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31.10.21

E HOJE É DOMINGO DE HALLOWEEN


Os Fabulosos Tais Quais - Serafim conta a história da Menina Florentina

 E NÃO SE ESQUEÇAM DE ATRASAR OS RELÓGIOS UMA HORA



E eis a bruxinha  Margarida, a minha neta .




Moderníssima, trocou a vassoura pela tablet

29.10.21

UMA NOITE DE INVERNO - PARTE VI





No início do tratamento, Alzira passou mal. Tinha tonturas, náuseas e até vómitos. Mas o médico tinha avisado que seriam efeitos passageiros e assim foi, já que duraram apenas dez dias.

 O pior é que as melhoras não apareciam e a maldita doença parecia continuar a agravar-se. Ela, já não era a mesma mulher de antes. Os seus olhos tinham perdido o brilho, o corpo ganhou peso, a conversa cessou quase por completo, os movimentos perdiam coordenação. A compaixão que Luís sentia pela esposa, ia se incorporando cada vez mais no amor de outrora.
Voltaram ao neurologista, que resolveu combinar com o inibidor de colinesterase a Memantina.

Mas também este medicamento era um paliativo, pois não havia qualquer certeza de que pudesse melhorar a situação de Alzira. E a verdade é que não melhorou. Ainda assim, na consulta seguinte, o médico disse-lhe que tinha que continuar a fazer o tratamento, pois embora a ciência não conhecesse ainda outros medicamentos, o tratamento poderia evitar um sofrimento maior. e um aceleramento mais rápido da doença.

E tinham-se passado sete anos desde os primeiros sintomas. Agora Alzira,  está totalmente perdida, num mundo onde o marido não consegue chegar. Não faz nada sozinha, desde a higiene à alimentação, é ele quem tudo lhe faz.

Luís sente-se muito cansado.
Não tem irmãos, os seus pais já morreram, não tem filhos. Os cunhados ou já morreram ou estão emigrados, e os sobrinhos desde que a tia perdeu a noção das coisas e deixou de lhes dar dinheiro, nunca mais a foram ver. A mulher que foi tudo para ele na vida, companheira, mulher, amiga, amante, está presa algures, numa qualquer masmorra do seu cérebro doente. 
Sem esperança de se conseguir libertar. 

 E ele interroga-se: -" E se de súbito me acontece alguma coisa? Afinal estou com setenta e quatro anos. O que vai ser de Alzira? Quem cuidará dela?"


Nota:
 Eu sei que esta história é dura. Que mexe convosco. Porque alguns conhecem alguém que é portador da doença, e quase todos, transportamos connosco o secreto receio de vir a padecer dela.  Acredito que seja atualmente a doença mais temida pela humanidade. Esta história é totalmente fictícia. Foi inspirada numa notícia que ouvi onde se dava conta de que a doença aumentava em todo o mundo.
Peço-vos que não deixeis de ler o final na próxima quarta feira, já que dia 1 é dia de Todos os Santos. Talvez se surpreendam e descubram que as histórias de amor não deixam de o ser, mesmo quando a vida nos é madrasta.






27.10.21

UMA NOITE DE INVERNO - PARTE V




Mas Luís sentiu um aperto no coração. Não conhecia ninguém que tivesse aquela doença, mas um amigo tinha-lhe contado que a cunhada dele sofria dessa enfermidade e o que lhe disse, era suficiente para aterrorizar qualquer um. Fez perguntas ao médico, quis saber com que podia contar e se podiam fazer alguma coisa para impedir a doença de progredir.
E o neurologista explicou-lhe

"A Doença de Alzheimer é um tipo de demência que provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas, (memória, atenção, concentração, linguagem e pensamento, entre outras).
Esta deterioração tem como consequências alterações no comportamento, na personalidade e na capacidade funcional da pessoa, dificultando a realização das suas atividades de vida diária.
À medida que as células cerebrais vão sofrendo uma redução, de tamanho e número, formam-se tranças neurofibrilares no seu interior e placas senis no espaço exterior existente entre elas. 

Esta situação impossibilita a comunicação dentro do cérebro e danifica as conexões existentes entre as células cerebrais. Estas acabam por morrer e isto traduz-se numa incapacidade de recordar a informação. Deste modo, conforme a Doença de Alzheimer vai afetando as várias áreas cerebrais vão-se perdendo certas funções ou capacidades."

