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31.1.20

OS SONHOS DO GIL GASPAR - PARTE XXXIII


A tarde já ia a meio quando o clínico estacionou junto da cerca que rodeava a casa. Há mais de duas horas que parara de chover, e o vento acalmara bastante, soprando agora com pouca intensidade. A tempestade passara, mas demoraria ainda algum tempo até que os seus efeitos no rio, nas árvores arrancadas pela raiz e nas casas destelhadas desaparecessem.
-Boa tarde, doutor, - saudou Luísa ao abrir a porta ao médico.
-Boa tarde Luísa. Peço desculpa pela demora, mas tive que ver dois doentes de última hora. Onde está o doente?
-Por aqui doutor - disse encaminhando o médico para o quarto.
O homem agitava-se febril apesar do antipirético que tinha tomado ainda não havia quatro horas. Depois de um rápido olhar ao doente, o clínico perguntou:
-O que lhe aconteceu? Há quanto tempo está assim?
Não sei doutor. Era quase uma da manhã quando o Tejo começou a arranhar a porta e a ladrar aflitivamente. Fui ver o que se passava, e encontrei-o meio inconsciente à entrada da cerca.
-Não pensou chamar uma ambulância e mandá-lo para o hospital?
- Não me ocorreu, só pensei que precisava de um banho e uma bebida quente. Hoje disse-lhe que ia fazer isso e ele suplicou-me angustiado que não o mandasse para o hospital.
- Muito bem, vou examiná-lo.
- Obrigado. Aguardo lá fora, se for necessário alguma coisa basta chamar.
Saiu do quarto fechando a porta atrás de si. Não soube quanto tempo esperou até que o médico saiu, mas a espera pareceu-lhe interminável. Uma vez na sala, o médico disse:
- Parece tratar-se de um estado gripal, mas continuo a pensar que devia ir para o hospital. Lá lhe fariam exames para despistagem de outro tipo de problemas, coisa que eu não lhe posso fazer aqui.
-Será que a gripe foi causada pela tempestade de ontem? Quando o encontrei estava gelado e encharcado.
- Não Luísa, a gripe como deve saber é transmitida por um vírus. O que aconteceu ontem podia ter-lhe provocado hipotermia e matá-lo de frio, ou provocar-lhe um resfriado, mas não lhe causaria a gripe.  A chuva, o frio e mais do que isso, a exaustão, podem sim ter acelerado a progressão do vírus que ele já teria em incubação. E então minha amiga, chamo a ambulância?
- Não sei doutor, não podia medicá-lo e aguardávamos até amanhã, para ver se melhorava? Parece ter pavor do hospital, fez-me prometer que não o mandaria para lá.
- Muito bem, vou aviar a receita e  trago-a cá, já que não convém a Luísa, deixá-lo aqui sozinho. Quando eu voltar, vai seguir à riscas o que lhe digo, e amanhã volto a observá-lo. Se melhorar pode continuar o tratamento, aqui em casa, mas caso contrário eu mesmo chamo imediatamente a ambulância. Nunca se sabe quando não está uma pneumonia em desenvolvimento atrás de uma gripe. Também devo avisá-la de que o vírus da gripe é altamente contagioso. E pode já estar contagiada.
- Nunca tive gripe, nem quando há três anos o meu irmão, esteve aqui bastante mal e fui eu que cuidei dele, como o doutor decerto se lembrará.
- Já não me recordava dessa gripe do seu irmão. Mas não se deve fiar muito nisso. O organismo nem sempre tem as mesmas defesas. Então já sabe, siga à risca as instruções que lhe dei nessa altura. Vou à farmácia e volto já com os medicamentos.



