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31.5.18

CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA - PARTE XII


A jovem, que a sua secretária acabava de introduzir no seu gabinete, em nada se assemelhava aquela que ali estivera procurando o pai do sobrinho, três semanas atrás. As calças de ganga foram substituídas por um gracioso conjunto de saia e top em seda verde e os ténis deram lugar a sapatos de salto agulha, que a faziam parecer mais alta.
- Boa tarde, -saudou. Confesso que estou intrigada com a carta que recebi a convocar-me para esta entrevista.
- Senta-te, - disse indicando-lhe a cadeira. Devo dizer-te que receei que não aparecesses, depois da maneira com que me descartaste naquele dia. Por favor não insultes a minha inteligência com uma desculpa, - acrescentou ao ver que se preparava para falar.
- Deves entender que nunca te tinha visto antes, e que a minha vida nada tem a ver com a do rico empresário que és.
- Talvez te enganes. Tenho uma proposta para te fazer, mas antes de continuar, quero dizer-te que sou um homem sério, incapaz de brincadeiras estúpidas, e portanto o que te vou propor é a sério, por muito absurdo que te pareça. Tenho trinta e oito anos, e sou solteiro. Tenho vários negócios e mais dinheiro do que posso gastar o resto da vida. Por outro lado, tu tens a teu cargo o teu sobrinho, e a tua mãe, que segundo sei esteve muito doente, e talvez ainda esteja.
- Andaste a investigar-me?- Perguntou tirando os óculos num gesto que ele já tinha visto e que provavelmente repetia quando se irritava.
- Por favor acalma-te e ouve-me até ao fim. O que te proponho não é uma aventura, a troco de dinheiro. Proponho-te um casamento, com o qual a tua mãe terá direito aos melhores tratamentos, e mais, proponho-te a adoção legal do teu sobrinho e a melhor educação para ele, como convém ao meu futuro herdeiro. Além de te proporcionar uma vida de princesa.
- A que propósito? És gay? Ou impotente?
-Nem uma coisa nem outra. Juro-te.
-Então, não entendo. O que pode levar um homem rico, e bonito, a propor casamento a uma mulher que mal conhece, como se lhe estivesse a propor um negócio?
- De certo modo é um negócio. Eu sinto falta de uma família, e posso dar-lhe tudo o que ela precise. Tu tens uma família e terás que levar uma vida de sacrifício para suprimires as suas necessidades mais básicas. Um casamento seria uma boa solução para os dois.
- Um casamento de conveniência. Isso não daria certo. E o amor?
- Salvo raras exceções, o amor não passa de uma invenção dos romancistas. Ao longo da vida, quantos casais conheceste que se casaram apaixonados, e se divorciaram em menos de dois anos?
- E se eu te disser que estou apaixonada?
-Estás?
- Não. Mas isso nem interessa. O que me importa é tentar entender. Porquê eu? Com tanta mulher bonita, na sociedade em que te moves?
- Já pensaste que de certa maneira me sinto responsável pelo mal que um meu empregado causou à tua irmã? E que pelo facto de ele ter usado o meu nome, me sinta com vontade de tornar essa criança meu filho de facto?


30.5.18

CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA - PARTE XI




- Não estou para ninguém e a Susana não sabe a que horas volto, -disse o advogado à sua secretária antes de entrar no seu gabinete.
Mal se instalaram no escritório, Pedro retirou do casaco o relatório que o investigador lhe tinha enviado e passou-o ao amigo que o leu em silêncio. Depois disse:
- Que a criança seja teu primo, e que queiras ajudar a família, eu compreendo, mas essa peregrina ideia de casares com a tia da criança, é que não me entra na cabeça. Primeiro, não tinhas um compromisso com a Cristina Barbosa?
-Nunca foi nada sério, nunca lhe fiz qualquer promessa, apesar de no início ter chegado a pensar nisso. Conheceste-a, é uma mulher muito bela, mas tem tanto de bonita como de fútil. A nossa relação ultimamente resume-se a isto. Ela a tentar arrastar-me para festas enfadonhas e eu a arranjar desculpas para não ir. Hoje mesmo tenciono ter uma conversa séria e acabar com qualquer ilusão da sua parte.
-E depois, chegas junto desta, - olhou o relatório para confirmar o nome e continuou, - Joana Teixeira e declaras que te apaixonaste por ela, mal a viste e que vais morrer de amor se não aceitar casar contigo?
- Não sejas ridículo. Penso propor-lhe casamento oferendo-lhe ajuda para criar o menino, e cuidar da mãe que decerto precisará de assistência médica. Será um casamento de conveniência, uma espécie de negócio.
-E os sentimentos Pedro? Onde fica o amor, o carinho, a paixão?
- Ora, tu sabes que eu não acredito no amor. Vá, não olhes assim para mim,  tu e a Helena são a exceção que confirma a regra.
-Acreditando que tu penses assim, quem te diz que esta jovem pensa como tu? Mais, quem te diz que ela não está apaixonada por alguém?
- Se tivesse uma qualquer relação o Abílio tê-la-ia descoberto. Algo me diz que é uma mulher que sempre se preocupou mais com os outros que com ela própria. E é com essa preocupação, com o bem-estar do menino e da mãe que conto para convencê-la.
- Bom, se já estás decidido, o que queres de mim?
- Que redijas um contrato pré matrimonial, com as condições que eu te ditar na altura, sendo que deverás acrescentar uma alínea, frisando que o casamento terá que ter uma duração no mínimo de dois anos, assim que eu te disser. E que nessa altura entres com o pedido de adoção do menino, e trates de toda a documentação para que me torne legalmente pai dele, o mais depressa possível depois do casamento. 
- Porquê essa alínea dos dois anos?
-Porque em dois anos, já serei legalmente seu pai, o menino terá crescido, criado laços comigo, e será muito mais fácil na minha posição que o juiz me dê a sua guarda, do que à Joana.Tenho melhores condições de vida.
-Isso é uma canalhice, Pedro.
- E não é uma canalhice o que elas nos fazem, quando um homem lhes dedica toda a vida e  nos abandonam sem dó nem piedade?
- Não podes julgar todas por uma. Oxalá um dia encontres alguém que te demonstre como estás enganado.  Pelo teu próprio bem. Mas parece-me que estás a pôr a carroça à frente dos bois. Nem sequer sabes se a tia vai adotar o menino ou se simplesmente requereu a guarda como parente mais próximo. E se ela não pretender adotar a criança como vais entrar com um pedido de adoção?
-Não te preocupes. Se ela não tiver pensado nisso, eu a farei pensar.
-Pareces ter pensado em tudo. Mas estamos ainda na fase das hipóteses. Pode acontecer que contrariamente ao que pensas, a jovem não aceite esse casamento. Mas supondo que aceita, já pensaste que em dois anos, ela pode gerar um filho teu?
- És sempre o mesmo sonhador Ricardo. Acreditas mesmo, que uma mulher que aceita um casamento para melhorar a vida dos seus, vai querer sujeitar-se a uma gravidez? Não tenhas ilusões. É bem capaz de querer reduzir o prazo dos dois anos.
-Arrepias-me com o teu cinismo.
-Posso contar contigo?
- Não tens contado sempre?


