Atendeu ao terceiro toque.
- Olá Teresa, que feliz coincidência. Estava a pensar
ligar-te para saber como estás.
-Estou bem, mas preciso falar contigo. Podes vir a minha
casa?
- Claro, vou já para aí. Mas … aconteceu alguma coisa?
- Nada de grave, só que preciso de conversar contigo, ainda
hoje.
- Vou a caminho, até já.
Desligou a chamada, e pouco depois Inês entrava com um
tabuleiro com o jantar.
- Acabei de telefonar ao João Teixeira. Uma vez que vou ser
internada amanhã, quero falar com ele hoje,
e não é notícia que se dê por telefone - disse sentando-se e enquanto a
amiga lhe ajeitava as almofadas nas costas para lhe por o tabuleiro com o
jantar no colo.
- Bom, então é hoje que eu vou conhecê-lo. Mas agora quero
isso tudo comido antes que arrefeça, ou que ele apareça e já não comas. Sabes
bem o que a médica disse. E não te
preocupes nem tentes levantar-te, que eu abro a porta quando ele chegar. Entretanto vou telefonar
ao Gustavo.
- E fizeste alguma coisa para o teu jantar? – perguntou
Teresa, quando a amiga já ia saindo do quarto.
- Não te preocupes, encomendei uma pizza, deve estar a
chegar.
Dois minutos depois a campainha tocou e logo depois Inês
apareceu com a caixa da pizza na mão.
-Vou jantar enquanto a tua visita não chega.
Quinze minutos depois, quando João chegou, já Teresa tinha
jantado, e encontrava-se no leito, meio deitada meio sentada, recostada em
almofadas. Ela tinha desejado levantar-se
e recebê-lo na sala, mas Inês não deixou, argumentando que ela não tinha que
ter vergonha, afinal no dia seguinte seria internada e ele decerto iria vê-la
deitada no hospital.
Se ele estranhou ver uma desconhecida abrir-lhe a porta,
não o demonstrou. Limitou-se a dizer:
-Boa noite. Venho visitar a menina Teresa Sobral.
-Boa noite. Venha, ela está à sua espera.
Inês acompanhou-o ao quarto e preparava-se para se retirar
quando Teresa lhe pediu para ficar.
- João, apresento-te a minha melhor amiga e comadre, Inês Machado. Inês, este é João Teixeira, o pai biológico.
Esperou que os dois se cumprimentassem, e continuou.
-João, o que tenho para te contar não é fácil por isso
prefiro que a Inês fique aqui. Mas por favor sentem-se - disse indicando com a
mão a cama. Desde há duas semanas que não me sentia muito bem, mas desde
sábado, praticamente tenho vomitado tudo o que como. Tinha-te dito que iria
marcar consulta com a minha ginecologista, mas ela está de férias, então a Inês
conseguiu consulta com a médica dela. Tive consulta esta tarde e… nem sei como
dizer-te.
- Que se passa? Alguma má formação do bebé? Tens que
abortar? – perguntou levantando-se.
-Não. O que se passa, é que em vez de um bebé, eu estou a gerar três; e como ultimamente tenho passado mal e não tenho conseguido alimentar-me como deve ser, tenho perdido peso e a médica
quer internar-me amanhã, pois se não recuperar rapidamente peso, posso vir a
abortar.
- T…rês? – Gaguejou ele deixando-se cair pesadamente sobre a cama. - Meu Deus! Tens a certeza?
-Temos. Ouvimos os seus corações a bater - disse Inês.
- Mas porque é que vais ser internada?
- Porque é uma gravidez de alto risco, a médica diz que
preciso repouso absoluto, ganhar peso e ter alguém que cuide de mim, e não
tenho ninguém.
- Eu cuido de ti. A Inês arranja uma mala com aquilo que
achares que precisas, e vais comigo. Amanhã acompanho-te à médica e
pergunto-lhe se podes ficar em casa. Sabes que tenho um posto médico com
enfermeira diariamente e médico uma vez por semana, no edifício. Pois bem ela cuidará de ti
de dia e contratarei outra enfermeira para a noite. Não te
preocupes vai correr tudo bem.