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12.10.20

CILADAS DA VIDA - PARTE XLIV



Atendeu ao terceiro toque.

- Olá Teresa, que feliz coincidência. Estava a pensar ligar-te para saber como estás.

-Estou bem, mas preciso falar contigo. Podes vir a minha casa?

- Claro, vou já para aí. Mas … aconteceu alguma coisa?

- Nada de grave, só que preciso de conversar contigo, ainda hoje.

- Vou a caminho, até já.

Desligou a chamada, e pouco depois Inês entrava com um tabuleiro com o jantar.

- Acabei de telefonar ao João Teixeira. Uma vez que vou ser internada amanhã, quero falar com ele hoje,  e não é notícia que se dê por telefone - disse sentando-se e enquanto a amiga lhe ajeitava as almofadas nas costas para lhe por o tabuleiro com o jantar no colo.

- Bom, então é hoje que eu vou conhecê-lo. Mas agora quero isso tudo comido antes que arrefeça, ou que ele apareça e já não comas. Sabes bem o que a médica disse.  E não te preocupes nem tentes levantar-te, que eu abro a porta quando ele chegar. Entretanto vou telefonar ao Gustavo.

- E fizeste alguma coisa para o teu jantar? – perguntou Teresa, quando a amiga já ia saindo do quarto.

- Não te preocupes, encomendei uma pizza, deve estar a chegar.

Dois minutos depois a campainha tocou e logo depois Inês apareceu com a caixa da pizza na mão. 

-Vou jantar enquanto a tua visita não chega.

Quinze minutos depois, quando João chegou, já Teresa tinha jantado, e encontrava-se no leito, meio deitada meio sentada, recostada em almofadas.  Ela tinha desejado levantar-se e recebê-lo na sala, mas Inês não deixou, argumentando que ela não tinha que ter vergonha, afinal no dia seguinte seria internada e ele decerto iria vê-la deitada no hospital.

Se ele estranhou ver uma desconhecida abrir-lhe a porta, não o demonstrou. Limitou-se a dizer:

-Boa noite. Venho visitar a menina Teresa Sobral.

-Boa noite. Venha, ela está à sua espera.

Inês acompanhou-o ao quarto e preparava-se para se retirar quando Teresa lhe pediu para ficar.

- João, apresento-te a minha melhor amiga e comadre, Inês Machado.  Inês, este é João Teixeira, o pai biológico.

Esperou que os dois se cumprimentassem, e continuou.

-João, o que tenho para te contar não é fácil por isso prefiro que a Inês fique aqui. Mas por favor sentem-se - disse indicando com a mão a cama. Desde  há duas semanas que não me sentia muito bem, mas desde sábado, praticamente tenho vomitado tudo o que como. Tinha-te dito que iria marcar consulta com a minha ginecologista, mas ela está de férias, então a Inês conseguiu consulta com a médica dela. Tive consulta esta tarde e… nem sei como dizer-te.

- Que se passa? Alguma má formação do bebé? Tens que abortar? – perguntou levantando-se.

-Não. O que se passa, é que em vez de um bebé, eu estou a gerar três; e como ultimamente tenho passado mal e não tenho conseguido alimentar-me como deve ser, tenho perdido peso e a médica quer internar-me amanhã, pois se não recuperar rapidamente peso, posso vir a abortar.

- T…rês? – Gaguejou ele deixando-se cair pesadamente sobre a cama. - Meu Deus! Tens a certeza?

-Temos. Ouvimos os seus corações a bater - disse Inês.

- Mas porque é que vais ser internada?

- Porque é uma gravidez de alto risco, a médica diz que preciso repouso absoluto, ganhar peso e ter alguém que cuide de mim, e não tenho ninguém.

- Eu cuido de ti. A Inês arranja uma mala com aquilo que achares que precisas, e vais comigo.  Amanhã acompanho-te à médica e pergunto-lhe se podes ficar em casa. Sabes que tenho um posto médico com enfermeira diariamente e médico uma vez por semana, no edifício. Pois bem ela cuidará de ti de dia e contratarei outra enfermeira  para a noite. Não te preocupes vai correr tudo bem.