Bom  gente, hoje acordei quase sem me poder mexer. Na verdade estive melhor enquanto a medicação durou e de há dois dias para cá tem sido sempre a piorar. Ainda fui à aula da manhã, mas de tarde fui para o médico. Acabei de chegar, e além da medicação e da requisição para fazer uma TAC, as recomendações são para repouso absoluto "de cama, e não no sofá" palavras dele, durante dois dias. Depois vai-se levantando aos poucos, andando um bocadinho em casa e volta para o repouso. 
O conto está escrito e vou programá-lo para ir saindo. Mas não se admirem se não conseguir visitar-vos. 



CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA - PARTE X




- E ela não achou estranho que o namorado da irmã lhe tivesse dado um nome falso? – Perguntou Ricardo quando o empregado se afastou.
- Não. Ela estava nervosa, e ou não pensou nisso, ou terá julgado um pormenor sem importância, uma vez que o homem em causa estava morto.
-Suponho que não lhe disseste que era um teu familiar.
-Claro que não.
-Bom. Confesso que não descortino a razão por que precisas de mim se o assunto está arrumado. Ou não está? – Perguntou o advogado perscrutando o rosto do amigo.
- De facto não. Contratei o Abílio Morais, para investigar a jovem e a família. Segundo o seu relatório, a jovem que morreu era uma moça sossegada que só teve um namorado. O rapaz desapareceu quando soube que ela estava grávida. Isso prova que realmente o bebé é filho do Paulo, e portanto o único membro vivo da minha família, além da sua avó, minha tia, que depois da morte do filho definha dia a dia.
- E…
- E eu pensei que quero aquele bebé comigo, quero proporcionar-lhe uma educação condigna e fazer dele um homem melhor do que foi o seu pai.
A surpresa estampou-se no rosto do advogado, que quase se engasgou com o pedaço de bife que acabava de meter na boca.
- Estás doido? Como pensas conseguir isso? Com que argumentos? Ou será que … pensas comprá-lo? Sabes que isso é crime?
- Não pretendo fazer nada ilegal, até parece que não me conheces. O que pensei é muito simples. Estou a caminhar para os quarenta, sou um homem rico, mas solitário. Pensei propor casamento à tia do menino. Depois de casados adoto o bebé e posso fazer dele meu herdeiro.
Desta vez, a surpresa foi ainda maior.
- Por amor de Deus, Pedro. Vamos acabar a refeição e depois vamos para o meu escritório. Se continuamos esta conversa aqui, vou acabar por morrer engasgado.
-Não tinhas, muito trabalho hoje?
-E achas que vou conseguir fazer alguma coisa depois de teres largado essa bomba?
Pedro não respondeu. O seu rosto não demonstrava nenhuma emoção, apenas os olhos verdes mostravam a determinação que lhe ia na alma.
- Vais querer sobremesa? – Perguntou Ricardo quando o empregado se aproximou para retirar os pratos.
- Só café.
- Dois cafés, e a conta por favor.
Pouco depois, bebido o café e tendo pago a refeição, os dois levantaram-se e seguiram para o escritório do advogado situado a menos de cinquenta metros do restaurante


