- Lena, já passa das dez e meia. Não te esqueceste da
reunião na escola, pois não?
- Meu Deus, já? Estava distraída, com o inventário dos bens
do caso Mendes verso Correia. Tenho que resolver isto esta semana. Mas agora
tenho mesmo que ir. Até logo, Rita.
Saiu, meteu-se no automóvel e dirigiu-se à escola. Ficou
aborrecida ao chegar e verificar que não tinha lugar para estacionar no parque
frente à mesma. Deu uma pequena volta e estacionou numa transversal ali perto.
A caminho da entrada olhou o relógio. Estava quase em cima da hora e ela
detestava chegar atrasada. Apressou o passo e ao dobrar a esquina para entrar
na zona da escola chocou com um homem que vinha em sentido contrário, trazendo
uma menina pela mão. Teria caído se ele não a tivesse segurado.
- Está bem? – perguntou ele
- Desculpe, a culpa foi minha, estou atrasada, vinha quase
a correr - disse ela levantando os olhos para ele.
Nesse momento, o seu rosto empalideceu, sentiu que as pernas lhe
tremiam, mas num enorme esforço de vontade, desprendeu-se dos seus braços, e
correu para o portão da escola.
-Que mulher maluca! - disse a menina e dando a mão ao homem
que continuava estático olhando o portão da escola, perguntou:
-Vamos?
-Vamos sim, Princesa, a tua mãe já deve estar a
perguntar-se porque nos demoramos tanto.
- A mãe não sabe que
vou contigo. Ia ligar-lhe quando soube que não tinha as duas últimas aulas, mas
então vi-te a saíres da sala de reuniões e já não o fiz.
Entraram no carro e a caminho de casa, ele perguntou:
-Conheces todas as professoras da escola, Sara? Aquela
mulher é professora?
-Tenho a certeza que não. Nunca a vi antes. Mas hoje é dia
de reunião de pais. Deve ser alguma mãe, que ia para a reunião das onze.
Porquê?
-Curiosidade, Sara. Apenas isso.
Não voltou a falar até chegarem a casa. Gonçalo estava
inquieto. Só tinha segurado aquela mulher durante breves segundos, mas a
sensação que teve foi muito estranha. Como se de algum modo, o seu destino
estivesse ligado ao daquela desconhecida.
Chegaram. Mal teve tempo de estacionar, em frente da
moradia e já uma jovem mulher abria a porta de casa.
- Já em casa, Sara? – perguntou admirada
- Não tinha as duas horas de Inglês. Ia telefonar-te, mas
então vi o tio Gonçalo a sair da reunião e vim com ele. O mano?
- Está a dormir.
Vamos entrar. Gonçalo, quero que me contes tudo sobre a reunião. Como
está a Sara nos estudos?
- Não tens razões para estar preocupada. A tua filha é uma
ótima aluna. Vai ter excelentes notas como sempre.
-Obrigado. Não sei o que seria de nós sem ti. Vamos entrar?
Afastou--se para deixar entrar a filha e o irmão, fechando a porta em seguida.
- Mãe, vou para o meu quarto fazer os TPCS. Almoças
connosco, tio?
- Se a tua mãe me convidar, - respondeu o homem sorrindo.
- E desde quando, é preciso convidar-te? Não tens hospital hoje? – perguntou Laura.
Finalmente ontem levei a primeira dose da AstraZeneca. Mas ainda tive que ir buscar mais um documento ao meu centro médico. Hoje tenho uma nova ida ao hospital para uma consulta de pneumologia. Não me tem sido possível visitar-vos. Ou melhor tenho lido alguns dos vossos posts nas salas de espera, mas não consigo comentar através do telemóvel. Penso conseguir voltar ao normal no próximo fim de semana