A jovem, que a sua secretária acabava de introduzir no seu
gabinete, em nada se assemelhava aquela que ali estivera procurando o pai do
sobrinho, três semanas atrás. As calças de ganga foram
substituídas por um gracioso conjunto de saia e top em seda verde e os ténis
deram lugar a sapatos de salto agulha, que a faziam parecer mais alta.
- Boa tarde, -saudou. Confesso que estou intrigada com a
carta que recebi a convocar-me para esta entrevista.
- Senta-te, - disse indicando-lhe a cadeira. Devo
dizer-te que receei que não aparecesses, depois da maneira com que me
descartaste naquele dia. Por favor não insultes a minha inteligência com uma
desculpa, - acrescentou ao ver que se preparava para falar.
- Deves entender que nunca te tinha visto antes, e que a
minha vida nada tem a ver com a do rico empresário que és.
- Talvez te enganes. Tenho uma proposta para te fazer,
mas antes de continuar, quero dizer-te que sou um homem sério, incapaz de
brincadeiras estúpidas, e portanto o que te vou propor é a sério, por muito
absurdo que te pareça. Tenho trinta e oito anos, e sou solteiro. Tenho vários
negócios e mais dinheiro do que posso gastar o resto da vida. Por
outro lado, tu tens a teu cargo o teu sobrinho, e a tua mãe, que segundo sei
esteve muito doente, e talvez ainda esteja.
- Andaste a investigar-me?- Perguntou tirando os óculos
num gesto que ele já tinha visto e que provavelmente repetia quando se
irritava.
- Por favor acalma-te e ouve-me até ao fim. O que te
proponho não é uma aventura, a troco de dinheiro. Proponho-te um casamento, com
o qual a tua mãe terá direito aos melhores tratamentos, e mais, proponho-te a
adoção legal do teu sobrinho e a melhor educação para ele, como convém ao meu
futuro herdeiro. Além de te proporcionar uma vida de princesa.
- A que propósito? És gay? Ou impotente?
-Nem uma coisa nem outra. Juro-te.
-Então, não entendo. O que pode levar um homem rico, e bonito,
a propor casamento a uma mulher que mal conhece, como se lhe estivesse a propor
um negócio?
- De certo modo é um negócio. Eu sinto falta de uma
família, e posso dar-lhe tudo o que ela precise. Tu tens uma família e terás
que levar uma vida de sacrifício para suprimires as suas necessidades mais
básicas. Um casamento seria uma boa solução para os dois.
- Um casamento de conveniência. Isso não daria certo. E o
amor?
- Salvo raras exceções, o amor não passa de uma invenção
dos romancistas. Ao longo da vida, quantos casais conheceste que se casaram
apaixonados, e se divorciaram em menos de dois anos?
- E se eu te disser que estou apaixonada?
-Estás?
- Não. Mas isso nem interessa. O que me importa é tentar
entender. Porquê eu? Com tanta mulher bonita, na sociedade em que te moves?
- Já pensaste que de certa maneira me sinto responsável pelo
mal que um meu empregado causou à tua irmã? E que pelo facto de ele ter usado o
meu nome, me sinta com vontade de tornar essa criança meu filho de facto?