E estamos a caminho do comentário número 33 000
Muito Obrigada

29.5.18

CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA - PARTE IX



Chegou ao restaurante, cinco minutos antes da hora marcada, mas não antes do amigo que já se encontrava na sua mesa habitual, num recanto mais afastado, mas de onde podia observar todo o movimento. Há anos que Ricardo ali almoçava quase diariamente, e não raro com clientes, razão de ter sempre aquela mesa reservada. Vendo o amigo aproximar-se, levantou-se para o receber com o social aperto de mãos. acrescentou.
- Fiquei surpreendido com a tua urgência em nos encontrarmos, tanto mais que fiquei com a estranha sensação de que não vamos falar de trabalho. Penso que correu tudo bem no Algarve e que já posso dar-te os parabéns pela nova aquisição.
Nesse momento o empregado, a quem Ricardo tinha dito quando entrou que esperava um cliente, aproximou-se com a ementa.
Ricardo pediu um bife à Marrrare, Pedro optou por bacalhau à Lagareiro. Para beber, optaram por vinho tinto, tendo o primeiro escolhido Esporão, o segundo, Fonte do Ouro Touriga Nacional.
- Preciso da tua ajuda, - disse Pedro assim que o empregado se afastou. Mas antes tenho que te contar algo estranho que se passou logo depois de teres saído, no último dia que estiveste lá na empresa. Apareceu por lá uma mulher com uma criança ao colo, dizendo à Rita que queria, porque queria, falar com Pedro Mesquita. Ela disse-lhe que não era possível falar comigo sem marcação, mas a mulher afirmava que não queria falar comigo, sim com um simples empregado com esse nome. Sem saber o que fazer a Rita disse-me o que se passava, e eu que no momento até estava bem-disposto, resolvi recebê-la e saber o que ela queria. E não é que ela queria que o Pedro Mesquita soubesse que era o pai do bebé?
- O quê? – Perguntou Ricardo quase gritando, E logo baixando a voz, perguntou: Mas tu conhecia-la?
- Claro que não. A princípio pensei que era uma oportunista, tentando vigarizar-me, mas a mulher insistia que não entendia porque havia de falar comigo, ela queria falar com um simples empregado. Mostrou-me uma fotografia da irmã com o namorado, antes de ele ter desaparecido. E então percebi que se tratava da última gracinha do meu primo. Sabes como o Paulo era, e a mania que tinha de se apresentar com o meu nome.
- Sei, mas que tinha o namorado da irmã a ver com o filho da tal mulher?
- Sobrinho, a criança era o filho da irmã. Segundo me contou, a irmã teve uma gravidez de alto risco e não sobreviveu ao nascimento do filho.
- Entendo. E o que é que ela quer?
-Nada. Depois que lhe disse  que aquele jovem, tinha trabalhado na firma, mas falecera havia seis meses, num acidente, disse que então não fazia ali nada e despediu-se.
-Assim?
-Bom, eu levei-a a casa. Ainda lhe perguntei se não me oferecia um café, mas desculpou-se e nunca mais a vi.
Calou-se ao ver que o empregado se aproximava com os pratos.



28.5.18

CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA - PARTE VIII






Dez minutos depois…
- Doutor Mesquita, o doutor Araújo em linha. 
- Obrigado.
Ouviu o clique da passagem da chamada, e só então falou:
- Ricardo, preciso de ti com urgência. Estás muito ocupado?
- Na verdade estou. Aconteceu alguma coisa com a compra do hotel?
- Não. Vais almoçar com a tua mulher?
- Não. Porquê?
- Então podíamos almoçar juntos. Ainda almoças naquele restaurante perto do teu escritório?
- Quando não vou a casa, sim.
- Vou lá ter. À uma?
-Combinado.
Desligou a chamada, no momento em que uma mulher jovem irrompeu pelo gabinete, seguida da sua secretária.
- Desculpe doutor, eu informei a menina Cristina de que não podia entrar sem autorização, mas não me obedeceu.
- Está bem, Rita, pode regressar ao seu lugar.
Assim que a secretária fechou a porta voltou-se para a jovem e disse:
 - Nunca mais, ouve bem, nunca mais invadas o meu local de trabalho sem que para isso tenhas sido convidada. Ou juro-te que chamo o segurança para te expulsar.
A mulher, loira e bonita, sacudiu a sua magnífica cabeleira, e fazendo beicinho, murmurou com voz rouca:
- Mas amor, há mais de uma semana que não te vejo. Morro de saudades. Telefono, e aquele sargento que tens lá fora diz-me sempre que não estás.
Enquanto falava, aproximou-se dele e passou-lhe os braços à roda do pescoço, tentando inebriá-lo com o seu perfume. Sem se impressionar, Pedro levantou as mãos e retirou os braços que o enlaçavam. 
- Estive fora e só regressei hoje. Ia telefonar-te esta tarde, precisamos de falar, mas este não é o local nem a hora para semelhante conversa. Espera-me esta noite. Vou buscar-te às oito. Agora por favor, sai.
- Assim? Sem um beijo? – Perguntou aproximando-se.
- Preciso repetir-te que este é o meu local de trabalho, - retorquiu aproximando-se da porta e abrindo-a.
Furiosa, Cristina saiu fazendo soar o salto dos sapatos no mármore como se fossem marteladas.
Pedro fechou a porta e sentando-se pegou de novo no relatório que o investigador lhe enviara.  Depois dobrou-o e meteu-o no bolso do casaco. Olhou o relógio. Meio-dia e vinte. Tirou a gravata da gaveta recolocando-a no lugar, Apertou o nó, vestiu o casaco e agarrando nas chaves, saiu.