30.1.20

PENSAMENTO DO DIA

"Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como um o oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que esteja sujo por completo" 


Mahatma Gandhi




29.1.20

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE XXXII




Meia hora depois, voltou ao quarto. O homem dormia embora se movesse agitado. Luísa voltou para a cozinha, a cabeça mergulhada num oceano de interrogações. Porque mostrara ele uma tão grande aversão pelo hospital? Teria algum trauma de infância? E quem seria?  Ele dizia que não se lembrava de nada. Mas seria verdade? Ou esconderia a sua identidade por motivos que só Deus saberia? E o que fazia, perdido numa noite de tão grande tempestade? Ter-se-ia evadido de alguma cadeia? "Que estupidez, mulher. Os prisioneiros não têm fatos daqueles nem camisas de seda", - murmurou. 
Mas porque não tinha com ele quaisquer documentos? Teria tido algum acidente? Mas se assim fosse não ficaria na estrada à espera de socorro? A sua casa não ficava propriamente perto da autoestrada, e a estrada que dava acesso até à sua porta, estava assinalada como troço sem saída. O melhor mesmo era telefonar ao doutor Fonseca, e se o médico entendesse que devia ir para o hospital chamava a ambulância e pronto. Por muito que o homem não quisesse ir, ela não ia arriscar. Vamos que ele lhe morria em casa? Ia ver-se metida numa série de problemas.
Pegou no telemóvel e procurou nos seus contactos o nome do clínico. Foi atendida pela sua assistente
-O doutor Fonseca está com uma doente, e não gosta de ser interrompido. Pode deixar-me o seu contacto que o doutor liga-lhe depois.
Luísa deu-lho. Ela conhecia o médico, quase desde que tinha ido viver para aquela casa. Um dia, estava a pintar junto ao rio, quando a dona Aurora, esposa do médico, a encontrara numa das caminhadas que fazia diariamente por ali. Era uma senhora muito simpática. Parara a ver a evolução da tela que  pintava e depois elogiara o seu traço, as cores, enfim, o seu trabalho. A partir dali encontraram-se muitas vezes e Aurora sempre parava junto dela para dois dedos de conversa. Até que um dia a convidou para lanchar em sua casa, e Luísa que não conhecia ninguém na zona, aceitou agradecida. 
Trocaram confidências. Aurora sentia-se muito só. Ser mulher de um médico, fora de uma cidade grande, ou mesmo de uma vila importante, não era fácil. Fonseca era o único médico num raio de vários quilómetros para norte, e para sul até Penacova. A qualquer hora do dia ou da noite era chamado e há anos que não tinham férias.  “Como Deus não quis que tivesse filhos, só posso esperar que o meu António, se resolva a reformar-se, para não ter que viver os meus últimos dias tão só como sempre vivi” confessara-lhe uma vez. Um dia apresentara-lhe o marido. Era um homem de média estatura, meio careca, de sorriso fácil e ar bonacheirão que inspirava simpatia e confiança. Tinha a certeza que o médico lhe ligaria, logo que possível e isso deixou-a um pouco mais tranquila.
Meia hora mais tarde o médico retornou a chamada.
-Bom dia, Luísa. Aconteceu alguma coisa? Viu a minha mulher?
- Bom dia doutor. Não vi a sua esposa. Deveria tê-la visto?
-Esta manhã ela estava muito preocupada consigo por causa da tempestade, e disse-me que se o tempo melhorasse, ia até aí ver se estava bem.
- Não veio, e nem é aconselhável que venha com este tempo. Já lhe telefono, para que fique descansada. Doutor tenho aqui um doente a arder em febre. Seria possível o doutor vir examiná-lo.
-Claro que sim. Tenho ainda um paciente para consulta, mas logo que termine vou para aí.
Muito obrigado, doutor. Então até logo.




No  ultimo capítulo vocês perguntavam porque o Gil não queria ir para o hospital se não se lembrava de quem é.
Talvez que no seu subconsciente as memórias das cirurgias que sofreu em tempos, ou do tempo em que a sua esposa morta, esteve ligada às máquinas para salvar a vida da filha que tinha no ventre, se imponham apesar de conscientemente não ter recordações. A mente humana é muito complexa.