Disse ainda que “ As células nervosas do cérebro comunicam umas com as outras através da libertação de substâncias químicas; que são denominadas por neurotransmissores. A acetilcolina é um neurotransmissor importante para a memória. As pessoas com Doença de Alzheimer têm níveis baixos de acetilcolina no cérebro. As enzimas designadas colinesterases destroem a acetilcolina no cérebro. Se a sua ação for inibida, mais acetilcolina estará disponível para a comunicação entre os neurónios.”

Então para tentar controlar o avanço da doença, ele podia receitar um inibidor de colinesterase, mas dizendo que o efeito deste medicamento variava muito de pessoa para pessoa, dado que havia pessoas que estabilizavam no ponto atual da doença, outras a progressão tornava-se muito mais lenta, e outras ainda, a doença continuava a sua evolução de destruição como se não tomasse medicação. Além de que a doença estava já muito avançada, Alzira devia ter ido a uma consulta de neurologia no início dos sintomas.

Informou ainda que era uma doença relativamente recente e que a própria ciência ainda sabia muito pouco sobre ela.






26.10.21

POESIA ÀS TERÇAS - CARTA DE UM CONTRATADO - ANTÓNIO JACINTO





Carta de um contratado

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que dissesse
deste anseio
de te ver
deste receio
de te perder
deste mais bem querer que sinto
deste mal indefinido que me persegue
desta saudade a que vivo todo entregue...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,

uma carta de confidências íntimas,
uma carta de lembranças de ti,
de ti
dos teus lábios vermelhos como tacula
dos teus cabelos negros como dilôa
dos teus olhos doces como maboque
do teu andar de onça
e dos teus carinhos
que maiores não encontrei por aí...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que recordasse nossos tempos a capopa
nossas noites perdidas no capim
que recordasse a sombra que nos caía dos jambos
o luar que se coava das palmeiras sem fim
que recordasse a loucura
da nossa paixão
e a amargura da nossa separação...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que a não lesses sem suspirar
que a escondesses de papai Bombo
que a sonegasses a mamãe Kieza
que a relesses sem a frieza
do esquecimento
uma carta que em todo o Kilombo
outra a ela não tivesse merecimento...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que ta levasse o vento que passa
uma carta que os cajús e cafeeiros
que as hienas e palancas
que os jacarés e bagres
pudessem entender
para que o vento a perdesse no caminho
os bichos e plantas
compadecidos de nosso pungente sofrer
de canto em canto
de lamento em lamento
de farfalhar em farfalhar
te levassem puras e quentes
as palavras ardentes
as palavras magoadas da minha carta
que eu queria escrever-te amor....

Eu queria escrever-te uma carta...

Mas ah meu amor, eu não sei compreender
por que é, por que é, por que é, meu bem
que tu não sabes ler
e eu - Oh! Desespero! - não sei escrever também


De um pequeno livro  intitulado  POEMAS com capa de Luandino Vieira, editado pela primeira vez em 1961, o que tenho é uma edição que o jornal Sol distribuiu  gratuitamente em 2015


BIOGRAFIA AQUI

25.10.21

UMA NOITE DE INVERNO - PARTE IV



Depois ele montou uma pequena oficina nas traseiras, e ela, voltou à costura. Como não tinham filhos, todos os anos faziam uma grande viagem. Passeavam sempre que podiam e lhes apetecia e os anos foram passando, mas se a idade, fez com que as labaredas da paixão, se fossem aos poucos transformando num fogo mais brando, eles estavam cada dia mais unidos, mais companheiros, mais cúmplices.

Mas tudo mudara há uns sete anos. Os primeiros sinais foram tão impercetíveis que quase nem se apercebeu. Uns momentos de ausência que ele até tomou por qualquer preocupação que a mulher tivesse com algum dos seus sobrinhos.
Luís lembrava-se de ouvir muitas vezes enquanto criança, a sua avó dizer; “a quem Deus não dá filhos,  dá o diabo sobrinhos” e os da mulher não eram lá grande coisa. Só apareciam a ver a tia, para pedirem dinheiro.

Depois, pequenas perdas de memória, primeiro raras, depois mais frequentes. A princípio nem o médico de família lhe ligou importância. Eram sintomas normais de envelhecimento. Afinal com a idade, toda a gente vai tendo essas pequenas perdas de memória, disse ele. E aconselhou-a, a passar a fazer uma lista das coisas para não se esquecer.

