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31.7.21
30.7.21
COMEÇAR DE NOVO - PARTE XXXVIII
Os cinco meses que antecederam o casamento, foram de muita persistência, companheirismo e apoio, por parte de Gonçalo, que deve ter esgotado todas as técnicas de sedução que conhecia, antes que Helena aceitasse finalmente o casamento. Não que estivesse convencida do amor de Gonçalo.
Ainda pensava que
tudo o que ele fazia, se devia ao facto do enorme desejo que ele sentia de ter
uma família e também porque não à intensa atração sexual que os unia. Reconhecia
que ele amava apaixonadamente a filha, mas a ela…
Todavia
depois de muito pensar resolveu arriscar. Quem sabe acabaria descobrindo que estava
errada. E depois ou se casaria com ele ou se condenaria a uma vida inteira de
solidão. Não conseguira esquecê-lo durante catorze anos, quando pensava que era
um cafajeste, como ia conseguir esquecê-lo agora?
No
espaço de tempo decorrido, desde aquele dia em que Helena e a filha foram
apresentadas à família paterna, a relação dos dois com as duas famílias fora-se
estreitando, com sucessivos fins de semana ora em Braga, ora na quinta entre
Alpedrinha e a serra da Gardunha.
A
data fora escolhida pelos dois, como um recomeço da história que os uniu no
passado. Era como se pretendessem que aquele dia feliz, apagasse das suas
memórias o acidente de Gonçalo e a desilusão de Helena.
E
sim, foi o casamento mais bonito a que os convidados já tinham assistido.
*******************************************************************************************
Dois
anos depois…
Mal
Gonçalo parou o carro junto da sua residência, a porta abriu—se e dela saíram
Matilde, seguida da tia Laura e dos primos Sara e Miguel.
Gonçalo deu a volta ao carro e ajudou a esposa a sair enquanto Laura abria a porta traseira e tiravam os dois ovos onde dormiam os gémeos Rafael e Mariana nascidos por cesariana três dias antes. Matilde, agora uma bela adolescente de quinze anos apressou-se a pegar no ovo onde dormia Mariana, encantada com a bebé loira tão parecida consigo.
Já em casa, Gonçalo ajudou Helena a deitar-se na grande
cama de casal, enquanto a irmã deitava os bebés num enorme berço, onde ficariam
os dois no primeiro mês. Depois passariam para o quarto ao lado, onde seriam
então separados e cada um teria o seu próprio berço.
-
Todos lá para fora agora, - ordenou Laura. Os bebés devem dormir descansados e
a mãe precisa descansar.
Matilde
aproximou-se da cama e disse:
-A
madrinha telefonou a dizer que vinham cá esta noite, para ver os bebés e falar
contigo.
Depois
baixou-se e deu um beijo na mãe, de seguida beijou o pai e disse:
-Estou
muito feliz com os meus irmãozinhos. Obrigado aos dois por esta felicidade.
Saiu
do quarto em seguida fechando a porta atrás de si.
Gonçalo
sentou-se na beira da cama e segurou a mão da esposa entre as suas.
-
E eu também te agradeço querida, por teres acreditado no meu amor, mesmo eu não tendo recuperado a memória e teres transformado
a minha vida amargurada e solitária, nesta felicidade que partilhamos.
Curvou-se
para a beijar enquanto Helena emocionada fechava os olhos, deixando rolar pela
face uma lágrima de felicidade
Nota:
A história que se seguirá é uma reedição. Foi publicada a primeira vez em 2016. Os mais antigos já a leram, mas talvez gostem de a recordar. Ultimamente tenho dificuldade em conseguir escrever novas histórias. Além de tomar conta das netas, tenho o problema dos olhos e a saúde da minha outra metade que não tem andado bem. Com várias consultas e exames este mês, e uma colonoscopia e endoscopia marcada para fins de Agosto, quando este capítulo for publicado já estaremos no Algarve a aproveitar os quinze dias de férias do filho, em que não teremos de cuidar das netas para recuperar e recarregar baterias.
Não tenho internet lá, a não ser no telemóvel, tudo o que sair até ao dia do meu regresso, (15 de Agosto) já está agendado.
29.7.21
PARA MEDITAR
28.7.21
COMEÇAR DE NOVO - PARTE XXXVII
Uma
vez dentro da residência e depois das apresentações e dos cumprimentos, Teresa
Meireles a avó das meninas, não se cansava de olhar para a nova neta, enquanto
dizia para a filha:
-Meu
Deus Laura, ela é igualzinha a ti quando tinhas a sua idade. Se eu fosse uma
desconhecida, pensaria que a Matilde era tua filha.
- Foi precisamente essa semelhança que me alertou - disse Gonçalo
A
preocupação de Lena sobre a forma como a família de Gonçalo as recebesse
desapareceu rapidamente ante a simpatia e o carinho que todos lhes
demonstravam.
Houve
apenas um momento de atrito, quando dona Teresa afirmou que eles teriam que
casar o mais rápido possível e se ofereceu para ajudar a preparar a cerimónia.
