Seguidores

31.12.21

FELIZ ANO NOVO, AMIGOS


Cada vez que um ano chega ao fim, os nossos corações enchem-se de esperança de que o próximo seja melhor, não só para nós, mas também para toda a humanidade. Sonhamos com a Paz, o Amor, a Saúde, para toda a humanidade a par dos nossos sonhos mais pessoais, um novo emprego, aquela viagem que adiamos há anos, os filhos, ou os netos que irão alargar a família e encher de alegria os nossos corações.

E então este ano chega ao fim hoje, e eu desejo para cada um de vós, que 2022 seja aquele ano mágico com que sempre têm sonhado.

Aproveito para agradecer a todos a paciência e o carinho que me têm dedicado neste que tem sido um dos anos mais difíceis da minha vida, a nível de saúde. 

Bem Hajam!

30.12.21

A OUTRA FACE DO NATAL


 

Ceia de Natal, Confraternização. Troca de presentes. Festa de Ano Novo. Brinde. Beijos e abraços. Repleto de ritos sociais, o encerramento do ano é uma época que reforça o sentimento de solidão em muitos de nós. Até mesmo quem gosta de viver só durante o ano inteiro está sujeito a ser invadido por um desconforto inesperado ao perceber que não sabe com quem partilhar o peru de dia 24 ou o champanhe de dia 31. O golpe de solidão que chega com a última página do calendário não é exclusivo de quem está, literalmente, sozinho durante as datas festivas. Há aqueles que, no meio de ruidosos encontros familiares ou empresariais, mal conseguem disfarçar o mal-estar e a sensação de inadequação.

O Natal é um período consensualmente considerado de alegria e esperanças otimistas. Por norma é assim, mas, para muitas pessoas, pode ser uma época muito triste e fazer-se acompanhar por sentimentos de solidão, desamparo e desânimo. A alegria, imposta pela sociedade, torna-se desconfortável para quem não consegue pôr de lado a angústia, O desgaste provocado pelo esforço em contemplar tudo e agradar a todos faz disparar os níveis de ansiedade numa escalada ascendente assim que surgem as primeiras propagandas de Natal e Ano Novo.

A “tristeza do Natal” é comum durante o frenesim de Dezembro ao fazermos balanços e projetos. Aquela que para muitos de nós é a época mais feliz do ano, para outros é precisamente o contrário. O Natal e os encontros de família podem transformar-se em momentos tristes e difíceis de suportar, especialmente se a pessoa já está deprimida. Paralelamente, nos meios de comunicação social é vendida urna mensagem que difere da realidade que a maioria das pessoas vive e sente, sobretudo num período de crise económica, desemprego, violência e incertezas em relação ao futuro. Não é raro ouvirmos comentários negativos em relação aos preparativos do Natal, traduzidas pelas célebres frases “Detesto o Natal” ou “Odeio quadras festivas”.

Muitas vezes, o sentimento de desamparo e desânimo é provocado por datas que nos trazem lembranças tristes, seja por perdas, como a de entes queridos, separações, desemprego ou doenças. Todos esses factos provocam o que podemos chamar de tristeza natural. Entristecer não é deprimir. É a consciencialização da situação ou condição que não aquela que gostaríamos que fosse, independentemente de ser ou não fantasiosa. Afinal, todo o ser humano tem momentos de tristeza, faz parte da vida.

Mas, na generalidade, a “tristeza do Natal” é sazonal, de duração breve, decorre durante alguns dias ou semanas e, em muitos casos, termina quando as férias acabam e quando se retorna à rotina quotidiana. O mais importante é permitir a si próprio estar triste ou saudoso. Esses são os sentimentos normais, particularmente na época do Natal.

Porém, mesmo para quem é difícil contornar esta quadra, é importante tomar consciência de que esse sentimento é mais comum do que se imagina e de que há formas de superar a tristeza e angústia, e readquirir, pelo menos em parte, o espírito natalício. Deixar de lado projetos “extraordinários”, propor-se objetivos realísticos, organizar o próprio tempo, elaborar listas de prioridades, fazer um plano e segui-lo, exercitar o pensamento positivo, são truques ao alcance de qualquer um.

Enfim, o segredo reside na capacidade de sair da ritualidade muito “litúrgica” das festas e procurar inventar novas maneiras de celebrar o Natal e o Ano Novo.