27.1.20

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE XXXI


Entraram na cozinha
-Sente-se. Vou preparar umas torradas, ou prefere outra coisa? – perguntou Luísa enquanto abria o saco do pão.
- Não se incomode, não tenho fome.
Ela voltou-se e olhou-o. Tinha o rosto entre as mãos e parecia não se encontrar bem. Aproximou-se.
- Não se está a sentir bem? -perguntou
- Parece que a cabeça me vai explodir a qualquer momento.
- Se está assim, não devia ter-se levantado. Deve ter apanhado demasiado frio, ontem pode estar a ficar com gripe. Volte para a cama, eu vou preparar um chá e já lho levo. Entretanto na casa de banho há um termómetro. É melhor ver se tem febre.
Ele não respondeu. Levantou-se e saiu da cozinha.
“Devia levá-lo ao hospital. Pode estar com uma pneumonia, ou quem sabe um traumatismo. Deve ter batido com a cabeça, para ter aquela ferida no rosto. Oxalá não me esteja a meter em problemas.” - pensou Luísa enquanto preparava o chá.
Lá fora a chuva continuava a cair sem dar tréguas, embora a tempestade já não se fizesse sentir como na noite anterior. Pelo menos o vento parecia ter amainado.
Pôs o chá num tabuleiro com umas bolachas e dirigiu-se ao quarto.
A porta estava aberta e o homem estava em cima da cama, completamente vestido e a tremer de frio.
- Pôs o termómetro? – perguntou poisando o tabuleiro sobre a mesa de cabeceira.
-Ele meteu a mão dentro da camisa e retirou-o. Estendeu-lho.
- Não admira que esteja com frio, está com quase quarenta graus.  Vamos despir e meter debaixo da roupa, disse baixando-se e tirando-lhe os sapatos e as meias.
 Depois ajudou-o a sentar-se na cama e tirou-lhe o casaco que colocou nas costas da cadeira.
-Veja se consegue despir o resto, enquanto eu vou buscar um antipirético a ver se baixamos essa febre – disse saindo do quarto.
Demorou um pouco mais do que o necessário, esperando que ele se conseguisse despir sozinho. Não se sentia à vontade para ter de o despir.
Quando voltou ao quarto, as calças e a camisa estavam em cima da cama e ele estava debaixo das mantas.
- Muito bem, agora vamos beber o chá que já está quase frio e tomar estes dois comprimidos. Se até ao final da manhã não melhorar, chamo a ambulância e vai para o hospital – disse enquanto o ajudava a sentar e lhe chegava aos lábios a chávena de chá.
- Por favor, senhora, hospital não – disse agarrando-lhe o pulso com força fazendo com que quase entornasse o chá.
- Porque não? Não compreende que pode estar mal? Ter feito um traumatismo craniano, ou estar com uma pneumonia. Por muito boa vontade que tenha, não sou médica, nem enfermeira, não tenho conhecimentos para saber a gravidade do seu estado. Além disso diz que não sabe quem é não se lembra de nada. Precisa de cuidados médicos.
-Não. Isto vai passar. Não quero ir para o hospital. Por favor, prometa que não me manda para lá…
-Não posso prometer-lhe isso. Se melhorar e a febre passar tudo bem, caso contrário não quero arcar com a responsabilidade do que lhe possa acontecer – disse saindo do quarto antes que ele voltasse a protestar.



26.1.20

PORQUE HOJE É DOMINGO




Em pleno Baixo Alentejo, um velho Alentejano entra numa "camineta da carrêra", senta-se num banco mesmo em frente a um punk de cabelos compridos, com uma crista de cabelo parecida com a de um galo e com madeixas verdes, azuis, rosa e vermelhas.
O velho fica a olhar para o punk e o punk a observar o velho, ambos calados. O punk vai ficando cada vez mais nervoso, até que não aguenta mais e pergunta ao velho:
- O que foi, amigo...? Você nunca fez nada de diferente, quando era jovem...?
- Atão nã havera de fazeri...? - responde o velho - Olha... quando era gaiato, "aprovetê-me" de uma galinha... agora, quando te vi, pensei cá com os "mê" botões: Será que este cabrão é "mê" filho...?