Lena
manteve a posição já assumida perante a sua própria família, de não querer o
casamento, e os pais dele não gostaram disso, porém Laura tomou a sua defesa,
dizendo à mãe, que aquele era um dia de festa, para viverem a alegria de
conhecerem a neta e não para se meterem na vida do filho e de Helena, que eram
adultos e tinham discernimento suficiente para saberem o que era melhor para as
suas vidas. Além disso, os dois não se viam há muitos anos, era necessário dar
tempo ao tempo, para que os dois se conhecessem de novo.
A
Laura tem razão, querida, - disse Aníbal apertando carinhosamente a mão da
esposa. Vamos viver este momento de felicidade, e deixar que os dois resolvam o
que é melhor para eles e para a menina.
Nesse
momento, Miguel que brincava com uma bola no parque, resolveu chamar a atenção
para si, lançando a bola com toda a força do seu pequeno corpo para as pernas do
tio e as meninas correram para junto dele, seguidas por Laura que o segurou ao
colo e o apresentou a Helena, antes de dizer:
-Desculpem-me
por um momento, vou trocar-lhe a fralda.
E
afastou-se seguida pelas duas meninas. Teresa não voltou a pronunciar a palavra
casamento e Helena sentiu-se grata por isso.
O
resto do dia decorreu num clima de conversa ameno, onde as crianças foram a
preocupação constante.
Pouco
depois do jantar, Laura pediu desculpa pois Miguel acabara de adormecer no colo
da avó, e porque no dia seguinte era dia de aulas, Sara deveria despedir-se de
todos e ir lavar os dentes para ir para a cama. A filha assim fez dizendo a
Matilde que uma vez que estavam na mesma escola, se veriam no dia seguinte.
Helena
aproveitou para se despedir também, não sem antes de prometer que haveriam de voltar
a ver-se num futuro próximo.
Gonçalo
levou-as a casa e ao chegarem, a filha perguntou:
-Mãe,
porque não convidas o pai a entrar e lhe ofereces um café? Ainda é cedo e
afinal os adultos não se costumam deitar tão cedo como os filhos.
Helena
não tinha vontade de prolongar a noite, ainda mais sozinha com Gonçalo o único
homem que amara e que ainda lhe fazia tremer as pernas e adejarem borboletas na
barriga.
Porém
ante a insistência da filha e o olhar interrogativo do pai, não lhe restou
outra alternativa que fazer o convite.
Uma
hora mais tarde, depois de terem bebido o café e conversado um pouco sobre a
família dele e a impressão com que ela ficara deles, ela acompanhou-o à porte e
estendeu-lhe a mão para se despedir, mas Gonçalo puxou-a para si, inclinou a
cabeça e beijou-a apaixonadamente
27.7.21
POESIA ÀS TERÇAS - A PALAVRA AOS AMIGOS
DANÇA COMIGO
Convida-me para dançar
26.7.21
COMEÇAR DE NOVO- PARTE XXXVI
Helena
e a filha regressaram a casa no Domingo à tarde. O terceiro período iniciou-se
no dia seguinte, mas Matilde teve que faltar às primeiras aulas por ter de ir
ao hospital tirar os pontos e ser vista pelo cirurgião.
Entretanto
Gonçalo telefonara a Helena contando que os pais tinham viajado de Braga para a
conhecer, bem como à neta e que estavam instalados em casa da filha.
Ele
desejava levar as duas à casa da irmã, para que se conhecessem. Laura,
convidava-as para jantar, e ele acompanhá-las-ia a casa logo após o mesmo, já
que a filha não se poderia deitar tarde.
Embora
indecisa, por temer que a família do Gonçalo, fosse insistir num casamento que
ela não queria, Helena acabou por aceitar o convite, por saber que mais cedo ou
mais tarde, a filha teria que conhecer a família do pai, e não havia justificativa
para dececionar os avós que tinham feito uma longa viagem só para os conhecer.
Com
o apoio de Rita que ainda não conhecera o pai da afilhada, por ter chegado à
quinta depois da partida dele, e que fazia parte do clã que desejava vê-la
casada, Helena saiu do trabalho logo depois do almoço, foi buscar a filha à
escola e seguiram para casa.
Apesar
de se estar a caminho do final de abril, a primavera chegar com pretensões a
verão e o dia estava bastante quente. Enquanto Matilde fazia os TPCs, a mãe dedicou-se
a limpar o pó que se acumulara na semana de ausência.
Terminada
a tarefa, tomou banho e ficou indecisa em frente do armário aberto, sem saber
bem o que vestir. Por não conhecer a dona da casa e a mãe, e não sabia se optar
por uma roupa mais ou menos formal. Acabou escolhendo um dos poucos vestidos
que tinha, pois, mesmo os fatos de trabalho eram quase exclusivamente compostos
de calças.
Ainda
de robe, foi verificar se a filha tinha acabado os trabalhos, para tomar banho.
Não se preocupou com a roupa da filha, há quase um ano que ela decidira escolher
ela mesma as suas roupas, não só quando saiam para as compras como quando se
vestia. E como ela não era uma adolescente rebelde de gostos estranhos e
espalhafatosos, a mãe deixara de se preocupar com isso.
Olhou
o relógio eram quase quatro horas e Gonçalo ficara de as ir buscar às cinco.
Preparou o lanche para as duas e logo que a filha saiu do banho lancharam e
depois cada uma rumou ao seu quarto para se vestir. A mãe preocupada com a
maneira como a família dele a receberia, a filha encantada por ir conhecer a
família do pai.
