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27.2.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE XIV



A Roménia declara guerra à União Soviética, ao mesmo tempo que as tropas alemãs efectuam a invasão.
E foi precisamente nesse dia que o Manuel, saiu de licença e depois de várias voltas pela cidade, pensou que estava farto da vida da tropa, estava cheio de saudades da aldeia e da mãe e decidiu que não ia voltar mais ao quartel.
Decidido, mas sem dinheiro para o comboio, resolveu fazer os mais de 300Km a pé. Não seria uma viagem rápida, mas também não tinha pressa. Lá era certamente o primeiro sítio onde iriam procurá-lo. E se bem o pensou melhor o fez.
 Afastando-se das estradas foi andando por montes e vales,  ficando um dia ou dois nas quintas que lhe apareciam no caminho. O trabalho do campo não tinha segredos para ele, e assim ganhava algum dinheiro, além de encher a barriga. E foi deste modo que nos primeiros dias de Agosto chegou à aldeia. Se a Piedade ficou surpresa, porque pensava que o filho estava no quartel, Manuel não ficou menos surpreso ao saber que ninguém o tinha ido procurar.
Ele não sabia que na confusão que se vivia na altura, ninguém tinha anulado a sua passagem à reserva, mas ainda assim resolveu seguir a sua vida e engajou-se de novo para a próxima safra na Seca do Bacalhau.
No leste europeu, os alemães aniquilam as forças russas em Smolensk.
Roosevelt e Churchill assinam a 'Carta do Atlântico'
Nesse ano os navios chegaram com pouco bacalhau. A pesca tinha-se tornado uma actividade perigosa por causa dos submarinos alemães. Portugal era um país neutral, e os bacalhoeiros foram totalmente pintados de branco e ostentavam o pavilhão português bem à vista, mas ainda assim os pobres pescadores, levavam o dia com o credo na boca. E tinham razão como ficou demonstrado no ano seguinte.
Por isso nesse ano o engajamento de pessoal foi menor e se deu primazia aos mais jovens e fortes. Manuel estava entre eles.
Estreia em Lisboa com grande sucesso, o Pai Tirano, uma comédia, de António Lopes Ribeiro, com Vasco Santana e Francisco Ribeiro.
No teatro da guerra, O VIII Exército Britânico inicia a Operação Crusader para destruir Rommel.
O governo japonês declara guerra aos Estados Unidos e à Inglaterra.
E de seguida os seus aviões bombardeiam a base naval norte-americana de Pearl-Harbor. Este ataque marcaria a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra mundial e o inicio da guerra no Pacifico.
Grã-Bretanha e Estados Unidos declaram guerra ao Japão.
Haiti, Costa Rica, Austrália, Cuba, Honduras, Panamá, China, e El Salvador declaram guerra à Alemanha, Itália e Japão.




Nota: Para os que estranharam a história das botas, garanto que é verdadeira.  Mais de vinte anos passados essas malfadadas botas foram causa de grande sofrimento para o Manuel e sua família. Mas eu conto quando lá chegar...




Nova postagem no dia 1 .  




UMA  BOA SEMANA PARA TODOS.


