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30.5.18

CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA - PARTE X




- E ela não achou estranho que o namorado da irmã lhe tivesse dado um nome falso? – Perguntou Ricardo quando o empregado se afastou.
- Não. Ela estava nervosa, e ou não pensou nisso, ou terá julgado um pormenor sem importância, uma vez que o homem em causa estava morto.
-Suponho que não lhe disseste que era um teu familiar.
-Claro que não.
-Bom. Confesso que não descortino a razão por que precisas de mim se o assunto está arrumado. Ou não está? – Perguntou o advogado perscrutando o rosto do amigo.
- De facto não. Contratei o Abílio Morais, para investigar a jovem e a família. Segundo o seu relatório, a jovem que morreu era uma moça sossegada que só teve um namorado. O rapaz desapareceu quando soube que ela estava grávida. Isso prova que realmente o bebé é filho do Paulo, e portanto o único membro vivo da minha família, além da sua avó, minha tia, que depois da morte do filho definha dia a dia.
- E…
- E eu pensei que quero aquele bebé comigo, quero proporcionar-lhe uma educação condigna e fazer dele um homem melhor do que foi o seu pai.
A surpresa estampou-se no rosto do advogado, que quase se engasgou com o pedaço de bife que acabava de meter na boca.
- Estás doido? Como pensas conseguir isso? Com que argumentos? Ou será que … pensas comprá-lo? Sabes que isso é crime?
- Não pretendo fazer nada ilegal, até parece que não me conheces. O que pensei é muito simples. Estou a caminhar para os quarenta, sou um homem rico, mas solitário. Pensei propor casamento à tia do menino. Depois de casados adoto o bebé e posso fazer dele meu herdeiro.
Desta vez, a surpresa foi ainda maior.
- Por amor de Deus, Pedro. Vamos acabar a refeição e depois vamos para o meu escritório. Se continuamos esta conversa aqui, vou acabar por morrer engasgado.
-Não tinhas, muito trabalho hoje?
-E achas que vou conseguir fazer alguma coisa depois de teres largado essa bomba?
Pedro não respondeu. O seu rosto não demonstrava nenhuma emoção, apenas os olhos verdes mostravam a determinação que lhe ia na alma.
- Vais querer sobremesa? – Perguntou Ricardo quando o empregado se aproximou para retirar os pratos.
- Só café.
- Dois cafés, e a conta por favor.
Pouco depois, bebido o café e tendo pago a refeição, os dois levantaram-se e seguiram para o escritório do advogado situado a menos de cinquenta metros do restaurante


E estamos a caminho do comentário número 33 000
Muito Obrigada

16.3.18

A TRAIÇÃO - PARTE XXIII



Durante mais de uma hora viajaram calados. Odete olhava pela janela como se a sua vida dependesse da paisagem que rodeava a estrada. João conduzia atento ao trânsito. Por fim ela quebrou o silêncio.
- A tua mãe teria gostado que ficássemos para o almoço.
- A minha mãe é muito arguta. Se estivéssemos umas horas com ela ia perceber que não estamos felizes.
- Mas querias ir à praia. Pensei que só vínhamos mais tarde.
- Na praia estávamos longe dos seus olhares.
- Não te entendo. Se tinhas tanto medo que ela percebesse, alguma coisa, porque viemos?
- Porque já tinha combinado vir antes do teu regresso. E já não aguentava mais, ela querer saber de ti. Estiveste ao telefone com a tua mãe?
- Não. Tu deste-me notícias, e se vou estar com ela quando chegar, não valia a pena telefonar.
- Há uma coisa que quero que dizer-te. Enquanto estiveres na nossa casa, não quero encontros com outro homem. Nem telefonemas ou e-mails.
Revoltou-se. O que é que ele estava a insinuar? Acaso julgava que ela era capaz de ter um amante?
- O bom julgador por si se julga, - atirou mordaz
Travou repentinamente, provocando um solavanco que a assustou.
- Estás doido? Queres matar-nos?
- O que é que disseste?
- Eu? Nada que tu não saibas.
Apertou-lhe o braço com a força, olhando-a furioso.
- Larga-me. Estás a magoar-me.
Soltou-a e reparou na mancha vermelha no braço.
- Desculpa, -disse voltando a pôr o carro em movimento. -Não voltará a acontecer. Não é hora nem sítio para conversas desta natureza.
Na sua cabeça ecoava a frase que lhe ouvira. Que quereria dizer com aquilo. Ela é que o abandonara, sem ele sequer imaginar porquê, e punha as culpas nele? Em dois dias era a segunda vez que lhe mandava uma indireta como se ele fosse o culpado pela separação. O que é que ele fizera além de amá-la, e de trabalhar como um louco? Talvez porque dispunha de pouco tempo para ela? Mas  se era por ela que trabalhava tanto. Para lhe pagar os estudos lhe comprar roupas caras, lhe dar jóias. Pensava que dando-lhe tudo isso, compensaria a diferença de idade, e faria com que não se interessasse por nenhum homem mais bonito e mais jovem.   Decididamente não entendia as mulheres. Primeiro foi Inês, que se fingia apaixonada por ele e o traía. E que depois de divorciada, lhe fez uma marcação cerrada, jurando arrependimento, para uns meses depois voltar a casar. Só não caíra na sua teia, porque o amor que dedicava à mulher era mais forte do que qualquer outro sentimento que experimentara na vida. E depois Odete, que ele julgara diferente, que amara com todo o seu ser, e que sem uma explicação o abandonou, transformando a sua vida num verdadeiro inferno. Ninguém a não ser o seu amigo Manuel, sabia o quanto ele estivera à beira do abismo. A ele agradecia o ter conseguido superar o seu desespero e voltar a dedicar-se de corpo e alma à profissão. Muitos o invejavam, pelo seu sucesso profissional. Ele trocá-lo-ia pelo amor da mulher, sem a mínima hesitação.