Helena
olhou-se ao espelho. O vestido justo na cintura e de saia levemente rodada, com
decote em bico, de alças estreitas, deixava a descoberto, o pescoço parte dos
ombros e do colo. Todavia o conjunto era composto por vestido e um casaquinho
curto que acabava por esconder o que o vestido mostrava.
Penteara
o cabelo num coque preso no alto da cabeça, e fizera uma maquilhagem muito
leve. No pescoço um fino fio de ouro com uma pérola em forma de ouro, igual às
perolas que adornavam as orelhas. As sandálias de salto e a bolsa completavam o
conjunto.
Matilde
optara por um macacão curto, azul escuro estampado com minúsculas estrelas
brancas. Uma larga fita azul adornava a sua bela cabeleira da cor do trigo
maduro. Nos pés umas sandálias brancas.
Pontual
como um relógio suíço Gonçalo chegou sorridente, abraçou a filha e cumprimentou
a mãe com um beijo breve na face.
-Estão
lindas, - elogiou enquanto elas entravam no carro que ele se apressou a por a
rodar
Mal
Gonçalo estacionou o carro em frente da porta da vivenda onde a irmã vivia nos
arredores de Lisboa, a porta abriu-se e Laura surgiu acompanhada da filha para
receber os visitantes e lhes dar as boas vindas.
25.7.21
24.7.21
PORQUE HOJE É SÁBADO
23.7.21
COMEÇAR DE NOVO- PARTE XXXV
Infelizmente para as suas pretensões, Helena recusou energicamente o casamento, rebatendo todas as suas ideias. Ela não se negava a que ele desse o seu nome à filha, nem a que fosse vê-la, ou sair com ela, sempre que disso tivesse vontade, exceção feita para as noites de segunda a sexta em tempo de aulas.
Também não recusava fazer um programa com eles de vez em quando, mas por norma não os acompanharia, pois pensava que eles deviam aprender a conhecer-se e a amar-se como pai e filha.
"E nós?" perguntara ele.
"Neste momento não há nós, Gonçalo. Conhecemo-nos há quase catorze anos. Ambos eramos muito jovens. Os anos não passam em vão, nós vivemos, sofremos, não somos mais aqueles jovens. Esses ficaram lá no passado. Que sabemos nós, hoje, um do outro? Nada. Até há meia dúzia de dias, nem sabias da nossa existência.
Então tem alguma lógica casarmo-nos apenas porque acabaste de descobrir que tens uma filha e tens uma noção exagerada do dever. Como amigos, e pais da Matilde, poderemos conviver e quem sabe no futuro, voltaremos a ter um pelo outro o mesmo sentimento que nos uniu outrora? Quem sabe salta ainda alguma fagulha, das cinzas do passado?"
E foi mais ou menos isso que ela repetiu na sala, depois do almoço para toda a família, quando Sérgio perguntou se já tinham marcado a data para o casamento.
Com a sua resposta, gerou-se uma certa confusão, toda a família pressionando, especialmente Matilde que acabou por sair da sala gritando que a mãe era egoísta que não pensava nela, indo a seguir fechar-se no quarto amuada. Helena não se alterou, nem mudou de ideia, e no fundo ele admirou-a.
Gonçalo sabia que ela aceitaria a sua proposta de casamento, se ele jurasse que a amava Todavia ele não poderia fingir que tinha recuperado a memória, e muito menos jurar um falso amor. Uma relação assente numa mentira, não duraria muito e ele queria a estabilidade e uma família de verdade.
Como já perdera a esperança de recuperar a memória, só lhe restava acreditar que com o tempo e a convivência, ele poderia voltar a amá-la como ela desejava. De momento sentia um grande respeito pela mulher que era e pela maneira como educara Matilde. E uma enorme atração sexual.
Pouco depois do almoço, despedira-se de todos, agradecendo aos donos da casa o acolhimento e depois de um apertado abraço à filha e da promessa de que se veriam em breve, regressou a Lisboa.
Pouco antes do jantar, o telemóvel fez-se ouvir, e ao atender a chamada da irmã, esta informou-o que os pais ficaram espantados com o que ela lhes contara e encantados com as fotos da neta desconhecida. Viajariam para Lisboa no dia seguinte, ao fim da tarde quando ela regressaria. Queriam conhecer Helena e a filha e ajudar na preparação do casamento.
Ele aproveitou para afirmar que não iria haver casamento, e contara-lhe o que Helena lhe respondera nessa mesma tarde, quando lhe propusera casamento.
"Sei que a mãe vai fazer pressão para que esse casamento aconteça o mais rápido possível,- respondera a irmã. Afinal há mais de dez anos que anda a tentar casar-te. E eu mesma gostaria de te ver casado, mas se queres saber, penso que a Helena tem razão. No seu lugar eu também não aceitaria um casamento pelas razões que te levaram a fazê-lo."
22.7.21
PORQUE ME APETECE
21.7.21
COMEÇAR DE NOVO - PARTE XXXIV
Pouco depois, toda a família se dirigiu à igreja, para a celebração da Paixão e Morte do Senhor e Adoração da Cruz. Quando criança e adolescente, Gonçalo e a irmã sempre acompanhavam os pais nessas cerimónias que em Braga a Semana Santa sempre se vive com muita intensidade.
