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31.5.17

JOGO PERIGOSO - PARTE XII





David voltou-se. Parecia muito calmo, mas os seus olhos continuavam muito escuros, e se havia algo de que ela se tivesse apercebido no primeiro dia, é que os seus olhos ficavam claros como água, quando ele estava descontraído, e escureciam quando as emoções o assaltavam. Era um trunfo para ela, que não se deixou enganar com aquela calma aparente.
- Trouxe-te o catálogo da nova estação. Saiu hoje. Queres ver? – Perguntou estendendo-lho
Era como se lhe mostrasse uma bandeira branca.
Ela aceitou. Na verdade não conhecia o catálogo, nunca comprara roupas por aquele processo e estava curiosa.  Correu os olhos pelo vestido da capa. Muito bonito. Um corte simples mas muito elegante, voltou a página e encantou-se com um conjunto de saia-calça em seda, verde seco e uma blusa também em seda creme, de suave decote, e folho nas mangas. Levantou o rosto e mostrou claramente a sua surpresa.
- Bom, se todos os modelos forem assim, são muito bonitos. E elegantes. Quem é o estilista?
- Não tenho um estilista. Os modelos são desenhados por mim, embora às vezes a Rita me dê uma pequena ajuda com uma ou outra sugestão.
“Claro a Rita.” Pensou ela. E teve vontade de saber quem era a Rita, mas a pergunta que fez a seguir não tinha nada a ver com o que pensou.
- Quer dizer que foste tu que desenhaste este modelo?
-Esse e os outros, - respondeu com suavidade.
Ela lançou-lhe um rápido olhar e pensou que ele devia gostar muito do que fazia, pois os seus olhos mostravam -se tão claros e brilhantes como prata.
- Se não te importas gostaria de o levar para casa. Parece-me que vale a pena vê-lo com tempo.
Ele gostaria que o visse naquele momento, mas limitou-se a dizer.
-Trouxe-o para ti.
-Obrigada
Uma batida na porta, e logo depois Madalena entrou:
- O técnico deu por terminada a reparação da máquina. Diz que amanhã já poderá trabalhar em pleno.
- Graças a Deus. Diz ao Bruno para avisar o pessoal que vinha entrar à noite, para se apresentarem amanhã à hora normal.
Madalena saiu e Daniela, voltando-se para David explicou:
- A peça para a máquina avariada, só chegou esta manhã. Tenho tido metade do pessoal a trabalhar de dia, e a outra de noite, de modo a que a tecelagem não se atrase, e não deixe de cumprir os prazos. E a propósito, ainda pensas comprar as máquinas?
- Pedi orçamentos à fábrica. Ainda estou a estudar a situação


30.5.17

JOGO PERIGOSO - PARTE XI


Duas horas depois, o assunto estava resolvido. Louis era um bom amigo, não teve de se esforçar muito para que lhe atendesse o pedido. Glória iria receber em breve a proposta e depressa estaria em Paris.
 Pensou em Daniela. A imagem da jovem assaltara-o várias vezes, desde que a conhecera dez dias atrás. Aquela sim era uma mulher interessante. Bonita, inteligente, e cheia de personalidade. Gostaria de saber mais coisas sobre ela. Mas como fazê-lo? Claro, um detetive, dir-lhe-ia tudo sobre ela. Porém sem saber porquê repugnou-lhe a ideia de saber que um outro homem andasse a espiar a jovem. Passou a mão pela testa.
Tinha-lhe deixado o seu número e em dez dias ela não lhe telefonara. Que se passava? Será que ia fazer de conta que ele não existia? Mas não era possível. Ele não lhe passara nenhuma procuração, ela ia precisar da sua assinatura, para novas compras. Mais do que isso, ele tinha direito a ser informado sobre o funcionamento da fábrica. Pegou no catálogo, guardou o telemóvel e saiu.
- Vou sair. Liga-me se necessário, - disse a Rita ao passar pelo seu gabinete. Vou à fábrica de tecelagem.
Rita fez um movimento de assentimento com a cabeça, e ficou a pensar que qualquer coisa não estava bem com o último negócio efetuado pelo patrão. Conhecia-o demasiado bem.
Ele estacionou o carro no parque da fábrica e entrou. Cumprimentou, Madalena com um aceno de cabeça, e abriu a porta do gabinete sem se preocupar em bater.
- Boa tarde
Ela olhou-o furiosa.
-Não te ensinaram a bater à porta?
- Porquê? Este espaço também é meu.
-Tens razão. Mas se pensas proceder sempre assim, deixa de ser meu. Amanhã passarei a ocupar o gabinete da Madalena. Ela não deve importar-se de trabalhar no escritório com as outras duas empregadas.
Ficou furioso. Sabia que não procedera bem. Tinha-o feito de propósito para a ver irritada e ela devolvera-lhe a jogada na mesma proporção.
- Não precisas sair. Não voltará a acontecer. Irritas-me, sabes?
Atirou com o catálogo para cima da sua secretária, e voltando-lhe as costas, aproximou-se da janela.
Ela não disse nada. Como podia ela, irritar um homem tão poderoso, tão cheio de confiança em si mesmo? Nervosa, brincou com a esferográfica, e esperou.