                                                          


                                                **************************



Um casal de idosos vai ao médico. Ao terminar o exame, o médico pergunta ao velhinho:
- A sua saúde parece boa. O senhor tem alguma pergunta ou existe alguma coisa que o preocupa?
Queixa-se o velhinho:
- Por acaso, existe! Depois de fazer sexo com minha esposa, em geral sinto muito frio depois da primeira, e, depois da segunda, sinto muito calor.
O médico estranha e diz que nunca ouviu falar disso, mas vai pequisar…
Em seguida, o médico examina a velhinha, e diz:
- Está tudo ótpimo com a senhora. Existe alguma coisa que a preocupa?
A senhora diz que não tem nenhuma pergunta ou preocupação. O medico, aproveita e pergunta:
- O seu marido diz ter um problema um pouco estranho. Ele disse-me que sente muito frio depois de fazer sexo a primeira vez e que sente muito calor depois da segunda. A senhora tem ideia do porquê?
Responde a velhinha:
- Oh, aquele velho maluco! É porque a primeira é em Janeiro e a segunda em Julho…


                                                   ************************


Um dia, na paragem do autocarro, estava uma rapariga que usava uma mini-saia muito apertada. Quando o autocarro chegou e era a sua vez de entrar, apercebeu-se que a saia estava tão apertada que ela não conseguia levantar a perna o suficiente para chegar ao primeiro degrau.
Tentando arranjar uma maneira de conseguir levantar a perna ela recuou esticou os braços para trás e desapertou um bocadinho o fecho da saia. Ainda assim não conseguia chegar ao degrau… Embaraçada recuou novamente e esticou os braços para trás das costas para desapertar um pouco mais o fecho. Ainda assim não conseguiu subir para o primeiro degrau… Então, recuou novamente esticou os braços para trás e desapertou completamente o fecho da saia. Pensando que desta vez ia conseguir levantou novamente a perna, apenas para descobrir que ainda não conseguia alcançar o degrau.
Vendo como ela estava embaraçada, o homem que estava atrás dela na fila do autocarro, pôs as suas mãos à volta da cintura dela, levantou-a e pousou-a no primeiro degrau do autocarro.
A rapariga virou-se furiosa e perguntou:
- Como se atreve? Eu nem sequer o conheço!
Chocado o homem respondeu-lhe:
- Bem, minha senhora, eu pensei que depois de ter recuado e me ter desapertado a braguilha três vezes, já éramos pelo menos amigos…


                                                     ******************



O menino Joãozinho e a menina Maria partilham o lanche no recreio. Diz a Mariazinha:
- Puxa pá… outra vez panadinha de galinha! Como galinha a toda a hora! Sempre galinha, sempre galinha… Vê lá tu que até já estou a criar penugem!
O Joãozinho, curioso, pede à Mariazinha que lhe mostre. A Mariazinha levanta a saia e…
 Diz o Joãozinho:
- Ai tás tás! Sabes uma coisa? A minha mãe também tem a mania da galinha… Eu também já estou a criar uma penugem!
Muito admirada diz a menina Maria:
- Tás? Então mostra lá, para ver se é como a  minha…
O Joãozinho lá baixa as calças e mostra a sua penugem.

E, muito rapidamente, diz a  Mariazinha:
- Ai Joãozinho, tu estás muito pior que eu! Até já tens pescoço e moelas…



