-Boa noite, Diogo - saudou. A Paula avisou que eu vinha?
-Boa noite. Entra, o jantar está quase pronto, a Paula está
a pôr a mesa.
A criança esticava os braços, chamando a “madinha”, mas
Diogo disse:
- Primeiro temos de ir lavar estas mãozinhas e a cara. - E
voltando-se para a jovem, acrescentou: Esta Princesa, continua a comer mais com
as mãos do que com o talher. Fica à vontade, conheces bem a casa.
Anabela pendurou a mala no cabide junto à porta, despiu o
casado e deu-lhe o mesmo destino, seguindo depois para a cozinha, onde Paula
acabava de retirar do forno um tabuleiro que cheirava deliciosamente.
-Boa noite, - saudou. Que cheiro maravilhoso.
-Boa noite, Anabela. O jantar está pronto. Não pus a mesa
na sala, porque sempre clamas que preferes comer aqui. Estou “em pulgas” para
saber o que o doutor Azevedo queria contigo.
A afilhada agarrando-se às suas pernas e exigindo a atenção
da “madinha” impediu a jovem de responder. Baixou-se e pegou na menina ao colo,
mas logo a mãe disse:
- Dá-ma. Está na hora, dela dormir. Vamos ver se corre bem,
ou se a excitação de te ver, não a deixa adormecer.
-Vou, contigo. Quantas histórias temos de ler para ela
dormir?
-"Históias não, madinha. À, à, à," - interrompeu a menina.
- O que é isso?
- Agora quer que lhe cantemos todas as noites essa canção.
Talvez seja o que cantam na creche.
- Muito bem, Princesa. Vamos ver se a madrinha, ainda se
lembra da machadinha – disse Anabela enquanto Paula punha uma fralda na menina
e lhe vestia o pijama.
Já deitada, as duas entoaram em coro a canção, enquanto a
criança murmurava a silaba final de cada verso como se estivesse
acompanhando-as.
Adormeceu a meio da terceira vez que as duas entoavam a
canção. Paula aconchegou-lhe a roupa, apagou a luz e as duas saíram do quarto, fechando a porta em silêncio.
-Vá lá, pensei que levasse mais tempo para adormecer, -
disse Paula enquanto se dirigiam à cozinha. Às vezes tenho de lhe cantar tanta
vez, que quase adormeço primeiro que ela.