24.2.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE XIII


 foto da wikipédia

O novo ano inicia-se com o Manuel a terminar o tempo de tropa e a passar à reserva. Porém uma semana antes de tal acontecimento, uma manhã, ao levantar-se deu por falta das botas. Quando ele viera para a tropa, o Sr. Américo, tinha-lhe dito “Manuel, tem cuidado com as tuas coisas no quartel. Anda por lá filho de muita mãe e de vez em quando, algumas coisas desaparecem. Se te faltar alguma coisa, não te queixes, tira essa mesma coisa a quem te ficar mais perto. Ele tirará a outro e no fim, tudo estará certo”.
Ele ouviu mas nunca lhe tinha faltado nada e aos poucos foi deixando de se preocupar. Naquele dia porém, não tinha botas para a formatura e como tinha acordara depois dos outros, já não podia tirar as botas de ninguém. A dois dias de sair tropa, Manuel, teve que participar a “perda” das botas. E tinha que pagar umas botas novas ao exército.
Como porém ele não tinha dinheiro para pagar as botas, e havia falta de mancebos nos quartéis, por via do “sangramento” para os Açores e Cabo Verde, foi-lhe proposto que ele poderia pagar a dívida ao estado com mais dois anos de tropa, voluntária. Sem outra alternativa, Manuel aceitou.
Na Europa Franco encontra-se com Mussolini em Bordighera, e de seguida com Pétain em Montpellier.
As primeiras tropas alemãs chegam a África.
Enquanto em Hollywood, Cármen Miranda é convidada a deixar a marca das suas mãos para a posteridade, a Jugoslávia adere ao Pacto Tripartite. Dias mais tarde Hitler ordena a sua destruição.
Morre a escritora Virgínia Woolf, e Miguel Torga publica “Contos da Montanha”.
O exército alemão ocupa Atenas, e Haile Selassie reassume o trono da Etiópia.
Chegara o mês de Junho com grande concentração de tropas alemãs na fronteira russa. Hitler preparava-se para invadir a Rússia, perante o terror de militares e civis, e a passividade de Estaline, que nunca acreditou nessa possibilidade, apesar dos avisos do comissário da defesa Timoshenko.
Para demonstrar que nada havia a temer, Estaline resolveu tirar férias, e voou para a sua dacha na Criméia, perante a angústia dos generais soviéticos da fronteira, que ouviam a toda a hora a movimentação dos tanques alemães.
Incrível e esquisito foi Estaline ter aceitado como verídica a informação de Hitler, de que estava encenando a futura operação Leão-marinho, que estava programada para invadir a Grã-Bretanha. No mínimo esquisito, como mais de dez mil tanques, camiões e carros de combate, vão ensaiar um ataque à Grã-Bretanha, na fronteira da União Soviética.
E foi assim que a 22 de Junho, enquanto Estaline gozava férias, sete mil bocas de canhões alemães, das margens do Báltico até ao Mar Negro, começaram a cuspir fogo sobre o território russo, enquanto a primeira linha de mil tanques avançava, esmagando tudo o que encontrava pela frente.