Bom Domingo

24.1.20

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE XXX


- Já não chama. Ou ele desligou o telemóvel, ou ficou sem bateria – disse Marco.
- Nem uma coisa nem outra - disse Laura com voz trémula, esforçando-se para não chorar. - O Gil nunca faria isso. Ele mantinha-se sempre em contacto com a casa desde que a filha nasceu. Meu Deus deve ter tido algum acidente, esta maldita tempestade…
- Não nos precipitemos, o melhor que podemos fazer agora, é irmos à polícia - disse Alcides. Se ele teve algum acidente, eles têm o registo e podemos saber para que hospital foi levado. Posso ir sozinho, ou vamos todos.
- Vamos todos, claro – respondeu Marco.
- Esperem só dois minutos enquanto vou buscar um casaco e calçar uns sapatos – disse Laura dirigindo-se apressada para o quarto.
Meia hora depois estavam no posto de polícia onde um agente depois de os ter ouvido, verificava no computador, se havia algum registo de acidentes durante a noite na autoestrada do Norte.  A tempestade tinha fustigado a Península Ibérica, atingindo a maior intensidade entre a meia noite e as cinco da manhã desde a Galiza até Coimbra. Havia registos de muitas árvores arrancadas, casas destelhadas, rios que galgaram as margens inundando habitações ribeirinhas, mas não havia nenhum registo de acidente na estrada.
- Mas o meu irmão telefonou a dizer que vinha na autoestrada a caminho de casa e não chegou.
-Talvez se tenha apercebido que não podia continuar e tenha pernoitado em algum hotel, - disse o agente.
-Não há hotéis na autoestrada – insistiu Laura.
- Mas há saídas para as localidades.O mais natural é que tenha saído e esteja nalgum hotel, à espera de que passe a tempestade, que apesar de já ter tido, o seu pico máximo de intensidade, ainda está bastante forte lá para o Norte.
 Foi a vez de Marco afirmar:
-Teria telefonado.
-Se conseguisse. Há muitas localidades sem eletricidade, nem telefone. O telemóvel pode ter ficado sem bateria e não haver eletricidade para o carregar. De qualquer modo não posso ajudá-los mais. Aconselho-os a irem para casa e aguardarem, ele pode dar notícias a qualquer momento, - disse-lhes o polícia.
Alcides tirou da carteira um cartão e entregou-o ao agente dizendo:
- Por favor se chegar algum registo de acidente, telefone-me.
Saíram da esquadra e entraram no automóvel para regressarem a casa.
-Laura, porque não telefonas à Celeste? Pode ser que o Gil já tenha dado notícias – disse Alcides.
- Não acredito. A Celeste teria telefonado para mim, imediatamente. Sabe que fiquei muito preocupada.
- De qualquer modo não se perde nada em tentar - disse Marco ao mesmo tempo que marcava o número da casa do irmão
Ao terceiro toque Celeste atendeu:
- Residência do senhor Gil Gaspar, bom dia.
- Bom dia, Celeste, fala o Marco. O meu irmão já deu notícias?
- Não senhor. Não disse nada desde ontem à noite. Estamos todas muito preocupadas.
- Estivemos na polícia e não há registo de acidentes na autoestrada. O tempo está muito mau, talvez esteja à espera que melhore. Entretanto se ele telefonar ligue-nos logo.
-Fique descansado, senhor Marco.


22.1.20

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE XXIX


- Estou…
- Menina Laura?
- Sim. Aconteceu alguma coisa, Celeste? – perguntou ao reconhecer a voz da governanta do seu irmão.
- Não sabemos, menina. O senhor telefonou ontem, pouco depois das dez da noite, a perguntar como estava a filha, disse que estava a caminho, mas até agora não apareceu, nem voltou a ligar. Estamos muito preocupadas, tanto mais que a menina Mariana se mostra muito nervosa esta manhã. Talvez estranhe a ausência do pai.
Laura olhou o relógio. Faltava um quarto para o meio dia. Ficou preocupada. O seu irmão não estaria tantas horas sem telefonar para casa.
- Obrigada por ter ligado, Celeste. Vou ver se entro em contacto com ele. Com esta tempestade, deve ter parado em algum hotel para dormir – disse sem grande convicção, tentando acalmar as empregadas.
 De seguida, marcou o número do telemóvel do irmão, que tocou durante muito tempo, sem que ninguém atendesse.
“Acalma-te, pode estar no banho, não ouvir o telemóvel” - murmurou para si mesma. Esperou cinco minutos e voltou a ligar com o mesmo resultado.  Cada vez mais nervosa, ligou para a loja do seu irmão Marco. Foi Isabel, a cunhada quem atendeu a chamada.
- Isabel, o Marco está aí? – perguntou. Preciso falar com ele.
- Está no armazém. Espera um momento que vou chamá-lo.
Pouco depois, Marco atendia a chamada.
- Estou…
-Marco sabes alguma coisa do Gil?
-Não porquê? Aconteceu alguma coisa? – perguntou em sobressalto.
-A verdade é que não sabemos. Sabias que ele ia estar ontem na Universidade do Minho, não é verdade?
- Sim, disse-me no domingo quando foi almoçar lá a casa.
- Recebi um telefonema da Celeste muito preocupada. Ele telefonou ontem à noite,depois das dez horas,  para saber como estava a Mariana e disse que estava a caminho. Não chegou, nem voltou a dar notícias, e não atende o telefone. Estou em pânico.
- Meu Deus, Estás em casa? Sim? Vou já para aí. Telefona ao Alcides, vê se ele pode ajudar-nos.
Laura, telefonou ao noivo, e contou-lhe o que se passava. Ele disse que estaria em sua casa dentro de dez minutos, e ela desligou o telemóvel e deixou-se cair no sofá em soluços. Tinha a certeza de que alguma coisa de muito grave tinha acontecido ao irmão. Gil era o homem mais responsável que ela conhecera em toda a vida, adorava a filha e mesmo quando viajava para o estrangeiro, estava sempre em contacto e fazia chamadas de vídeo para ver e falar com a filha.
Minutos depois a campainha tocava. Foi abrir. Era Marco. Abraçou-a carinhosamente e entrou. Ela ia fechar a porta quando Alcides saiu do elevador. Deu-lhe um beijo e entrou em casa. Cumprimentou o futuro cunhado e os três dirigiram-se à sala.
Laura, repetiu palavra por palavra, o que Celeste lhe dissera. Enquanto a ouvia, Marco marcava o número do irmão que chamou imenso tempo até ouvir a mensagem do gravador. Uns minutos depois voltava a ligar e ouviu de imediato a gravação de que o número não estava disponível. Repetiu a chamada e aconteceu o mesmo.