E porque não?… Ser solidário e desejar a paz ao resto do mundo!


Dra. Cláudia Fernandes


29.12.21

ABENÇOADA PELO AMOR

 



Na noite da morte a esperança vê uma estrela;

e o amor atento consegue ouvir o roçar de uma asa.

Robert Ingersoll





— Posso ficar com este, Connie? — perguntou o meu enteado de dez anos referindo-se a um enfeite de Natal que eu estava a desembrulhar.
Era o segundo sábado antes do Natal e Conan estava a passar o fim de semana connosco. Tínhamos trazido o pinheirinho acabado de cortar para dentro de casa e o meu marido trouxera da cave umas caixas com enfeites. O nosso filho de quatro anos, Chase, juntamente com Conan, ajudavam-me a desembrulhá-los. A nossa filha de um ano, Chelsea, observava atentamente enquanto brincava.
Tínhamos alguns enfeites especiais. Não tinha a certeza se uma criança de dez anos seria capaz de admirar o rendilhado de pérolas e lantejoulas feito à mão da figura do Pai Natal, ou a fragilidade de uma concha pintada, trazida dos recantos da nossa praia preferida. Alguns enfeites guardavam lembranças das pessoas que os criaram ou dos lugares que tínhamos visitado durante as férias. Queria guardá-los e protegê-los até ele ser adulto. Além disso, se deixasse que ele ficasse com um agora, provavelmente nunca mais o veria. De repente, tive uma ideia brilhante.
— E se começássemos uma nova tradição, Conan?
— Como, por exemplo?
— Se fizéssemos assim: todos os anos eu compro um novo enfeite. Com tinta permanente escreves nele o teu nome e o ano, e guardamo-los todos aqui numa caixa. E quando tiveres dezoito anos, terás muitos enfeites especiais para a tua própria árvore!
O seu sorriso disse-me que tinha gostado da ideia. Passei-lhe um enfeite que era uma miniatura de um livro de histórias de Natal, e agarrou-o imediatamente, encantado. Levou-o para o sofá e folheou as páginas do pequenino livro, Era a Véspera de Natal, agradavelmente surpreendido com o seu tamanho e a sua mensagem encantadora e intemporal.
Esperto para a sua idade, eu deveria ter antecipado a próxima pergunta.
— Bem, e se fizéssemos assim? — recomeçou Conan com um olhar pensativo. — Como já tenho dez anos, que tal se eu tirasse dez enfeites agora, um por cada ano que vivi, e escrevesse neles o meu nome e o ano? Assim, quando for maior, terei dezoito enfeites, um por cada ano vivido.
Por esta altura eu já tinha pendurado todos os enfeites delicados. Agradada com a sua rapidez de raciocínio, tirei a caixa dos enfeites inquebráveis. Pousei-a à sua frente e disse:
— Porque não? Claro, avança e tira dez.
O rosto de Conan iluminou-se, enquanto, com todo o cuidado, levava a caixa para a mesa da cozinha. Lentamente, com muita atenção, fez as suas escolhas. E com o mesmo cuidado escreveu o seu nome e um ano nos enfeites separados, cada um a representar um ano da sua meninice.

O acordo foi mantido durante dois anos, dois anos em que eu e o meu marido comprámos sempre um enfeite. Porém, quando Conan chegou à adolescência, esquecemo-nos completamente do combinado e nunca mais o fizemos. E eis que, a meio dos seus dezassete anos, num belo dia de maio, o impensável aconteceu: Conan faleceu num acidente de viação… Os primeiros meses que se seguiram à sua morte foram de uma indefinição dolorosa – cada dia era vivido com dor e confrangimento. O psicólogo advertiu-nos que as férias seriam especialmente difíceis e não se enganou. Não creio que nenhum de nós tenha saboreado o peru no Dia de Ação de Graças e, pessoalmente, eu não sabia como dar graças naquele ano….
Ao primeiro sinal de geada, eu costumava ficar entusiasmada com o Natal. Surgiam os primeiros cânticos de Natal e experimentava as minhas receitas preferidas, fazendo bolos e biscoitos que congelava para depois oferecer. Naquele ano, porém, sentia-me paralisada, e o mais que podia fazer era decorar a casa para a quadra natalícia. Chase e Chelsea, que agora tinham onze e oito anos, não estavam interessados em ajudar-me a decorar o pinheiro, muito certamente porque também eles estavam a sofrer.
Por isso, num fim de sábado, já a noite ia avançada, depois de o meu marido ter pousado o pinheiro no seu lugar e todos estarem deitados, fui buscar não só as decorações para o pinheiro acabado de cortar, mas também as caixas com os enfeites. Depois de verificar se as luzinhas funcionavam, lancei-as, desconsoladamente, para cima da árvore. Em seguida, puxei o escadote e subi alguns degraus até ao cimo do pinheiro, prendendo com cuidado o anjo no seu lugar de honra.