 

 

 

28.5.20

ISABEL - PARTE XII




Foto minha


Terminada a chamada dirigiu-se à casa de banho com uma pequena bolsa, na qual guardou os seus objectos de higiene pessoal.
Depois de transportar tudo para o carro, percorreu a casa a ver se tinha esquecido alguma coisa,  colocou os óculos escuros, guardou o telemóvel na bolsa que colocou a tiracolo, pegou  nas chaves e saiu. Tocou a campainha do lado e entregou à senhora as chaves da casa. Esta desejou-lhe boa viagem e deu-lhe um cartão com o número do telefone. “ Pode precisar quando voltar para estes lados” disse.
Isabel agradeceu e finalmente meteu-se no carro e subiu a rua em direcção à parte alta da cidade. Aí poderia seguir para a A 22 a chamada “via do Infante”, mas Isabel pretendia tomar o rumo contrário e seguir em direcção à Avenida dos Descobrimentos, vulgo marginal. Queria olhar a baixa e o mar pela última vez. Sairia da cidade no final da avenida em direcção do Chinicato, e aí entraria na "via do Infante".
E foi o que fez. Passou pelo parque de campismo, viu a estátua de S. Gonçalo, o beato lacobrigense, padroeiro da cidade, situada por cima da praia da Batata, passou pelo forte Pau da Bandeira, pelo Castelo dos Governadores, lançou um último olhar ao arco sob as muralhas do Castelo, onde segundo a lenda, nasceu São Gonçalo passou pela praça do Infante D. Henrique, procurando um local onde pudesse estacionar. Conseguiu o tão precioso lugar bem em frente do mercado municipal quase por trás do banco onde estivera sentada no dia anterior.




Foi até à muralha, e admirou mais uma vez o movimento na ria. Depois e antes de atravessar a avenida, fotografou o monumento aos navegadores aí colocado a meio da avenida. Era uma estátua composta por três peças em caracol, com uma pequena bola vermelha na peça do meio. Isabel esboçou um sorriso, ao lembrar quando chegou e perguntou a uma idosa local o significado do monumento.
- "Sinceramente não sei, menina. Há quem diga que é  um monumento de homenagem aos homens do mar. Que significa  as ondas e uma bóia. Coisas de artista sabe? A mim parecem-me três fatias de torta com uma cereja."
Atravessou a avenida, e dirigiu-se a uma pastelaria. Pediu uma sandes e um sumo. Por fim bebeu um café, pagou e saiu. Dirigiu um último olhar para a Praça Gil Eanes e decidida rumou ao carro e iniciou a viagem de regresso.

Mais de duas horas depois, estacionava o carro na área de serviço de Palmela. 

Não se vê nesta minha imagem, mas aquele elemento do meio tem no lado contrário uma pequena bola vermelha. 

5.5.20

À MÉDIA LUZ - PARTE XV




Quase dois meses depois, pouco passava das dezassete horas, quando o inspetor ligou.
Sandra passou a chamada para Gabriel, e ficou ansiosa para saber se havia alguma novidade, mas não se atreveu a entrar no gabinete sem ser chamada. Minutos mais tarde, a luz na sua secretária acendeu-se e ela levantou-se e entrou no gabinete dele. Não perguntou nada, mas a interrogação estava patente nos seus olhos.
- Nada de concreto, mas parece que o Pedro detetou qualquer coisa numa das vídeo gravações, quer que eu veja e o esclareça. Combinei ir a sua casa, logo à noite. Queres ir?
- Não. Não trabalhava cá na altura, não sei como poderia ser útil. Precisas de alguma coisa?
- Não. Sabia que estavas ansiosa, por isso te chamei. Nada mais por agora.
Ela saiu. Estava quase na sua hora de saída, devia começar a arrumar as coisas, mas só pensava, no que seria, que o inspetor tinha encontrado. Algum dia, conseguiria provar a inocência do pai, e limpar o seu nome? Coitado do pai.  Estava cada dia mais abatido, cada dia mais desiludido com a justiça. Por isso ela preferiu não lhe contar nada, nem mesmo quando ele lhe disse que um inspetor o tinha visitado, e feito uma série de perguntas. Tinha medo de lhe criar ilusões que não se concretizando, só serviriam, para um maior sofrimento.
Por fim fechou o computador, arrumou as pastas, fechou gavetas, e pegando na mala, saiu.
Ainda precisava passar pelo supermercado, para fazer umas compras. Depois iria mergulhar na rotina de todos os dias. Desde que seu pai fora condenado, a vida de Sandra virou do avesso. Teve que abandonar o seu sonho de vir tornar-se profissional de dança, de entrar em competições, ganhando dinheiro para abrir a sua própria academia; e procurar emprego.  As visitas ao pai, o desejo de conseguir provar a sua inocência, o emprego na empresa onde o pai trabalhara, e por fim aquela apresentação na academia, que voltou a baralhar tudo, mostrando-lhe uma faceta do seu chefe, com a qual nunca sequer sonhara, mas que calou fundo na sua alma sofrida e a conquistou.
Acabara de arrumar a cozinha. Olhou o relógio. Dez horas. Será que ele vinha esta noite? E se viesse traria boas notícias? Como respondendo à sua pergunta a campainha fez-se ouvir e ela apressou-se a ir abrir a porta.