27.5.18

CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA - PARTE VII



Quinze dias depois, Pedro acabara de chegar do Algarve, onde tinha formalizado a compra do Hotel Rio Azul em Albufeira. Não era uma grande unidade hoteleira, mas por algum lado se começa e de momento era o que estava disponível no mercado. cinquenta quartos, distribuídos por três pisos.
Tirou o casaco que pôs nas costas da cadeira, afrouxou o nó da gravata, tirou-a e meteu-a na gaveta, procurando ficar o mais confortável possível, para encarar um dia de trabalho intenso. Há três dias que estava fora, e no dia seguinte viajaria para o Porto para supervisionar as obras de ampliação do restaurante na cidade.  Em cima da secretária, tinha o envelope que no dia anterior Abílio Morais, o investigador a que sempre recorria, quando era necessário, entregara.
Abriu-o e leu atentamente todas as informações. Surpreendeu-se ao descobrir que a jovem Joana, tinha vinte e nove anos. Parecera-lhe muito mais nova e imaginou que fosse a irmã mais nova, de Catarina quando afinal era o contrário. Mas a sua surpresa foi muito maior ao descobrir que Joana tinha estudado restauração e hotelaria, e tinha formação em cozinha e pastelaria. Fora a responsável pela pastelaria, “Sonho de verão”,  no Príncipe Real, até há oito meses, altura em que teve de se despedir para cuidar da irmã  grávida e da mãe que na altura lutava contra um cancro na mama. Depois que a irmã morreu, dedicou-se ao fabrico de bolos e organização de festas de aniversário infantil. Criara uma firma na Internet e trabalhava por encomendas através dela. 
Segundo as informações recolhidas por Abílio, as duas irmãs eram muito unidas, e duas raparigas sossegadas. A mais nova apaixonara-se por um jovem bem-parecido e adiantara-se ao casamento. Quando o namorado soube que estava grávida, desapareceu e nunca mais souberam dele. A rapariga sofrera um grande desgosto, perdera a alegria e a vontade de viver, apesar de todos os esforços da irmã e da mãe, que sempre a apoiaram e animaram. Conseguira levar a gravidez até ao fim, mas dera o último suspiro, mal o filho nascera.
Pôs de lado o relatório e ficou pensativo. As informações coincidiam com o que Joana lhe havia contado naquele dia. Tinha que pensar no que ia fazer, mas ele queria aquele menino. Era da sua família, tinha direito a uma vida melhor do que aquela, que as duas mulheres lhe pudessem dar. Por outro lado, ele não tinha o direito de tirar-lhes a criança. Era tudo o que lhes restava, da filha e irmã que elas amaram. Ouviu-se um toque na porta e Rita entrou, trazendo alguns documentos para assinar.
- Aconteceu alguma coisa digna de registo enquanto estive fora? – Perguntou enquanto assinava o documento que tinha na sua frente.
- Nada a não ser os telefonemas da menina Cristina Barbosa, a perguntar se o senhor já tinha regressado. A propósito se ela telefonar hoje, o que faço?
- Passa-me a chamada. Faça com que este documento siga imediatamente para o seu destino. Depois localize o doutor Araújo e passe-me a chamada. É urgente.
- Mais alguma coisa doutor?
- De momento não, Rita.
A secretária pegou no documento e saiu, deixando-o entregue aos seus pensamentos.


26.5.18

CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA - PARTE VI







Ajudou-a a entrar na parte de trás do luxuoso automóvel.
- Isto não está certo, está a candidatar-se a uma multa, o bebé não pode viajar de carro assim.
- Não te preocupes, - disse tuteando-a pela primeira vez. Com um pouco de sorte não encontramos a polícia. Onde moras?
- Nos Olivais. E deu-lhe o nome da rua.
Ele fechou a porta, deu a volta ao carro, e pô-lo em andamento. Pelo espelho retrovisor lançou uma mirada à jovem, Estava de cabeça baixa olhando atentamente o sobrinho. Conduziu em silêncio, pensando na última canalhada que o primo fizera. E de súbito pensou na alegria que seria para a sua tia Margarida, que desde a morte do filho se fechara em casa, saber da existência daquele neto.” Se é que é seu neto. Não te esqueças que tudo pode não passar de uma vigarice para te arrancar dinheiro. Investiga primeiro a situação, não te deixes impressionar pelo seu palminho de cara.  Quem vê caras não vê corações, lembra-te disso, antes de te meteres em alguma enrascada”. Era a sua consciência de experiente homem de negócios a retomar o seu lugar, depois dos longos minutos de emoção em que se deixara levar.
-É aqui mesmo, - disse a jovem, quando o bebé acordou de novo e começou a chorar a plenos pulmões.
Ele parou o carro e olhou à sua volta. Era um bairro social. Perguntou.
- Não me ofereces um café?
- Não. - A resposta soou seca como um tiro. Não avisei a minha mãe, e ela não gostaria que chegasse com uma visita sem ser avisada. E depois, olhe à sua volta. É uma casa pobre num bairro social, Nada que se compare à casa de um presidente de uma companhia. Agradeço a sua amabilidade em me receber, e me trazer a casa, mas aquilo em que me podia ajudar já o fez, quando identificou o pai do bebé.  
-Falas sempre no bebé, a criança não está registada? Não tem nome?
-Claro que sim. Chama-se Pedro Teixeira. Agora tenho de ir, está na hora dele comer, não se vai calar até que lhe dê o biberon. Adeus, - disse estendendo-lhe a mão que ele apertou fitando os olhos castanhos.
- Adeus, é muito radical. Prefiro até à vista.
Ela não respondeu. Virou-lhe as costas e dirigiu-se à porta número quarenta e cinco, que se abriu assim que lá chegou. Decerto que a mãe estava a espiá-la do outro lado da janela. E não seria só a sua mãe. Nestes bairros todos se conhecem e todos se observam. Talvez não tivesse sido bom para a jovem que a tivesse levado.  Mas o estrago, se o houvera, já estava feito. Entrou no carro e retomou a marcha, desta vez em direção ao Parque das Nações, onde vivia.
Entrou em casa, fechou a porta e pendurou as chaves num elegante chaveiro em porcelana, embutido na própria porta.  Foi à sala, preparou uma bebida e deixou-se cair no sofá, pensando no que acontecera naquela tarde. Se aquele bebé era filho do seu primo, era do seu sangue, não podia deixar que fosse criado naquele bairro à míngua de tudo, quando a ele lhe sobrava o dinheiro.  Pousou o copo na mesa e pegou no telemóvel. Procurou um número nos favoritos e marcou.
- Abílio Morais? Pedro Mesquita!  Como vais?
Esperou a resposta, e continuou.
-Preciso de uma investigação sobre uma família de apelido Teixeira, moradora no bairro social dos Olivais, rua das laranjeiras, número quarenta e cinco. Quero saber tudo sobre essa família. Passa amanhã às onze horas, no escritório.Eu tenho que ir ao Porto, mas a Rita terá parte dos honorários, o resto, recebes quando entregares o relatório como é hábito. Posso contar contigo? 
Depois de um curto silêncio, em que escutou o seu interlocutor, despediu-se:
-Ótimo. Boa noite.


CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA - PARTE V




-Não seria melhor deitar o bebé um pouco no sofá? – Perguntou assim que a secretária saiu. - Deve estar cansada, e além disso pode ser perigoso, que beba o chá com ele ao colo. Ajudou-a a levantar-se e ficou a observar o cuidado com que deitava o bebé no sofá. Quando se voltou e encaminhou para a mesa, não pode deixar de reparar que apesar de não ser uma mulher alta, tinha um corpo escultural.
- Açúcar? - Perguntou.
Ela negou com a cabeça. Não sabia o que fazer ou dizer, sentia-se pouco à vontade na presença daquele homem poderoso, e desconcertante, que ainda há poucos minutos parecia disposto a maltratá-la, e agora se mostrava afável. Pegou na chávena que lhe estendia e levou-a à boca, pensando quão injusta fora a vida para a sua irmã, para ela, e para o menino que naquele momento dormia de novo.
Ele estendeu-lhe a mão dizendo:
- Ainda não me disse o seu nome. O meu já sabe, sou Pedro Mesquita, dono desta empresa.
- Joana Teixeira, - respondeu retribuindo o cumprimento.
- Agora que já nos apresentámos, gostaria de saber. Conheceu o pai do bebé? Se foi algum dos meus empregados talvez eu possa ajudar.
-Claro, - ela tirou da mala o telemóvel, procurou uma fotografia, e estendeu-lhe o aparelho dizendo. – Aqui está. Esta foto, foi tirada dois dias antes do  seu desaparecimento.
Ele pegou no telemóvel e sentiu que os seus piores receios se confirmavam. Desde menino, o primo sempre tivera o costume de se desculpar com ele, quando fazia qualquer asneira. Mas manter o hábito já adulto, e chegar ao ponto de engravidar uma jovem enganando-a quanto à sua identidade era demais.
- Este homem trabalhou aqui sim. Mas o seu nome era Paulo Amado e não Pedro Mesquita. Morreu num acidente há seis meses. Lamento,- disse estendendo-lhe o aparelho.
- Meu Deus! Então o seu abandono não foi propositado, como nós pensávamos. Pobre criança que não chegou a conhecer pai nem mãe.
Pedro não teve coragem para lhe dizer que o primo era um cafajeste, que nunca iria assumir o filho, porque se as suas intenções fossem nobres, não teria trocado o nome. Afinal o primo estava morto, não valia a pena manchar mais a sua memória. Olhou o relógio. Dezoito e quarenta e cinco. O dia estava a acabar, não tinha nada pendente, para acabar nesse dia. Tomou uma decisão.
- Veio de carro?- Perguntou
- Vim de metro.
- Pegue o bebé, eu levo isto, - disse agarrando a bolsa, onde ela carregaria decerto as coisas do menino. Venha, levo-a a casa.
-De modo algum. Já perdeu imenso tempo comigo.
- Não discuta comigo. Afinal a criança é filha de um empregado meu. De certa forma sinto-me responsável. E a senhora deve estar muito cansada.
Esperou que ela acomodasse o bebé numa espécie de bolsa, no colo, e depois apontou-lhe a porta, e seguiu-a. Ao passar pelo gabinete onde a sua secretária desligava o computador, e se preparava para sair despediu-se com um simples até amanhã, e seguiu para o elevador atrás de jovem