Voltei-me por fim para a caixa dos enfeites delicados.
E lá fui desembrulhando a figura puída do Pai Natal, com as suas pérolas e lantejoulas, juntamente com as conchas e outros enfeites. Contrafeita, pendurei os enfeites e só pensava em terminar quanto antes. Depois de esvaziar a caixa dos enfeites delicados, virei-me para procurar a caixa dos mais baratos. Ao fazê-lo, recordei-me subitamente de um rapaz de dez anos todo entusiasmado. E senti dificuldade em engolir…
Depois de localizar a caixa, levantei a tampa com todo o cuidado. E lá estava, mesmo por cima, o pequenino livro de Natal. Na parte da frente lia-se o título Era a Véspera de Natal e, no verso, rabiscado pela mão de uma criança arrebatada, lia-se o nome Conan em letras maiúsculas. Como que a reivindicarem a eternidade.
Limpei as lágrimas e retirei os restantes enfeites com o seu nome. Alguns eram feitos à mão, outros comprados, mas de súbito tornaram-se todos insubstituíveis para mim. As memórias agridoces foram-me confortando à medida que descobria que, por vezes, as tradições que guardam o mais importante da vida nada têm a ver com artigos delicados e caros. Antes pelo contrário.
Muitas vezes, as lembranças mais preciosas que guardámos estão ligadas a objetos vulgares que foram eternamente abençoados.

Connie S. Cameron

 

28.12.21

POESIA ÀS TERÇAS - NÃO DIGO DO NATAL - PEDRO TAMEM

 


Não Digo do Natal

Não digo do Natal – digo da nata

do tempo que se coalha com o frio

e nos fica branquíssima e exacta

nas mãos que não sabem de que cio

nasceu esta semente; mas que invade

esses tempos relíquidos e pardos

e faz assim que o coração se agrade

de terrenos de pedras e de cardos

por dezembros cobertos. Só então

é que descobre dias de brancura

esta nova pupila, outra visão,

e as cores da terra são feroz loucura

moídas numa só, e feitas pão

com que a vida resiste, e anda, e dura.

Pedro Tamen, em Antologia Poética

Biografia AQUI


27.12.21

CONTOS DE NATAL - O NATAL DAQUELE ANO

 



O Francisco frequentava o terceiro ano de escolaridade

 com muito bom aproveitamento. Era um miúdo admirável!

Já vivera razoavelmente mas, atualmente, sofria as 

consequências da quase indigência do pai por, no início 

daquele ano, ter perdido o emprego. Era um bom  

trabalhador, mas a oficina fechara.

Andava o miudinho muito triste e amargurado porque a 

fome, o frio e a tristeza eram o pão-nosso de cada dia 

naquela casa.Como habitualmente, ao aproximarem-se as

férias do Natal, a professora mandou que os alunos fizessem

uma redação sobre essa quadra festiva.

O Francisco debruça-se sobre o papel e, numa letra mais 

adulta que infantil, intitula a sua composição de APELO e 

escreve:

«Menino Jesus: não acredito no que tenho ouvido dizer a 

teu respeito, ou seja, que só dás a quem já tem, e nada dás

 a quem nada tem! Explico-te porquê: eu sei que são os pais

 a darem essas prendas e não tu, que tens mais que 

fazer; se fosses tu, de certeza que davas a todos e, se 

calhar, em primeiro lugar aos mais pobres.

Sim, eu tenho certeza que davas a todos e, se calhar, em 

primeiro lugar aos mais pobres. Sim, eu tenho a certeza que

 seria assim, pois nunca te esqueces que também nasceste 

pobre e pobre morreste.