20.1.20

OS SONHOS DO GIL GASPAR - PARTE XXVIII



Uma estranha sensação de que não estava sozinha, acordou-a.  Abriu os olhos e voltou a cabeça para a porta. O desconhecido encontrava-se à porta da sala. Os seus olhos percorreram o corpo masculino, da cabeça aos pés. Tinha tirado o penso da cara, cuja ferida apresentava um aspeto limpo de infeções embora com o contorno um pouco inchado e avermelhado. Tomara banho como demonstravam os seus cabelos ainda húmidos, e vestira a roupa que ela deixara pendurada na casa de banho. Deu-se conta que o fato não estava tão bem passado como devia, mas passar a ferro, um casaco masculino era extraordinariamente difícil. Ainda assim ele devia dar-se por feliz, por não ter de vestir a roupa molhada e enlameada. Voltou a levantar o rosto e os seus olhos fixaram-se nos do desconhecido, ficando admirada com a expressão de vazio que encontrou neles.
-Dormiu bem? – perguntou levantando-se.
- Sim... creio que sim – respondeu.
- Sou Luísa Rodrigues - disse ela estendendo-lhe a mão – e o senhor é?
O desconhecido apertou-lhe a mão, murmurando qualquer coisa que ela não entendeu.
- Como disse que se chamava? Desculpe não entendi o nome…
- Não o disse. Na verdade, não sei.
- Como não sabe? - interrogou Luísa. Não se lembra quem é?
- Não. Não sei quem sou, nem se vivo aqui, ou noutro lado qualquer. Tenho a cabeça completamente vazia. A minha esperança é de que a senhora me esclareça.
- Eu? Como poderei fazê-lo? Nunca o tinha visto antes. A única coisa que lhe posso dizer é que alertada pelo meu cão, ontem à noite o encontrei encharcado e meio morto, estendido lá fora. Estava inconsciente e foi com grande dificuldade que consegui, com a ajuda de Tejo, o meu cão, fazer com que recuperasse os sentidos porque sozinha não conseguiria trazê-lo para casa. Estava ferido, encharcado e enlameado, e voltou a perder os sentidos mal se sentou naquele cadeirão. Cuidei de si, mas não pronunciou uma palavra, pelo que não sei se teve um acidente, ou se foi alguma rixa. Cuidei da sua roupa para que quando acordasse, tivesse que vestir, mas não encontrei qualquer documento nos bolsos. Não se lembra mesmo de nada?
- Não - respondeu com uma tal expressão, que lhe lembrou de quando há dois anos encontrara Tejo abandonado e faminto. -  Acordei há pouco, e, não me recordava daquele quarto. Tentei lembrar onde estava e nada. Levantei-me para ver se encontrava alguém conhecido, e entrei numa casa de banho que reconheci. Olhei-me ao espelho e estranhei o penso na cara. Depois vi a roupa, tomei banho e vesti-me. Depois tirei o penso que estava todo molhado, e vi esta ferida no rosto. Mas não sei como a fiz.  Esperava sinceramente encontrar alguém que me dissesse onde estava e o que tinha acontecido.
- O penso fui eu que lho fiz, mas é natural que não se lembre, estava exausto adormeceu logo a seguir ao banho. Não se preocupe, talvez esteja em choque, ou tenha levado alguma pancada na cabeça. De qualquer modo enquanto o temporal durar não poderá sair e tenho a certeza de que mais logo ou amanhã há de lembrar-se. Venha comigo, vou preparar-lhe o desjejum.  