30.11.18

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE XIX


Acabara de fazer a mala. Pegou no telemóvel e fez uma chamada.
- Mãe vou a caminho do aeroporto. Parto dentro de duas horas, com destino a Barcelona. Sabes que há muito tempo desejava visitar esta cidade.
Escutou por momentos:
-A Paris? Para já não. Ainda não me sinto preparada. Quando o fizer digo-te. Vou dando notícias. Dá um beijo a todos por mim.
Desligou, e chamou um táxi.
No dia seguinte, estava em Barcelona, mas deu-se conta que não conseguia elaborar um programa cultural de visitas, pois não conseguia deixar de pensar em Simão.
É como dizia Horácio. "A negra preocupação monta sempre à garupa do cavaleiro".
Percebeu que não lhe adiantava fugir. Precisava descobrir o que se passava com ela. Que sentimentos albergava no seu peito.
 A visita a Barcelona seria de novo adiada. E nessa mesma tarde viajou para Paris. Mas contrariamente ao que tinha dito à mãe, não a avisou.
Tinha a morada de Simão, há dois anos. Tinha-lha dado o seu irmão João, numa altura em que pensava ir a Paris. Depois acabara por desistir da viagem. Não sabia se ainda morava no mesmo sítio, mas não tinha ouvido qualquer comentário sobre mudança. De qualquer modo, havia de encontrá-lo. Em último caso iria à galeria de arte, onde costumava expor as suas obras, e pediria a morada. Decidida, apanhou um táxi no aeroporto, para a morada que tinha.
A porta do prédio, estava aberta, e subiu as escadas até às águas furtadas. Uma tarefa complicada com os saltos altos e a mala de viagem. Sentia-se muito cansada, não sabia se pela longa escadaria, se pelo seu sistema nervoso. O coração batia-lhe tão forte que parecia querer saltar-lhe do peito. Por fim tocou a campainha. Pouco depois a porta abriu-se. Surpresa, alegria, emoção. O rosto dele, era um poema feito de emoções.
Descalço, envergando umas calças de ganga, o tronco nu, Simão passou a mão pelo cabelo murmurando:
- Vieste!
E ela tremente, sem deixar de o olhar:
-Vim.
Então ele baixou-se para apanhar a mala e disse:
- Entra. Desculpa receber-te assim. Não sabia que vinhas, estava a embalar as últimas telas para a exposição. Vêm buscá-las logo de manhã.
Pousou a mala junto à porta, pegou a camisa abandonada sobre o sofá e vestiu-a. Depois calçou os ténis.
Reparou que continuava de pé.
- Senta-te. Deves estar cansada.
Pegou-lhe na mão e esse contacto fez com que tremesse da cabeça aos pés. Sentaram-se no sofá. Perguntou suavemente:
- Porque vieste, Ana?
- Porque não conseguia esquecer o teu beijo.
Assim, simples e direta, fizera a confissão. Abraçou-a emocionado. Sem deixar de a fitar disse:
- Sabes que te amo. Amo-te tanto que me dói o peito. O maior sonho da minha vida, é viver a teu lado. Deitar-me contigo, e acordar a teu lado todos os dias da minha vida, é a minha noção de felicidade.
Falava devagar, calmamente como quem fala com uma criança. Não queria assustá-la com a força do seu amor.

reedição



Gente vocês acham que o Sexta está com um ar muito sujo?
Sabem quantos comentários anúncios de empresas de limpeza já mandei hoje para o Spam? 8 E já está ali outro na publicação em anterior. 
Isto é o coroar de um dia esquisito ou será que o blogue está mesmo a precisar de limpeza?