Não venho pedir nada para mim. Quero lembrar-me que 

o meu pai está há um ano sem trabalho e precisa de 

ganhar dinheiro para nos sustentar. Por isso, não te 

esqueças de lhe arranjar um emprego. 

Eu sei que Natal quer dizer nascimento e, olha, nós também 

nascemos e, com certeza, não foi para que morrêssemos já, 

sem dar testemunho sobre a terra. Se assim fosse, como é 

que poderíamos dar os parabéns pelo teu aniversário?! Já 

agora podes ficar a saber que eu nasci no mesmo dia: nasci 

no Natal»

Pouco antes de as férias começarem, a professora chamou 

o Francisco e disse-lhe que tinha arranjado trabalho para o 

seu pai e, que já poderia começar a trabalhar no princípio 

de Janeiro do próximo ano. Foi tal a alegria dele que 

chorou copiosamente e, então, passou a andar tão 

contente, que os pais não sabiam que dizer. No entanto ele 

não disse porque é que andava assim.

Na véspera de Natal todos se deitaram cedo, pois a 

consoada consistiria em sopa e pão, por o dono da 

mercearia, atendendo ao dia que era, ter condescendido 

em acrescentar ao rol do livro da dívidas.

O Francisco não adormeceu logo. Depois de ter verificado 

que toda a gente estava a dormir, foi colocar o seu 

sapatinho à porta do quarto dos pais, com um bilhete dentro.

No dia de Natal, a mãe, que era sempre a primeira a 

levantar-se, ao sair do quarto tropeçou no sapato do filho. 

Baixou-se, pegou nele, e leu o bilhete: "Pai, a partir de 

Janeiro vai ter trabalho. Foi a minha professora que lho 

arranjou, por causa da minha redação ao Menino Jesus. É 

a nossa prenda de Natal".

Com as lágrimas nos olhos, de contentamento já se vê, 

aquele casal entrou, pé ante pé, no quarto do filho. Ao vê-

lo profundamente adormecido e a sorrir, ambos disseram: 

eis aqui o nosso Menino Jesus!



Fonte AQUI

24.12.21

FELIZ NATAL A TODOS OS AMIGOS



Aproveito para desejar a todos os amigos que  por por aqui passem, uma noite e um dia de Natal vividos com muito amor e saúde. E para aqueles que sempre vão à Missa do Galo, e não conhecem a lenda da mesma, aqui a deixo.



 A Missa do Galo é um costume religioso, com expressão nos países de tradição católica, que consiste na realização de uma missa, na noite de 24 para 25 de Dezembro, mais precisamente à meia-noite, hora em que, segundo diz o costume, teria nascido o menino Jesus. É denominada “do Galo” porque, de acordo com lenda, teria sido na noite de Natal a única altura em que os galos cantaram à meia-noite. É claro que o nome tem mais a ver com o acto de anunciação da própria missa, em que os sinos repicam à meia-noite para chamar as pessoas, tal como os galos chamam as pessoas para acordarem ainda antes do sol nascer. Diz-se ainda, de modo humorístico, que a missa tem este nome porque demora tanto tempo que quando acaba já está o galo a cantar para anunciar a madrugada. Sendo a Missa do Galo celebrada à meia-noite, em Portugal criou-se a tradição de se levar velas acesas a caminho da igreja; algo que não nasceu tanto da simbologia natalícia mas da própria necessidade que as pessoas tinham, numa altura em que não existia eletricidade, de iluminar o caminho durante a noite. Isso deu origem às procissões da meia-noite das velas do advento, para se ir assistir à Missa do Galo; tradição ainda respeitada nalgumas vilas do interior português, apesar de haver hoje iluminação de ruas. Sobre a procissão de velas da Missa do Galo conta-se a seguinte lenda: Conta-se que um jovem pastor passou todo o dia a apascentar as suas ovelhas na véspera de Natal e aconteceu uma delas perder-se. Como o jovem pastor não quis voltar para casa sem a ovelha perdida passou muito tempo à sua procura. Quando finalmente a encontrou já era muito tarde, tanto que acabou por se atrasar e perdeu o tocar dos sinos da igreja a chamar para a Missa do Galo. Sem os sinos a indicar o caminho o jovem pastor acabou por se perder ficando à mercê dos lobos, do frio do inverno e dos restantes perigos da noite. Já sem esperanças de encontrar o caminho, eis que o pastor vê ao longe uma procissão de luzes a iluminar a noite. Era a aldeia inteira que interrompera a missa, pegara nas velas da igreja e saíra pela noite para o procurar. Encontrado o jovem pastor, são e salvo, a aldeia retomou a sua marcha para a igreja onde foi retomada a missa. E a partir desse dia passou-se a levar uma vela acesa a caminho da Missa do Galo para que ninguém se perdesse na noite de Natal