A determinada altura Alzira, tornou-se agressiva. Ele pensou que ela devia ter consciência de que algo de grave lhe estava a acontecer e estava revoltada. 
Perdeu a sua característica doçura, andava sempre irritada. E chorava com frequência, que ele bem via os seus olhos vermelhos. Uma fase que durou quase três anos. O médico receitou calmantes,  que ela não queria tomar, porque a deixavam meio a dormir o dia todo.

Depois, a agressividade foi trocada pela apatia.  Parecia que nada despertava o seu interesse. Progressivamente era como se aos poucos se fosse desligando do mundo que a rodeava.

E só nessa altura, o médico lhes passou uma credencial para um neurologista. Esperou algum tempo pela consulta no hospital, enquanto os sintomas se iam agravando.
Quando finalmente foi à consulta o diagnóstico não podia ter sido mais terrível para Luís, embora ele tivesse a noção de que Alzira, naquela altura, já não tinha discernimento para saber o que era ter Alzheimer.



24.10.21

DOMINGO COM HUMOR


 



No tribunal, o juiz vira-se para o réu e diz-lhe:
- Mais uma vez, este tribunal o vai condenar. Aqui tem o resultado de andar sempre metido em más companhias!

Responde o réu:
- Tem razão, senhor doutor juiz! Desde que me conheço, só me lembro de andar metido com polícias, advogados e juízes.



Dois amigos lamentavam-se um:
- Como durou poucos dias o pobre do nosso amigo Jeremias. O médico não o visitou mais que uma vez!

Diz outro:
- É verdade! Há médicos muito despachados



Um tipo visitou a exposição de pintura de um amigo, autodidata na matéria, e este, a certa altura, reparando que o outro se detinha a olhar atentamente para um dos seus quadros, aproximou-se entusiasmado e perguntou-lhe:
- Então, que sensação te desperta esta minha pintura?

Diz o amigo:
- Faz-me crescer água na boca…

Admirado, pergunta o pintor:
- Um pôr do sol faz-te crescer água na boca?!

Responde o amigo:
- Olha, julgava que era um ovo estrelado!



Um tipo estava a ler o jornal silenciosamente, mas, a certa altura, vira-se para um amigo que estava ao seu lado e diz-lhe:
- Escuta esta notícia. Na Bélgica, um grupo de prostitutas impediu um assalto ao bordel, atacando o ladrão com vibradores!

Diz o amigo:
- Pudera! Quem tem cú tem medo…


22.10.21

UMA NOITE DE INVERNO - PARTE III




Uma tarefa árdua.  Alzira corava quando o marido lhe lançava um olhar mais atrevido, tinha vergonha de se despir na frente dele, quanto mais abandonar a posição de missionário por uma nova experiência, ficar de luz acesa nos momentos de intimidade, ou retribuir-lhe as carícias. Foi preciso muita paciência, muito amor, até que a esposa, percebesse que não há nada proibido, nem vergonhoso entre dois seres que se amam, e entendesse que contrariamente ao que a mãe lhe dizia, o caminho para o coração de um homem, pode não ser exatamente o do estômago.

Três anos depois, Luís começava a ficar preocupado, pois apesar de não usarem métodos contracetivos, e terem uma vida sexual intensa, Alzira não engravidava. Depois de conversarem sobre o assunto, resolveram procurar ajuda médica. Luís pensava que talvez a esposa fosse estéril, e ela temia isso mesmo. Emagreceu, estava triste. Temia perder o marido. Adorava-o. Para ela, era Deus no Céu e o marido na terra. Ele percebeu. E apesar de ansiar por um filho, jurou-lhe que nada mudaria se ela não os pudesse ter. Amava-a de qualquer jeito. 

Porém depois de todos os exames feitos descobriu que afinal o problema era dele. Sofria de Azoospermia.
Ele não sabia o que isso era e então o médico explicou-lhe que o seu sémen  não continha espermatozoides. Era como se o seu sémen fosse um ovo apenas com clara, sem gema. Impossível ser pai, a não ser que recorresse à adoção. 
Ficou triste, enraivecido, doente. Sentia-se diminuído.

Foi nessa altura que se apercebeu do verdadeiro amor da esposa e de como ela tinha mudado. Convenceu-o que para ela, era muito mais importante o seu amor, do que o desejo de ter filhos. 
Ainda que não fosse mãe, era mulher, e uma mulher que ele fazia muito feliz.  Mas a maior prova de amor, recebeu-a, quando interrogada pelos pais, sobre quando lhes daria um neto, assumiu perante a sua família que nunca lhos daria, porque ela era estéril.