25.5.18

CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA - PARTE IV



- Catarina, era  quase uma menina. Apaixonou-se pelo Pedro, e esse amor foi-lhe fatal. Um dia, sem que nada o fizesse prever, ele desapareceu e nunca mais deu notícias. A minha irmã, ficou inconsolável. Perdeu a vontade de viver, só o filho fez com que sobrevivesse os últimos seis meses de gravidez.
- E o que a senhora pretende agora?
-Fazer com que o Pedro dê o seu nome ao menino. Mesmo que depois não queira saber dele, eu me arranjarei para que ele tenha uma vida o mais feliz possível.
Pedro sentiu vontade de acabar com aquela conversa ridícula.
-Bom; vamos acabar com isto. Não sei o que lhe deu na cabeça para me vir importunar com esta conversa sem pés nem cabeça. Nunca conheci a sua irmã e nunca desapareceria assim da vida de uma mulher que carregasse no ventre um filho meu, De modo que se era sua intenção extorquir-me dinheiro, com essa conversa, dê graças porque não chamo a polícia e a denuncio.
A jovem levantou-se. Tirou os óculos e encarrou-o de olhos faiscantes e rosto lívido.
- Compreendo que não tenha tempo a perder, mas isso não lhe dá o direito de ser agressivo e mal-educado comigo. Nunca quis tomar o seu tempo, apenas pedi à sua secretária que avisasse o senhor Pedro Mesquita de que precisava falar com ele. Nem sequer entendo porque veio importunar o diretor, presidente, ou lá o que o senhor é.
- Acontece que eu sou o único Pedro Mesquita que existe nesta firma, e provavelmente em toda a cidade.
O rosto da jovem, passou do pálido ao vermelho vivo em fração de segundos. As pernas tremiam-lhe, cambaleou e acabou por se deixar cai pesadamente na cadeira. 
Como se o bebé sentisse a tempestade que o rodeava, começou a chorar. Ela deu-lhe a chupeta, embalando-o suavemente e quando ele se calou falou enfim com voz cansada:
- Não entendo. O pai do menino, sempre se apresentou como sendo Pedro Mesquita, e disse-nos que trabalhava nesta firma. Se não trabalha aqui… ou foi despedido, ou nos enganou. Sendo assim, não faço aqui nada. Peço-lhe desculpa, pelo tempo que lhe roubei.
Tinha voltado a por os óculos. Os seus olhos castanhos estavam demasiado brilhantes, como se estivessem a ponto de chorar, mas o rosto estava calmo, e sereno, apesar de ter voltado a perder a cor. Poucas coisas nesta vida, conseguiam impressionar o frio homem de negócios, mas naquele momento, aquela mulher de ombros caídos e ar derrotado, conseguira-o.
De súbito ocorreu-lhe algo e sentiu um aperto no peito. Seria possível? Suavizou-se a sua expressão.
-Sente-se mais um pouco. – Ligou o interfone e pediu: - Rita, traga-nos um chá, por favor.
Voltou de novo a sua atenção para a jovem. A sensação inicial, de que se tratava de uma vigarista, que lhe queria aplicar um golpe, desaparecera ao ver a reação da jovem,  mas continuava intrigado com aquela insólita situação.
Rita entrou com a travessa e duas chávenas de chá, que pousou sobre a mesa.
- Pode retirar-se,- disse-lhe ele, sem deixar de olhar a mulher que tinha na sua frente.


Gente, acabei de chegar. Tivemos um dia de chuva intensa, venho cheia de dores, cansada mas aprendi imenso, sobre a nossa história. Vou jantar, tomar um comprimido para as dores, e depois passo pelos vossos cantinhos.

24.5.18

CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA - PARTE III




Trabalharam juntos até às dezassete. Pedro estava a pensar comprar um hotel em Albufeira. Tinha feito uma boa proposta e aguardava a resposta. Enquanto isso, estudava com o advogado todas as alternativas caso a resposta não fosse, a que esperava. Depois despediram-se e Ricardo saiu com a promessa de que o amigo iria à sua festa.
Dez minutos depois, foi interrompido pela sua secretária.
- Que se passa Rita? – Perguntou estranhando a entrada dela no gabinete sem ser chamada, nem trazer qualquer documento para assinar.
- Está lá fora uma mulher com um bebé ao colo. Exige falar com o nosso empregado Pedro Mesquita. Já lhe disse que não temos nenhum funcionário com esse nome, mas ela insiste, e diz que não se vai embora, sem falar com ele. Não sei que fazer. Disse-lhe que tinha de se ir embora, e respondeu-me que se a obrigasse a sair sem falar com o senhor Pedro Mesquita faria um escândalo. Então disse-lhe que ia marcar uma entrevista com o senhor Presidente, e respondeu-me que não quer falar com nenhum “manda-chuva” mas com um simples funcionário.
- Vamos acabar com isso. Mande-a entrar.
A secretária saiu e pouco depois uma jovem entrava no seu gabinete. Pedro observou-a de olhos semicerrados.
Tratava-se de uma mulher jovem, que aparentava pouco mais de vinte anos. De pequena estatura, vestia umas calças de ganga e um top de cor salmão, e calçava ténis. O cabelo castanho apanhado num coque deixava a descoberto um gracioso pescoço. Usava óculos, e tinha ao colo, um bebé adormecido. Notava-se que estava nervosa.
Pedro pôs-se de pé, e quase sorriu ao notar que a jovem se encolhia, como se estivesse temerosa de que lhe fizesse algum mal.
- Sente-se, - disse assinalando a cadeira em frente da enorme mesa. Esperou que o fizesse e só depois continuou: - A minha secretária disse-me que queria falar com o senhor Pedro Mesquita. Nunca foi hábito desta empresa que as mulheres viessem aqui em busca dos seus namorados ou maridos. Isto é um local de trabalho, não um local de encontros.
- E eu peço imensa desculpa, mas não sei onde mora esse funcionário e é urgente que fale com ele. A criança que tenho nos braços, tem direito a saber quem é o seu pai.
Ele franziu a testa. Aquela mulher só podia ser louca. Ele não a conhecia, nunca a tinha visto até ao momento, e ela afirmava que o filho era dele? Teve vontade de lhe pegar num braço e expulsá-la do edifício, mas a curiosidade de ver até onde ela ia, foi mais forte.
- Então a senhora afirma que essa criança é filha do Pedro Mesquita? – Perguntou sarcástico.
-Sim. A minha irmã não teve outro namorado.
- Sua irmã? O bebé não é seu filho?
- É sobrinho. Minha irmã teve uma gravidez de alto risco, passou sempre muito mal, e faleceu menos de um mês após o parto..
-Lamento muito, - disse sincero, apesar da raiva que sentia.  



Mau, o que será isto? Será que o Pedro tem um filho?

Nota :  Se eu estiver capaz, (melhorei da lombalgia mas estou com uma valente constipação) estarei todo o dia em visita de estudo em Vila Viçosa, pelo que só vos visitarei à noite.