Da tradição oral portuguesa no Livro Contos de Natal Portugueses da Luso-Livros

23.12.21

A LENDA DO MADEIRO DE NATAL

 





 Os Madeiros, ou fogueiras do natal, fazem parte das tradições natalícias de algumas aldeias de Portugal, sobretudo da região das Beiras e consistem em grandes fogueiras que se acendem no centro da aldeia, na praça principal ou no adro da igreja na véspera de Natal. Curiosamente a sua origem é pagã, ligada às celebrações celtiberas do Solstício de Inverno, em que se acendiam enormes fogueiras ao ar livre durante o mês de Dezembro. Este foi um dos poucos costumes pagãos que a igreja católica não conseguiu extinguir, optando, ao invés, assimilar o costume, passando a ideia de que são fogueiras para “aquecer o menino Jesus” e unir as pessoas para as celebrações natalícias. A tradição do Madeiro começa logo com a recolha da lenha. Esta é feita pelos homens que a devem ir cortar às serras e bosques, durante a noite, algures durante o início de Dezembro. No dia seguinte, usa-se um carro de bois a que a tradição manda que seja roubado (embora, claro, se faz com o conhecimento do dono), para ir recolher a lenha cortada à serra. Antes do carro dos bois ser carregado com a lenha é decorado com flores e rama da época pelas mulheres. Depois de carregada a madeira é a população conjunta que puxa o carro até ao centro da aldeia. No dia 24, ao final da tarde, a população volta a juntar-se para acender “O Madeiro” e na noite de Natal, depois da Missa do Galo, os habitantes da aldeia reúnem-se à volta da fogueira para cantar cânticos de natal e festejar. Em muitas aldeias, estas fogueiras são mantidas acesas ininterruptamente até ao Dia de Reis. Sobre as fogueiras do Natal conta-se na região das Beiras uma lenda que procura integrar este costume com a história da Natividade. Eis a lenda: Naquela noite de 24 dezembro alguns pastores da região de Belém dirigiam-se para casa, depois de um dia passado a apascentar o gado, quando o anjo da anunciação lhes apareceu. Os pastores quando viram o anjo assustaram-se. O anjo, porém, disse-lhes: — Não se assustem, pois eu trago-vos Boas Novas, que são de grande alegria. Hoje na cidade de David nasceu o Messias. Para que o reconheçam procurem por uma criança envolta em panos e deitada numa manjedoura. O Anjo queria dizer que o menino Jesus encontrava-se num estábulo e os pastores, compreendendo as suas palavras, partiram à procura de um estábulo, por toda a povoação de Belém onde estivesse uma criança recém-nascida. Encontrado o sítio os pastores reconheceram estarem perante o Messias e Rei do povo judeu, pelo que se ajoelham em devoção. Depois ficaram muito admirados com a pobreza do local e as simples vestes do menino, insuficientes para o proteger do frio. Perante isto trataram logo de arranjar maneira de resolver a situação, ido procurar galhos e acendendo uma fogueira à frente do humilde estábulo para iluminar o local e aquecer o menino Jesus. De seguida foram espalhar a notícia do nascimento de Cristo pelas povoações vizinhas, estabelecendo postos de vigília e de sinalização com fogueiras para indicar o caminho e para aquecer todos os peregrinos que quisessem ir visitar o menino Jesus. Assim nasceram as fogueiras de Natal.

da tradição oral portuguesa, no livro "Contos de Natal Portugueses" da Luso-livros

22.12.21

ÚLTIMO NATAL - MIGUEL TORGA

 


Último Natal (1990)

Menino Jesus, que nasces

Quando eu morro,

E trazes a paz

Que não levo,

O poema que te devo

Desde que te aninhei

No entendimento,

E nunca te paguei

A contento

Da devoção,

Mal entoado,

Aqui te fica mais uma vez

Aos pés,

Como um tição

Apagado,

Sem calor que os aqueça.