Próxima postagem dia 27

21.2.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE XII



De Gaulle


A situação é grave, o continente europeu encontra-se na iminência de uma guerra total.
Churchill propõe uma União Franco-Britânica, que o governo francês rejeita.
Pétain torna-se presidente do governo francês, e pede o armistício. De seguida pede pela rádio, que os franceses deixem de lutar. 
O general De Gaulle, em Londres, faz também pela rádio um apelo contrário, apelando ao patriotismo dos franceses e pedindo-lhes para continuarem a luta, tanto na metrópole como nas colónias.
Darlan, o almirante que comandava a Marinha de Guerra francesa, dá ordem para que toda a frota seja afundada, se os alemães tentarem a sua captura.
O Armistício franco-alemão é assinado em Rethondes. O 3º, 5º e 8º exército francês, num total de 400.000 homens rendem-se.
Em Campolide, o Manuel, vê o seu amigo Varandas ser mobilizado para os Açores, enquanto ele passa a ajudante de cozinheiro.
No mesmo dia é inaugurada em Belém a Exposição do Mundo Português.
O Armistício franco-italiano é assinado em Roma, e por algum tempo os combates cessam em todas as frentes. Como sol de inverno a paz durou pouco.
O governo britânico reconhece o general DE Gaulle como chefe dos Franceses Livres, e manda retirar o pessoal militar das ilhas britânicas do canal da Mancha.
Salazar e Franco assim um Protocolo Adicional ao Tratado de Amizade e Não Agressão, entre Portugal e Espanha, que vigorava desde Março de 1939.
O governo francês instala-se em Vichy, uma conhecida instância termal.
A marinha de guerra britânica ataca a frota francesa do mediterrâneo, em Mers-el-Kebir, perto do porto argelino de Orão, e apreende os navios franceses em portos britânicos.
Os governos de um e outro país cortam relações diplomáticas. A Roménia proclama a sua amizade às forças do eixo, enquanto ingleses e italianos travam a batalha naval de Cabo Spartivento.
Hitler faz mais um dos seus inflamados discursos em Berlim, no qual propõe à Grã-Bretanha um
“Último apelo à razão” e em resposta a Grã-Bretanha reconhece a criação do Governo Checoslovaco no exílio.
O governo de Vichy condena à morte De Gaulle, e este com a ajuda de Churchill, cria as Forças Francesas Livres.
          No Verão, torna-se evidente que a Inglaterra não está disposta a ceder, pela tenaz resistência no Canal da Mancha. Franco, quase a entrar no conflito, ao lado de Hitler, retrai-se. E quando a 3 de Setembro a Grã-Bretanha bombardeia durante 2 horas Berlim, Franco fica ainda mais temeroso. “Se conseguem atingir o coração do Reich, o que não farão a Espanha?”
Tem-se como certo que Hitler irá atacar Gibraltar. Este é uma fortaleza no mediterrâneo, e conquistado pelos alemães seria um golpe fatal para os ingleses. Por outro lado também se sabia, que se os alemães atacassem Gibraltar, estes iriam ripostar. O cenário seria mais ou menos este. A Alemanha avança sobre Gibraltar, e os ingleses invadem as Canárias, e tomam os Açores e Cabo Verde. 
Churchill estava preparado para chegar aos Açores, logo que os alemães pusessem um pé em Espanha em direcção a Gibraltar.
A tomada dos Açores, podia levar a que os alemães invadissem Portugal, para evitar outra invasão inglesa.
Para evitar que tal acontecesse, milhares de soldados portugueses, foram para os Açores, nesse e nos anos seguintes. Muitos dos filhos da escola do Manuel, foram para lá, e entre eles o seu grande amigo, Zé Varandas.
Começa a ofensiva Japonesa na Indochina, e o exército italiano, invade o Egipto. Londres é atacada pela aviação alemã, numa tentativa de enfraquecimento para uma invasão próxima.
As Forças Francesas livres, e Britânicas são derrotadas em Dakar.
Alemanha, Itália e Japão assinam o Pacto Tripartido.
A Alemanha invade a Roménia e a Itália invade a Grécia, onde são cercados por Regimentos gregos de Evzones, e deixam 5000 prisioneiros.
O presidente Roosevelt é reeleito nos EU da América.
Hitler e o seu Estado-maior começam a planear invadir a União Soviética.
As Comemorações do Duplo Centenário da Fundação e da Restauração são encerradas em Lisboa, com uma sessão solene na Assembleia Nacional.
Manuel recebe uma carta da Piedade, escrita pelo Sr. Américo, que mostra a aflição do seu coração de mãe, com as notícias dos soldados que vão para a “guerra” nos Açores.



UM BOM CARNAVAL PARA TODOS OS QUE GOSTAM DA FOLIA.


