Há seis meses que era a secretária de Gabriel Santana. Conhecia a fama de predador sexual, do patrão, muito antes de ir trabalhar para a empresa. Daí tivera a ideia de se apresentar o mais insignificante possível. Naqueles seis meses, já revistara aquelas gavetas dezenas de vezes, sem nunca ter encontrado nada que o pudesse incriminar. Sabia é claro, que qualquer prova estaria no cofre. Mas quem sabe, às vezes um esquecimento lhe deixasse ver qualquer coisa que a levasse a confirmar as suas suspeitas de que o empresário era um homem sem escrúpulos, capaz de tudo nos negócios, mesmo que isso não tivesse nada a ver com o desfalque pelo qual o pai fora preso. Serviria pelo menos para dar força às suas suspeitas, e tentar por todos os meios apanhá-lo. Mas não. Tudo certo, tudo legal. E ela sentia-se impotente, e muito cansada. Não sabia por quanto tempo mais aguentaria aquela pressão. E o pior, hoje é sexta-feira, há uma festa na academia de dança para angariação de fundos, todos vão ter que estar presentes, e ela sente-se devastada. Amanhã será dia de visitar o pai, e é sempre muito doloroso, ver como ele se encontra. Olhou o relógio. O patrão não voltara até aquela hora, por certo já não voltaria, devia ter encontrado algum rabo de saia, com que se entreteve. Não interessa, está na hora de saída, precisa ir.
Às vinte e duas horas tem que estar na academia, e antes precisa tomar um banho relaxante e descansar um pouco.
Acabava de abrir a porta para sair, quando Gabriel chegou:
- Onde pensa que vai? Venha ao meu gabinete!
Ficou furiosa.
- O meu horário de trabalho terminou há cinco minutos.
-Mas, preciso de si agora. Pegue o bloco e acompanhe-me.
Era arrogante e prepotente. Ela sentiu que o sangue lhe subia ao rosto.
-Desculpe senhor, mas terá que ficar para segunda-feira. Hoje não me posso atrasar.
Fitou-a furioso.
- Para quê tanta pressa? Decerto não tem nenhum encontro amoroso, - disse olhando-a depreciativo.
- O que faço nas minhas horas livres, só a mim me diz respeito. Boa-tarde.
Virou-lhe as costas.
- Se sair agora considere-se despedida! – disse-lhe quando ela já atravessava a porta.
Voltou-se e pela primeira vez desde há seis meses, fitou-o bem nos olhos.
- Não creio que a lei me obrigue a trabalhar depois da hora de expediente, senhor. Mas podemos sempre recorrer ao tribunal de trabalho.
E saiu deixando-o perplexo e furioso.