EPÍLOGO
-Agora que já nos conhecemos, aceitas sair comigo? - perguntou Ricardo
-Para onde? – perguntou Isabel.
- Por aí, ao sabor do destino. Estamos no mês de Junho, e em Lisboa há um arraial em cada esquina. Amanhã é sábado, não
precisamos levantar cedo. Podemos ir até um bar, ou simplesmente passear junto
ao Tejo de mãos dadas. Tu decides.
- Dá-me cinco minutos para mudar de roupa, não me parece
que estejamos adequadamente vestidos para esse tipo de programa.
- Muito bem, eu também vou.
Meia hora depois, os dois de calças de ganga e T-shirt passeavam
de mãos dadas, junto ao Tejo, admirando os reflexos das luzes nas águas calmas
do rio, misturando-se com os pares de namorados que por ali andavam.
Mais tarde, nessa noite, fizeram amor como nunca tinham
feito. Apaixonadamente sim, mas também com muita ternura. Porque já não eram apenas os corpos que estavam em sintonia, nem o desejo que os unia. Nessa noite, os dois eram
realmente um só de corpo e alma, unidos pelo sublime sentimento do amor. Mais tarde, deitados, os dois nus em cima dos
lençóis, perfumados pelas pétalas de rosa, Ricardo disse, acariciando a cabeça
que repousava no seu peito.
- Sempre foi muito bom, mas hoje foi maravilhoso. Saber
que nos amamos mudou tudo. Despoletou emoções, intensificou sensações, transformou o bom em ótimo.
Ela não respondeu, e de repente ele ficou inseguro:
- Não foi assim contigo? - questionou
Ela levantou a cabeça e beijou-o
- Sabes que foi. Simplesmente de repente ocorreu-me um
pensamento. E se algum dia o teu irmão descobre a verdade sobre a Matilde?
- Nunca o saberá. Se a Susana te disse que o encontrou e
ele fingiu não reconhecê-la, não vai querer saber nada dela. Deve ter medo que
a esposa descubra alguma coisa, e o deixe, já que o sogro é um homem muito rico, e a mulher é a única herdeira. É um bandalho, toda a vida tentou prejudicar-me, mas desta vez, o céu trocou-lhe as voltas. Deus escreveu direito por linhas tortas, como se costuma dizer, pois graças à sua canalhice, hoje temos uma filha maravilhosa, estamos juntos e felizes. E ainda que um dia nos encontre, ele nunca te
conheceu nem sabe quem és. Não te preocupes, a Matilde é tão nossa filha,
quanto os outros que me deres – disse beijando-a de novo e puxando-a suavemente
para cima dele.
-Olá, hoje temos dose dupla - disse ela rindo
-Tu mereces, - respondeu segundos antes, da sua língua chegar
ao mamilo dela.
Em seguida as palavras transformaram-se em gemidos e ela
mergulhou num mar de sensações que a percorriam da cabeça aos pés.
No dia seguinte,
enquanto tomavam o pequeno-almoço, Ricardo disse:
- E se deixássemos a Matilde mais um dia com os avós e
ficássemos com o dia para namorar? Uma espécie de mini lua-de-mel em qualquer
sítio bonito. Achas que eles se importariam?
-Aqueles dois? Ficavam lá com ela nem que fosse a semana inteira. Adoram-na. O meu receio é que ela estranhe. Uma noite já ficou outras vezes, mas
duas?
- Vamos vê-la e falamos com eles. Se ela chorar, telefonam e voltamos.
Não chorou, e eles passaram um dia maravilhoso na Ericeira, e uma noite de sonho, no hotel Vila Galé.
E se ambos pensavam que não poderiam ser mais felizes, descobriram o seu engano, um ano depois, quando o médico na sala de partos, levantou a bebé e a apresentou dizendo-lhes:
- Pais, eis a vossa filha. Parabéns. É uma bela menina.