Com ele me desobrigo e desengano:

És divino, e eu sou humano,

Não há poesia em mim que te mereça.

Miguel Torga, em Diários

21.12.21

ÀS TERÇAS COM POESIA - NATAL UMA FESTA TRISTE - J. G. DE ARAÚJO JORGE


A festa triste...
Não, o Natal não é uma festa alegre,
é uma festa triste.

De repente
as crianças (logo as crianças!)
separam o mundo em duas metades
desiguais:
de um lado, a abastança, indiferente ou piedosa;
do outro, a necessidade, a mendigar seus restos
como há milénios faz...

As crianças (logo as crianças!)
Algumas com presentes, brinquedos, esperanças,
e as puras alegrias que o bom Velhinho
lhes traz do céu;
outras, sem terem nada, e mesmo tendo pais,
são "órfãos do Natal",
não tem Papai Noel...

Não. Neste mundo como está,
neste mundo profano
que a um olhar mais humano não resiste),
o Natal pode ser uma festa,
quem contesta?)
mas é uma festa triste...


José G. de Araújo Jorge


Biografia AQUI

20.12.21

A LENDA DO BOLO REI

 
O Bolo-Rei é o bolo tradicional natalício português por excelência. A sua origem tem várias raízes. A ideia de um bolo misturado com fruta cristalizada terá surgido na corte do rei Luís XIV, em França, que com os tempos foi-se espalhando pelo resto da Europa. Chegada a Portugal a receita foi adaptada, adquiriu a forma de coroa com que é vendido atualmente e passou a ser associado à época natalícia. A introdução da fava vem no tempo dos Romanos, em que era costume durante as festividades eleger-se o “rei da festa” colocando-se uma fava num bolo. Já a introdução do brinde como recompensa (ficando o perdedor com a fava) é uma criação portuguesa, embora este costume tenha sido, há uns anos, passado a ser proibido por apresentar risco de sufoco, sobretudo para as crianças. Apesar do nome “Bolo-Rei” não vir, como erroneamente se pensa, do dia de Reis – a nomenclatura “Rei” é apenas uma indicação da riqueza de ingredientes com que é feito, tornando-o no bolo “maior” das festividades – isso não impediu a tradição oral de o associar aos Reis Magos, havendo inclusive uma lenda portuguesa que lhes atribui a origem do bolo e lhe dá simbologia. Segue-se a história: Conta a lenda que num país distante viviam três homens sábios que analisavam e estudavam as estrelas e o céu. Estes homens sábios chamavam-se Gaspar, Melchior e Baltazar, a que a tradição deu a nomeação de “três Reis Magos”. Numa noite, ao analisarem o céu, viram uma nova estrela, muito mais brilhante que as restantes, que se movia pelo céu, e interpretaram-na como um aviso de que o filho de Deus nascera. Resolvidos a segui-la, levaram consigo três presentes: incenso; ouro e mirra, para poder presentear o Messias recém-nascido. Chegados à cidade de Belém, já perto da gruta onde estava o menino Jesus, os Reis Magos depararam-se com um dilema: Qual deles teria o privilégio de oferecer primeiro o seu presente? Esta pergunta gerou a discussão entre os três. Um artesão que por ali passava ouviu a conversa e propôs uma solução para o problema de maneira a ficarem todos satisfeitos. Pediu à sua mulher que fizesse um bolo e que na massa colocasse uma fava. Mas a mulher não se limitou a fazer um simples bolos e arranjou forma de ali representar os presentes que os três homens levavam. Desta forma fez um bolo cuja côdea dourada simbolizava o ouro, as frutas cristalizadas simbolizavam a mirra e o açúcar de polvilhar simbolizava o incenso. Depois de cozido o bolo foi repartido em três partes e aquele a quem saiu a fava foi efetivamente o primeiro a oferecer os presentes ao menino Jesus.


da tradição oral portuguesa, no livro "Contos de Natal Portugueses" da Luso-livros

19.12.21

PORQUE HOJE É DOMINGO


E porque vamos a caminho do Natal , André Rieu em Silent Night


Aos amigos que por aqui passarem, eu desejo uma excelente semana natalícia e umas festas o mais feliz possível especialmente com saúde e amor. Se eu puder ainda passarei pelos vossos blogues antes do Natal.