29.5.17

JOGO PERIGOSO -PARTE X


Ouviu-se de novo a pancada na porta, e à sua ordem de entrada, Rita abriu a porta e deixou passar Glória.
Era uma mulher alta, magra e muito bonita. Uma das modelos que no ano anterior tinha participado no catálogo e que pouco tempo depois se tinha convertido em sua amante.
Aproximou-se, como se estivesse desfilando, deu a volta à secretária e exclamou enquanto o abraçava.
- Que se passa amorzinho, não tens aparecido, não telefonas…
Afastou-a sem violência, mas com firmeza.
- Senta-te Glória, precisamos falar.
Esperou que ela se sentasse e depois fez o mesmo recostando-se na cadeira, sem que lhe passasse despercebido o cruzar das pernas, com que ela o presenteou. Procurou uma desculpa.
- Sabes que não disponho de muito tempo livre.
-Sei. Mas antes tinhas sempre tempo para mim…
- Antes, tinha mais tempo. Acabei de comprar uma nova fábrica. Estou demasiado ocupado. Compreendo que és jovem, bonita, e que mereces gozar a vida. Será melhor que não te prendas comigo.
- Quer isso dizer que estás a correr comigo?- Perguntou os olhos faiscantes de raiva. Quem é ela? Uma nova modelo? Foi por isso que não quiseste que participasse neste catálogo?
- Nada disso, Glória. Não tenho ninguém, acredita. Quero que sejas feliz, e eu não tenho tempo, nem estou preparado para uma relação séria.
- Não acredito. Por tua causa rejeitei um bom contrato, que me podia levar até ao Japão. E agora corres comigo.
- Lamento. Posso ajudar-te até teres um novo contrato, e mover as minhas influências para conseguir-to rapidamente.
Estendeu a mão, pegou num cheque, que tinha em cima da mesa e estendeu-lho. Ela estava furiosa, e preparava-se para uma discussão, mas um rápido olhar ao cheque, acalmou-a. Um lampejo de gozo perpassou pelo olhar masculino. Ela pegou no cheque, dobrou-o e meteu-o na mala. Não agradeceu. Limitou-se a dizer:
-Espero que me consigas um bom contrato em breve.
Voltou-lhe as costas e saiu deixando a porta aberta. Rita assomou à porta, e sorriu:
-Foi dispensada? Pensava que desta vez, tinhas sido apanhado. É muito bonita.
- Tão bonita, quanto oca. Bom, põe-te em contacto com a Lanvin em Paris, e vê se o meu amigo Louis Courtney, está.
- Tens pressa em despachá-la para longe?
Ele não respondeu