Porém há muitos anos deixara de o fazer. Todavia na véspera acompanhara a família às cerimónias e quando estas terminaram, a filha quisera que ele fosse conhecer a maravilhosa e histórica vila de Alpedrinha, e Gonçalo convidara Helena a acompanhá-los. Ele sabia que haviam decisões a tomar e precisavam ter uma conversa séria sobre o futuro próximo.
Contudo era algo que não podia fazer na presença da filha e assim decidiu-se a apreciar a visita à vila que desconhecia. Encantou-se com o Palácio do Picadero, cuja construção datava do século XVIII, surpreendendo-se com o telhado de vidro numa construção de enormes blocos de granito.
Helena explicara-lhe que o maravilhoso edifício devia o seu nome ao pátio por onde atualmente se entra, que fora nos seus tempos iniciais quando os automóveis nem sequer ainda eram um sonho, o sitio onde se domavam os cavalos denominado como Picadero.
Acrescentara que embora na atualidade o palácio seja um espaço de cultura, fora em tempos pertença de vários donos que lhe deram as mais variadas utilizações desde um tribunal a um hospital e até uma tipografia de jornal.
E ali quase ao lado do palácio, o belíssimo chafariz de três bicas em granito, denominado chafariz D. João V, por ter sido mandado construir por este rei em 1714, era outra obra de arte que merecia as fotos que ele tirara para mostrar à irmã.
Encantou-se com a calçada romana e admirou a Igreja Matriz com os seus sete altares e o órgão de tubos. Helena conhecia em profundidade a história da vila, talvez por ser a localidade mais próxima da quinta dos seus pais e transmitira esse conhecimento à filha, ele deduziu, pelas interrupções e pequenos comentários que Matilde ia fazendo sobre o que iam vendo.
Mais tarde, acabaram lanchando num café local, e depois voltaram à quinta, onde Helena se apressou a ajudar a mãe na cozinha enquanto Matilde o arrastava para o seu quarto a fim de lhe mostrar o seu boletim de notas do segundo período.
O jantar decorreu animado, e pouco depois foram dormir pois o sábado seria um dia muito atarefado com os preparativos para o Domingo de Páscoa e a preparação para a Visita do Senhor que o padre faria à tarde. Ele dormira no quarto, que segundo Helena lhe dissera, era o quarto de Rita, a sua grande amiga e madrinha da filha, que ele ainda não conhecia.
De manhã, após o pequeno almoço, ele e Helena tiveram enfim um tempo a sós, para a tal conversa sobre o futuro.
20.7.21
POESIA ÀS TERÇAS - A PALAVRA DOS AMIGOS
CONSTRUÇÕES.
É nas noites,
longas e quase eternas
que procuro construir-te à medida
do meu sonho.
Faço-te, desfaço-te
foge-me o traço.
Escovo, raspo,
encho de água fresca o tanque.
Lavo, esfrego com água e sabão,
o meu cansaço e
adormeço sem te saber.
Mas é logo de manhã, ao acordar,
que sempre te reconheço
mesmo sem te conhecer...
Poema e foto da Janita
A Janita, é uma colega nossa, aqui da blogosfera, que tive a honra de conhecer há anos num almoço de bloguistas em Lisboa. Alentejana de nascimento, e portuense por adoção, ela conjuga em si o melhor das gentes das duas localidades. Alegre, simpática, com uma vasta cultura e um grande sentido de humor. A Janita mora AQUI
19.7.21
COMEÇAR DE NOVO - PARTE XXXIII
Eram dez horas e vinte minutos da noite de sábado, véspera da Páscoa . Estendido no sofá da sua sala, com os braços debaixo da cabeça, Gonçalo recordava as emoções porque passara naqueles dois dias.
Tinha chegado à "Flor do campo" a quinta dos pais de Helena, na véspera faltavam quinze minutos para as onze. À entrada do largo portão, encontrara Matilde que se pusera a meio da estrada que o levaria até à casa uns duzentos metros mais à frente.
Sem saber bem o que pensar, ele parara o carro e saíra. Por largos segundos que lhe pareceram uma eternidade, ficaram olhando um para o outro em silêncio, deixando que os olhos gritassem tudo o que lhes ia na alma. Depois ele pusera um joelho no chão, tornando o seu corpo de um metro e noventa e dois, mais acessível à altura da filha e abrira os braços. Matilde correra a refugiar-se neles.
A emoção que sentira fora tão grande, que só a muito custo conseguiu conter as lágrimas que acabaram correndo livres quando Matilde lhe segurara o rosto com as mãos trémulas e dissera:
- Pai, finalmente vieste. Meu Deus toda a minha vida desejei saber quem eras, onde estavas, porque não vinhas ver-me. Estar agora aqui nos teus braços, é a realização do meu maior sonho.
A mãe contou do teu desastre, da perda de memória, e de que não sabias sequer que eu existia. Mas agora que já sabes, promete que nunca mais te esqueces de mim. Prometo que serei uma boa filha e que um dia ainda vais sentir orgulho de mim.
- Já sinto orgulho de ti minha filha, e juro que aconteça o que acontecer estarei sempre presente na tua vida, amando-te e protegendo-te. Agora limpa essas lágrimas, entra no carro e vamos até casa, está bem?