PRÓXIMA POSTAGEM  DIA 24

17.2.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE XI



Espanha entra em 1939, praticamente dividida ao meio, com a Catalunha isolada do resto do país. Em Janeiro as tropas do General Franco, cujo maior trunfo foi saber congregar ao seu redor a direita, forte e unida, invade Barcelona. A esquerda, demasiado dividida em breve era derrotada.
Por esses dias morre o Papa Pio XI e o cardeal romano Eugénio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli foi o eleito para o lugar, no dia 2 de Março de 39. Escolheu o nome de Pio XII.
Em Abril desse ano, a guerra civil espanhola chegou ao fim. Quase meio milhão de mortos, campos e cidades destruídos.
Manuel vai fazer nesse mês 21 anos e está a cumprir tropa em Campolide, no Batalhão de Caçadores 5. Laurinda, já tem dois filhos, mas Manuel nunca mais viu a irmã e ainda não conhece os sobrinhos.
No cinema Vivien Leigh e Clark Gable dão uma lição de interpretação no filme “E tudo o vento levou”. Scarlett O’Hara e Rehtt Butler ficarão para sempre na memória dos amantes da sétima arte.
Cármen Miranda a portuguesa que o Brasil adotou e transformou numa grande estrela,  parte para Nova Iorque.
E em Lisboa realiza-se o 1º congresso da Mocidade Portuguesa.
 Depois de ter invadido a Checoslováquia em Março, Hitler decide invadir a Polónia, o que acontece em Setembro desse mesmo ano. É o pretexto para a Inglaterra e a França, declararem guerra à Alemanha. Começava assim a Segunda Guerra Mundial.
Tropas russas invadem a Polónia oriental, e anexam essa parte da Polónia, ficando assim o País dividido. A parte industrial ficou para a Alemanha, os campos para a URSS.
Morre Sigmund Freud, o pai da psicanálise.
A aviação russa bombardeia Helsínquia.
Em Munique, Hitler é alvo de um atentado à bomba.
 Enquanto isso em Lisboa Amália, inicia a sua carreira de fadista no retiro da Severa, e no quartel em Campolide, Manuel faz amizade com o Zé Varandas, também "magala". Uma amizade que iria perdurar por toda a vida, e que embora ele não o imaginasse na altura, iria ter uma grande influência nela.
O ano de 1940 foi muito complicado. Não só por tudo o que aconteceu na realidade, como por aquilo que se temeu poder vir a acontecer. A Segunda Grande Guerra tinha sido declarada e em Janeiro, já havia racionamento de manteiga açúcar e bacon na Inglaterra. Mas isso não era nada comparado com o que veio depois.
A Finlândia não consegue resistir muito tempo, ao exército soviético e acaba por capitular.
A Alemanha desembarca em Tromso, e ocupa Narvik, Bergen e Oslo. E enquanto os aliados planeiam defender a Noruega, a Alemanha invade e ocupa a Dinamarca.
E se em Março, a Inglaterra derrota a Alemanha na batalha naval de Narvik, na Noruega, em Maio, numa operação relâmpago a Alemanha invade a Bélgica, Holanda, Luxemburgo e França. Maastricht, na Holanda, e Malmédy, na Bélgica ficam em poder dos alemães.
Churchill é escolhido para primeiro-ministro, pelo Partido Conservador, e forma um governo de salvação nacional.
Enquanto isso, o Governo Português, e Pio XII assinam a Concordata, que dá à Igreja vários privilégios, e se compromete a restituir os bens que lhe pertenciam antes da primeira república, e que esta lhes tinha tirado.
Liège é tomada pelos alemães, e Roterdão também.
Salazar discursa sobre os “Problemas político-religiosos da Nação Portuguesa e do seu Império”, na sessão da Assembleia Nacional, na qual são aprovados a Concordata e o Acordo Missionário.
Começa a evacuação de Dunquerque, e Lille cai em poder do exército alemão.
No Castelo de Guimarães, realiza-se a cerimónia de abertura das “Comemorações do Duplo Centenário da Formação da Nacionalidade e da Restauração”
Enquanto isso, Dunquerque cai em poder dos alemães.
O exército alemão lança uma ofensiva em território francês e depois da batalha de Somme avança em direção a Dijon. 
A Itália comandada por Mussolini, aliado de Hitler, declara guerra à França, e o Egipto declara guerra à Alemanha e Itália.
 É divulgada a declaração conjunta de neutralidade dos governos portugueses e espanhol, sendo afirmado pelo governo de Salazar a «estrita neutralidade».
O governo francês muda-se para Bordéus, e pouco depois o exército alemão entra em Paris.



Nota: Os factos históricos foram pesquisados na net, em enciclopédias e nos livros "O Século do Povo" da ediclube. Tentei ser o mais rigorosa possível, restringindo-me claro aos factos mais importantes para não tornar esta história interminável.  


