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26.7.24

26 DE JULHO DIA DOS /AS AVÓS



Porque hoje é o dia dos avós, eis as minhas duas princesas



SER AVÓ

Ser avó é sentir felicidade,
É conhecer um amor doce profundo,
É viver de carinho e ansiedade,
É resumir nos netos o meu mundo!
Ser avó é voltar a ser criança,
É fazer tudo pelos netos amados…
É povoar a vida de esperança,
É reviver o passado.
Ser mãe é dar o coração, eu creio,
Mas ser avó… que sonho abençoado!!!
É viver de ilusão, num doce enleio,
É viver nos netos o amor do meu filho amado!!

Mtlago


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A maioria conheceu a Mariana quando nasceu e durante uns anos acompanhou o seu crescimento. Hoje está assim. A pequenita é a Princesa Traquina, a Margarida.


Gente com este calor estou com os olhos numa desgraça. Ardem, choram, levo os dias a por compressas de água fria neles.

24.7.24

PIEDADE - UMA MULHER DE OUTROS TEMPOS

REEDIÇÃO


                                                        

Quando Piedade soube que estava de novo grávida, pensou que o mundo lhe caía em cima. Corria o mês de Setembro de 1917, e o mundo agonizava entre uma guerra que durava já há três anos, e a gestação de uma revolução prestes a nascer na União Soviética. Nessa altura os Alemães tinham-se apossado de Riga, e a Itália fazia frente ao império austro-húngaro perto de Piave, onde se refugiaram no mês seguinte, e de onde conseguiram por fim rechaçar as tropas inimigas. 

O reino Unido lutava comandado por esse extraordinário coronel que foi T. E. Lawrence, na Palestina, e com o auxílio dos Árabes, aproximava-se de Jerusalém. Os Americanos tinham entrado na guerra e o Brasil preparava-se para declarar guerra à Alemanha e entrar no conflito ao lado dos Aliados.
 
O Corpo Expedicionário Português, combatia na Flandres ao lado dos Aliados e os jovens portugueses embarcavam para as colónias portuguesas tentando defendê-las de algum possível ataque  do inimigo.

 Em Portugal, acontecia a quinta  aparição em Fátima, envolta pelo controvérsia, entre os que acreditavam nos videntes e se deslocavam religiosamente à Cova de Iria, e aqueles que juravam que as aparições, mais não eram do que uma manobra do governo, para desviar a atenção dos Portugueses, que mal preparados para a guerra sofriam pesadas baixas, e ainda dos constantes embarques de jovens para as colónias portuguesas, duas situações que sangravam a Pátria da sua juventude masculina. 

Mas tudo isto passava ao lado de Piedade, uma ignorante mulher, do povo, a viver numa aldeia do interior norte de Portugal,  que nada  sabia, nem sonhava, do que se passava por esse mundo de Cristo. Ela nada conhecia para além da sua pequena casa, numa aldeia encravada entre montes, onde habitava com os filhos, tendo por companhia constante a fome e a miséria. O companheiro partira para o Brasil em busca de uma vida melhor e nunca mais dera notícias. Ela nem sabia se era vivo ou morto. Com ela ficaram os dois filhos, uma menina de dois anos e um rapazito, recém-nascido e muito enfezado, a quem ninguém profetizava uma vida 
longa.
 
Sem emprego, Piedade, percorria as poucas casas da aldeia e de outras aldeias vizinhas, oferecendo-se para trabalhar, na lida da casa, ou no campo, cujos trabalhos não tinham para ela segredos. Meses antes, ela conhecera um homem de uma aldeia vizinha, viúvo, com alguns campos, e que lhe prometera, ajuda para criar os dois filhos em troca de “certos favores”. 
Piedade não sabia nada de métodos anticoncecionais.
 
A falar verdade ela se juntara com o pai dos filhos com apenas dezasseis anos quando a mãe morrera. O pai nunca o conhecera. A mãe nunca lhe falara sobre as coisas da vida. Quando Piedade se juntou com o Joaquim, não foi por amor. Amor era um luxo a que os pobres não chegavam.

 Foi uma espécie de troca. Ele ajudou-a a pagar o funeral da mãe, e ela pagou-lhe com a sua virgindade. Depois, foi ficando por lá, punha comida na mesa, pagava a renda da casa, e ela satisfazia-lhe os apetites sexuais. Que a falar verdade, duravam o tempo necessário para ele se satisfazer. Piedade “embuchou” uma vez e as despesas cresceram. Quando “embuchou” a segunda vez, Joaquim disse que o primo que estava no Brasil lhe mandara uma carta de chamada, que ia embarcar e quando pudesse a mandava buscar e aos filhos.

 Joaquim terá ido mesmo para o Brasil? Quem sabe, se partiu ou se apenas se quis livrar de responsabilidades e despesas. A verdade é que estivesse onde estivesse, nunca mais lhe deu notícias.

 Com duas crianças pequenas, Piedade arregaçou as mangas e foi à luta. Mas a vida era muito difícil, o trabalho no campo bem duro, e mal pago. Ninguém da atual geração, terá uma noção exata do que era a vida em Portugal na primeira metade do século vinte. Um dia inteiro, não chegaria para contar as vezes que ficava sem comer, para dar de comer aos filhos.
 
