Seguidores

30.9.19

VIDAS CRUZADAS - PARTE XIX

Apertou fortemente a mão que o médico lhe estendia, e dirigiu-se à porta. Subitamente, a imagem daquele jovem alto e magro, de uma palidez extrema, que encontrara na primeira consulta, surgiu na sua memória. Voltou-se e perguntou:
- Diga-me Doutor, o doente era um jovem alto, magro, de grandes olheiras, e mãos trementes?
- Como o sabe? - interrogou o médico por sua vez.
Não respondeu. Fez um gesto indefinido com a mão, voltou-se e saiu. Na rua, dirigiu-se para casa, e enquanto uma ligeira brisa lhe acariciava o rosto, deixou que as lágrimas lhe aflorassem aos olhos, sem qualquer espécie de preconceito.

Depois de algumas voltas pela rua, para se acalmar, Pedro entrou em casa. A figura franzina da mãe, saiu da cozinha, e veio ao seu encontro.
- Até que enfim, filho. O jantar está pronto há mais de uma hora
Agarrou na mão do filho e perguntou alarmada:
- Que se passa? Estás a tremer.
Levando-a pela mão, conduziu-a à sala, fazendo com que se sentasse no sofá.
 – Deixe lá o jantar, minha mãe. Preciso contar-lhe tudo o que me atormentou nos últimos meses. Mas antes quero que me prometa, que não vai ficar aflita. Com a Graça de Deus, já tudo passou - disse sentando-se ao seu lado e segurando a mão da mãe entre as suas.
- Filho...
Havia um tal temor na voz da progenitora, que ele acrescentou:
- Não fique assim. Ou então não lhe conto nada. Não há nada a temer, agora tudo está bem.

E então o jovem falou. Contou tudo, desde a primeira consulta, as análises e do diagnóstico  médico, falou da sua dor, da raiva e da revolta contra o seu destino, do medo de a deixar sozinha, de se ter despedido do emprego, da viagem para casa da tia, pensando que assim ela não assistiria ao seu sofrimento, da chegada às Termas,  de como conhecera Rita, de quanto a amava, da maneira como fugira da casa da tia, para não ter que contar à jovem que não podia assumir um compromisso porque podia morrer de um momento para o outro. Falou-lhe do desespero que sentia, até porque cada dia se sentia melhor, e da sua decisão de voltar ao médico para fazer novos exames, coisa que fizera nessa mesma tarde. Por fim contou a conversa com o médico, as análises trocadas, e de como se sentia feliz, apesar de sentir pena daquele jovem que só vira uma vez e que morrera tão novo.   A mãe ouvia-o, e as lágrimas corriam silenciosas pelas suas faces enrugadas, enquanto os pensamentos se lhe atropelavam no cérebro. Pobre filho, quanto sofrimento, e ela, que raio de mãe era ela, que não fora capaz de descobrir nada de grave na sua súbita decisão de mudar de ares? Por fim a voz do filho silenciou. Ela abraçou-o com força, e o soluço que estivera preso no seu peito irrompeu, sonoro como trovão em tempestade de Verão.
- Então, mãe acalme-se. Compreende agora que eu tenha de viajar amanhã cedinho para as Termas? A Rita vai-se embora no Domingo. E eu amo-a mãe. Não quero perdê-la.
E depositando um beijo na testa da mãe, acrescentou:
-Tenho a sensação dona Maria, que a senhora vai ter a nora que há tanto tempo me pede.



29.9.19

PORQUE HOJE É DOMINGO


O menino Joãozinho, de apenas oito anos, chega a casa depois de ter estado toda a tarde a brincar em casa da menina Maria, de sete anos.
- Papá, mamã, cheguei! – grita o menino.
Responde a mãe:
- Isso é que foi brincar…
Diz o Joãozinho:
- Sabes mãe, eu gosto muito da Maria…
- Já percebemos isso filho. – responde a mãe.
Continua o menino:
- … E já combinamos casar…
A mãe, sorridente, continua a acompanhar a alegria do filho.
- … Para a semana. – diz o Joãozinho.
E responde a mãe dando continuidade à conversa:
- Hahaha! E como vão pagar as despesas?
Responde o menino:
- Vocês dão-nos uma mesada e os pais dela também.
- Então e se Maria engravidar, como é que fazem? – pergunta a mãe.
E responde o Joãozinho:
- Por enquanto temos tido sorte…



                                                                    ****************************


Marido e mulher vão ao psicólogo, após 20 anos de casamento. Quando são questionados sobre o problema, a mulher faz uma longa e detalhada lista de todos os problemas que teve durante os 20 anos de matrimónio: pouca atenção, falta de intimidade, vazio, solidão, não se sentir amada, não se sentir desejada…
Quando ela termina de ler a lista, o terapeuta levanta-se, aproxima-se da mulher, pede a ela que pare, dá-lhe um abraço e beija-a apaixonadamente enquanto o marido os observa, desconfiado… A mulher fica muda e senta-se na cadeira, meio aturdida…
O terapeuta dirige-se então ao marido e diz-lhe:
- Isto é do que sua esposa necessita pelo menos 3 vezes por semana. Pode fazê-lo?
O marido medita um instante e responde:
- Bem, posso trazê-la aqui às segundas e quartas… Mas às sextas tenho futebol.




                                                                   *****************************
Um octogenário veste o casaco e, ao preparar-se para sair de casa, a mulher pergunta-lhe:

- Onde é que vais?
- Vou ao médico – responde ele.
- Porquê? Estás doente? – pergunta a mulher.
Diz o velho:
- Não. Vou ver se ele me receita Viagra…
A mulher, levanta-se da cadeira de baloiço, e vai também buscar o casaco. Ele pergunta-lhe:
- E tu onde é que vais?
Diz ela muito apressadamente:
- Vou também ao médico.
- Porquê? – pergunta o velho.
E ela explica:
- Se vais começar a usar uma coisa enferrujada, acho melhor ir vacinar-me contra o tétano…


                                                      ******************************

Um jogador de futebol explica um lance do jogo da tarde para um amigo:
- Tinha que ver, na hora de marcar o penalti o guarda-redes diz-me: “Se chutares para a esquerda eu apanho, se chutares para a direita eu apanho, se chutar para o meio eu apanho!”
- E o que fizeste? – pergunta interessado o amigo.
Diz o primeiro:
- Enganei ele, claro!
- Enganaste-o como? – pergunta o amigo.
Explica o jogador:
- Fiz a única coisa que ele não estava à espera… Chutei para fora!