12.7.18

O DIREITO À VERDADE - XXV




Três dias mais tarde, Helena recebeu uma chamada de um número identificado, mas que não conhecia. Atendeu.
-Estou!
- Menina Helena?
-Sim.
- Fala Jorge Noronha. Seu tio telefonou-me ontem de manhã, dizendo que tem uma coisa para me entregar. Estou em Viseu. Pode encontrar-se comigo?
-Claro. Estou no hotel Avenida. Pode passar por cá?
- A que horas?
- Quando quiser ou puder. Peça na receção para me avisarem que eu desço.
- Certo. Estou muito perto, dentro de minutos estou aí. Até já.
-Até já.
A jovem desligou o telemóvel, foi à casa de banho, escovou os cabelos, deu uma olhadela ao espelho, meteu na bolsa as certidões e a caixinha com a joia, e desceu para a salinha no átrio. Estava ansiosa e emocionada. Como seria o homem que lhe dera o ser?
Minutos mais tarde, viu entrar um homem de meia-idade, alto e magro. Caminhou com segurança até ao balcão de receção e falou com a empregada. Esta apontou na sua direção e o homem voltou-se e olhou-a. Depois disse qualquer coisa à empregada, que a jovem supôs ser um agradecimento e dirigiu-se para ela. A tremer a jovem via-o aproximar-se sentindo vontade de desatar a correr e ir-se embora. Porém não se mexeu. Os dois tinham direito a conhecer a verdade. O que acontecesse depois, se o homem ia ou não rejeitá-la já era outra história e ela tinha que estar preparada para tudo.
Cumprimentaram-se com um aperto de mão, e sentaram-se.
- Não percebo o que pode ter o Alberto de tão importante para me mandar que não o pudesse fazer pelo correio.
-Já vai entender, - disse a jovem tirando do envelope a certidão de casamento e estendendo-lha.
Ele deu uma olhada rápida ao documento, e franziu o sobrolho.
- Que quer isto dizer? – Perguntou
A jovem não respondeu. Em vez disse passou-lhe o registo do divórcio.
- Cada vez entendo menos. Para que é que o Alberto me mandou isto?
- Não foi o tio que lhas mandou. Fui eu que quis vir. Nessa certidão de divórcio a data é de vinte e oito de Novembro de mil novecentos e noventa e um. É correta essa data?
- Sim, mas continuo sem entender. Quem a mandou vir? A Natália? O que é que ela pretende agora?
- Vim por minha espontânea vontade, senhor. Vai entender se lhe disser que encontrei esses papéis, no quarto da minha mãe, Natália Trindade, exatamente há vinte e cinco dias após o seu funeral.
-A Natália morreu? 
-Vitima de cancro, no dia doze do mês passado. 
-Lamento. Apesar de tudo, não lhe desejava mal. Mas continuo sem entender, porque guardou  esses documentos, durante tantos anos, E porque a menina faz questão de mos entregar.
- Vai entender se lhe disser que eu nasci cinco meses e vinte dias após esse divórcio.
Fez-se silêncio. Um silêncio interminável, enquanto os dois se olhavam. A jovem expiando as reações no rosto do homem, enquanto ele tentava digerir a informação.
- Isso quer dizer que a menina é minha filha, - disse por fim. Era uma afirmação, não uma pergunta.
- Penso que sim. Por isso vim. Para lhe pedir que fizesse comigo um exame de ADN. Ambos temos o direito a saber a verdade.