JOGO PERIGOSO - PARTE IX


David pôs de lado o catálogo da nova coleção que acabara de sair, e pôs-se de pé.
Alto, deveria rondar o metro e noventa, de um corpo bem musculado, e bastante moreno, de olhos cinzentos, a que as emoções escureciam tanto,   que quase pareciam negros. O cabelo negro, ligeiramente ondulado, cortado muito curto, o nariz retilíneo, o queixo quadrado. Era um daqueles homens que não passam despercebidos onde quer que se encontrem.  Foi até à janela, e por minutos pareceu interessado no movimento da rua.
Ouviu que batiam à porta e sem se voltar, mandou entrar.
A mulher que entrou, rondaria os quarenta e cinco anos. Era alta, loira e vestia rigorosamente de acordo com o seu lugar de secretária, de um homem que dirigia um dos negócios mais florescentes do momento. A moda feminina.
Voltou-se
- Que se passa, Rita? Não tinha dado ordens para não me interromperes?
- Desculpa, mas a Glória, não aceitou a tua ordem. Está no meu gabinete, e diz que nem que durma aqui, não se vai embora sem que a recebas.
Fez uma careta de aborrecimento.
- Fá-la esperar mais meia hora. Inventa uma desculpa qualquer. Pode ser que acabe por desistir.
Com a confiança adquirida ao longo dos muitos anos que era sua secretária, Rita, sorriu
- Não acredito. Mas farei os possíveis, chefe.
Ele arqueou a sobrancelha e o seu olhar escureceu. Ela sabia que ele não gostava quando lhe chamava chefe.
- Pronto, não te zangues, saio já.
E saiu fechando a porta. Ele esboçou um sorriso. Gostava dela. Era sua secretária desde que ele começara o negócio, num pequeno armazém, quando não era nem um décimo do que é hoje. A sua experiência, fora uma grande ajuda, para o jovem com a cabeça cheia de sonhos, e uma vontade férrea de triunfar, que ele era na altura. E tinha-o conseguido. Hoje, além da fábrica de confecções, tinha ações noutras empresas, e a ideia de continuar a expandir os seus interesses, tinha-o levado a adquirir ao amigo a metade da fábrica de tecelagem. Claro que era seu desejo acabar por ficar com a fábrica na totalidade. Pensava fazer uma boa oferta à jovem. Pensara que ela, tal como o irmão estaria desejosa de vender. Surpreendera-o a garra da jovem. Enfrentara-o. E ele não estava habituado a que mulher alguma o enfrentasse. Antes pelo contrário. Estava habituado a ter que dispensá-las com mais ou menos custo, quando começavam a aborrecê-lo. Como pensava fazer agora com aquela que aguardava na sala.



28.5.17

JOGO PERIGOSO- PARTE VIII






Quando David regressou depois de almoço, já encontrou a jovem na sua secretária. Trabalharam toda a tarde, com a jovem a mostrar o balanço dos últimos meses, as notas de encomendas, e tudo o que David quis ver e saber sobre o funcionamento da empresa. No fim, ele perguntou:
-Há quantos anos, a Daniela está à frente da empresa?
- Oficialmente desde há seis anos, mas na verdade, desde que meu pai adoeceu há oito anos que tomei conta da gerência da empresa. Porquê?
- Curiosidade. Na verdade, o Daniel nunca me disse que tinha uma irmã, até ao momento que me propôs a compra da sua parte na fábrica. Penso que tem feito um bom trabalho. Devemos estudar as possibilidades de aumentar a produção, a fábrica é ampla, está subaproveitada. Vejo que não está em condições de comportar a compra de uma nova máquina, neste momento. Eu posso comprar uma, ou até duas, em troca de digamos dez por cento da sua parte.
Ela fulminou-o com o olhar.
- Sem discussão. Continuamos como estamos. Se quer os tecidos, para as suas coleções feitos aqui, e as encomendas que temos em carteira, não o permitem, o interesse nas novas máquinas é seu. Logo se comprar as máquinas, elas trabalharão em exclusivo para as suas coleções, e essa será a contrapartida. Pagará os empregados, que nelas trabalhem. Terá parte da fábrica a trabalhar para si, sem pagar instalações. É a minha contra proposta.
- Como assim? Mas não somos sócios em partes iguais?
- Sim. Da fábrica como está, e de tudo o que ela produzir. Se vai investir em máquinas e eu não vou participar, é justo que essa parte seja de sua inteira responsabilidade.
Ele franziu a testa. Aquela mulher, tinha uma vontade férrea e sabia bem o que queria.
-Bom, vou pensar no assunto, logo que tenha contactado a fábrica, saiba quanto custa cada máquina e quanto produzem. Na altura certa voltaremos ao assunto. Entretanto, ficará tudo como está, em tudo até na gerência, pois estou certo de que o faz com muito acerto. Passarei por cá quando me for possível, ou quando precise de algo que requeira a minha assinatura. Deixo-lhe o meu número pessoal, ligue-me quando precisar.