Próxima postagem a 21 

BOM FIM DE SEMANA

15.2.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE X


Guernica, pintura de Pablo Picasso



Enquanto Manuel, entrava nesta vida rotineira, Piedade recebia na terra uma carta da filha anunciando-lhe que ia ser avó, e também que o marido arranjara trabalho no Alfeite, e por isso iam viver para a Cova da Piedade.
João era agora electricista, e ficava na Seca a tempo inteiro pois era necessário manter os geradores e câmaras frigoríficas em perfeitas condições.
Em Inglaterra, o príncipe herdeiro é proclamado rei. Eduardo VIII aparece na festa da sua coroação acompanhada de uma burguesa norte americana, divorciada, seu grande amor, e por causa de quem renuncia ao trono nesse mesmo ano.
A Guerra Civil espanhola, o acontecimento mais traumático, antes da Segunda Grande Guerra, começa e acaba durante estes três anos de vida do Manuel. A Espanha tinha de um lado o nacionalismo e o fascismo, simbolizado pela trilogia, Exército, Igreja e Latifúndio. Do outro a Frente Popular, que formava o governo Republicano, representando os sindicatos, os partidos de esquerda, e os partidos da Democracia.
Pretendia a esquerda, defender a Espanha dos avanços do fascismo que já se havia instalado em Itália, Alemanha e Áustria.
Para a direita, tratava-se de defender a todo o custo a Espanha do comunismo, derrubando a República e repondo o poder autoritário e católico.
No resto da Europa estes três poderes não podiam ficar indiferentes, já que era uma oportunidade de impor a sua força e os seus ideais. Isso levou a que a Itália e a Alemanha, apoiassem a direita, liderada pelo General Franco, e a União Soviética apoiasse o Governo Republicano. Resultado, três anos de guerra, mais de meio milhão de mortos.
E se em Espanha começava em 1936 a Guerra Civil, na Alemanha os Jogos Olímpicos, serviam a Hitler para propagandear o nazismo, e em Portugal havia mais uma revolta contra Salazar e o seu regime. Foi a 8 de Setembro, a “Revolta dos Marinheiros” assim chamada por ter sido planeada e executada, por grumetes, marinheiros e cabos da Armada. A revolta foi rechaçada ao fim de poucas horas, com um saldo de uma dezena de mortos e centenas de presos.
1937 ficará para sempre na história, Guernica, a cidadezinha espanhola, destruída pelos aviões nazistas da Legião Condor, imortalizada por Picasso numa tela fabulosa com o mesmo título.
No Brasil, um golpe de estado, dá inicio ao Estado Novo e faz promulgar a Constituição de 1937. O governo inicia uma dura repressão sobre os seus opositores.
Em Lakehurst, explode o maior zepelim do mundo matando 35 pessoas.
Mas o ano não acabaria sem mais uma grande atrocidade tantas vezes esquecida. Os Japoneses invadem a China. E em Nanquim, antiga capital imperial, os soldados japoneses, comandados pelo general Iwane Matsui durante três semanas, saquearam a cidade, torturaram, fuzilaram homens, estupraram mulheres, num massacre que vitimou mais de 300 mil civis chineses.
No ano seguinte é inaugurada em Portugal, a Emissora Nacional. Toda a baixa de Aveiro fica inundada, nas grandes cheias de 38.
Na França, joga-se o campeonato do mundo em futebol.
Na Alemanha, Hitler assume a pasta da Guerra. As suas tropas invadem a Áustria e declaram-na 13ª parte do Reich.
No dia 9 de Novembro desse mesmo ano, agentes nazistas à paisana assassinaram 91 judeus, incendiaram 267 sinagogas, saquearam e destruíram lojas e empresas da comunidade e iniciaram o aprisionamento de 25 mil judeus em campos de concentração.
Era o início da Segunda grande guerra, embora oficialmente ela só tenha começado no ano seguinte.
Em S. Pedro, Manuel vai às “sortes”, e fica apurado.






Próxima postagem dia 18.

