Rolou na enorme cama de casal. Quim fora um homem muito apaixonado e talvez porque durante dez anos experimentara as delícias do amor, para ser sincera consigo própria sentia a falta de um companheiro.
Afinal
tinha trinta e três anos, era uma mulher jovem e saudável, o seu corpo sentia a
falta das carícias de umas mãos e uma boca apaixonada.
Sabia
que Fernando a desejava, tinha-o lido nos seus olhos há quase dois anos e por
isso mesmo o afastara. Quim tinha falecido há meio ano, ela sentira-se
ofendida, como se estivesse a atraiçoar a memória do marido.
Agora
Gonçalo tinha-lhe pedido para ele levar as meninas à escola e isso obrigava-a a
uma convivência que a estava a desorientar.
Depois
havia aquela proposta de emprego temporário. E ela ficara desgostosa ao não
conseguir vaga para lecionar naquele ano letivo. Não que ela precisasse de
emprego para viver, felizmente a sua situação económica, não era problema. A
casa estava paga, e tinham recebido uma herança razoável quando a tia-madrinha
de Quim morrera, além das próprias economias do casal. Podia continuar em casa,
mas agora que o filho ia entrar na creche a solidão ia ser ainda maior.
Pensando
nisso, aquele emprego podia ser uma boa ideia. O pior é que desde que voltara a
ver Fernando, todos os dias, e especialmente depois das conversas trocadas, ela
sentia-se cada vez mais inquieta na presença dele e receava que essa
inquietação aumentasse com a convivência diária no consultório.
Todavia
sabia que o psiquiatra tinha fama de ser um dos melhores profissionais da
cidade, logo ele não iria misturar os seus possíveis desejos com o trabalho.
Por
fim, cansada, acabou por adormecer.
Apesar
de ter adormecido tarde acordou um pouco antes do relógio despertar. Saltou da
cama, abriu a persiana e olhou a rua, que não obstante a hora matutinal. já
fervilhava de gente que passava apressada, decerto rumo aos seus empregos.
Retirou
da comoda um conjunto de roupa interior e do armário, umas calças de ganga e
uma T-shirt azul, que levou para a casa de banho, onde procedeu à higiene
pessoal vestindo-se em seguida.
Antigamente
quando o irmão vinha buscar a sobrinha para a levar à escola, sempre a
encontrava de pijama e robe, mas agora parecia-lhe que receber assim o amigo,
não seria próprio e daria ideia de uma intimidade que a afligia.
Foi
para a cozinha e deu início ao novo dia preparando o pequeno almoço para a
filha e sobrinha.