27.5.17

JOGO PERIGOSO -PARTE VII





- Tem razão David. Na verdade, o único culpado disto tudo, é o meu irmão. E já que não podemos alterar os factos, é lícito que o ponha a par de tudo o que se passa. Disse que vai mandar trazer uma secretária. Enquanto ela não chega, podemos ver as instalações. Está de acordo?
Uns minutos antes, parecia uma leoa prestes a atacá-lo, agora aparentemente estava calma. Aquela mulher era surpreendente. Sorriu
- Vejo que percebeu a situação. Na verdade, a secretária deve estar a chegar, disseram que a entregariam às onze horas. Vamos então ver a fábrica agora?
Ela avançou para a porta. Vestia um fato de calça e casaco azul- escuro, e um lenço de seda em tons de azul e cinza ao pescoço. O cabelo estava apanhado, e nos pés usava sapatos de meio salto pretos. Habituado a lidar com mulheres bonitas, David não teve dificuldade em catalogar Daniela como uma bela mulher. Seria casada? Não usava aliança, foi a primeira coisa em que ele reparou, logo não devia ser. Porque é que Daniel nunca lhe tinha falado nela? Afinal eram amigos há quase dez anos. No escritório, Daniela, reuniu as empregadas, Madalena e as outras duas mulheres mais jovens, e apresentou-lhes David, informando que ele era agora seu sócio, e portanto, igualmente dono da empresa. Depois seguiram para a fábrica. Ele ia observando tudo, atento ao que ela lhe explicava. Vendo que uma máquina estava parada, ele quis saber porquê e ela explicou que estavam à espera da peça para ser reparada.
Então Daniela chamou Bruno e apresentou-lhe David, informando-o, sobre a sua posição dentro da empresa.
Depois passaram pela secção de embalagem, passaram pelo armazém e por fim regressaram ao escritório, quando os empregados acabavam de colocar a nova secretária no gabinete que até aí fora só dela. 
- A fábrica é grande, suporta com facilidade mais duas máquinas, - disse ele, mal ficaram sós. Com elas podíamos ter uma produção bem maior.
- E verdade. E então agora com aquela máquina parada, para entregar a encomenda que está a ser embalada hoje, o pessoal teve que trabalhar por turnos. Mas aquelas máquinas comportam um grande investimento…
-Calculo que sim. Mas não me importo de investir na compra das máquinas, se em troca passar a ter os tecidos para a confecção das minhas coleções, feitos aqui, a tempo e horas. - Olhou o relógio e acrescentou. – São horas de almoço. Continuamos de tarde?


JOGO PERIGOSO - PARTE VI


Sentou-se na sua frente.
- Diga-me senhor Ribeiro, quais as suas intenções, ou planos que o levaram a comprar ao meu irmão, a metade desta empresa?
Ele inclinou-se para a frente, apoiou um braço na secretária sem deixar de olhar para ela.
- Senhor Ribeiro? Não lhe parece despropositado, dadas as circunstâncias? Parece-me que está zangada com o facto de eu ser o seu sócio a partir de agora. Mas se assim é, deve conversar com o seu irmão. Como deve saber, tenho uma firma de confecções por catálogo. Estou sempre em busca de novos tecidos, novos padrões. O meu catálogo, é um sucesso, vende imenso. Há muito tempo que ponderava, a compra de uma fábrica de tecelagem como esta. O oferecimento de venda por parte do seu irmão, veio ao encontro dos meus desejos. Claro que acalento o sonho de me vir a tornar o único dono. Estou disposto a pagar o que pedir pela sua parte, dentro da razoabilidade.
Daniela pôs-se em pé. O rosto corado, os olhos brilhantes, o seio arfando, pela ira. Estava tão bonita, que o homem semicerrou os olhos, tentando esconder a sua admiração.
- Está doido! Não vendo, nem morta. Esta firma sempre foi da minha família. E vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para recuperar a parte, que o irresponsável do meu irmão lhe vendeu, senhor Ribeiro.
- Bom, - disse ele com uma calma irritante, -sendo assim, seremos eternamente sócios, já que ambos somos movidos pelo desejo de posse. Então, vou mandar colocar neste gabinete outra secretária, e vou trabalhar aqui sempre que possível, já que como disse, tenho outros negócios que também requerem a minha presença. Pode continuar a usar esse tratamento ridículo de senhor Ribeiro, se isso lhe agrada, mas desculpar-me-á que a trate apenas por Daniela. Tenho o dia livre, de modo que vou mandar trazer a secretária, agora mesmo, e espero que disponha de tempo para me pôr a par de tudo o que se passa na fábrica. Preciso saber como estão as encomendas, e prazos de entrega, já que preciso de um novo padrão de tecido para o próximo catálogo e quero saber se é possível ser feito aqui, ou se tenho de recorrer à fábrica com que costumo trabalhar.
Fez uma pausa, enquanto a olhava fixamente. Ela susteve-lhe o olhar, sem pestanejar, num claro desafio, que o deixou surpreendido. Retomou a palavra
- Espero que cheguemos a um entendimento, não é agradável trabalhar em clima de guerra, mas se for essa a sua posição, acredite que não costumo fugir das contrariedades.
Levantou-se. À jovem pareceu ainda mais alto do que quando entrara no gabinete e o vira de costas. Não se parecia nada com o playboy que aparecia nas revistas. Aquele homem tinha uma personalidade forte, e uma grande dose de autoconfiança, o que o levava a ser um adversário temível. E fora bem claro nas suas intenções. Tinha que ir com cautela, ou a sua vida daí para a frente podia transformar-se num inferno.