12.2.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE IX






Os três anos seguintes foram para Manuel, uma nova rotina. Em Setembro ia de camioneta até S. Pedro do Sul, e aí apanhava o comboio para Lisboa. Atravessava o Tejo e ia a pé pela margem do Coina, até à Azinheira Velha, arredores do Barreiro, onde funcionava a Seca de Bacalhau. Aí trabalhavam perto de quatrocentas pessoas, muitos “ratinhos” como ele. Mas também muita gente dos arredores, especialmente da Baixa da Banheira, Barreiro e Palhais. Os “ratinhos” eram os homens e mulheres do norte, e eram assim chamados pelos “camarros”, nome antigo porque eram conhecidos os barreirenses, e que segundo a lenda era atribuído aos pescadores, que utilizavam as terras barrentas para descansar. Cama sobre o barro, Camarro. Muito embora nessa altura, o pessoal do sul, fosse na sua maioria, algarvios e alentejanos, que tinham vindo para o Barreiro atrás de uma vida melhor e de um emprego nas fábricas da CUF, e nas fábricas de cortiça do Nicola e do Alemão. E então, a grande maioria das mulheres não "ratinhas" que trabalhavam na Seca, e viviam nas redondezas ou eram mulheres ou filhas de homens que trabalhavam nessas fábricas. A maioria dos homens vinha do Norte, onde quase não havia trabalho, a não ser nos campos. Claro que quando os homens eram casados e tinham filhos, a família os acompanhava. Na Seca havia meia dúzia de habitações. Para o Capitão, - o gerente –  para os empregados de escritório, para o eletricista, o ferreiro, e os capatazes. O resto do pessoal se dividia por dois enormes edifícios, as "maltas”. Um para os homens, outro para as mulheres. Os filhos se havia ficavam com a mãe, se eram muito pequenos, se eram crescidos ficam separados com o progenitor do seu sexo. As "maltas" tinham uma enorme cozinha cada uma, e um grande refeitório com mesas de pedra e bancos corridos de madeira, vários quartos com muitas camas, e três ou quatro quartos para duche. Casa de banho propriamente dita, não havia na altura. Embora houvessem vários duches.Mas os edifícios, embora distantes um do outro, estavam situados pertinho do rio e aí havia umas espécies de “guaritas” com um buraco que dava para o rio e onde o pessoal aliviava as suas necessidades fisiológicas. Aliás havia várias dessas “guaritas” estrategicamente espalhadas pela margem para alívio do pessoal durante as horas de trabalho. Na “malta” dos homens havia dois cozinheiros, que faziam a comida para os homens, e na malta das mulheres duas cozinheiras que faziam a comida para as mulheres. Marido e mulher, podiam comer juntos em qualquer uma, mas à noite, quando soassem as 11 badaladas no sino da Seca, cada qual teria que estar na que lhe correspondia, sob pena de dormir ao relento. Em Setembro chegavam os navios, carregados de bacalhau, pescado na Terra Nova e na Gronelândia, e a Azinheira ganhava vida. Em Março quando partiam para a pesca, todos os trabalhadores ficavam sem trabalho, e cada um regressava à sua terra, à sua casa, e na Seca ficavam meia dúzia de pessoas, que ajudavam o gerente na manutenção, bem como os caseiros, que trabalhavam as duas quintas, o moleiro,pois na seca havia um moinho de maré onde se moíam os cereais cultivados nas quintas que mais tarde iam servir para levar nos barcos quando estes partiam para a pesca e os militares da guarda-fiscal, que preenchiam a guarnição do posto que havia na Seca. Manuel também regressava à aldeia em Março e embora sempre voltasse para o trabalho no campo ficava a contar os dias até Setembro, para voltar.