23.5.18

CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA - PARTE II





Se Pedro era um homem bem-sucedido nos negócios, o mesmo não acontecia na vida privada, onde talvez por vontade própria era um lobo solitário. Jamais pensara em se casar, não tinha uma boa ideia das mulheres na generalidade, talvez porque a mãe trocara o marido e o filho pelo amor de outro homem, quando ele tinha apenas cinco anos e só voltara a saber dela, vinte e cinco anos mais tarde, quando lhe comunicaram a sua morte. Assim ele passava pela vida das mulheres, como o colibri pelas flores. Uns beijos, uns momentos de inebriante prazer, e levantava voo.
Cristina Amaral, era a exceção. A jovem pertencia a uma família tradicional, com mais nome que dinheiro, e durante um tempo no início da relação, ele pensou que talvez fosse a pessoa certa, para dar um novo rumo à sua vida. Não pensava no casamento como uma união de amor, mas sim de conveniência. Ele já tinha feito trinta e oito anos, e não tinha família. De que lhe valia ter criado um império, se não tivesse a quem o deixar? Estava na hora de casar, ter filhos.  Mas depressa se cansou da frivolidade da jovem, que estava mais interessada em desfilar com ele pelas festas, exibindo-o como um troféu, do que em prender-se num casamento. Na atualidade, Pedro procurava uma maneira de terminar a relação sem grandes problemas. Não suportava mais aquelas festas, onde o álcool corria desenfreado pelas gargantas, entorpecendo os sentidos e a razão. Nem as conversas sem nexo dos jovens amigos e companheiros de festas de Cristina.
Olhou o relógio. Dezasseis horas. O advogado devia estar a chegar.
Detestava que se atrasasse e parecia que ele fazia de propósito. Não fora Ricardo Araújo, um excelente advogado e um amigo desde o primeiro dia que assumiu os negócios e já o teria dispensado e contratado outro. Mas Ricardo era muito mais que um advogado. Era quase um irmão.
Ouviu-se uma pancada na porta. Pedro voltou-se a tempo de ver  assomar a cabeça da sua secretária que anunciava:
-O doutor Araújo.
- Boa tarde, – disse este entrando, enquanto Rita fechava a porta nas suas costas. - Desculpa o atraso, mas a culpa é do trânsito infernal, que atravanca esta cidade.
- Boa tarde, - respondeu Pedro aproximando-se de mão estendida. – Tens sempre a mesma desculpa. De vez em quando podias ser mais criativo.
- E que culpa tenho eu que ninguém resolva o problema do trânsito na cidade? Além disso, pagas-me para cuidar dos teus interesses. Se queres criatividade temos que rever o contrato, - disse rindo.
Ricardo Araújo, não era tão alto quanto o empresário, e apesar de não ter ainda quarenta anos estava já quase totalmente calvo. A sua pele tinha um tom claro, os olhos inteligentes e vivos, eram de um azul intenso, e tinha um sorriso fácil, que contrastava com o semblante sério do cliente e amigo.
- Decididamente não tens emenda. Não sei com a tua mulher te atura.
-Ela sabe que nem com uma candeia encontrava melhor. E a propósito, ela disse-me para te dizer que contamos contigo na nossa festa no sábado. 
- Que festa?- Perguntou surpreendido.
- Mau. Não me digas que não te falei, na festa do nosso aniversário de casamento.
-Que me lembre, não. 
- Então é no próximo sábado à noite. No hotel Tivoli. Nada de muita gente, apenas os melhores amigos. Suponho que vais com a Cristina, ou atualmente já é outra?
- É obrigatório ir acompanhado?
-Claro que não.
- Vou sozinho. Agora vamos trabalhar?


22.5.18

CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA - PARTE I


- Não Cris, hoje não pode ser. Vou ter uma reunião importante com o meu advogado, e depois vou para casa. Foi uma semana muito intensa, preciso descansar.
- Mas amor de há uns meses para cá nunca tens tempo para nada. A semana passada fui sozinha à festa da Micá. Se hoje apareço sozinha, na festa da Francisca, todas as minhas amigas vão reparar.
- E isso importa-te? Pois eu tenho mais com que me preocupar do que com as tuas amigas.
- Já não te importas comigo, é o que é. Pois vou-te dizer uma coisa.  Se não me acompanhares vou seduzir o homem mais bonito que por lá esteja. E depois não digas que não te avisei.
- Faz como entenderes. E desculpa mas tenho de desligar. Tenho um cliente ao telefone.
Desligou o telemóvel e levantando o intercomunicador, recomendou à sua secretária.
- Rita, se a menina Cristina Barbosa ligar, diga-lhe que acabei de sair. Não estou. Nem para ela nem para ninguém. Espero a vinda do doutor Araújo, faça-o entrar logo que chegue.
Pedro Mesquita  desligou o telefone, levantou-se  e caminhou até à janela. Era um homem alto, moreno, cabelo castanho, ligeiramente ondulado, que ele usava penteado para trás, deixando a descoberto uma testa alta.
Os olhos verdes, o nariz retilíneo e a boca bem desenhada, faziam dele um homem capaz de fazer suspirar muitas mulheres. Se aliarmos a tudo isso o extrato bancário da sua conta, não era de admirar que onde quer que fosse as mulheres andassem à sua volta como abelhas de roda das flores. Coisa com que ele lidara bem em tempos, mas que atualmente o aborrecia demais.
Pedro tinha trinta e oito anos, era um dos empresários de maior sucesso no ramo da restauração. Aos vinte e cinco anos herdara do pai um restaurante, em Setúbal, e parte de outro em Lisboa, que o seu pai mantinha em sociedade com o cunhado. Sob a sua gerência e com uma apurada visão para os negócios, naqueles treze anos, Pedro criara uma rede de restaurantes que se estendiam de norte a sul do país, e aumentara em muito a sua fortuna. O tio, que inicialmente fora seu sócio, morrera havia oito anos, e o seu filho Paulo Amado, pusera à venda, a sua parte no negócio. O seu  primo não se interessava pelos negócios, o que ele queria mesmo era dinheiro para gastar na borga, com os amigos e as mulheres. Naquela altura, Pedro já tinha ampliado o negócio, com a compra de outros restaurantes, e não dispunha de dinheiro líquido para comprar a parte do primo, pelo que teve que recorrer aos bancos, contraindo uma dívida que levara mais tempo  a pagar do que o primo levou a delapidar o que recebera. Depois, sem dinheiro, nem amigos, acabara por lhe pedir ajuda, e ele dera-lhe um emprego, ali nos escritórios, da empresa. Paulo falecera há seis meses num acidente de carro, quando conduzia em excesso de velocidade completamente alcoolizado.