26.5.17

JOGO PERIGOSO - PARTE V





Tinham passado oito dias desde que o advogado estivera no escritório, dando-lhe conta da cedência de quotas do irmão para o seu cliente e deixando-a de mãos e pés atados, já que o irmão que raramente ia à fábrica, tinha-lhe passado uma procuração e ela geria a empresa, com liberdade absoluta. Reuniam-se apenas uma vez por ano, para apresentação de contas e divisão de lucros nos anos em que os havia. Com a venda da sua parte, o irmão teria anulado a procuração, coisa de que ela não se apercebera, pois não precisara usá-la recentemente. Agora, para qualquer decisão que envolvesse investimento, tinha que esperar pelo novo sócio, e nem sequer sabia por onde ele andava.
Felizmente conseguira acabar a encomenda, a tempo, mas com aquela máquina parada, (segundo o técnico precisava de uma peça que tinha que ser importada,) tivera que pôr o pessoal a trabalhar por turnos, o que ia reduzir a margem de lucro da encomenda. Naquela manhã de terça-feira, acabara a sua volta pela fábrica, e dirigia-se ao seu gabinete, quando ao passar pelo escritório, Madalena a informou de que um cavalheiro a aguardava, precisamente lá. Dissera-lhe que era o novo sócio, e ela introduzira-o no gabinete. Soltou um suspiro. Finalmente resolvera aparecer.
Abriu a porta do gabinete. Um homem alto, de fato cinzento encontrava-se de costas junto à janela.
- Bom dia -. Saudou tentando não dar à voz a entoação agreste que advinha da sua raiva. Afinal de contas, o culpado daquela situação era o irmão, não o desconhecido.
O homem voltou-se. Calmamente. Quase com indolência. Um lampejo de admiração perpassou pelos seus olhos cinzentos, ao encarar a jovem. Encaminhou-se para ela.
- Bom dia. David Ribeiro- disse estendendo-lhe a mão
- Daniela Pinto,- apresentou-se retribuindo o cumprimento.
-Daniela? – Ele repetiu com estranheza
- É. Parece que os meus pais não primavam pela imaginação.
Ele esboçou um sorriso. Olharam-se por momentos fixamente. Como dois opositores estudando-se mutuamente. Depois ela disse:
- Sente-se. Temos muito que conversar.