 Na noite de 5ª feira tive outra crise de hipertensão e de refluxo com vómitos intensos. Foi tão mau , que fiquei com a cara inchada e negra sob o olho que sofreu o transplante da córnea, por ter rebentado um vaso. Também estou com as costelas extremamente doridas dos arranques para vomitar. E segundo os médicos foi muita sorte a hemorragia ter sido por fora e não dentro do olho o que mo podia ter destruído  o trabalho do transplante ou novo descolamento da retina (já tive dois). Em Janeiro faz três anos que comecei com problemas no olho e desde então já lá vão cinco cirurgias.

A todos um Santo e Feliz Natal.

17.12.21

CONTOS DE NATAL- O PÁSSARO DE NATAL

 



Era um inverno frio e nevoso. A mãe de Katia punha a mesa para o jantar. Havia leite e pão acabado de sair do forno.
— Hoje, quando fui levar ovos ao estalajadeiro, vi uns forasteiros na aldeia — disse Katia.
— Ele contou-me que está a deixá-los dormir no estábulo. Porque já não tem lugar dentro de casa — respondeu o pai. — Ao menos ali, junto da palha e dos animais, estão aquecidos.
— Gostava de saber quem são — disse a mãe. — Porque é que andarão de viagem com este tempo?
Quando Katia foi para o quarto, ouviu passos fora de casa e sentiu logo depois o pai abrir a porta. Esgueirou-se até às escadas e ficou à escuta.
— Onde é que vão? — ouviu o pai perguntar.
— Estás a ver além aquela estrela brilhante? — respondeu alguém. — Um anjo falou-nos e disse que, se seguíssemos a estrela, encontraríamos o recém-nascido. Queremos ver o novo rei e levar-lhe estes cordeiros.
Katia correu à janela. Efetivamente, no céu estava uma estrela brilhante que ela nunca tinha visto, exatamente por cima do estábulo do estalajadeiro. De todos os lados afluíam pessoas que seguiam a luz.
Katia demorou a adormecer, pensando no que acabara de ouvir. Acordou com os primeiros raios de sol.
— Hoje vou ver o pequeno rei — disse ao seu gato. — Mas o que hei de levar-lhe?
Não tinha muitos brinquedos, mas tinha algo muito especial: um pássaro de madeira pintado que assobiava quando se lhe soprava.
— Vou oferecer-lho — pensou. — E também vou levar o gato para o aquecer.
Katia desceu à cozinha.
— Quero ir ver o pequeno rei — disse à mãe. — Posso levar-lhe algum pão?
A mãe deu-lhe um pão, dizendo:
— Calça as botas quentes. Está muito frio lá fora.
Katia saiu de casa apertando contra si o gato, o pão e o pássaro de madeira, e atravessou a aldeia, feliz. Ao chegar às últimas casas, o gato soltou-se dos braços, pulou para o chão e correu para casa. Katia ficou um pouco triste.
— Bem, ainda tenho duas prendas para o rei — disse, atravessando a ponte sobre o ribeiro gelado. Depois, subiu a custo o caminho, pois estava coberto de neve. Um veado aproximou-se. Estaria com fome? “Será que tem fome? O pão é grande”, pensou Katia, “porque não hei de dividi- lo com ele?” Enquanto o veado mastigava, satisfeito, também ela foi comendo do pão. De repente, o pão acabou. Katia ficou com remorsos.
— Ainda tenho o pássaro para oferecer ao pequeno rei — disse para si mesma. — E é a prenda mais bonita.
Começou a nevar. O frio mordia-lhe nos dedos dos pés e das mãos. De repente, tropeçou e o pássaro caiu-lhe das mãos. Katia procurou e cavou na neve, as lágrimas queimavam-lhe a cara. Katia saltitava para se aquecer e depois continuava. Finalmente, os dedos bateram em algo duro. Era o pássaro de madeira! Pegou nele e soprou, mas não saiu som algum. Voltou a soprar mas o pássaro continuava mudo.
— Agora já não tenho nada para oferecer ao pequeno rei. O melhor é voltar para casa.
Nesse momento, viu um clarão doirado. Da porta do estábulo saía uma luz, um caminho que Katia se apressou a subir. Dentro do estábulo encontravam-se muitas pessoas e animais reunidos em volta do colchão de palha. A senhora olhou com ternura para Katia e o menino sorriu. Katia aproximou-se timidamente, pois o gato tinha fugido, o pão desaparecera e o pássaro estava estragado. Mas, ao ajoelhar-se em frente ao novo rei, sentiu dentro de si uma alegria enorme. O pequeno rei fechou as mãos em volta do pássaro e, em seguida, abriu-as. E das suas mãos voou o passarinho!
Quando Katia deixou o estábulo, o pássaro acompanhou-a, voando por cima dela a cantar maravilhosamente.
Ao regressar a casa pela neve bem funda, levava com ela o calor do estábulo e uma felicidade que nunca antes sentira.