AGRADEÇO A TODOS QUE POR AQUI PASSAM E DEIXAM UMA PALAVRA DE INCENTIVO. 
PRÓXIMA POSTAGEM DIA 15



9.2.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE VIII



O ano de 1935 foi para Manuel o ano da sua libertação da aldeia, do conhecer de outras terras, outras gentes, pois foi nesse ano que veio pela primeira vez para o sul, para trabalhar na Seca do Bacalhau. Tinha 17 anos e há três que pedia à mãe para lhe deixar ir trabalhar para junto dos irmãos. Era um jovem franzino mas de muita genica. Brincalhão, sempre pronto para uma brincadeira, bem diferente dos seus irmãos. Manuel nada sabia do que ia pelo mundo, mas este estava dando uma grande volta. Foi nesse ano que o perfeito do Rio de Janeiro legalizou as escolas de samba, e os desfiles de rua pelo Carnaval. A Portela foi a escola campeã, no desfile oficial desse ano. Ainda em 1935 apareceu a primeira fibra sintética, o Nylon, que veio revolucionar a indústria têxtil, o primeiro Volkswagen, - o fusca – a lâmpada fluorescente, o radar, o primeiro filme a cores, e até a primeira cerveja em lata. Mas enquanto uns procuravam melhorar o mundo com as suas invenções, outros procuravam destruí-lo com sua ganância e prepotência. A Itália invade a Etiópia. O parlamento alemão aprova as leis de Nuremberg, defendidas e propostas por Hitler. Em Portugal, mais uma vez se tenta derrubar Salazar, através da revolta de Rolão Preto, mas esta também não teve o êxito esperado, desta vez graças à acção da PIDE. Num cabaret é descoberta a Cantora Edith Piaf, que viria a ser apelidada de “O rouxinol de Paris” No cinema, o “Sonho de uma noite de Verão” rivaliza com “A pequena Órfã” onde Shirley Temple, uma menina de lindos caracóis e muito talento, encanta o mundo. Hemingway publica, “O velho e o mar” com grande sucesso. A nossa vizinha Espanha, está cada vez mais perto da Guerra Civil. Morre o grande poeta, Fernando Pessoa e desaparece também num desastre de avião Carlos Gardel, o maior cantor de tangos de sempre. Quase no final do ano, dois trabalhadores da Seca, O Mário, e o Aires, bem mais velhos que o Manuel, levam-no a Lisboa, a um bordel. “Um rapaz só passa a homem quando vai à desobriga” disseram. E, pelos seus costumes, Manuel passou a homem nesse Dezembro de 1935.


PRÓXIMO CAPITULO DIA 12.  BOM FIM DE SEMANA

6.2.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE VII


 Monumento aos revoltosos da Marinha Grande  - foto da net


O ano de 1934, começa com uma revolta a 18 de Janeiro, que ficou conhecida por revolta da Marinha Grande, por ter sido aí iniciada, mas na verdade, ela ocorreu também em Almada, Barreiro e Silves. Tudo começou com uma greve geral contra a criação dos sindicatos nacionais. Rebentam bombas no Poço do Bispo, em Lisboa, e é cortada a circulação de comboios em Xabregas. A central eléctrica de Coimbra é ocupada. A revolta dos grevistas é conjugada com uma insurreição militar, organizada por um comité revolucionário político, liderado por Sarmento Beires. A revolta dura poucas horas e os líderes são conduzidos para um campo de concentração criado na foz do Cunene, no sul de Angola, logo no dia 20. O governo cria a Acção Escolar da Vanguarda, organização de juventude do Estado Novo. Acontece o primeiro congresso da União Nacional, e nesse ano também é criada em Portugal a Radiodifusão Nacional, e inaugurada a estátua do Marquês de Pombal em Lisboa. Pela primeira vez, o campeonato do Mundo de Futebol foi precedido de eliminatórias, para se apurarem as selecções participantes. E a Itália ganhou o título, num campeonato em que Mussolini fez tudo para ganhar, incluindo a escolha de árbitros suspeitos, para os jogos em que a Itália entrava. Na América Jonh Dillinger escapa da cadeia, e é nomeado inimigo público nº1. Al Capone é transferido para a prisão de alta segurança de Alcatraz, e Maria Callas, vence uma competição musical, e inicia o seu percurso para uma carreira brilhante. Na Alemanha, os Judeus são banidos da Frente de trabalho Alemã e Hitler recebe 95% dos votos dos eleitores, aprovando a sua política e os seus poderes, e dá uma pequena mostra do seu espírito sanguinário a 30 de Junho, mandando executar Ernst Rohm, - um ex-colaborador que se tornara incómodo, para os seus ideais nazistas, - e mais de oitenta pessoas, a maioria das quais sem quaisquer ligações a Rohm, naquela que ficou para a história como a noite das facas longas. No Brasil, Getúlio Vargas é eleito presidente e adopta uma política autoritária de extrema-direita, encontrando o núcleo de seu apoio na classe trabalhadora. Cármen Miranda faz grande sucesso e inicia uma viagem à Argentina Na Espanha tudo se encaminha para a guerra civil. Na aldeia, Manuel, troca o seu primeiro beijo numa roda de desfolhada. Como diz a cantiga...
Não há desfolhada
Animada
Sem milho-rei
Vem uma espiga
Rapariga
Cumpre-se a lei
Um abraço
Tens que dar
Não te podes
Recusar.
Manuel tem 16 anos, a cabeça cheia de sonhos e a aldeia começa a parecer-lhe, pequena demais….