Estacionara no largo junto à casa um edifício de dois andares, no qual entrara pela mão de filha e fora por ela apresentado aos tios, avós e primos.
Ele gostara da família. Todos o receberam com aquela amabilidade típica das gentes do interior. Apenas Sérgio se mostrara menos simpático, mas ainda assim não inconveniente.
Durante o almoço, o dono da casa, afirmou que estavam felizes com a sua presença, que gostariam de que passasse com eles aquelas festas da Páscoa.
Ele agradecera, mas dissera que infelizmente teria de regressar no dia seguinte à tarde, pois estaria no serviço de urgência no hospital Domingo de Páscoa.
Depois do almoço, as mulheres foram para cozinha, Matilde recebera ordem de ir descansar, afinal havia apenas uma semana que sofrera a cirurgia e os primos Maurício e Mário foram para o quarto enfrentar-se num jogo virtual.
Na sala ficaram apenas os três homens e Gonçalo pensara que era a hora de ter uma conversa séria com os outros dois, sobre quem ele era, as suas intenções de reconhecer e dar o seu nome à filha e o seu desejo de casar com a mãe.
O destino o privara, por desconhecimento, de lhes dar aquilo a que tinham direito, mas agora que as descobrira, queria o mais rápido possível, recuperar o tempo perdido.
Os dois mostraram-se satisfeitos com o que ouviram e os três apertaram as mãos num gesto de aceitação e apoio.
18.7.21
DOMINGO COM HUMOR
17.7.21
PORQUE HOJE É SÁBADO
16.7.21
COMEÇAR DE NOVO - PARTE XXXII
Por razões diferentes, mãe e filha quase não dormiram nessa noite. Matilde estava radiante com o facto de finalmente ter um pais como as suas amiguinhas. E um pai como o doutor Gonçalo, era algo de que nem todas se poderiam gabar.
Ela tinha ficado encantada com ele no hospital, quando ainda não sabia que era o seu pai. Ele era bonito e carinhoso. A mãe dissera que ele chegaria por volta das onze e ela queria estar junto do portão da quinta para o receber. Queria encontrá-lo sozinha, tinha a certeza de que ia chorar, quando o abraçasse e não queria virar motivo de gozo para os primos.
As preocupações de Lena eram bem diferentes. Ela sentia-se pressionada por toda a família para aceitar o pedido de casamento que Gonçalo lhe fizera.
Muito cedo, antes de se levantar, ouvindo os sons familiares da quinta; os pássaros que saudavam o nascer de um novo dia, a brisa suave que passava por entre as folhas das árvores, o cantar do galo, ela pensava na volta que a sua vida dera e no que ela iria fazer dali para a frente.
Sabia que Gonçalo tinha sido sincero, mas não era preciso ser psicóloga, para saber que devido aquele terrível acidente, e sobretudo à amnésia que se seguira, a descoberta atual de ser pai, vinha preencher a carência de afetos e de família a que voluntariamente se submetera ao longo dos últimos catorze anos.
E pelo que conhecera dele enquanto namorara e pelo que agora lhe contara acerca da proteção à sua irmã viúva e aos seus sobrinhos, Gonçalo era um homem de família.
Debatia-se num mar de dúvidas. Era verdade que apesar de desiludida pelo seu abandono e pensar que não passara de brinquedo de verão para ele, o su coração nunca o esquecera. Afinal fora o seu primeiro e único amor. Também sabia que se não fosse com ele nunca se casaria, pois não queria dar um padrasto à sua filha.
Mas embora soubesse tudo isso, a razão continuava a dizer-lhe que não podia ceder. Ele não se recordava dela. Conhecera-a há uma semana, e desde esse dia, apenas na véspera estivera com ele várias horas. É certo que havia uma enorme tensão sexual entre os dois, quando estavam juntos, mas um casamento não se sustenta de sexo. O desejo, quando não é parte do amor, morre quando é satisfeito.
Ela não sabia que fazer e não podia aconselhar-se com ninguém, porque toda a família a empurrava para o casamento. E se telefonasse à Rita. É verdade que tinha pensado contar-lhe pessoalmente, mas se ela só vinha na Sexta à tarde, provavelmente só a veria no sábado e nessa altura com Gonçalo presente não havia lugar para essas conversas. Não, o melhor seria falar com ela logo pela manhã antes que ele chegasse.
E se bem o pensou, logo o pôs em prática. Logo depois do pequeno--almoço, desculpou-se perante a família, afirmando precisar de fazer uma chamada e recolheu-se no quarto a fim de ligar à amiga.
Assim que Rita atendeu, Helena contou o mais resumidamente possível os últimos acontecimentos, mas ficou dececionada ao perceber que a amiga não entendia as suas dúvidas e entrava no grupo de apoio ao casamento.
15.7.21
PORQUE ME APETECE
PARA UM MOMENTO DE RELAXE.
14.7.21
COMEÇAR DE NOVO - PARTE XXXI
A meio da tarde, Helena levou a filha ao centro médico do Fundão a fim de lhe mudarem o penso e verificarem se estava tudo bem, como o cirurgião recomendara Nuno recomendara no dia da alta.