                                                                    ****************************

No manicómio, um maluco desafia o outro:
- Queres fazer uma aposta? Dou-te 100€ se, no banho,  subires o chuveiro pela água em 30 segundos!
- Mas pensas que sou maluco ou quê? – responde imediatamente o outro.
Pergunta o primeiro:
- Então porquê, achas que é pouco tempo?
Responde o outro:
- Nada disso! Já sei que quando eu estiver a subir, tu desligas o chuveiro e eu caio…

28.9.19

VIDAS CRUZADAS - PARTE XVIII

Santo Deus que loucura! Pedro caminhava pela rua completamente aturdido. Acabara de sair do médico e o que se passara tinha sido tão absurdo que se interrogava, se acontecera mesmo, ou se era fruto da sua imaginação delirante. Tinha saído de casa decidido a falar com o clínico. Chegou ao consultório e pediu à assistente uma consulta. Não era possível, disse ela. O médico tinha muitos doentes e não tinha ordem para marcar mais ninguém.
- Por favor menina, peça ao médico. É muito importante. Olhe diga-lhe que sou Pedro Medeiros e que me venho despedir...
A assistente hesitou. Depois virou costas, e dirigindo-se ao gabinete do médico, bateu, e entrou. Saiu logo de seguida.
- Por favor, siga-me. O Doutor vai recebê-lo já.
Ele seguira a assistente que lhe abriu a porta e se retirou. Avançou para a secretária e o médico pôs-se de pé.
- Boa-tarde, Doutor.
 – Boa tarde, Pedro. Como desejava vê-lo. Há mais de um mês que o procuro.
- Para quê Doutor? Para ver se o seu diagnóstico estava certo? - perguntou com ironia.
- Não amigo. A minha preocupação era outra. Acontece que pouco tempo depois daquela tarde em que vi as suas análises, eu tive que mandar repetir as análises de um outro doente. É que apesar das primeiras que fez me dizerem que estava tudo bem, o doente definhava a olhos vistos. Repetidas as análises, descobri que ele sofria de uma leucemia em fase terminal. Pouco ou nada podia fazer por ele.
- Como eu...
- Não! Como o senhor, não. Depois de estudar as  análises dele e as suas, que você não quis levar, e comparando os valores com das segundas que ele fez, cheguei à conclusão de que as vossas análises iniciais, tinham sido trocadas. Então procurei-o na morada que tinha na ficha, mas infelizmente não havia ninguém lá, e não sabia onde encontrá-lo.
Em silêncio, Pedro escutava a voz grave do médico, relutante em aceitar o que ele dizia. Por fim balbuciou receoso:
- Então eu...
 – Sim meu amigo – interrompeu ele – tinha apenas uma ligeiro distúrbio  nervoso, de que já deve estar curado, a julgar pelo seu óptimo aspeto.
 – Doutor não seria melhor eu fazer outros exames?
 – Se com isso fica mais descansado, posso marcar-los. Por mim não é necessário. O verdadeiro dono das outras análises faleceu na terça-feira à noite no hospital de S. José em Lisboa.
- Meu Deus!
Pedro ergueu-se. Mil pensamentos passavam velozes pela sua cabeça. A imagem de Rita, o seu olhar cândido, o som mavioso da sua voz, o toque sedoso dos seus cabelos, a casa da tia, a margem do rio, a preocupação de sua mãe, o pequeno Pedro, dona Célia, os passeios à beira-rio, tudo o que vivera nos últimos dois meses, voltaram à sua memória numa sucessão vertiginosa, como cavalos selvagens em louca corrida.
- Obrigado Doutor. Muito obrigado.


E como amanhã é domingo esta história volta na segunda.

27.9.19

VIDAS CRUZADAS - PARTE XVII

No dia seguinte acordou cedo. Tinha dormido vestido sobre a cama. Despiu-se e tomou um duche retemperador. Depois olhou-se ao espelho demoradamente. Não por vaidade, mas tentando descobrir algum sinal da doença que o minava. Mas não. Tinha um ar saudável capaz de fazer inveja a qualquer um. Fez a barba, e escolheu uma roupa simples e desportiva. Olhou o calendário. Era sexta-feira. O médico daria consulta às sextas? Tinha que ir lá rapidamente. Pegou uma maçã e saiu para a rua. A mãe dissera que vinha logo de manhã, de táxi. De Santarém ao Barreiro, não demorava muito. Logo, logo estaria aí, pensava enquanto comprava o jornal. E não se enganou, pois ao voltar encontrou a mãe no momento da chegada. Não se conteve e depois de a abraçar pegou-lhe ao colo e rodopiou com ela como não fazia há muito. Finalmente em casa, a mãe queria saber de tudo. Como estava a tia, se tinha gostado da terra, se tinha encontrado alguma cachopa bonita, um nunca mais acabar de perguntas. E andava à sua volta mirando-o, como se de um monumento se tratasse.
E ele falou. Contou como gostara da terra, e da tia. Falou da dona Célia, do pequeno Pedro e da Rita. E desta, falou com tal entusiasmo que a mãe adivinhou logo a paixão no seu peito. Quando ele se calou a mãe ficou em silêncio olhando-o. Depois levantou-se e dirigiu-se à cozinha, tentando ocultar uma lágrima, que teimosa queria escapar dos seus olhos. Pedro percebeu porque a mãe não queria fazer comentários. Ela julgava que ele se declarara e não era correspondido. O almoço decorreu em silêncio.A mãe entristecida com o suposto desgosto do filho, e este só pensando na sua visita ao médico. 



