Laura ficou na porta vendo o carro afastar-se, perguntando-se mentalmente porque tinha acedido ao convite que Fernando fizera a si próprio. Fechou a porta agradecendo a Deus que os pais iam chegar daqui a pouco e passar com ela a semana. Assim não teria de voltar a aceitar a visita diária do jovem.
Não sabia o que se passava com ela, mas não se sentia bem na sua presença, ficava sempre inquieta, como se de algum modo a presença dele a incomodasse. E não devia ser assim, Fernando era o melhor amigo de Gonçalo, quase um irmão e durante toda a sua infância e adolescência, os três estavam sempre juntos, ora na casa deles ora na do Fernando, pois eram vizinhos e os seus respetivos pais amigos de longa data. Mas depois ela foi para a Universidade, conhecera Quim e afastara-se não só do vizinho, mas até da própria família.
Foi como se os dois tivessem criado um mundo mágico, onde só existiam eles. Mais tarde após o casamento, com a ida para Lisboa essa separação foi ainda mais real.
Apesar de Fernando continuar a ser um grande amigo de Gonçalo, Laura só o via ocasionalmente quando ia visitar o irmão, já que Fernando foi um grande apoio para Gonçalo após o grave acidente de mota, que quase lhe roubara a vida e o obrigara a longos meses de internamento hospitalar.
Depois
que o irmão recuperou, nunca mais o viu, até à morte repentina do marido.
Aí
quando ela julgou endoidecer de dor, Fernando por vontade própria, ou a
pedido de Gonçalo, esteve sempre lá, tentando apoiá-la com todo o seu
conhecimento e amizade.
Esse
apoio manteve-se na altura do parto e nos primeiros meses de vida do Miguel.
Mas um dia ela agradecera-lhe todo o apoio recebido até aí, disse-lhe que estava bem melhor e que desejava ficar sozinha com os filhos. Depois disso Fernando afastara-se e só voltaram a ver-se depois que o irmão encontrara Helena e a filha e começara a preparar o casamento.
Laura, não se lembrava bem de quando descobrira que Fernando tinha por ela um sentimento que nada tinha a ver com a amizade. Não que até à véspera, ele tivesse dito alguma coisa, mas se há coisa que não escapa a uma mulher é o desejo refletido no olhar masculino.










