ver o filho concretizar os seus sonhos de grandeza.
Estava a ficar velho. Decididamente. Só assim se justificavam os sentimentos que ultimamente o vinham assaltando.
Se ao menos tivesse um irmão, um sobrinho, alguém de família. Mas apenas lhe restavam uns primos, com quem nunca teve afinidade e que segundo informações recentes tinham emigrado para o Canadá.
 Estava sozinho. Olhou o relógio. Quase duas horas. Eram horas de dormir. Levou o copo, para a cozinha
Depois dirigiu-se à casa de banho.
Tomou um duche, vestiu apenas uns calções de pijama, escovou os dentes e dirigiu-se ao quarto.
Puxou a colcha para trás, e antes de se deitar, lançou um breve olhar para a cama. Demasiado grande para a sua solidão.




19.7.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE II


Voltou a poisar o telemóvel no mesmo sítio, olhou a mulher idosa que se encontrava na tela, e por momentos o seu rosto suavizou-se.
Murmurou algo entre dentes. Uma prece ou um reparo? 
Voltou para a sala. Ligou a televisão, e foi mudando de canal. Passados uns minutos, desligou o aparelho. Sentia-se cansado. Que seria que se passava com ele? Nunca tinha sentido aquele peso, aquela sensação de que alguma coisa lhe faltava. Olhou à sua volta. Tudo naquela casa era confortável e bom. Mas de que lhe valia isso. Que lhe valia a fortuna acumulada em tantos anos de lutas e sacrifícios?  Nunca em toda a sua vida pensou em ter uma família. Uma mulher, filhos. Crescera com um único desejo. Ser rico. Por isso lutara tanto. Era ainda um menino quando albergou no seu coração a ambição. E ela cresceu tanto e tão forte, que não deixou nele, lugar para mais nada. 
Amor? Não acreditava no amor. O dinheiro comprava tudo. Até o amor. Ele teve sempre as mulheres que quis, quando lhe apeteceu. Mulheres que davam qualquer coisa, para passarem com ele umas horas ou dias. Talvez tivessem esperanças de algo mais. A ele nunca lhe interessou saber. Do mesmo modo que nunca alguma lhe fez mossa, ou deixou recordação. Bom, para ser sincero, não era bem assim. Houve uma que foi especial.
 Tinha sido há quase dez anos. Ele trabalhava num banco e ela estava na faculdade. Conheceram-se por acaso. Ele saíra do trabalho e dirigia-se para casa. Ela vinha da Universidade e esbarraram um no outro ao dobrar a esquina da rua.  Segurou-a para que não caísse, e ao olharem-se sentiram uma grande atração um pelo outro. Tão grande, que quinze dias depois, ela deixava o quarto que dividia com uma amiga e mudava-se para o seu apartamento. Mais nova do que ele, era uma jovem, séria, estudiosa, e muito bonita. Chamava-se Teresa.
Recordou o seu belo rosto moreno, os doces olhos castanhos, as suas mãos de longos e finos dedos, que se moviam roçando o seu rosto com a suavidade de uma borboleta. A voz doce com que lhe murmurava “Amo-te” ou a loucura com que partilhava os momentos de paixão no leito, ficaram-lhe gravadas na alma. Foi uma época mágica.
Às vezes Mário pensava que nesses dois anos viveu aquilo que mais se aproximaria do amor.
Porém naquela altura estava tão cego pela ambição, que não havia, no seu coração lugar para mais nada.
Limitava-se a juntar tudo o que podia, Trabalhava muitas horas. Não só no banco, como em casa, onde fazia trabalhos de tradução





Aproveito para atualizar as notícias. O marido Graças a DEUS está melhor e tenho esperanças de que em breve virá para casa. O meu olho continua em tratamento, a próxima consulta como já vos disse é só dia 2 de Agosto. A tendinite no braço tem-me dado muitas dores pesar do Ibuprofeno do Dualgan, e do Sirdalud. O médico disse-me para dar o máximo de repouso ao braço. Mas como dar descanso ao braço direito?
Bom ainda não comprei o pc, mas estou com o portátil da minha nora. Andei  às voltas com o Smartphone para fazer a reedição mas não fui capaz.

18.7.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE I

reedição


O homem abriu a porta, e fechou-a atrás de si com um toque de calcanhar. Carregou no interruptor e o espaço encheu-se de luz. Estava numa pequena sala de entrada, com um único móvel de madeira escura, com tampo de mármore encimado por um quadro a óleo.
Junto à porta um bengaleiro.
 Despiu o casaco e pendurou-o. Depois em passos largos encaminhou-se para a divisão seguinte.
Acendeu a luz, e sem se deter caminhou até um pequeno bar e segurando um copo serviu-se de uma dose de Uísque. De um pequeno frigorífico incrustado e dissimulado no bar, retirou e colocou no copo, duas pedras de gelo.  Com o copo na mão sentou-se num dos brancos sofás que compunham a sala. 
O homem que devia andar perto dos quarenta anos, era alto, e bem constituído. Tinha uns olhos escuros e cabelos pretos, mas nas suas têmporas, apareciam já alguns fios brancos. O rosto, moreno, dir-se-ia ter sido esculpido por um talentoso escultor dada a sua perfeição.
Vestia roupas de corte elegante de bom tecido. Decididamente era um homem rico, e bonito, capaz de ter tudo o que desejava, mas naquele momento, recostado no sofá, de olhos semicerrados e aspeto cansado, não aparentava ser um homem feliz. Pelo contrário, se por ali houvesse um pintor, em busca do tema ideal para retratar a solidão, decerto acharia que tinha encontrado o modelo perfeito.
Apesar do seu porte atlético, parecia demasiado pequeno na grande sala com os dois enormes sofás brancos, a parede atrás de si completamente coberta de livros, o bar do seu lado esquerdo, e o reposteiro que cobria toda a parede da frente possivelmente envidraçada.
Ouviu-se o som de um telemóvel. O homem abriu os olhos e procurou o aparelho. Lembrou que o tinha poisado, no móvel da sala de entrada.
Sem vontade, levantou-se e foi até lá. Atendeu. Era Diogo, o advogado.
-Que se passa? – Perguntou com brusquidão.
- Queria lembrar a hora da reunião amanhã com os donos da “Tudilar”
- Que é às dezassete, já me tinhas dito.- Replicou aborrecido. Espero que tenhas tudo pronto, Quero efetuar a compra amanhã. Estou a pensar viajar de novo em breve.
- Está tudo em ordem. Creio que não vai haver problema. Eles estão com a corda na garganta. É a venda ou a falência.
-.Está bem. Espero-te no meu escritório às quinze para revermos isso.
- Lá estarei, Mário.