26.9.19

VIDAS CRUZADAS - PARTE XVI


– Não tia. Graças a Deus não. Foi do emprego. Dizem que se não estiver lá amanhã, escuso de ir mais. Já estou ausente há muito tempo, as férias acabaram, não tenho licença, nem atestado médico, - disse pedindo mentalmente perdão pela mentira, mas não podia dizer a verdade à tia.
- Bom, se é isso tudo bem. Mas podias ter dito quando entraste. Fiquei assustada. E sair assim de corrida, vais chegar de noite...
 – Talvez não, tia. Os dias são grandes e escurece tarde, não se preocupe.
- Então vamos mulher, vamos preparar um farnel para a viagem.
E dizendo isto Palmira, empurrava a empregada na sua frente.
- Não se preocupe tia, eu como alguma coisa pelo caminho.
- Era o que mais faltava! - Zangou-se ela – Da minha casa, nunca ninguém saiu sem farnel.
Quando Pedro saiu com as malas para o carro, já as duas mulheres tinham preparado uma cesta, onde não faltava a broa, o presunto, um belo salpicão, várias frutas, e uma garrafa de água.
Na verdade a tia tinha-se cansado durante todo o tempo que ele estivera em sua casa, para que bebesse vinho, mas Pedro sempre fora abstémio.
Abraçou as duas mulheres e saiu. Tinha pressa de viajar. Não queria correr o risco de se encontrar Rita, nem queria que ela o visse partir.

Chegou a casa ao anoitecer. Abriu a porta e sentiu o peso da solidão. A primeira coisa a fazer, era telefonar à mãe e pedir para ela regressar no dia seguinte. Teria que dar uma desculpa convincente, para aquele regresso inesperado pois nessa mesma manhã, quando lhe telefonara, não dissera que tencionava regressar e ele conhecia bem a mãe. Se desconfiasse que alguma coisa não estava bem era capaz de abalar de noite a caminho de casa.
Mais tarde ligaria à tia, para que as duas mulheres dormissem descansadas. Depois das chamadas, estendeu-se em cima da cama e deixou-se dormir.

25.9.19

VIDAS CRUZADAS - PARTE XV




Depois daquela tarde, era frequente encontrar os dois jovens juntos. Primeiro como dois amigos, depois já com um pouco mais de intimidade,   passeavam-se pela beira do rio, olhos nos olhos, dedos entrelaçados, sempre na companhia do pequeno Pedro. Era como se intimamente ambos tivessem assumido um amor, que nenhum dos dois se atrevia a mencionar.
Uma tarde, recebeu um telegrama da mãe, dizendo que como a sua irmã tivera de regressar a casa, ela resolvera ir também, e estava agora na casa da tia Rosa em Santarém.
 Pedro sentia-se perfeitamente bem. Nunca mais se sentira cansado, tinha perdido a palidez com que chegara, dormia bem e até engordara um pouco. Recordando a sua doença, e o que o médico lhe dissera, ele não se atrevia a fazer promessas a Rita. Às vezes lembrava-se de ter ouvido a mãe falar nas "melhoras da morte". Melhoras que muitos doentes terminais experimentam pouco antes de morrer. E angustiado, perguntava-se se era isso, o que lhe estava a acontecer. E os dias sucediam-se, e nada de novo acontecia. Uma tarde Rita disse-lhe:
- Estamos a acabar as férias. A mãe acaba sexta-feira,  a segunda série de tratamentos. Só pode fazer mais para o ano. No domingo chega o meu pai e regressamos a casa.

Pedro sentiu um aperto no peito, pois percebeu que Rita esperava que ele tomasse uma decisão relativamente ao futuro dos dois. Coisa que ele não podia fazer. Como ia dizer-lhe que se aproveitara da sua presença para tornar menos amargos os seus últimos dias? Era cruel demais.
Então decidiu que tinha de regressar. Precisava ir ao médico. Talvez fazer outros exames. Tinham-se passado mais de dois meses, e a verdade é que se sentia melhor que nunca. Todavia não se atrevia nem se permitia fazer projetos para o futuro sem voltar ao médico, e fazer novos exames. Era um grande risco que não faria a jovem correr.

Ela estranhou o seu silêncio. E quando nessa tarde ele voltou ao jardim não a encontrou. Apenas a dona Célia e o pequeno. A senhora olhou-o com um certo ar de reprovação, quando a cumprimentou, e o pequeno soltou a língua.
- Zangaste-te com a minha irmã?
 – Não. Porquê?
 – Porque ela não quis almoçar e foi para o quarto a chorar...
Sentiu-se um canalha, por ter feito chorar a jovem. Mas consolava-o o facto de que se ela soubesse a verdade iria sofrer muito mais. Despediu-se da senhora, fez uma festa na cabeça do pequeno e regressou a casa da tia. Aí chegado, foi direto para o  quarto, abriu o guarda-fatos e colocando a mala em cima da cama, começou a meter nela as roupas de qualquer maneira.
Logo de seguida batiam à porta do quarto.
- Entre.
A figura da tia perfilou-se no umbral, seguida da fiel empregada.
- Vais-te embora filho? Aconteceu alguma coisa grave com a tua mãe?