Matilde insistira com a mãe para obter o número do pai, pois estava ansiosa para falar com ele, mas esta não lho dera, não só porque sabia que o pai estava no hospital até às dezasseis horas, mas também porque achava que seria preferível ela falar com o pai pessoalmente uma vez que ele não trabalharia no dia seguinte e iria ter com eles à quinta, a fim de conhecer a família dela e ter uma conversa séria com eles. E então sim os dois teriam tempo para estar juntos e ela dizer ao pai o que desejasse.
Quando saíram do Centro médico, a garota disse estar com fome e a mãe decidiu que lanchariam ali mesmo na cidade e só depois iriam para a aldeia, onde teriam que jantar cedo pois às dez horas teriam que estar na igreja para o inicio das celebrações da Semana Santa nessa noite com a representação da Última Ceia que incluía a lavagem de pés dos membros da irmandade.
Antes disso, Sérgio e Sofia, que não trabalhavam no dia seguinte por ser feriado, chegariam à quinta, onde já se encontravam os seus filhos, para passarem a Páscoa na casa paterna. Os pais de Sofia também viriam mas chegariam apenas no sábado pela hora do almoço.
Entretanto também no dia seguinte chegariam à aldeia, Rita e o marido, bem como os pais de ambos que ali iam passar a Páscoa, pois o velho Alberto Santos, mais conhecido pelo Ti Alberto Ferreiro, avó da Rita, estava muito doente e a família queria estar com ele, pois receavam ser a última Páscoa, do idoso.
Lena ainda não contara a Rita, tudo o que soubera de Gonçalo na véspera, apesar da grande amizade que as unia, pois era uma longa e complicada história que pensava não devia ser contada pelo telefone.
Enquanto Lena e a filha, regressavam à quinta, a primeira pensando no que o irmão e cunhada diriam, quando soubessem dos últimos acontecimentos, e a segunda sonhando com a visita do recém descoberto pai.
Mais tarde, todos reunidos à mesa para jantar, foi Sérgio quem após mais um comentário da sobrinha sobre o pai, perguntou:
- Que história é essa, Lena? Como é que Matilde diz que o pai vai chegar amanhã?
-É uma história longa e complicada para contar agora, mas é verdade que encontrámos o Gonçalo. Foi ele quem atendeu a Matilde no hospital antes da cirurgia.
- E assim sem mais nem menos disse-lhe que era o pai dela? - perguntou o irmão com ironia. Onde é que ele esteve estes anos todos?
-Já te disse que é uma história longa e complicada que não vou poder contar agora. A vida, nos separou e ela nos juntou de novo. Ele pediu-me em casamento e quer dar o seu nome à filha.
Estará aqui amanhã para passar o dia com ela, conhecer-vos a todos e poderás fazer-lhe as perguntas que desejares. Tudo o que sei já contei à mãe. E agradecia-te que não fizesses comentários sarcásticos sobre este assunto na frente da Matilde.
- A Lena tem razão, amor - disse Sofia. A tua irmã é uma mulher adulta e responsável, absolutamente capaz de saber discernir o que que sabe o que é melhor para as duas. E depois já viste como a Matilde está feliz?
13.7.21
POESIA ÀS TERÇAS - A PALAVRRA DOS AMIGOS
Hoje trago aqui a amiga Fê, uma mulher encantadora, dona de uma sensibilidade impar, que conheci há anos num almoço de bloguistas em Lisboa, e com quem troquei uma agradável conversa, enquanto caminhávamos pela baixa Lisboeta, a caminho dos barcos que nos levariam a atravessar o tão amado Tejo. Ela para Almada, eu para o Barreiro. A Fê mora AQUI
12.7.21
COMEÇAR DE NOVO - PARTE XXX
Nunca a semana da Páscoa foi vivida de forma tão intensa por Helena e pela sua família.
Matilde estava nas nuvens por finalmente conhecer o pai e por ele ser um homem tão bonito e simpático. "avó, sabes que conheci o meu pai? E que ele quer casar e viver connosco? Nunca mais me vou sentir inveja das minhas amigas porque elas têm pai e mãe e eu não. É verdade,"- disse ao ver a cara de surpresa da avó, a quem Helena ainda nada tinha contado, pois fora imediatamente ao quarto da filha quando chegara.
-Ainda não contaste aos avós? - perguntou Matilde olhando a progenitora.
- Não, filha. Acabei de chegar. Agora porque não te levantas e vais dar um passeio com os teus primos? Depois temos que ir ao posto médico para ver esse penso. Lembras--te do que o doutor Nuno disse?
Deu um beijo na filha e saiu do quarto acompanhada pela mãe que parecia ter perdido a fala de tão surpreendida que estava.
Pouco depois, já na cozinha, Helena punha a mãe a par de tudo o que tinha acontecido nos últimos dias, desde que Matilde tinha ido para o hospital e Gonçalo a vira até ao que ele lhe tinha contado no dia anterior.
- E agora, Helena? Decerto aceitaste o pedido de casamento do rapaz.
- Não. A mãe não compreende, ele não se lembra de mim, nem do que vivemos. Quer casar por uma noção de honra arreigada no seu espírito, relativamente à filha. Mas ele pode reconhecê-la, dar-lhe o seu nome e ser o pai dela sem que seja obrigado a um casamento sem amor.