25.5.17

JOGO PERIGOSO - PARTE IV




E agora ali estava ela, na ingrata incerteza de não saber o que ia ser dela, e do futuro duma empresa que sempre fora da sua família.
Nunca se tinha cruzado com o novo sócio, mas a sua fama de homem de negócios era tão conhecida, como o seu gosto por mulheres bonitas, que fazia com que não raras vezes, andasse exposto nas páginas das revistas cor-de-rosa, que por vezes desfolhava no cabeleireiro.
Que iria fazer com a empresa? Quereria geri-la? Ou deixá-la-ia nessa função, já que ninguém conhecia aquele negócio como ela?
Não. Com a sua fama de mulherengo, devia ser um machista, capaz de pensar que a única função das mulheres, era alegrar a vida dos homens.
Passou a mão pela testa. Doía-lhe a cabeça, de tanto pensar. Ainda se o advogado tivesse dito alguma coisa, sobre quando o seu representado se ia apresentar, se tivesse agendado uma reunião, pelo menos ela podia ter uma ideia do que ele pretendia. Mas nada.
Largara a “bomba”, e sumira.
Bateram à porta, e logo de seguida a secretária entrou. Era uma mulher de baixa estatura, um pouco roliça, de rosto afável, e sobretudo muito eficiente. Estava na firma desde o começo, vira crescer a jovem, por quem tinha um verdadeiro carinho, e era uma mais-valia para ela, que sabia poder contar com o seu apoio em qualquer situação.
- Está lá fora, o Bruno, encarregado da secção de tecelagem. Diz que a máquina, que foi arranjada o mês passado. está outra vez com o mesmo problema.
-Aquela máquina está a precisar de substituição urgente. E o pior é que nesta fase de transição, não posso tomar nenhuma decisão. Nunca vou perdoar ao meu irmão, pôr-me nesta situação. O novo sócio, não aparece, a encomenda tem que ser entregue sem falta para a semana, e eu não posso tomar nenhuma decisão.
- Quer que chame o mecânico que esteve cá da outra vez, para ver se ele resolve o problema?
-Faça isso Madalena. Vamos ver se resulta, pelo menos para acabarmos esta encomenda a tempo.
A secretária saiu e a jovem pegou na pasta de encomendas e começou a verificar as mesmas, e a comparar os “stocks” de fios, a fim de programar o trabalho seguinte.


24.5.17

JOGO PERIGOSO - PARTE III


Quando o pai morreu, já havia mais de um ano que Daniela estava à frente da empresa. O irmão desistira da sua ideia de ir para África por causa da saúde precária do seu progenitor. Mas quando ele partiu, voltou à ideia de deixar tudo e ir para África.
Uns meses antes tinha realmente tentado vender-lhe a sua parte da empresa. Ela recusara pensando que assim mantinha o irmão por perto. Era o único familiar que tinha, a mãe morrera ainda eles eram pequenos, e o pai fora pai e mãe dos dois. Daniela casara aos vinte e quatro anos completamente apaixonada. Mas para o marido, uma mulher apaixonada não chegava. Ele queria perpetuar-se na descendência. Ela não engravidava. Então começou a andar de médico em médico, de tratamento em tratamento, num calvário que durou quatro longos anos, ao fim dos quais todos os médicos eram unanimes em dizer que ela era estéril, e que o casal deveria procurar a adoção, como solução para o seu desejo de serem pais. O problema foi que Felipe não queria ser pai adotivo. Ele queria ser pai biológico. E assim resolveu pedir-lhe o divórcio, descartando-a como coisa sem préstimo.
Daniela ficou arrasada. Sofreu a desilusão, chorou a morte dos seus sonhos. Chorou dia e noite tudo o que havia para chorar. E depois levantou a cabeça e decidiu levar a vida pra frente. Dedicou-se inteiramente à empresa. Tinha trinta anos quando o pai adoeceu e deixou tudo nas suas mãos.
Um ano mais tarde o pai morreu deixando a empresa em quotas iguais para os dois filhos. E ela assumiu a direção e continuou o trabalho do pai, enquanto o irmão continuava a exercer a profissão, de médico. A medicina, e os seus doentes era tudo o que lhe interessava. Não se importou. Mergulhava no trabalho, era uma boa forma de esquecer a sua tragédia pessoal, e a sua descrença nos homens e no amor.
Uns meses atrás, o irmão tentara vender-lhe a sua parte do negócio. Precisava dinheiro para ir para África e montar um pequeno consultório, onde pudesse atender os mais necessitados.
Ela não levara muito a sério a proposta e tentara dissuadi-lo dessa ideia. Desde aí nunca mais soubera dele, até aquela manhã, quando o advogado do novo sócio a procurou com toda a documentação relativa à transação. 