24.9.19

VIDAS CRUZADAS - PARTE XIV




Saiu, deu a volta ao monumento e deparou com uma feira de camponeses onde vendiam de tudo ao ar livre. Desde a broa de milho às flores, passando por coelhos, galinhas e pintos, mel, bolos secos, nabos, cenouras e batatas, a par de toalhas bordadas e das mais variadas peças de renda. Antes de regressar às Termas e a casa da tia, parou numa banca e comprou um frasco de mel de rosmaninho. A tia ia ralhar com ele de certeza, e dizer que não faltava mel lá em casa, mas ele achou que lhe devia levar um miminho. 
Depois do almoço, pegou o jornal diário que ainda não lera nesse dia, e dirigiu-se à margem do rio. E eis que vê a jovem sentada a ler, precisamente no banco que ele adoptara desde que chegara como o seu preferido. Porém a  jovem estava acompanhada por uma senhora mais velha, que fazia renda, enquanto o garoto brincava na frente das duas. Pedro hesitou. E agora? Iria cumprimentá-la? E se a senhora não gostasse. Olhou em volta, procurando onde sentar-se, quando o garoto o descobriu e veio a correr ter com ele. Pegou-lhe na mão e conduziu-o até junto das senhoras dizendo:

- Olha mãe, o amigo que encontrei anteontem. Vês, eu não dizia que ele era simpático?

A senhora levantou os olhos da renda e olhou-o com um ar inquisitivo, durante um longo minuto.

Depois sorriu e disse:

- Este meu filho! É sempre a mesma coisa, está sempre a importunar as pessoas...

- Por quem é, minha senhora. O seu filho é uma criança encantadora.

- Não quer sentar-se? Podemos conversar um pouco.

O convite era tudo o que ele desejava ouvir, mas antes de aceitar, Pedro olhou de relance para Rita. Esta parecia dizer-lhe com o olhar para ficar, e ele sentiu-se no céu. Foi uma conversa muito agradável que se prolongou durante algumas horas. Pedro ficou a saber que eram de Castelo Branco e que estavam ali, porque a dona Célia, a mãe dos jovens, estava a fazer tratamentos termais. Ficou a saber que a jovem tinha acabado os seus estudos, que gostaria de ser professora, e que embora parecesse muito jovem, tinha vinte e dois anos. O pai não pudera acompanhá-los, porque tinha muito trabalho. Era engenheiro numa multinacional. Estavam hospedadas no hotel Vouga, ali mesmo na margem oposta do rio.

Pedro falou de si, do seu emprego, da mãe e da tia Palmira, em casa de quem estava a passar férias.



NOTÍCIAS DO DIA




Tal como tinha dito fui hoje logo de manhã para o Hospital de Santa Maria a fim de ter uma consulta com o especialista da córnea. O médico confirmou aquilo que o professor tinha dito e fez a inscrição para o transplante da dita cuja. Disse-me que há uma lista de espera e que pode demorar entre seis meses a um ano. Mas depois mandou-me fazer uma quantidade de exames e eu disse  :
- Mas senhor doutor se a espera pode ir até um ano, os exames não são para fazer já.
- Faça os exames. Eu vou falar com o professor, e dado que não é apenas uma cirurgia de transplante de córnea, mas que é preciso tirar pontos, retirar o silicone, e por a lente, que será feita pelos dois, e que a senhora está em sofrimento há vários meses, provavelmente a cirurgia não deverá esperar muito.
Cheguei a casa às três da tarde e às cinco estava a fazer o eletro e de seguida fiz o ecocardiograma, amanhã vou fazer as análises. E dia 3 volto ao hospital.
E é tudo

23.9.19

VIDAS CRUZADAS - PARTE XIII

.



- Obrigada. Mas agora temos que ir. Já é tarde e a mamã pode ficar preocupada. Até outro dia.
E afastou-se levando o irmão pela mão. Tão frágil e tão linda que parecia uma boneca. Sacudiu a cabeça, e sentando-se tentou retomar a leitura, mas a imagem da jovem não lhe saía do pensamento. Seria da vila? De alguma localidade próxima? Não, não lhe parecia. Devia ser uma forasteira como ele. A figura feminina não lhe saía da cabeça e deu consigo, depois de almoço, passeando pela praça das Termas e pelo parque junto ao rio, na esperança de a encontrar de novo. 
Para sua desilusão, não voltou a vê-la nessa tarde nem no dia seguinte. 
Tentando esquecer a jovem, dois dias depois, deixou as Termas, dirigiu-se à vila, e por lá passou a manhã. No largo central andou pelo jardim, observou o edifício do tribunal, passou pela Câmara Municipal e vendo aberta a Igreja do Convento de S. José, resolveu entrar. Quando era menino, a mãe, senhora de grande religiosidade, levava-o sempre à missa. Frequentou a catequese e até fez a comunhão solene. Depois aos poucos foi arranjando desculpas até deixar de frequentar a paróquia. A Igreja estava deserta e ele sentou-se num dos bancos, admirando o altar de talha dourada Joanina, decorado por dois pares de colunas torsas e o retábulo enquadrado numa escultura representando Nossa Senhora da Conceição. Num dos nichos, do intercolúnio do mesmo retábulo, havia uma outra escultura representando Santo António. Ali, naquele silêncio, sentiu uma enorme vontade de dirigir uma súplica ao Criador. Não pediu a cura, nem fez promessas. Pediu desculpas pelo seu afastamento e rogou ajuda divina para a sua mãe quando ele partisse.

22.9.19

PORQUE HOJE É DOMINGO



Três amigos alentejanos conversavam sobre a sua preguiça. Diz o primeiro:
- Ê sô tão preguiçoso que, no otro dia, vi uns maços de notas no chão, e não os apanhê p”rá nã ter de m” agachari.
Diz logo o segundo:
- Isso nã é nada. A minha vizinha Sonia super sexy tocou me à porta, a convidar mê pra ir passar a noite à casa dela e eu recusei p”rá nã ter que atravessar a rua.
E diz o último:
-Pois o mê caso foi piori. No domingo fui ao cinema e passei o filme todo a chorari.
- Só isso? – perguntaram, espantados, os outros.
Explica o último:
- É que ao sentar mê, entalê os tomates e não estive p”rá levantari…