Anos mais tarde, pensando que aprendera o suficiente para tentar dar outro rumo à vida, Luís decidiu emigrar. Alzira deixou tudo e foi com ele. Estiveram quinze anos na Suíça. Trabalharam muito, fizeram imensos sacrifícios, mas regressaram com o dinheiro suficiente para comprarem um terreno e construírem uma bonita casa.

Não era nenhuma grande mansão, muito menos um palacete, mas era uma bonita casa térrea, com um pequeno terreno à volta que a mulher logo encheu de flores.



20.10.21

UMA NOITE DE INVERNO - PARTE II





Regressou de Angola decidido a deixar o mar. A procurar outro rumo de vida, um novo futuro. Mas não era fácil. Mal terminara a primária, começou a ir para o mar. O seu pai era pescador, o seu avô fora pescador, e antes do seu avô, todos os homens da família tinham sido pescadores. Alguns tinham ficado por lá, desaparecidos em naufrágios. O mar mandara outros para terra, feitos cadáveres. 

 Ele não queria aquela vida. Não escapara do inferno da guerra, para acabar no fundo do mar. Mas que mais, sabia ele fazer? Nunca aprendera outra profissão. Todavia, acreditava que nunca era tarde para dar uma volta no seu destino.

  Arranjou trabalho numa oficina de automóveis. Começou por lavar carros. Quando não tinha que fazer, ia ajudar os mecânicos. Comprou livros para aprender a teoria, a prática ia aprendendo-a no dia a dia. 
Alzira, a mulher era modista. Tinha uma boa clientela, não lhe faltava trabalho. Era uma boa mulher. Asseada, poupada, e trabalhadora. Mas, embora isso não fosse pouca coisa, para ele não chegava. Não que estivesse a pensar separar-se, ou tivesse deixado de amar a mulher. Mas que estava desiludido com a vida matrimonial, isso era um facto.

Num tempo, em que a sociedade dizia, que a honra da mulher estava no meio das suas pernas, elas não aprendiam a ser mulheres. Eram educadas para serem boas esposas, e mães. Aprendiam de meninas, a cozinhar, arrumar uma casa, costurar, a cuidar dos irmãos mais novos, para que mais tarde, soubessem cuidar dos filhos. As mães diziam às filhas que era sua obrigação “servir” o marido quando lhe dava  a vontade, para que ele não procurasse na rua, o que a mulher não lhe dava em casa.

Ensinavam-lhes que o sexo era algo sujo, que a mulher só devia consentir, porque era necessário para perpetuar a espécie. Alzira fora criada nesses preceitos. A igreja também punha o carimbo de pecado, em tudo que não fosse estritamente necessário para a procriação. Ninguém ensinava à mulher, que o sexo era um complemento do amor, e que o seu corpo tinha os mesmos direitos a desfrutar da intimidade, que o dos homens.

Com o homem era diferente. A eles tudo era permitido. Eles estudavam, viajavam, frequentavam bordéis. Aprendiam a tirar todo o prazer que o corpo lhes podia dar. 

Com a mesma tenacidade com que lutava para melhorar a  sua vida profissional, Luís propôs-se ensinar à esposa, que entre duas pessoas que se amam, nada é sujo ou pecaminoso, que era errado pensar no sexo apenas como meio de procriação. Se assim fosse a natureza se encarregaria de castrar os desejos dos estéreis, o que não acontecia pois casais que não podiam ter filhos desfrutavam da relação sexual, com o mesmo prazer dos outros.

Foi um pouco difícil mudar a mentalidade da mulher, mas com todo o amor que lhe tinha, e uma boa dose de paciência, conseguiu tornar a vida intima do casal mais empolgante.



19.10.21

POESIA ÀS TERÇAS - HILDA HIST

 




De tanto te pensar, Sem Nome, me veio a ilusão,
A mesma ilusão

Da égua que sorve a água pensando sorver a lua.
De te pensar me deito nas aguadas
E acredito luzir e estar atada
Ao fulgor do costado de um negro cavalo de cem luas.
De te sonhar, Sem Nome, tenho nada
Mas acredito em mim o ouro e o mundo.
De te amar, possuída de ossos e de abismos
Acredito ter carne e vadiar
Ao redor dos teus cimos. De nunca te tocar
Tocando os outros
Acredito ter mãos, acredito ter boca
Quando só tenho patas e focinho.
Do muito desejar altura e eternidade

Me vem a fantasia de que Existo e Sou.
Quando sou nada: égua fantasmagórica
Sorvendo a lua n’água.