PRÓXIMA POSTAGEM A 9 DE FEVEREIRO.

3.2.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE VI

Foto da net




A década de 30 começa, com o desemprego nos Estados Unidos, a atingir quase cinco milhões de pessoas, e o ano seguinte inicia-se com uma encíclica do papa Pio XI em que condena o divórcio, e qualquer forma de controle de natalidade. Estávamos em Janeiro, e Adolf Hitler faz em Dusseldorf, o seu primeiro grande discurso.
Na aldeia, uma “alma caridosa”, disse ao Manuel quem era o seu pai biológico. O garoto era atrevido, e na feira de gado que se realizava na aldeia em Fevereiro, dirigiu-se ao pai, e na frente de quem se encontrava presente, disse: - Deite-me a sua bênção, meu pai. Alberto ficou incomodado e ameaçou o garoto que lhe batia se ele não desandasse dali. Manuel, percebeu a raiva do pai, e desde aí sempre que o via, dirigia-se a ele e pedia-lhe a bênção, chamando-lhe pai. Era assim como que uma voz de consciência, que perseguiu Alberto até ao dia em que Manuel abandonou a aldeia, aos 17 anos. Entretanto o desemprego espalhava-se pela Europa. Mais de oito milhões de desempregados, só na Alemanha e em Inglaterra.
Charles Chaplin estreava “Luzes da Cidade”. É também nesse ano no 1º de Maio, que se inaugura em Nova Iorque o “Empire State", o edifício mais alto do mundo.
Em Lisboa é inaugurada nesse mesmo mês a Maternidade Dr. Alfredo da Costa. Dois meses depois, em Julho, António de Oliveira Salazar, torna-se primeiro ministro de Portugal, iniciando o Estado Novo, e dando origem a um longo período político que ficou também conhecido por Salazarismo. Em Agosto desse ano Laurinda, apareceu na terra com o namorado, para receber a bênção da mãe, e casar na igrejinha onde tinha sido baptizada. Na verdade, havia dois anos que não ia à terra, pois entretanto tinha trocado o trabalho na Seca do Bacalhau, pelo de “criada de servir” na casa do gerente da Seca. Mais tarde conhecera um rapaz que trabalhava nas fábricas da CUF, e enamoraram-se. Piedade abençoou o casal, e acompanhou-os à Igreja para combinarem com o Sr. Abade o casório. Laurinda, ficou uma semana na terra para tratar de tudo, mas o casamento, viria a ser no Barreiro, porque os “proclames” ainda iam levar tempo, e os noivos não podiam estar lá todo esse tempo. Quando a jovem regressou, trouxe consigo o irmão, João, que entretanto deixara de ter as crises asmáticas, na “mudança da idade” mas não queria trabalhar no campo, e desejava estudar. Iria trabalhar na Seca ou em alguma fábrica e estudar, prometera à mãe a irmã. Na aldeia ficava a Piedade, e o filho mais novo que continuava na casa do Sr. Américo, o maior lavrador das redondezas.




BOM FIM DE SEMANA


PRÓXIMA POSTAGEM  DIA 6.