23.5.17

JOGO PERIGOSO - PARTE II

Uma hora mais tarde, Madalena tinha conseguido estabelecer ligação com a Missão, e passava-lhe a chamada.
-Boa tarde. É possível falar com o doutor Daniel Pinto?
-Quem deseja falar com ele?
-É a irmã.
- Vou ver se ele pode atender.
- Obrigada. Por favor, diga-lhe que tenho urgência em falar com ele.
Pouco depois o irmão atendeu.
- Olá. Está tudo bem?
- Como está tudo bem? Como pudeste fazer-me semelhante coisa! Vendeste a tua parte no negócio da família a um desconhecido.
- Que querias que fizesse? Propus-te a venda, Afinal eras a principal interessada. Sabes que nem tenho jeito para os negócios nem eles nunca me interessaram. Tu não quiseste comprar a minha parte. E eu precisava dinheiro para realizar o meu sonho.
- Pensei que era o desejo dos nossos pais que o negocio fosse dos dois. Mas se me tivesses dito que a ias vender a um desconhecido, é claro que compraria a tua parte.
- Primeiro, só é desconhecido para ti. Para mim, é um amigo, de muitos anos, que me possibilitou a realização do meu maior sonho. Segundo, conheço-te o suficiente para saber que envidarias todos os esforços para me dissuadires e me afastares do que eu desejava.
-És um egoísta. Só pensas em ti. Como vou tocar para a frente a empresa com uma pessoa que não conheço?
- Sempre foste hábil a resolver problemas. Desculpa, tenho que desligar. Tenho mais de vinte pessoas à espera de consulta. Ainda que não acredites, amo-te maninha.
Desligou sem esperar resposta. Daniela ficou por momentos absorta, a olhar o aparelho. Depois lentamente poisou-o no descanso.
A empresa fora fundada por seu pai, que sempre pensou que um dia o filho iria continuar a sua obra. Mas Daniel desde cedo deu a entender que o seu negócio era outro. Ele queria ser médico, ir para África exercer a profissão entre aqueles que nada tinham. Pelo contrário a ela o mundo dos negócios sempre a fascinara. Não brincava com bonecas. Brincava de montar lojas e de comprar e vender coisas.


22.5.17

JOGO PERIGOSO - PARTE I


-Entre.
A porta abriu-se e a mulher que se encontrava de costas, junto à janela voltou-se e encaminhou-se para a secretária.
Cumprimentou o homem que acabara de entrar, e indicou-lhe uma cadeira. Passou a mão pela testa e perguntou:
- Então? Descobriu-o?
O homem, de meia-idade, baixo e calvo, apresentava-se bem vestido, mas parecia incomodado, como se não estivesse habituado a andar de fato e gravata em pleno mês de Julho.
- Sim. Segundo os meus contatos, o nosso homem encontra-se hospedado em Moçambique. Contactei a nossa embaixada, e tenho aqui todos os dados. Está numa Missão em Nampula. Tenho aqui todos os possíveis contatos, morada e telefone da Missão, bem como da Arquidiocese de Nampula, a que a Missão está subordinada, disse estendendo-lhe algumas folhas de papel.
-Muito bem. Por agora é tudo. No escritório dar-lhe-ão o cheque com os seus honorários. Entrarei em contacto consigo se voltar a precisar dos seus serviços.
Ele levantou-se e estendeu-lhe a mão, que ela apertou dando a reunião por terminada.
O homem saiu fechando a porta atrás de si. A mulher, jovem e bonita, vestia um fato de calça e casaco cinza, e prendia os cabelos escuros num coque no alto da cabeça. O seu rosto de traços suaves, tinha no momento um ar crispado, como se estivesse profundamente irritada, ou sob uma grande pressão.
Pegou nas folhas que o detetive deixara sobre a secretária e deixou-se cair na secretária, com um profundo suspiro.
Estendeu a mão e colocando os óculos leu as folhas. Quando acabou recolocou os óculos em cima da secretária, e premiu uma campainha.
Ouviu-se uma leve batida na porta e de seguida ela abriu-se para deixar passar Madalena, a sua secretária. A jovem estendeu-lhe a folha de papel.
- Veja se consegue entrar em contacto com essa Missão. Quando o conseguir passe-me a chamada. Se não o conseguir até à hora de saída, tente de novo amanhã. Preciso de entrar em contacto com alguém de lá com urgência.
- Vou já tratar disso, - disse a empregada


7.5.17

DIA DA MÃE


A todas as mulheres do mundo, que sendo Mães, souberam dignificar essa sagrada missão.  Que deixam pelo caminho sonhos por realizar, para realizarem os daqueles a quem deram a vida, esquecendo-se que para além de mães, também são mulheres.Que tanta vez escondem as suas lágrimas, para verem os seus filhos sorrirem.  Que tanta vez se não deitam, para velar o sono dos seus filhos, eu deixo um E-N-O-R-M-E OBRIGADO.  E o desejo de um dia feliz.