– Hilda Hilst, no livro “Sobre a tua grande face”. São Paulo: Massao Ohno, 1986.

Biografia  AQUI



18.10.21

UMA NOITE DE INVERNO - PARTE I




Bom, não sei quando terei uma nova história para vos apresentar, dado o estado dos meus olhos, além de outros problemas, como o provocado pelo antibiótico para a infeção urinária que me vai obrigar a procurar hoje mesmo nova ajuda médica e o tempo limitado que posso estar no pc. De modo que vem aí uma outra história das mais antigas. Os leitores de 2016 recordar-se-ão dela, embora haja na história pequenas alterações. Porém os leitores mais recentes, não a conhecem até porque foi uma das que acabei por apagar pouco tempo depois da sua publicação. É uma historia pequenina apenas 7 episódios.



                                                         I
A noite estava muito fria. Era inverno. Lá fora a temperatura devia rondar os zero graus. A um canto junto à janela, a braseira aquecia a sala. As janelas de vidro, estavam abertas, contrariamente às persianas corridas que apenas deixavam passar uma nesga de ar gelado, contudo necessário para a renovação de ar, por causa da braseira acesa.

 Na sala um casal via televisão. A mulher de cabelos grisalhos, e olhar parado, brincava com os dedos como se neles tivesse um qualquer objeto, que mexia e remexia.  Devia ter uns setenta anos, era de baixa estatura, e figura roliça. O rosto ostentava ainda restos do que teria sido um rosto senão belo, pelo menos muito gracioso. Os olhos que teriam sido brilhantes e vivos, eram verdes, como dois 
lagos de águas paradas.

Junto dela, o homem ligeiramente mais velho, alto e magro, calvo, de olhos escuros e barba grisalha. A televisão transmitia um programa de variedades, mas o casal parecia nem dar por isso. O homem olhava a mulher com um misto de amor e piedade. Parecia estar pendente dela, enquanto ela se mostrava totalmente ausente.


Ele conhecera-a nos bancos da escola. Foi a sua primeira e única namorada. Porque fora a única mulher que ele amara na vida, além da sua mãe. Casaram-se muito jovens. Ele estava na tropa em Leiria, quando soube que tinha sido destacado para a guerra nas colónias. Foi um choque, e resolveram casar à pressa, porque ele tinha medo de morrer, sem viver o amor que sentia por ela.

 Tinha vinte e um anos, ela acabara de fazer dezoito.

Dois dias depois de casados, ele voltou ao quartel donde só saiu na hora do embarque com destino a Angola.

Chegou a Luanda num longínquo dia de Março de mil novecentos e sessenta e quatro. Depois de dois dias na cidade, que mal deram para umas cervejas no famoso café Rialto e um passeio pela ilha, lá foi com o destacamento para as margens do Lungué-Bungo, no leste de Angola, e por lá ficou vinte e seis meses, apenas com um mês de férias ao fim de um ano.


Como ele gostaria de ter vindo  à metrópole nesse mês, rever a terra, os amigos, e principalmente a sua amada Alzira. Infelizmente o dinheiro não abundava e teve que se contentar com uma ida até ao Luso, (a cidade mais próxima, do acampamento, embora ficasse a quase 200 quilómetros ), duas ou três idas ao cinema e uns copos com outros camaradas também de férias.

Às vezes sentia a tentação de se deitar com alguma das belas mulatas que viviam perto do acampamento.
Afogar nuns momentos de prazer, as saudades de casa, os medos das emboscadas, a dor da perda de algum companheiro menos afortunado.
Porém, lembrava-se da esposa, e embora não tivesse pretensões de santidade, pensava que umas horas de prazer com uma desconhecida, não substituiriam o amor, nem mitigariam a saudade que tinha, da mulher que amava.

E o desejo, não era mais forte do que ele, que moldara a sua força na anterior vida de pescador, em bravas lutas com mares encapelados...


17.10.21

DOMINGO COM HUMOR


 

De manhã a mulher acorda, volta-se para o marido e diz:
-Amor tive um sonho lindo. Sonhei que me deste de presente de aniversário um belo colar de diamantes.
O que isso quer dizer?
- Tu saberás no dia dos teus anos, - respondeu o marido.
Dias depois é o dia de aniversário da mulher e o marido chega a casa com um embrulho de presente. Apressada a mulher rasga o embrulho e encontra uma bela caixa vermelha.
Com as mãos a tremer abre-a e lá dentro encontra um livro com o titulo "O significado dos sonhos"



No avião, o piloto do avião fala:
- Agora olhem todos para baixo, vocês estão a ver a cidade de Iporanga, que tem 6.000 habitantes.