Por isso aceitou a ajuda do lavrador, para quem trabalhava. Era  viúvo e esse facto dava mais coragem a Piedade. Ela não seria capaz de estragar o casamento de ninguém, E Alberto parecia sincero e bom homem. Por algum tempo ela pode dar aos filhos uma alimentação aos filhos como eles nunca conheceram na sua curta vida, porém quando Alberto soube que ela estava grávida, simplesmente a pôs na rua com os dois filhos e com a indicação de que nunca mais lhe aparecesse na frente. Ela chorou tudo o que tinha a chorar e depois recomeçou a jornada de porta em porta, procurando trabalho. O seu ar franzino não mostrava a força de que aquela mulher era dotada.

 Em Abril de 1918, poucos dias depois do desaire português, na Batalha de La Lys, nasceu o terceiro filho de Piedade. Era um rapazinho pequeno e franzino,  mas saudável. 

Para criar os três filhos, Piedade trabalhou no campo, até deixar de sentir as costas, de tanta dor, lavou roupa no rio até as mãos sangrarem, deitou com a fome, levantou com a miséria, mas não chorou que as lágrimas tinham acabado há muito tempo. 
Um dia, depois que os filhos emigraram em busca de uma vida melhor, deixou-se dormir, e nunca mais acordou.



Fim

19.7.24

UMA VIAGEM ESTRANHA

 


Outubro aproximava-se do fim. Apesar disso o céu sem nuvens e o sol, que embora não apresentasse um calor abrasador, como no verão, estava luminoso e lançava sobre a terra um calor muito agradável. Conduzia numa estrada deserta, de volta ao lar de meus pais, depois de alguns anos de ausência.

 Ao olhar a paisagem tive consciência, de que me enganara na estrada, mas segui em frente, pensando que afinal aquela estrada, iria ter a algum lugar, donde poderia retomar o caminho de casa. Porém a estrada terminou um pouco mais à frente. Parei o carro e saí para olhar à minha volta.

 À minha frente uma floresta, exibia os maravilhosos tons de outono. Curiosa avancei uns cem metros e deparei-me um enorme lago, cujas águas tão serenas, mais pareciam um enorme espelho,  sobre o qual as narcisistas árvores da margem se miravam vaidosas. Quedei-me extasiante perante tão bela imagem que  me sugeriu a natureza em paz consigo mesmo . 

Pensei que era um lugar onde o homem ainda não chegou, mas então vi mais à frente duas cadeiras lado a lado, num pequeno pontão, como que a dizer-me que estava enganada. Duas cadeiras vazias que sugerem momentos de contemplação e amor.

Contemplação pela natureza, mas também amor pela pessoa que se senta ao lado, e com quem se quer partilhar um lugar tão paradísico. Olhei à volta e não vi cabana, ou caravana, que me mostrasse que ali vivia alguém. As cadeiras estão vazias, e a paz do lugar, apenas tem por companhia a solidão, o que me leva a pensar no que terá acontecido a quem nelas se sentava. 

Enquanto me perdia em conjeturas, anoitecera e de súbito desatei a correr assustada com medo de não conseguir encontrar o carro. Então a luz do sol bateu-me no rosto, e abrindo os olhos vi que a minha mãe tinha acabado de abrir a persiana, fazendo com que a luz me  acordasse. 


  

 

17.7.24

O CONVITE

 




                                                  O CONVITE


Dezembro avançava frio, alternando por entre dias de chuva e nevoeiro. Estávamos a poucos dias do Natal e o sol que tanto amamos, andava arredio há duas semanas. Terminei o dia de trabalho, encerrei o computador, vesti o casaco e saí. Apesar do tempo frio, havia muita gente nas ruas, cujas montras muito iluminadas, mostravam os mais diversos artigos alusivos à época.

Morando perto do escritório onde trabalhava, em menos de dez minutos estava em casa.

 Despi e pendurei o casaco no bengaleiro, descalcei os sapatos de salto, que me faziam as pernas, mais esbeltas e bonitas, enquanto me atormentavam os pés com dores. Estendi-me no sofá tentando relaxar, mas logo a campainha tocou.

Descalça, aproximei-me da porta e espreitei pelo óculo.  Espantei-me ao ver o Pedro. Não era para menos, pois o julgava ainda em Londres. Abri a porta e ele entrou carregando uma mala que pousou no chão a seu lado e então abraçou-me com força e estalou dois ruidosos beijos no meu rosto.

 Não estranhei, éramos amigos desde criança, ambos filhos únicos, encontrámos um no outro os irmãos que nunca tivemos.  Sentámo-nos no sofá e então ele disse:

-Desculpa, ter aparecido assim de repente, mas a nossa amizade deu-me a confiança necessária para fazê-lo.

Segurou-me as mãos, os olhos brilhantes de felicidade e então contou-me como conheceu a Isabel, a sua fantástica história de amor, terminando com o convite para sua madrinha de casamento.