28.5.18

CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA - PARTE VIII






Dez minutos depois…
- Doutor Mesquita, o doutor Araújo em linha. 
- Obrigado.
Ouviu o clique da passagem da chamada, e só então falou:
- Ricardo, preciso de ti com urgência. Estás muito ocupado?
- Na verdade estou. Aconteceu alguma coisa com a compra do hotel?
- Não. Vais almoçar com a tua mulher?
- Não. Porquê?
- Então podíamos almoçar juntos. Ainda almoças naquele restaurante perto do teu escritório?
- Quando não vou a casa, sim.
- Vou lá ter. À uma?
-Combinado.
Desligou a chamada, no momento em que uma mulher jovem irrompeu pelo gabinete, seguida da sua secretária.
- Desculpe doutor, eu informei a menina Cristina de que não podia entrar sem autorização, mas não me obedeceu.
- Está bem, Rita, pode regressar ao seu lugar.
Assim que a secretária fechou a porta voltou-se para a jovem e disse:
 - Nunca mais, ouve bem, nunca mais invadas o meu local de trabalho sem que para isso tenhas sido convidada. Ou juro-te que chamo o segurança para te expulsar.
A mulher, loira e bonita, sacudiu a sua magnífica cabeleira, e fazendo beicinho, murmurou com voz rouca:
- Mas amor, há mais de uma semana que não te vejo. Morro de saudades. Telefono, e aquele sargento que tens lá fora diz-me sempre que não estás.
Enquanto falava, aproximou-se dele e passou-lhe os braços à roda do pescoço, tentando inebriá-lo com o seu perfume. Sem se impressionar, Pedro levantou as mãos e retirou os braços que o enlaçavam. 
- Estive fora e só regressei hoje. Ia telefonar-te esta tarde, precisamos de falar, mas este não é o local nem a hora para semelhante conversa. Espera-me esta noite. Vou buscar-te às oito. Agora por favor, sai.
- Assim? Sem um beijo? – Perguntou aproximando-se.
- Preciso repetir-te que este é o meu local de trabalho, - retorquiu aproximando-se da porta e abrindo-a.
Furiosa, Cristina saiu fazendo soar o salto dos sapatos no mármore como se fossem marteladas.
Pedro fechou a porta e sentando-se pegou de novo no relatório que o investigador lhe enviara.  Depois dobrou-o e meteu-o no bolso do casaco. Olhou o relógio. Meio-dia e vinte. Tirou a gravata da gaveta recolocando-a no lugar, Apertou o nó, vestiu o casaco e agarrando nas chaves, saiu.



17.9.17

À MÉDIA LUZ - PARTE XVI





Pouco passava das dezassete quando o inspetor ligou.
Sandra passou a chamada para Gabriel, e ficou ansiosa para saber se havia alguma novidade, mas não se atreveu a entrar no gabinete sem ser chamada. Pouco depois a luz na sua secretária acendeu-se e ela levantou-se e entrou no gabinete dele. Não perguntou nada, mas a interrogação estava patente nos seus olhos.
- Nada de concreto, mas parece que o Pedro detetou qualquer coisa numa das vídeo gravações, e deseja um esclarecimento. Combinei ir a sua casa, logo à noite. Queres ir?
- Não. Não trabalhava cá na altura, não sei como poderia ser útil. Precisas de alguma coisa?
- Não. Sabia que estavas ansiosa, por isso te chamei. Nada mais por agora.
Ela saiu. Estava quase na sua hora de saída, devia começar a arrumar as coisas, mas só pensava, no que seria, que o inspetor tinha encontrado. Algum dia, conseguiria provar a inocência do pai, e limpar o seu nome? Coitado do pai. Estava cada dia mais abatido, cada dia mais desiludido com a justiça. Por isso ela não contou nada ao pai, nem mesmo quando ele lhe disse que um inspetor o tinha visitado, e feito uma série de perguntas. Tinha medo de lhe criar ilusões que não se concretizando, só serviriam, para um maior sofrimento.
Por fim fechou o computador, arrumou as pastas, fechou gavetas, e pegando na mala, saiu.
Ainda precisava passar pelo supermercado, para fazer umas compras. Depois iria mergulhar na rotina de todos os dias. Desde que seu pai fora condenado, a vida de Sandra virou do avesso. Teve que abandonar o seu sonho de vir a tornar-se professora de dança, e procurar emprego.  As visitas ao pai, o desejo de conseguir provar a sua inocência,o  emprego na empresa onde o pai trabalhara, e por fim aquela apresentação na academia, que voltou a baralhar tudo, mostrando-lhe uma faceta do seu chefe, com a qual nunca sequer sonhara, mas que calou fundo na sua alma sofrida e a conquistou.
Acabara de arrumar a cozinha. Olhou o relógio. Dez horas. Será que ele vinha esta noite? E se viesse traria boas notícias? Como respondendo à sua pergunta a campainha fez-se ouvir e ela apressou-se a abrir a porta.




Que vos parece? Descartado Gabriel, quem terá feito o desfalque. Alice? O ex sócio de Gabriel? Ou Sandra está completamente enganada com respeito ao pai?