- Não entendo Lena. A Matilde viveu quase treze anos sem pai. E agora queres que ela viva essa alegria apenas pela metade, como se fosse filha dum casal divorciado?
-E que outra coisa posso fazer, mãe. Casar com um homem que me conheceu há dois dias, que nada sabe de quem sou, dos meus sonhos e desejos?
- Um homem que amaste ao ponto de te entregares a ele, e que terás continuado a amar estes anos todos apesar de pensares que ele era um cafageste. E não me venhas dizer que o esqueceste, porque se assim fosse terias casado há dez anos quando o Roberto Martins te pediu em casamento.
O rapaz é jeitoso, tinha um bom emprego no banco, é filho de amigos nossos e até queria perfilhar a Matilde. Foram dois anos de muita insistência. E o que é que nos dizias quando eu, a Rita e a Sofia te aconselhávamos a aceitares o rapaz? Não serias capaz de aceitar um casamento sem amor.
- E é por continuar a pensar assim que não posso aceitar este casamento, a mãe não entende? O que importa que eu continue a amá-lo se ele não me ama? Se para ele sou alguém que conheceu há oito dias? A história de que alguém ama por dois é muito bonita para ser cantada, mas completamente irreal na vida.
- O que eu sei, é que vocês viveram uma intensa paixão e a tua filha é a maior prova disso. Se a vida vos afastou na altura, talvez seja porque eram muito novos e talvez esse amor não tivesse futuro com ambos sem saberem bem o que queriam.
E se o destino vos juntou de novo agora, por alguma razão foi. De resto, tu estás solteira, ele também, ambos já passaram a casa dos trinta, e o tempo não para. Se ele quer casar, casa-te e dá à tua filha a família com que sempre sonhou. É o que qualquer mãe faria.
-Talvez seja. Mas para além de ser mãe, eu sou mulher. E depois do que vivi naquele mês, não posso contentar-me com um casamento por dever.
- Às vezes penso que a minha neta encara a vida com muito mais realismo do que tu. Não sei a quem é que tu sais, nem eu nem o teu pai tivemos algum dia a cabeça cheia de sonhos como tu. E sabes que sempre fomos felizes juntos. Quantas vezes pensas que teu pai me disse que me ama? Cem, duzentas?
Pois fica sabendo que mo disse uma única vez, antes de casarmos. E eu preciso que ele mo diga? Para quê se eu vejo o amor que me tem cada vez que me olha? E se em tudo o que faz, está patente esse amor? Eu sei que ele me ama de corpo e alma, e ele sabe que é retribuído da mesma forma.
Sabes que mais? Vai ver onde andam as crianças, o almoço está quase pronto, o teu pai não tarda está aí. E pensa bem no que fazes, para não te arrependeres depois.
11.7.21
DOMINGO COM HUMOR
10.7.21
9.7.21
COMEÇAR DE NOVO - PARTE XXIX
- Meu Deus , Gonçalo! Como deves ter sofrido durante todos estes anos, sem que nós pudéssemos ajudar-te. Porque não nos contaste que não tinhas recuperado parte da memória?
Os dois irmãos encontravam--se sentados na sala da casa de Laura, onde Gonçalo tinha estado a jantar. Queria contar à irmã, a reviravolta que a sua vida sofrera, mas com os sobrinhos à sua volta, isso fora impossível. Agora que as crianças já dormiam, fora enfim possível desabafar com a irmã.
- Porque havia de vos contar? Se os médicos não me conseguiram ajudar, o que é que vocês podiam fazer. Só ia preocupar-vos. Agora é diferente, porque embora eu não tenha recuperado aquela parte da minha vida, ela deu frutos. Tenho uma filha linda. Que te vai surpreender, como poderás ver agora, disse lançando a mão do seu telemóvel e mostrando-lhe uma foto.
- Santo Deus, mano. Qualquer um que nos visse juntas, diria que é minha filha.
- Foi exatamente por isso que quando a vi, tive a certeza que tinha encontrado o elo que faltava na cadeia do meu passado. Foi essa semelhança que me levou a questionar Helena. Lembras-te daquela fotografia que tiraste mais ou menos nessa idade e que trago sempre na carteira? Foi com ela que questionei Helena, e consegui que ela me ouvisse. Sempre vais passar a Páscoa com os pais?
- Vamos amanhã de manhã. Tu não? Pensei que ias Sexta-feira à tardinha depois de saíres do hospital.
-- Não. A família da Helena é de uma aldeia do concelho do Fundão. A família reúne-se lá para passar a Páscoa. Eu não conheço a sua família apesar da Helena dizer que conheci bem o seu irmão e cunhada. Quero conhecer os seus pais, quero que eles saibam, que não foi culpa minha, não ter assumido a responsabilidade dos meus atos e dado à sua filha e neta o lar que mereciam.
Vou para lá no Sábado de manhã, A Helena contou hoje à Matilde que eu sou seu pai. E diz que ela ficou muito feliz e quer ver-me. Levas o portátil para Braga?
-Levo, porquê?
- Porque eu trouxe uma pen com o arquivo digital que a Helena me mandou ontem à noite. É uma espécie de história fotográfica da sua vida que a mãe foi compondo ao longo dos anos. Vi cada uma mais do que uma vez.