19.1.20

PORQUE HOJE É DOMINGO







 Uma loira, sabendo da luxúria da amiga, procura um presente finíssimo para  lhe dar no seu aniversário. No dia do aniversário, a loira toda contente, entrega o valioso presente que era um casaco de pele de chinchila.
A amiga recebe-o, encosta o casaco ao pescoço e fica a alisá-lo com grande contentamento:
- Não é incrível?! Uma coisa destas, tão linda, tão maravilhosa vir de um animal tão desajeitado, pequeno e insignificante…
E diz a loira furiosa:
- Ouve lá, ó mulher, se não gostas do presente devolve-mo! Não fiques é para aí a insultar-me…

                                             ***************************



Na escola, a professora falava dos animais:
- Para que serve a ovelha?
- Para nos dar lã. – responde prontamente a Ana.
E para que serve a galinha? – pergunta a professora.
E a Maria:
- Para nos dar os ovos!
E, vendo a distracção do Joãozinho, pergunta a professora:
- E para que serve a vaca, menino Joãozinho?
E diz o Joãozinho:
- Para nos passar os trabalhos de casa…



                                                              *************************


Um homem e uma mulher conhecem-se na noite e acabam a noite na casa dele. Diz ela:
- Você é dentista não é?
- Porque é que pergunta isso? – pergunta o homem intrigado.
Explica ela:
- Pelas vezes que o via a lavar as mãos e a técnica com que o fez. Percebe-se que está habituado a práticas profissionais de higiene.
Diz ele:
- Realmente sou… Você é muito boa observadora!
Vão para a coma e fazem sexo. No final, enquanto ela acende um cigarro, comenta:
- Você deve ser um dentista extraordinário!
- Porque dizes isso? – pergunta ele outra vez intrigado.
E diz ela:
- É que não senti nada…

                                                          ********************

Um homem e uma mulher viajam sentados lado a lado num avião. De repente a mulher espirra, pega num lenço e passa-o cuidadosamente entre as pernas. O homem não tem a certeza se viu bem e conclui que foi uma alucinação.
Alguns minutos passam e a mulher volta a espirrar, treme e pega num lenço passando-o cuidadosamente entre as pernas mais uma vez. O homem começa a ficar doido com aquilo, ele não pode acreditar no que os seus olhos vêem. Mais uns minutos passam e a mulher volta a espirrar. Ela volta a fazer o mesmo e o homem já não conseguiu aguentar mais, voltou-se para a mulher e disse:
- Por 3 vezes a senhora espirrou, e por 3 vezes pegou no seu lenço e o passou por entre as pernas, está a querer dizer-me alguma coisa, ou está só a tentar deixar-me louco?
A mulher respondeu:
- Peço desculpa se o perturbei, eu sofro de um mal extremamente raro que faz com que cada vez que espirre eu tenha um orgasmo.
O homem, com remorsos do que tinha dito antes, disse:
- As minhas sinceras desculpas, não sabia que era um problema de saúde, o que é que está a tomar para isso?
A mulher olha para ele, sorri e diz:
- Tomo todas as manhãs uma saqueta de Pimenta!



                                              *****************************

O empregado chega ao trabalho e fala logo com o chefe:
- Chefe, sabe que o cérebro é um órgão maravilhoso?!
- Ai é? Então porquê?! – pergunta o chefe 
não muito interessado na conversa.
Explica o empregado:
- Começa a trabalhar mal acordamos e…
Interrompe o chefe:
- E só pára quando chegas ao trabalho?!