Bernadette
Der Weinhachatsvogel
Lüneburg, Findling Buchverlag
(Tradução e adaptação)

16.12.21

CONTOS DE NATAL - O DESASTRE DO PAI NATAL


Era véspera de Natal.
O Pai Natal estava a preparar-se para começar a viagem...
O trenó estava cheio de presentes, as renas estavam a acabar de comer.
Estavam todos ansiosos!
Depois começou a sua longa viagem pelo céu.
A certa altura atravessaram uma nuvem quase gelada.
As renas arrepiaram-se e despistaram-se...
Perderam-se...
Eles andavam perdidos pelo céu, as renas andavam de um lado para o outro e como o trenó estava
muito cheio, começaram a cair presentes. O trenó ia indo cada vez mais para baixo e foram bater numa
árvore.
As renas ainda estavam arrepiadas e o Pai Natal já pensava:
- Se eu não deixo os presentes nos sapatinhos, as crianças vão pensar que eu não existo.
- Vamos renas, temos de voltar para o céu para finalmente distribuirmos os presentes.- Disse o Pai Natal.
- Mas, quando o Pai Natal reparou, o trenó estava partido. Eles tinham que refazê-lo. Então, repararam
 que alguém ainda tinha a luz acesa. O Pai Natal foi lá e perguntou:
- Pode emprestar-me um martelo e parafusos?
- Sim, eu empresto-lhe.- disse o sapateiro que ainda trabalhava.
- Obrigado. - disse o Pai Natal.
Depois de o trenó estar pronto, foram começar a distribuir os presentes.
Quando acabaram de distribuir os presentes, foram para casa felizes por terem resolvido tudo.











Fonte  A

15.12.21

NATAL CHIQUE - VITORINO NEMÉSIO

 

NATAL CHIQUE


Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na muita pressa e pouco amor.
Hoje é Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.
Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado…
Só esse pobre me pareceu Cristo.




Aproveito para dar notícias a quem interessar. Ontem fui à consulta, que tinha marcada, ainda sem os exames todos feitos e com outros feitos na Sexta-feira, cujos resultados ainda não chegaram. 

 A médica disse-me que além das artroses e da entesopatia, que eu já sabia que tinha, estava com tendinite nos dois ombros, daí as dores e a dificuldade em mexer os braços. Passou credencial para fazer fisioterapia, e nada mais que Paracetamol dado o problema do refluxo. As crises seguidas de refluxo que tenho sofrido ultimamente, podem ser, segundo ela, as causas para o cansaço extremo e dificuldades respiratórias dado que os exames ao coração não registaram nada de anormal. Mandou-me fazer um novo exame de provas respiratórias que só se faz em Lisboa, e um tratamento de choque para o refluxo durante 3 semanas com medicação, dieta e indicação para dormir sentada.  Vamos ver se resolve.

Ainda segundo ela, o refluxo pode atacar os brônquios, os pulmões e muitos outros órgãos. Pode mesmo ser a causa do transtorno nos ouvidos, que em alguns dias me deixa meia maluca, pois já teve alguns casos assim. E pronto é isto.



14.12.21

POESIA ÀS TERÇAS - NATAL - MANUEL ALEGRE

 


Natal

Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Era gente a correr pela música acima.
Uma onda uma festa. Palavras a saltar.

Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.
Guitarras guitarras. Ou talvez mar.
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.
No teu ritmo nos teus ritos.
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).
Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.
E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.
No teu sol acontecia.

Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).
Todo o tempo num só tempo: andamento
de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva
acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva
na cidade agitada pelo vento.

Natal Natal (diziam). E acontecia.
Como se fosse na palavra a rosa brava
acontecia. E era Dezembro que floria.
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.

Manuel Alegre, in 'Antologia Poética'