O passageiro vai até cabine do piloto e diz:
- Fiquei a saber que nesta cidade só tem prostituta e jogador de futebol.

O piloto visivelmente irritado diz:
- Minha mãe mora lá!

- Qual é o nome da sua mãe? – pergunta o passageiro.

Responde o piloto:
- Maria Josefina!

E diz o passageiro:
-  Ahh… dizem que ela joga muito!



Diz o chefe da repartição pública para a sua nova secretária particular:
- Espero que, nas minhas ausências esporádicas, a senhora não fique para aí de braços cruzados.

A funcionária:
- Ah, não senhor! Isto agora com os telemóveis nunca nos aborrecemos…



Um senhor tinha uma grande cárie e, um dia, decidiu ir ao dentista. Diz-lhe o dentista:
- Mas que grande buraco o senhor tem! Mas que grande buraco o senhor tem! Mas que grande buraco o senhor tem!

- Está bem, doutor, mas escusa de repetir isso tantas vezes! – diz o homem.

E responde o dentista:
- Eu não repeti! O que você ouviu foi o eco



Numa discussão entre homens e mulheres, diz um dos apoiantes masculinos:
- Fica a saber que os homens são melhores cozinheiros!

- Tenho as minhas dúvidas acerca disso! – responde prontamente uma das mulheres.

E diz o homem:
- Então vê lá que apenas com dois ovos, uma salsicha e um pouco de leite podem encher a barriga de uma mulher por nove meses…


14.10.21

CONVERSANDO

 

Bom dia amigos.

Com o final de Sinfonia da Memória, acabaram-se as postagens que tinha programadas e não tenho nada de novo, pois como todos sabem, os vários problemas de saúde, meus e do marido, e a netinha, não me deixam tempo nem capacidade para nada. De modo que a partir de hoje, e até que as coisas melhorem, ou deixo o Sexta em descanso, ou o vou mantendo com fotos, pensamentos, e vídeos que tenho nos meus arquivos

Peço-vos desculpa, mas além do problema dos olhos que muito me limita, depois de 42 dias voltou o problema da hipertensão, além de uma infeção urinária. Estou a fazer exames médicos este mês e no próximo tenho três consultas, no hospital do Barreiro e de Santa Maria. Uma delas a ver se me tiram os últimos pontos do olho, outra por causa da apneia e a outra para tentar descobrir o que me está a provocar estes picos de tensão.

Visitar-vos-ei sempre que possa.

 

12.10.21

POESIA ÀS TERÇAS - O MEU OLHAR É ...MÁGICO - ELVIRA CARVALHO

 


O meu olhar é… mágico


O meu olhar é mágico. 
Ele é o portal de entrada na vida que me rodeia.
É a borboleta que dança inebriada
Sobre um canteiro florido.
Ele é a alegria esfuziante da criança,
Que brinca
Sob o atento olhar da mãe, que sonha
Para ela um futuro radioso.
Ele é o Amor latente nos jovens
Que trocam beijos num banco de jardim.

O meu olhar é mágico
Ele é a lágrima escondida,
na solidão dos idosos
A quem o desemprego levou
Os filhos na mala da emigração.
É a dor sem tamanho daquela mãe
A quem um acidente brutal roubou
A luz dos seus olhos.
Ele é o mar que no horizonte
Se funde no espaço celeste.
Ele é a nuvem que passa
O vento que verga as árvores
E o sol que a todos afaga.
O meu olhar é mágico
Porque ele é o portal das emoções
Que compõem a Sinfonia da Vida.

Maria Elvira Carvalho.


in  Antologia de Poesia Contemporânea (Chiado Editora)

11.10.21

SINFONIA DA MEMÓRIA - PARTE XXX

 

Aquele domingo de Abril, amanheceu radioso. Helena, o filho e os pais, tinham chegado dois dias antes ao Porto, e hospedaram-se no hotel, onde se realizaria a festa de casamento para os mais de duzentos convidados, que chegaram na véspera.

Helena jamais tinha sonhado com uma festa assim, mas Fernando não esquecia que lhe devia a vida, e quis que ela tivesse um casamento de princesa.
 