 

 

14.7.24

DOMINGO COM HUMOR



 Um velhinho vai ao médico:

- Doutor, preciso da sua ajuda! O senhor sabe que já tenho noventa e cinco anos, não é? E acontece que eu não paro de correr atrás das mulheres.

Diz o médico:
- Mas isso é muito bom. Mostra que o senhor ainda gosta das boas coisas da vida… Não vejo mal nenhum nisso!

E responde o velhinho:
- O problema, doutor, é que quando que consigo uma mulher, já não me lembro mais para que ela serve



Um tipo encontra um amigo e pergunta-lhe:
- Queres entrar num novo partido político que estou a organizar para concorrer às próximas eleições?

Pergunta o amigo:
- Qual é nome desse partido?

O outro:
- Sabes aquele partido espanhol que agora, nas eleições autonómicas, ficou em terceiro lugar?

O amigo:
- Sei. É o ”Podemos”.

O outro:
- Pois, mas aqui em Portugal funciona melhor se trocarmos o ”P” pelo ”F”…

                                                    *******************************

A filha entra no escritório do pai de mãos dadas com o marido:
– Pai, é verdade que o contabilista morreu?
– É filha, infelizmente é.
– O que é que dizes de pôr o meu marido no lugar dele?
–  Isso é uma questão de falares com o pessoal da funerária mas por mim tudo bem.









11.7.24

CAROLINA

                              

Reedição
Em Lisboa, arranjou trabalho numa casa grande, onde já havia uma cozinheira e uma outra rapariga que tomava conta dos bebés. Aí trabalhou dois anos. Gostava da casa, dos meninos e das colegas. Aos patrões demasiado altivos nunca se afeiçoou, mas sentia-se feliz. Até ao dia em que conheceu Jorge e se enamorou perdidamente.
Conheceu-o numa das suas folgas enquanto passeava no Jardim da Estrela. Ele não era de Lisboa, estava na capital a cumprir tropa. Virgem de todas as emoções foi presa fácil do rapaz malandro que era Jorge. Assim quando se deu conta ele tinha desaparecido e ela estava grávida. Os patrões puseram-na na rua, mal souberam da gravidez, e Carolina perdida, sem saber o que fazer foi bater à porta do irmão mais velho.
Influenciado pela mulher, o irmão acabou por a recolher em casa, embora inicialmente a quisesse mandar de novo para a terra. Porém, por volta do terceiro mês, Carolina sofreu um aborto espontâneo e daquele episódio apenas restou a amargura e a descrença nos homens. Poucos meses depois estava de novo a trabalhar como “criada de servir”(1) numa casa em Belém.
Passaram os anos, vieram outros namoros, mas quando ela contava que já não era "honrada",(2) a atitude dos rapazes mudava, deixavam de falar em casamento e passavam a querer levá-la para a cama. Carolina, foi ficando cada dia mais amarga e perdendo a esperança noutra vida que não aquela de cuidar de casas alheias e de filhos  dos outros.  E assim, os anos foram passando, e de repente, já tinha vinte e sete anos. Na época, depois dos vinte e cinco, as mulheres já não sonhavam com o casamento, contentavam-se em serem tias. Foi nessa altura que conheceu o marido. Era Domingo de Páscoa,  e à saída da igreja, as suas mãos tocaram-se na pia da água benta. Olharam-se por segundos e ela sentiu-se corar.
Virou-se e saiu da igreja quase a correr. Ele seguiu-a e quando ela se preparava para entrar no jardim da casa onde trabalhava,  segurou-a pelo braço e perguntou-lhe se era casada. Perante a negativa ele perguntou-lhe se queria casar com ele. Ela achou a pergunta descabida e sem sentido mas ele insistiu.
Sem saber o que pensar, ela respondeu-lhe que embora não sendo casada, já estava "desonrada".
Ele disse que não fora isso que perguntara, apenas queria saber se ela queria casar com ele. Era pobre, mas tinha trabalho certo, vivia com uma irmã, estava farto da vida de solteiro, tinha acabado de pedir ao Senhor uma mulher capaz de o respeitar e ser uma boa companheira, para a sua vida. Achava que o encontro na pia de água benta era um sinal divino e não lhe importava o passado, já que esse era individual e só pertencia a ela. O que lhe importava era o futuro, e queria saber se ela faria parte dele.
Não falava de amor, acreditava que ele viria com o tempo, entregara o futuro a Deus, e confiava n’ELE de olhos fechados.
Carolina ficou encantada, e três meses depois estavam casados.
Apesar da pobreza não se arrependera nem por um segundo.
- Lina, "tás" pronta mulher? Já aqui estão os padrinhos do menino.
Sacudiu a cabeça, e o seu rosto iluminou-se num sorriso enquanto respondia.
- Ó homem, manda-os entrar enquanto eu acordo o menino e o visto. 



fim

Elvira Carvalho



1 Era assim que se chamavam antigamente as empregadas domésticas.
2 Era assim que se dizia antigamente de uma mulher que já não era virgem. Pessoalmente eu nunca entendi essa história de considerar que a honra de uma mulher estivesse entre as suas pernas.