Quase não dormi esta noite. Depois fiz cópias e passei para duas pens para não correr o risco de as perder. Trouxe-te uma e peço-te que contes aos pais o que se passa.
Diz à mãe que não se preocupe mais em descobrir jovens para me apresentar. Já encontrei a mulher da minha vida. E diz-lhe que logo que a Matilde esteja completamente recuperada, iremos lá para que eles conheçam a neta, já o disse a Helena e ela está de acordo.
- E para quando o casamento? Já falaram nisso?
---Já. Mas a Helena não aceitou o meu pedido. Ela diz que não se casará apenas por causa da Matilde, apesar de reconhecer os meus direitos como pai.
Ela aceitar-me-ia com uma declaração de amor que em consciência eu não posso fazer de momento. Eu não tenho nenhuma memória da história de amor que vivemos.
Para mim é como se acabasse de a conhecer. Existe uma grande atração entre os dois, e estou certo de que voltaria a amá-la depois do casamento, mas ela não quer arriscar um casamento baseado na atração física. Respeito a sua opinião, mas não vou desistir.
Ela é uma mulher linda, inteligente e de muita coragem. Admiro-a muito e tenho a certeza que em breve estarei irremediavelmente apaixonado. Afinal se a amei uma vez não vai ser difícil amá-la de novo. Quero na minha vida, a família que aquele maldito acidente me roubou.
8.7.21
PORQUE ME APETECE
ALGUÉM ME EXPLICA ISTO?
7.7.21
COMEÇAR DE NOVO - PARTE XXVIII
- Queres dizer que meu pai perdeu a memória e por isso não
sabia da minha existência? - perguntou Matilde depois da longa explicação da
mãe. Mas porque não lho disseste tu?
Mãe e filha encontravam-se no quarto da última. Helena
acabara de fazer um resumo do que Gonçalo lhe contara, mas Matilde era uma
menina muito inteligente e um tanto precoce. Seria muito diferente se fosse uma
criança de tenra idade a quem ele se limitaria a dar uma explicação mais ou
menos romanceada para explicar a ausência paterna.
- Como acabei de te dizer, nós apaixonámo-nos nas férias.
Nem um nem outro estávamos na nossa terra, e o nosso contacto era o telemóvel
que se perdeu no acidente. Eu só sabia que o teu pai vivia em Braga e estava na
Universidade no Porto. Não tinha como encontra-lo depois dele não responder às
minhas mensagens. Na verdade, nunca mais soube nada dele até há poucos dias.
Nem sequer sabia se tinha casado, se tinha outra família.
- E casou? Tem outros filhos?
-Não. Segundo sei, um
dos amigos com quem estava de férias no Algarve quando nos conhecemos, um dia
perguntou-lhe por mim e estranhando que estando tão apaixonados eu não tivesse
ido vê-lo. Desde aí ele nunca mais deixou de pensar em mim, e por isso nunca
casou.
- E agora, recuperou a memória? E é um homem normal ou está
tontinho?
- À parte o não recordar aquela parte da sua vida, antes do
acidente, não tem nada de tontinho, é até muito inteligente.
-Bom, e agora que já o encontraste, vais-me dizer quem é? E
falar-lhe de mim? Quando vou conhecê-lo?
-Na verdade, já o conheces, filha. Lembras—te do doutor
Gonçalo, aquele médico que te deu o livro? É o teu pai.
- O quê? Não pode ser!
- Porque dizes isso? - perguntou Helena assombrada.
- Mãe, ele é moreno, tem olhos escuros, eu sou loira e
tenho olhos azuis. Não me pareço nada com ele. Como não me pareço contigo, tinha
que ser parecida com ele e não sou.
- O Gonçalo parece-se com o pai. Tu pareceste com a sua
mãe, e a sua irmã. Os filhos nem sempre se parecem com os pais. Às vezes vão
buscar parecenças aos avós e até aos bisavós. Na verdade, foi por tu seres
parecidíssima com a tua tia, que ele soube que nos encontrara.
-E agora, mãe? Como vai ser a nossa vida daqui para a
frente? Ele já sabe que eu existo, mas vai querer ser meu pai? Ou vai aparecer
uma ou duas vezes por ano e fingir que eu não existo no resto do ano? Porque se
assim for, eu vivo bem sem ele.
-Não Matilde, o teu pai não é assim. Ele que ver-te,
levar-te para conheceres a sua família, ser teu pai a sério. Ele até quer casar
comigo.
-É claro que quer casar contigo. De outro modo nunca seria
meu pai a sério, pois nunca seríamos uma família com os avós, ou o tio Sérgio.
-Não é bem assim, Matilde. Nem todos os pais vivem juntos.
Decerto tens colegas com pais divorciados – disse Helena sentindo uma angústia
enorme.
- Claro, como a Sónia. Mas a mãe dela voltou a casar e o
pai também. Tem agora duas famílias e até mais irmãos. Tu e o Gonçalo estão
sozinhos. Se ele quer casar o que te impede de o fazer? Não gostavas dele antes
de eu nascer? Ele teve culpa de ter
perdido a memória? Então porque não queres casar? – perguntou obstinada.
6.7.21
POESIA ÀS TERÇAS - LIBERDADE
Liberdade