Graças à armadilha montada pelo inspetor Morais, e sua equipa, conseguiram irritar Joaquim Salgueiro, que fez exatamente aquilo que eles esperavam. Tentou matar Fernando, o que não conseguiu, graças à pronta intervenção da agente que o acompanhava. Perseguido na fuga, e vendo-se encurralado, acabou disparando contra si próprio, a arma com que tentara alvejar o pianista. Com este desfecho, a polícia convocou a imprensa e contou toda a história.

 Os restantes membros da Orquestra, seus colegas, que se preparavam para regressar a Portugal, terminada que fora a sua digressão, foram então informados pela polícia americana do que se passara. 

Enquanto isso, ele regressara a Lisboa, para a sua doutora. Recuperara os seus documentos, apreendidos numa busca a casa do malogrado facínora, mas não a memória. Isso aconteceria, quinze dias mais tarde, quando numa academia de música, a que Helena o levou, por sugestão do psiquiatra, se sentou ao piano e deu livre curso à sua paixão.

 A Sinfonia nº 40 em sol menor de Mozart, com que devia estrear-se como solista nos Estados Unidos, penetrou nas profundezas da sua mente, e trouxe todo o passado para a atualidade. A magia da sua interpretação, fez com que as pessoas que se encontravam na academia, se fossem dirigindo para a sala, e aplaudissem entusiasmadas no final.

 Recuperada a memória, Fernando só tinha um desejo. Casar e regressar à sua casa na Póvoa, e à orquestra no Porto. Mas Helena, tinha que se despedir da clínica, e tentar a transferência do Hospital de Santa Maria para um hospital no Porto.

 E agora, tudo resolvido, envergando um belíssimo vestido branco, devidamente penteada e maquilhada pelos profissionais do hotel, preparava-se para sair em direção à limusina que a levaria à Igreja da Lapa, onde o noivo a esperava cheio de ansiedade.
Mais tarde, pelo braço do pai avançou pela nave da igreja, confiante e feliz, sem desfitar o noivo, lendo nos seus olhos, as mais belas promessas de amor.

Quando a emocionante cerimónia chegou ao fim, e o padre lhe disse que podia beijar a noiva, Fernando beijou-a com paixão murmurando-lhe depois ao ouvido:
-Amo-te, doutora. Como nunca amei nada, nem ninguém.
Ela respondeu no mesmo tom.
- Amo-te tanto, que nem sei como consigo respirar.

Seguiram-se as felicitações. Primeiro, o próprio sacerdote, depois, o Inspetor Morais e a agente que durante uns dias fora “noiva” de Fernando, e que o noivo fizera questão de ter por padrinhos, Marta e o marido que foram padrinhos de Helena, os pais da noiva, e depois os restantes  familiares e amigos. Por fim os noivos encaminharam-se para a saída, da Igreja,  com Fernando carregando ao colo o pequeno Diogo, radiante por já ter um pai, como os outros meninos.


Fim

10.10.21

DOMINGO COM HUMOR


 






Um jogador de futebol explica um lance do jogo da tarde para um amigo:
- Tinha que ver, na hora de marcar o penalti o guarda-redes diz-me: “Se chutares para a esquerda eu apanho, se chutares para a direita eu apanho, se chutar para o meio eu apanho!”

- E o que fizeste? – pergunta interessado o amigo.

Diz o primeiro:
- Enganei ele, ora pois!

- Enganaste-o como? – pergunta o amigo.

Explica o primeiro:
- Fiz a única coisa que ele não estava à espera… Chutei para fora!





Depois de mais um jogo, uns amigos que eram de equipas opostas foram beber uma cervejinha num bar. Pergunta um:
- Diz lá então, o teu treinador percebe alguma coisa de futebol?

- Claro que percebe! – responde o segundo convicto.

Pergunta o primeiro:
- Ai sim?! E porque dizes isso?

Explica o segundo:
- Claro que sim! Antes do jogo ele diz como se ganha e depois do jogo analisa detalhadamente porque perdemos…



Diferença entre homens e mulheres num primeiro encontro:

Pensamento de uma mulher no primeiro encontro entre um homem e uma mulher:
- Que ar apresentável: atlético, penteado, bem vestido, perfumado. Que cavalheiro: flores, abre as portas e respeitador. Homem de sucesso: bom emprego, educado. Deve dar um bom pai de família e um excelente marido! Tenho tanta sorte!

Pensamento do homem:
- Elahh que belo par de m****. E que pernas…. Tenho tanta sorte!






O professor de Ciências Naturais:

- Joãozinho, que nome se dá ao órgão sexual do homem?