18.1.20

17.1.20

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE XXVII




Desde essa data, tinham-se passado quase doze anos. E em todo esse tempo, Luísa só se ausentara por duas vezes. A primeira, para ir a Lisboa, a segunda ao Porto, aquando das duas exposições de pintura que realizara nessas cidades, ambas com um êxito considerável, se atendesse a que não só vendeu todas as telas em exposição, como recebeu algumas encomendas. Tinha feito obras na casa de modo a torná-la mais moderna e sobretudo mais confortável. Mas nela nunca entrou homem algum a não ser o seu irmão, que ultimamente, desde que se empregara e tornara oficial o noivado, deixara de aparecer. No final do mês, exatamente no último dia do ano, Luísa faria trinta e quatro anos. Uma vida quase de eremita, com exceção do tempo que o irmão passara com ela, e da amizade que fizera com a simpática dona Aurora, a esposa do médico da vila.  Não raras vezes, sentia o peso da solidão, mas que fazer? Nessas alturas, pensava que trocaria, alguns anos da sua vida, pela sensação de se sentir amada de verdade, e pelo sonho de ser mãe. Era uma mulher jovem saudável, e o seu corpo sentia desejo, quando ia à vila e os seus olhos poisavam num atraente corpo masculino, mas isso era normal, ou pelo menos ela pensava que era normal em qualquer mulher.  
Todavia ela não era capaz de procurar satisfazer esse desejo numa sessão de sexo pelo sexo, sem quaisquer outros sentimentos e Jorge tinha destruído a sua confiança nos homens, matando a sua capacidade de amar. 
Tentara-o uma vez, há cinco anos com o seu agente. Ele estava apaixonado, era muito carinhoso e ela sentia-se só. Pensou que podia dar certo, mas na hora da verdade, ela recuou. Não era capaz de se casar e muito menos de se deitar, com um homem, que ela considerava um amigo, quase um irmão.
Ele ficara muito magoado, afastara-se durante uns tempos, mas acabara por entender, e também por encontrar outro amor.  Sacudiu a cabeça, como se quisesse afastar aqueles pensamentos e dirigiu-se à cozinha. Tirou a roupa do desconhecido da máquina de lavar e secar, onde a tinha deixado antes de ir dormir, e examinou-a. A camisa de seda azul,e o colete cinzento,da mesma cor do fato, apenas precisavam ser passados. As calças apresentavam um rasgão quase junto à bainha de uma das pernas. Dobrou os boxers e as meias, e colocou-os de lado em cima de uma cadeira.  Por fim examinou o casaco que embora bem amassado, não apresentava qualquer rasgão.  E felizmente a roupa parecia não tinha encolhido. Procurou na caixa de costura uma tira de tecido autocolante e ligou o ferro de engomar. Com as calças do avesso e o ferro quente colou o tecido ao rasgão. Teria que ficar assim, a costura não era uma das suas habilidades e nunca aprendera a passajar. Depois passou-as a ferro, passou as restantes peças, pendurou o fato num cabide e levou-o para a casa de banho.
Bom, quando o homem se levantasse, podia vestir-se e seguir o seu caminho. Ah! E os sapatos? Bom ainda estavam molhados e enlameados. Com um pano húmido limpou-os e com o secador de cabelo secou-os o melhor que pôde.
Finalmente foi para a cozinha, fez duas torradas e café e sentou-se a tomar o pequeno almoço.
A chuva continuava a cair, embora não tão intensamente como durante a noite, mas em compensação o vento e a trovoada tinham regressado. Acabou de comer, e foi para a sala, acendeu a lareira e sentou-se no cadeirão a ler. Que outra coisa podia fazer com semelhante dia? A luminosidade não dava para pintar no pequeno estúdio que tinha nas traseiras.  Oxalá o tempo melhorasse. Não lhe agradava ter um desconhecido em casa, mas não se sentia com coragem para o mandar embora com semelhante tempo. Continuava intrigada com a razão que o faria andar por aqueles sítios em noite de tal tempestade.
Teria tido algum acidente? Mas se assim fosse não deveria ter ficado no carro, enquanto aguardava por socorro?
Acabou por largar o livro em cuja leitura não conseguia concentrar-se. Ajeitou as achas na lareira e recostou-se no cadeirão fechando os olhos. Acabou por adormecer.