Chegou ao restaurante, cinco minutos antes da hora
marcada, mas não antes do amigo que já se encontrava na sua mesa habitual, num
recanto mais afastado, mas de onde podia observar todo o movimento. Há anos que
Ricardo ali almoçava quase diariamente, e não raro com clientes, razão de ter
sempre aquela mesa reservada. Vendo o amigo aproximar-se, levantou-se para o
receber com o social aperto de mãos. acrescentou.
- Fiquei surpreendido com a tua urgência em nos
encontrarmos, tanto mais que fiquei com a estranha sensação de que não vamos
falar de trabalho. Penso que correu tudo bem no Algarve e que já posso dar-te
os parabéns pela nova aquisição.
Nesse momento o empregado, a quem Ricardo tinha dito
quando entrou que esperava um cliente, aproximou-se com a ementa.
Ricardo pediu um bife à Marrrare, Pedro optou por bacalhau
à Lagareiro. Para beber, optaram por vinho tinto, tendo o primeiro escolhido
Esporão, o segundo, Fonte do Ouro Touriga Nacional.
- Preciso da tua ajuda, - disse Pedro assim que o
empregado se afastou. Mas antes tenho que te contar algo estranho que se passou
logo depois de teres saído, no último dia que estiveste lá na empresa. Apareceu
por lá uma mulher com uma criança ao colo, dizendo à Rita que queria, porque
queria, falar com Pedro Mesquita. Ela disse-lhe que não era possível falar comigo
sem marcação, mas a mulher afirmava que não queria falar comigo, sim com um
simples empregado com esse nome. Sem saber o que fazer a Rita disse-me
o que se passava, e eu que no momento até estava bem-disposto, resolvi
recebê-la e saber o que ela queria. E não é que ela queria que o Pedro Mesquita
soubesse que era o pai do bebé?
- O quê? – Perguntou Ricardo quase gritando, E logo
baixando a voz, perguntou: Mas tu conhecia-la?
- Claro que não. A princípio pensei que era uma
oportunista, tentando vigarizar-me, mas a mulher insistia que não entendia porque
havia de falar comigo, ela queria falar com um simples empregado. Mostrou-me uma fotografia da irmã com o namorado, antes de ele ter
desaparecido. E então percebi que se tratava da última gracinha do meu primo. Sabes
como o Paulo era, e a mania que tinha de se apresentar com o meu nome.
- Sei, mas que tinha o namorado da irmã a ver com o filho
da tal mulher?
- Sobrinho, a criança era o filho da irmã. Segundo me contou, a irmã teve uma
gravidez de alto risco e não sobreviveu ao nascimento do filho.
- Entendo. E o que é que ela quer?
-Nada. Depois que lhe disse que aquele jovem, tinha trabalhado na firma,
mas falecera havia seis meses, num acidente, disse que então não fazia ali nada
e despediu-se.
-Assim?
-Bom, eu levei-a a casa. Ainda lhe perguntei se não me
oferecia um café, mas desculpou-se e nunca mais a vi.
Calou-se ao ver que o empregado se aproximava com os
pratos.