O Joãozinho:
- Gaita de foles.

O professor:
- O quê?! Explique-se!

O Joãozinho:
- É a Gaita de foles, porque, para atuar, tem de ser bombeada de cima para baixo e de baixo para cima…

Estupefato, volta o professor:
- Então, e o órgão sexual da mulher?

O Joãozinho:
- Ah, esse é a Gaita de beiços…




Um tipo chega a casa mais cedo que o habitual. Só lá estava o filho, um puto de doze anos, e a empregada doméstica, que era uma autêntica brasa. O tipo, que há muito esperava semelhante oportunidade, disse ao miúdo:
- Joãozinho, agora, vais ali para a janela e, por cada pessoa que passe na rua toda vestida de preto, dou-te um euro.

O puto foi para a janela e o pai para um quarto com a empregada. Dois minutos depois, interrompe o puto:
- Ó pai, vem ali uma pessoa toda de preto!

O pai:
- Pronto, filho, já ganhaste um euro!

Mais três minutos passados, diz o puto:
- Ó pai, ó pai, agora são duas pessoas!

O pai, já com uma voz trémula:
- Está bem, filho, mais dois euros…

Uns instantes depois, o puto, agora aos pulos de contentamento, grita:
- Paizinho, paizinho, a f*** vai-te ficar cara! Vem ali em funeral…

8.10.21

SINFONIA DA MEMÓRIA - PARTE XXIX

 

Acordou cedo. Virou-se, procurando Fernando, mas a cama estava vazia. Esticou a mão e passou-a pela almofada que ainda mantinha a forma da sua cabeça. Estava fria. Não gostou. Saltou da cama, tomou duche e arranjou-se, pensando se o que se tinha passado na véspera, tinha acontecido mesmo ou ela tinha sonhado.

 Preparava as torradas quando ele apareceu na cozinha.
Bom dia, - disse sorrindo, enquanto a abraçava
-Deixaste-me sozinha,- queixou-se desviando o rosto para evitar o beijo. Porquê?
-Nada me daria mais prazer do que acordar a teu lado, doutora. Mas, e se o Diogo acordasse e fosse ter contigo ao quarto? Várias vezes o vi fazer isso quando acorda cedo. O que é que a cabecinha dele, ficaria a pensar?

Ele tinha razão. Que raio de mãe era ela que se esquecera do filho?
- Desculpa. Pões-me tão doida que não consigo pensar. É claro que temos de conversar com ele. Mas é melhor fazê-lo quando voltares.
- E porque não hoje? Tens medo, de que não volte?
-Não. Mas sinto-me inquieta. E se te acontece alguma coisa?
- Ouviste o que disse o inspetor. Não vai acontecer nada. E estou muito esperançado, de que à vista da minha casa, das minhas coisas eu recupere a memória.
- E se isso acontece e esqueces este espaço de tempo? Se não te lembras de mim?
- Isso não é possível, doutora. Estás aqui dentro, -disse apontando para o peito.

A eficiente doutora Helena, aquela que sabia sempre o que fazer, e que não tremia quando tinha de empunhar o bisturi, estava longe da mulher apaixonada, carente e insegura, que se sentia mal, só de pensar o que podia acontecer, naquela separação. Naquele momento as fatias de pão saltaram na torradeira, e ela concentrou-se em tirá-las e substitui-las por outras. 

Então o menino entrou na cozinha e depois de beijar a mãe, foi abraçar o tio, que o sentou nos seus joelhos.
- Bom dia, Campeão. Sabes que hoje começou um novo ano?
- Sei, E tu sabes que este ano já vou para a escola? Já sou crescido.
- Claro que sim, - disse com um sorriso. E como um menino crescido, vais escutar o que o tio Fernando, tem para te dizer sem ficares triste, está bem?
- Vais-te embora? – perguntou muito sério.

Os dois adultos, entreolharam-se admirados com a perceção da criança.
- Tenho que ir, preciso resolver uns assuntos na minha terra. Mas volto em breve. Gosto muito de ti, Campeão. E da tua mamã. Gostava de ficar a viver convosco para sempre. Levar-te à escola, assistir às tuas atividades, levar-te a passear.
- Vais casar com a mamã? 

Mais uma vez, os adultos se entreolharam.
- Gostavas que o fizéssemos?
- Sim. E depois eu já podia dizer aos meus amigos que também tenho um papá!
Emocionados, os dois adultos abraçaram a criança.