                                                        ************************


O avião contacta a torre:
- Torre, aqui Cessna 1325, piloto estudante, estou sem combustível.
Na torre, todos os mecanismos de emergência são accionados, todas as pessoas ficam atentas e já ninguém tem sequer uma chávena de café na mão. O suor corre em algumas faces e o controlador responde ao piloto:
- Roger, Cessna 1325. Reduza velocidade para planar. Tem contacto visual com a pista?
E responde o piloto novato:
- Bem… quer dizer… eu estou na pista… só estou à espera que me venham atestar o depósito

                                                                    *****************************



Dois bêbados estão sentados num banco num parque, quando um par de freiras se aproximava. Uma das freiras vinha de muletas e com a maior parte de sua perna engessada. Um dos bêbados pergunta:
- Desculpe, mas o que aconteceu?
A freira a mancar responde:
- Eu escorreguei, caí na banheira e quebrei a tíbia. O médico disse que eu vou ter que ficar com o gesso por mais duas semanas.
Diz o bêbado:
- Deve ter sido forte… Deus a abençoe!
Responde a freira:
- Obrigado, meu filho
E lá continuam no seu caminho. Quando elas estão fora do alcance da voz, o primeiro bêbado pergunta ao outro:
- O que é uma banheira?
Responde o segundo:
- Como queres que eu saiba? Eu não sou católico…


                                                                       ****************************

Completamente nua, uma mulher entra num bar  e  pede uma cerveja. O dono do bar olha-a dos pés à cabeça, depois vai ao frigorífico e pega uma cerveja gelada.
Ela bebe-a rapidamente e pede outra. O dono do bar olha para a mulher, olha, olha, olha, fica a olhar, olha e olha de novo, até que a mulher diz:
- O senhor nunca viu uma mulher nua, não?!
E o dono do bar tranquilo responde:
- Ver eu já vi, só estou a tentar perceber de onde você vai tirar dinheiro para pagar as cervejas…


                                                                   **********************************


O professor de Português para o Joãozinho:
- Na frase ”O ladrão assaltou a casa”, quem é o sujeito?
Responde o Joãozinho:
- Eu não sei, senhor professor. Não o conheço…
O professor, já farto das piadinhas do Joãozinho, diz:
- Não o conhece?! Olhe, quando chegar a casa, diga ao seu pai para vir amanhã aqui à escola falar comigo.
No dia seguinte, o pai do Joãozinho foi falar com o professor e, depois de o ouvir, disse:
- Senhor professor, se o meu filho disse que não sabia quem é o sujeito é porque não sabe mesmo… Ele não é mentiroso!



fonte A

21.9.19

VIDAS CRUZADAS - PARTE XII




Pouco tempo depois, uma bola embateu violentamente nas suas pernas e ficou a rodar um pouco à sua frente. Resmungando, pousou o livro a seu lado e apanhou a bola. Ao olhar em volta, viu um rapazinho de olhos claros que o olhava a medo.
- Anda cá pequeno! Toma a tua bola.
- Como sabe que é minha?
 – Deduzi.
- Do...quê? - Perguntou admirado, lutando contra o desejo de se aproximar, e o receio de o fazer.
Pedro sorriu, e enquanto lhe estendia a bola acrescentou:
- Sabes que me bateste com força?
 – Não fui eu que a joguei – desculpou-se o garoto. -Foi a minha irmã. Ela colmo é grande,quer mostrar que tem mais força, por isso joga sempre a bola para longe...
 – Ah! Ela é maior que tu! Mas olha, diz-lhe que os homens não se medem aos palmos.
- Olha, diz-lhe tu. Vais ver como fica zangada.
- Ora, ora, e a tua irmã é perigosa quando se zanga? - perguntou divertido com o jeito do miúdo.
 – Se é. Até assopra como os gatos.
Pela primeira vez, desde há muito, Pedro soltou uma sonora gargalhada. E perguntou:
- Como te chamas?
 –Pedro. E tu?
 – Engraçado. Também me chamo Pedro. Acreditas?
 – Se tu o dizes.
O garoto tinha perdido qualquer espécie de receio, e estava agora à vontade, como se o conhecesse desde sempre.
- Ora vejam só este rapazinho! Aposto que tem estado a maçá-lo.
A voz que soara atrás de Pedro era tão doce, tão maviosa, que o levou a interrogar-se mentalmente, enquanto se voltava, se os anjos teriam voz.
Na sua frente estava a mais bela figura feminina que Pedro algum dia vira. E ele já tinha visto várias. Não era nem de longe, nem de perto o santo que a mãe dizia que era, embora na verdade, as belas mulheres com que se relacionara não seriam nunca daquelas que ele apresentaria à sua velha mãe. Porém aquela era diferente. Tinha tal candura no sorriso, tal pureza no olhar, que mentalmente voltou a associá-la aos anjos. Olhou-a de alto a baixo, maravilhado. Trazia uma blusa vermelha e umas calças pretas que modelavam o seu corpo. Calçava sandálias sem salto e tinha os cabelos apanhados num gracioso rabo-de-cavalo. Apercebendo-se do olhar analítico do homem, a jovem corou. "Santo Deus, era só o que me faltava ver", pensou ele.
- Não maçou nada, é um rapazinho encantador- disse sorrindo.
- Ora, se lhe dá confiança, nunca mais o deixa em paz...
 – Mana, este senhor também se chama Pedro, e sabes uma coisa? Ias-lhe partindo a perna, com a bola – a voz do miúdo, veio quebrar o encanto e devolver normalidade ao encontro.
- Oh! Desculpe. Não queria atingir ninguém. - Estendeu-lhe a mão, e acrescentou:
- Chamo-me Rita. Estou perdoada?
 – Claro que sim
  – disse ele sorrindo e retendo na sua a mão feminina.