21.5.18

CONVERSANDO COM O LEITOR


Mais uma história chegou ao fim. Terá agradado a uns e não a outros o que é normal, mas foi a história mais difícil que escrevi até hoje, porque eu tinha escrito uma história a ser publicada em 28 dias que se chamava "A promessa". Nela o Carlos casar-se-ia com a Luísa, que carente pela morte do marido se apegaria a ele, enquanto ele cumpriria a sua promessa com o coração sofrendo de amor pela Emília. De vez em quando eu penso escrever uma história que não acabe bem, e esta era uma delas. Acontece que  quando vos pedi um título para a história, a grande maioria escolheu  "Renascer". Então disse-vos que eu escolhera "A Promessa" e perguntei qual dos dois preferiam. "Renascer" foi a vossa escolha clara. 
Esse titulo não encaixava na história que eu tinha idealizado, e vai daí apaguei tudo, a partir do capítulo XV e mudei toda a  trama, acabando  por torná-la diferente e bem mais longa. 
Depois quero dizer-vos que apesar da história ser ficção, baseou-se em alguns factos reais.  
Por exemplo começa por dizer que Salazar já tinha caído da cadeira mas ainda estava no governo. E isso foi real no final de Agosto de 1968, data em que situei o início desta novela.
Já morreu um primo meu, que foi gravemente ferido no norte de Angola, e que esteve vários meses inconsciente num hospital de Angola, após meus tios terem recebido um telegrama com a notícia da morte dele, em Março de 1965. Não era fuzileiro, mas do exército, e não perdeu a memória, mas todo o tempo que esteve em coma, a família chorava a sua morte, e a minha tia mandava rezar missas pela sua alma.  O acidente na ponte da vila de Peso da Régua, também foi real, aconteceu em Maio de 1964, quatro anos antes do Carlos a minha personagem, ter recuperado a memória, exatamente como a Emília lhe diz. 
A decisão da Luísa de manter uma viuvez até ao fim dos seus dias, incompreensível nos dias de hoje, não era caso raro na época. Minha tia Palmira, recentemente falecida, ficou viúva em 1969 com dois filhos pequenos e assim se manteve até à morte. Uma amiga minha casada com um pescador de bacalhau do navio Creoula, Também ficou viúva nos anos 60 com uma menina de dois anos e outra de poucos meses. Vive aqui perto e ainda hoje já bisavó, guarda a memória do marido na viuvez que mantém. 
As festas de Nossa Senhora do Socorro também acontecem em Agosto. Os guardas-florestais, também existiam, meu tio João, foi-o no parque florestal de Monsanto,  e a casa que eu descrevo era a sua casa, bem como a mítica fábrica de gelados  Rajá que ali existia. Esses gelados foram tão famosos na época, que ninguém dizia que ia comprar um gelado, mas que iam comprar um Rajá, fosse qual fosse o gelado, ou a marca. Finalmente a notícia  e a canção no capítulo final que todos sabem foi o sinal para a Revolução do 25 de Abril. Estes são os factos reais em que me inspirei para escrever esta novela. O resto é ficção.
Resta-me acrescentar que a vila de Peso da Régua, ou simplesmente Régua, foi elevada a cidade em 1985.
Espero que tenham gostado.



Um bem haja a todos os que têm perguntado pela minha saúde. Fiz exames na Sexta-feira. O resultado  demora oito dias. Entretanto desde ontem, quase não tenho tantas dores. Penso que o pior já passou. Vamos ver.

15.5.18

RENASCER - XXXVIII







Vejo que estão todos a achar lenta esta história. Lembrem-se que estamos em 1969. Nesse tempo as únicas coisas rápidas que existiam eram os ritmos musicais.  Posso garantir-vos uma coisa. Já leram muito mais do que aquilo que falta. 




RENASCER - XXXVII





Obrigado a todos os que me deram os parabéns, mas o livro é uma Antologia de vários poetas, onde colaboro com dois poemas que na imagem não estão completos, mas que eu já publiquei neste espaço pelo que alguns já conheciam. 

Se quiserem lê-los na integra, aqui têm os links

LOUCA PERIGOSA

SE EU TIVESSE CORAGEM

14.5.18

RENASCER - XXXVI







E hoje foi um dia especial. estive em Lisboa no lançamento de uma antologia de poesia, onde participo com dois poemas,
Mostro aqui o livro bem com a primeira parte dos poemas, pois os dois ocupam quatro páginas.