20.9.19

VIDAS CRUZADAS - PARTE XI


A capacidade que as mulheres da família tinham de  adivinhar-lhe os pensamentos era coisa que sempre o intrigara.
E já se tinham passado três dias. Três dias em que  se tinha embrenhado pelas redondezas, procurando nas margens do rio, na sua extrema beleza esquecer o que o atormentava. Apenas uma vez fora até ao largo da aldeia, demasiado concorrido, com todos aqueles turistas que procuravam a saúde na virtude das águas do local, e nos tratamentos termais oferecidos pelo enorme balneário. Suspirou fundo, sentou-se no banco que parecia chamá-lo, abriu o livro que trouxera consigo e tentou embrenhar-se na leitura sem todavia o conseguir. E enquanto o olhar se perdia na limpidez e quietude das águas do rio,  a memória continuava a recordar a descoberta da casa da tia, quando chegara há três dias. O resto da casa não era muito diferente. Por todo o lado móveis escuros e pesados, molduras antigas, panos de laboriosas e delicadas rendas, provavelmente feitas à lareira, nas longas noites de inverno . Na sala havia uma carpete esquisita, que a tia lhe dissera ser feita de retalhos de pano, e tecida em tear manual na aldeia. Carpete de trapos, mantas de trapos.
 Uma casa de banho junto aos quartos, com um enorme lavatório incrustado num móvel escuro, encimado por um grande espelho também emoldurado de escuro, num contraste berrante com as loiças e azulejos, completamente brancos. Para seu uso, dissera a tia. Ela usava sempre a outra. A outra era muito semelhante, mas em vez de banheira tinha um chuveiro, envolto num pesado cortinado, e um ralo no chão para esgotar a água. Tanto a tia como a empregada "que é mais família do que empregada, pois sempre aqui viveu, desde o tempo em que a mãe, era empregada dos meus avós" -dissera a tia, utilizavam essa casa de banho. E continuara "As banheiras são perigosas, quando a idade carrega e faltam as forças".
Na hora do jantar vieram as reclamações, porque, cansado da viagem, e tendo comido alguma coisa numa paragem no caminho, não lhe apetecia comer.



Para quem leu as notícias, eu ainda não sei quando será o transplante. Ainda tenho duas consultas agendadas e tenho vários exames para fazer, pelo que  nomeadamente o eletro e o eco ao coração.

19.9.19

NOTÍCIAS DO DIA



Então é assim. Ontem à tarde estava numa aula de antropologia, quando a assistente do professor que me tem tratado, me telefonou, dizendo para eu ir ter com ele hoje às 14,30 ao hospital de Santa Maria.
Fui, E fui consultada e fiz um monte de exames que já tinha feito na clínica, e o professor informou-me que vou ter de fazer transplante de córnea.
Marcou-me uma consulta para segunda feira com o doutor da córnea. E entretanto mandou-me fazer um  eletrocardiograma e um ecocardiograma, pois a cirurgia é com anestesia geral.  E vou depois dia 3 de Outubro à consulta, já com os exames. Se marcam nesse dia ou não a cirurgia só vou saber na altura.
E são estas as notícias.


VIDAS CRUZADAS - PARTE X





Enquanto procurava um lugar no frondoso parque que ladeava o rio Vouga, Pedro pensava em como aquele lugar era bonito. Já tinha ouvido muitos elogios à zona, todavia agora ali no meio daquele luxuriante verde, todos lhe pareciam poucos. E a surpresa da tia Palmira, quando o vira chegar?  Ela tinha recebido o telegrama, mas não o vendo há quase vinte anos,  parecia esperar o miúdo que vira da última vez, como se os anos não tivessem passado por ele.
Depois da surpresa inicial, chamou a fiel empregada, que a acompanhara a vida inteira e apresentando-lhe o sobrinho, recomendou-lhe que ele devia ser tratado como um príncipe. Depois acompanharam-no ao quarto. Era um quarto grande, com uma larga janela de vidro ornada de uma grade de ferro no exterior.
"Bem vês, somos duas mulheres sozinhas" dissera-lhe a tia com um sorriso, quando Pedro olhou a grade com estranheza. Só na manhã seguinte, verificara que todas as janelas da grande moradia de pedra ostentavam uma grade exterior. O quarto era confortável, embora sem luxos. a meio da divisão, uma enorme cama de casal, em ferro forjado, pintada de azul e coberta por uma pesada colcha de renda, cujo desenho formava várias estrelas. Branca, de franja retorcida como caracóis em cabelo de criança. Pelo menos foi o que lhe ocorreu quando olhou. Um grande guarda-fatos, sem espelho, a cómoda e as mesas-de-cabeceira em madeira escura e linhas simples, encimadas por tampo de mármore. Uma cadeira e um porta chapéus em ferro, dum lado da janela. Do outro lado um lavatório antigo, também em ferro forjado, ostentava uma bacia de esmalte, e por baixo um jarro do mesmo material, que devia servir para transportar a água. Pendurada no lavatório, uma toalha de linho, com um coração bordado na ponta, e rematada com uma renda de bicos. Ocorreu-lhe pensar como iria fazer a sua higiene ali, mas a tia adivinhando-lhe os pensamentos, disse:
- É só para enfeite não te preocupes. Temos duas casas de banho. Vem, vou mostrar-tas, tal como o resto da casa.


Vou esta tarde ao hospital de Santa Maria por causa do meu olho. Vamos ver no que vai dar

18.9.19

VIDAS CRUZADAS - PARTE IX




Quando voltou, duas horas mais tarde, a tia Rosa já tinha chegado, com o seu inseparável Tomé, um gato que quase não se conseguia mexer, de tão gordo que estava. A mãe, já estava com o almoço pronto para pôr na mesa. Depois de beijar a tia, comentou:
- Gordinho o bichano, tia.
- Que queres, ficou assim depois de castrado. Já me tinham dito, mas o malandro não parava em casa antes da operação.
- Coitado...
 – Vamos almoçar que se faz tarde – interrompeu a mãe com a terrina da sopa na mão.
O almoço foi servido com as duas mulheres sempre tagarelando. Absorto nos seus pensamentos, Pedro isolou-se da conversa e foi com sobressalto que sentiu a mão da tia no seu braço, seguida da pergunta:
- Não me estás a ouvir, rapaz?
 – Desculpe tia, estava a pensar nas férias...
 – Então vê se me arranjas por lá namorada, que eu bem sei o desgosto que a minha irmã sente de nunca mais te resolveres a criar o teu ninho. Sabes que és um caso raro na nossa família? Nunca ninguém esteve solteiro até à tua idade.
- Ora tia, quando chegar a hora, eu penso nisso...
 – Quando chegar a hora? Mas rapaz estás quase com trinta anos.
 

Incomodado com o rumo da conversa, Pedro levantou-se dando o almoço por terminado.
- Vês o que fizeste, mulher? - A voz da mãe fez-se ouvir em tom de reprovação. - Por tua causa não comeu o suficiente.
- Ora essa! Mas eu não disse nada demais. Não me digas que o teu filho fez votos de castidade. Ora se ele não é padre...
 – Nada disso, minha mãe- apressou-se a dizer o jovem, para evitar a preocupação da mãe. - Não quis comer mais para não me dar o sono a conduzir. Pelo caminho paro em qualquer lado e como mais alguma coisa. Vou pôr as malas no carro. A distância é grande, e a mãe sabe que não gosto de velocidades.
E dizendo isto voltou costas às duas mulheres, que continuaram a conversar. Tratou de meter a bagagem no carro e voltou para se despedir. Abraçou primeiro a tia, fazendo-lhe recomendações em relação à mãe, e por fim abraçou esta, apertando-a com força junto ao peito.
- Que se passa, filho? Sinto-te estranho desde ontem. Parece que me escondes alguma coisa.
- Nada mãe, é que é a primeira vez que vou de férias sem a sua companhia – enquanto tentava tranquilizar a mãe, não pôde deixar de pensar que coração de mãe sempre adivinha o que lhe querem esconder.
Arrancou e sem olhar para trás ergueu a mão num adeus. Sabia que as duas mulheres iriam estar ali acenando até o carro desaparecer na curva da estrada.

17.9.19

VIDAS CRUZADAS PARTE VIII



Na manhã seguinte, assim que o patrão chegou, Pedro pediu para falar com ele. Este olhou-o com estranheza, mas mandou-o entrar para o seu gabinete. O mais sereno possível, o jovem pediu a sua demissão e contou-lhe o que se passava. Mais do que patrão, ele sempre fora ao longo dos dez anos que levava no escritório um bom patrão, quase um amigo.  Um amigo com quem não se tem uma grande intimidade é verdade, mas que se estima.  O patrão olhou-o incrédulo. Custava-lhe a acreditar, que um jovem como Pedro, que nunca em dez anos tinha perdido um dia por doença, viesse agora dizer-lhe aquilo que estava a ouvir. Parecia-lhe um absurdo.
- E é por isso que eu quero a demissão, e também peço ao senhor Costa, que não conte a ninguém no escritório o que acabo de lhe dizer. Como deve compreender, não quero manifestações de pesar, que só me constrangem. Também não quero que a minha mãe possa vir a saber do que se passa.
- Claro. Se esperar um pouco eu mesmo faço as suas contas e passo já o cheque.
- Muito obrigado, senhor. Eu aguardo no meu lugar, enquanto ponho tudo em ordem.
Menos de uma hora volvida, Pedro saía do escritório sem se despedir de ninguém, com o cheque no bolso. Na verdade bem mais do que pensava receber, já que o Sr. Costa generosamente acrescentara uma  indemnização, coisa que não era habitual, nem de lei. Depositou o cheque no banco e saiu descansado. A conta sempre fora conjunta
com a sua mãe, e embora ela nunca fosse ao banco, sabia-o. E como sabia ler e escrever, não teria problemas em movimentá-la, quando ele já não fizesse parte do seu mundo.
Voltou para casa e começou os preparativos para a viagem. Estranhou a mãe não estar em casa, mas ela chegou logo depois.
- Fui aos correios mandar um telegrama à Palmira dizendo que chegavas hoje.
- Mas porquê mãe? Não era mais fácil telefonar?
- Fico mais descansada assim. A tua tia é um pouco dura de ouvido e podia entender mal o telefonema.
- E a tia Rosa? Já falou com ela?
- Já. Ontem à noite. Deve estar por aí a aparecer. Disse que vinha de táxi, mal rompesse a manhã.
Ele suspirou aliviado. Não queria partir, sem que a tia Rosa chegasse. Assim podia continuar os preparativos. Depois de fechar a mala da roupa, escolheu criteriosamente alguns livros, entre os últimos que recebera de prenda de aniversário e que ainda não tivera tempo de ler e meteu-os num saco. Guardou também uma caneta e um bloco de notas. Quem sabe se lhe apeteceria escrever alguma coisa? Fechou o saco e juntou-o à mala de viagem que repousava em cima da cama. Saiu do quarto e encontrou a mãe atarefada na cozinha.
- Mãe vou com o carro à oficina do senhor Duarte. Há mais de três meses que não ando com ele, preciso saber se está tudo em ordem. Não tinha graça ficar empanado no caminho, e tenho que ir à bomba encher o depósito.
- Vai filho. É melhor que ele veja o carro, sim. A tua avó sempre dizia que "quem vai para o mar avia-se em terra."
- Até logo, mãe.
- Vai com Deus, filho.



16.9.19

VIDAS CRUZADAS - PARTE VII




Pedro saiu do consultório como se fosse perseguido por mil demónios. Três meses eram tudo o que lhe restava. E a mãe? Tinha que pensar na mãe. Entrou num café e pediu uma água. Precisava acalmar-se. A mãe não podia vê-lo assim. De uma coisa tinha a certeza. A mãe não ia saber o que se passava. Ele não ia fazer a mãe passar por esse sofrimento. Uma boa ideia seria uma viagem. Queria que a mãe o recordasse assim como era hoje e não que o visse no sofrimento final. Morrer jovem já era mau suficiente, para não querer ver o sofrimento da sua velha e amada mãe.

Finalmente, mais calmo, pagou a água e dirigiu-se a casa.

- Olá mãe, que tal o seu dia? - perguntou com estudada naturalidade, enquanto se inclinava para a beijar.

- Que disse o médico das análises filho? Foste lá, não foste? - perguntou ansiosa.

- Claro que fui, mãe. E não te preocupes está tudo normal. Disse que ando nervoso, preciso de me distrair, talvez mudar de ares durante uns tempos. Nada que já não me tivesse dito antes.

Sentia remorsos da maneira como estava a enganar a mãe, mas consolava-o o pensamento de que assim ela não sofreria tanto.

- Estive a pensar que vou tirar umas férias e vou para qualquer lado, descansar.

- Acho bem, filho. Claro que me custa estar longe de ti, mas se é pela tua saúde, acho bem.

- Mas a mãe não fica longe. Vai comigo - disse antevendo a resposta da mãe.

- Isso não, filho. Eu só seria um estorvo para ti. Nunca estarias descansado, e acabarias por levar a mesma vida que aqui. Vou escrever à minha irmã Rosa, para que venha passar um tempo comigo. E tu poderias ir para a casa da Palmira, a irmã do teu pai. A casa é grande e ela está sempre a convidar-nos. E aqueles ares de lá são muito bons para a saúde.

De repente Pedro pensou que nunca tinha ouvido a mãe dizer a palavra falecido, quando se referia a seu pai. Dizia sempre o teu pai, ou o meu homem, como se nunca tivesse aceitado a sua morte e continuasse à espera que ele chegasse a qualquer momento. Lembrou da tia Palmira, da sua simpatia e pensou que talvez fosse boa ideia ir para lá. Depois se não se desse bem poderia sempre recorrer a um hotel.

- Seja minha mãe. Amanhã falo com o patrão e peço férias.




15.9.19

PORQUE HOJE É DOMINGO




Num tribunal, pergunta o juiz ao réu:
- Então explique-me como conseguiu arrombar o cofre.
Diz o ladrão:
- Não vale a pena tentar, senhor doutor juiz.
- Não vale? Para seu bem, é melhor que o diga! – avisa o juiz.
E diz o ladrão:
- Não é isso, o senhor é que nunca será capaz de o fazer…

                                                ************************

Há dois alentejanos que vão à feira de Beja e compram dois porcos, um para cada um. Então, chegam à aldeia e metem os dois porcos na mesma pocilga. Entretanto, anoitece e um dos compadres começa a lembrar-se:
- Compadre, temos que fazer um sinal aos porcos para saber qual é o porco de um e o porco do outro!
- Tá bem! – responde o outro.
No outro dia encontram-se, e diz um para o outro:
- Então compadre, já fez o sinal ao porco?
Responde o segundo:
- Já sim senhor! Cortei-lhe metade do rabo.
Diz o primeiro:
- Ó compadre, você não quer lá ver que eu fiz o mesmo ao meu?!
- Não há problema compadre! A gente faz outro sinal… – esclarece o alentejano.
No outro dia:
- Então compadre, qual foi o sinal que fez desta vez ao porco?
- Olhe compadre, cortei-lhe metade da orelha direita! – responde o outro.
E diz o primeiro:
- Ó compadre, você não quer lá ver que eu fiz o mesmo ao meu?!
 Mas olhe! Deixe lá isso, você fica com o branco que eu fico com o preto…



                                               *************************

Um jovem par puritano passeia no campo. A rapariga é loira, loira! A um dado momento vêm um burro com o coiso completamente de fora. Pergunta a loira:
- Amor, o que é aquela coisa que sai do burro?
- É o pénis do burro, querida! – Explica o namorado.
E, de repente, a loira desmaia.
 O namorado consegue reanimá-la ao fim de uns minutos e pergunta-lhe:
- O que é que te aconteceu?
Responde a loira:
- Amor! Se um burro tem uma daquele tamanho, nem sequer quero imaginar o tamanho da tua, que és engenheiro…


                                                 ******************************



O homem passou muito tempo em viagem e chegou a casa já de madrugada. Como estava a morrer de saudades, correu para o quarto, agarrou a esposa e fez amor com ela… três vezes!
Quando acabou, foi para a cozinha matar a fome e sede. Chegado lá encontrou a esposa a beber uma água. Intrigado perguntou:
- Amor, você não estava agora mesmo no quarto?
Responde a mulher:
- Não, aquela é a minha mãe que veio me fazer companhia enquanto estavas de viagem.
E diz o homem:
- Mulher! Pelo amor de Deus! Nem imaginas o que aconteceu: cheguei, cheio de saudades, corri para o quarto, estava escuro e, a pensar que eras tu, fiz amor três vezes com a tua mãe.
A mulher indignada foi a correr falar com a mãe:
- Mãe! É verdade que o Carlos fez três vezes amor contigo, pensando que era eu?
- Sim. – respondeu a mãe.
E diz a mulher:
- E não disseste nada?
Explica a mãe:
- Então não sabes que eu não falo com ele há 5 anos?! Não era agora que eu ia falar…


                                                *******************************

Na manhã de Natal, o Joãozinho vai ter com a mãe e diz:
- Mãe, mãe, eu já sei quem é o Pai Natal!
A mãe:
- Sabes?! Então quem é o Pai Natal?
Responde o Joãozinho:
- Sei! Esta noite de Natal, estive acordado de propósito à espera dele! A certa altura, ouvi passos e vi que, afinal, era o paizinho que trazia os embrulhos das prendas… Depois, só não percebi foi uma coisa!
A mãe:
- O quê, filho?
E diz o Joãozinho:
- Porque é que o paizinho entrou no quarto da empregada e ficou lá muito tempo…