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24.4.12

25 DE ABRIL - DIA DA LIBERDADE



Há 38 anos, eu era uma jovem cheia de sonhos e o 25 de Abril foi uma porta aberta para a sua realização. Desde então e durante muito tempo festejei a data com alegria. Porém a porta foi-se cerrando, primeiro tão lentamente que quase não nos apercebemos, depois mais rapidamente e de forma galopante nos últimos anos. Para trás ficaram a maioria dos sonhos que não consegui segurar no embate com a realidade. Hoje desiludida, já nem me apetece festejar Abril. O que é que nos ficou desses tempos? Temos (?) a Liberdade. E só por si chega? Perguntem aos jovens que se vêem sem futuro e sem emprego. Perguntem aos idosos que trabalharam uma vida inteira e que morrem à mingua na solidão das suas casas. Perguntem aos desempregados que não têm pão para os filhos famintos. A Liberdade é sim muito importante, mas só por si não alimenta um povo. E já agora uma pergunta: Existe Liberdade sem independência? E nós somos independentes? Ou vivemos subjugados ao FMI? E à Alemanha? E à França?  Por tudo isto não me apetece festejar Abril. E se não estiverem de acordo relevem. Eu de politica não percebo nada.

Deixo-vos  com um poema meu




 COM AS MINHAS PALAVRAS.

Com as minhas palavras invento o Sonho
terá alma o Sonho?
Saberá dos milhares de crianças chorando
a fome
revoltados
pelo vento que arranca impiedoso
os frutos ainda verdes?

Com as minhas palavras invento a Vida

terá alma a Vida?
Saberá do silêncio dos que nascem
vivem
e morrem
no desespero da solidão?

Com as minhas palavras invento a Liberdade

terá alma a liberdade?
Saberá dos milhares de homens vivendo
dia após dia
hora após hora
a esmagar a raiva que martelam na memória?

Com as minhas palavras invento a Esperança
Terá alma a Esperança?
Saberá dos milhares de idosos
Mortos-vivos
Agonizando no mar do esquecimento
Neste País que só é para alguns?
  
 Com as minhas palavras invento o Amor
Terá alma o amor?
Saberá da indiferença dos que dormem
lado a lado
frustrados
na rotina agonizante do dia-a-dia?

Elvira Carvalho


Poema escrito  pouco antes do 25 de Abril e publicado a primeira vez numa revista em 1976.

41 comentários:

Andre Mansim disse...

Puxa Elvira que legal sua postagem e seu poema! E você escreveu em 76! Puxa... A muitotempo que você escreve bem!

Parabens!

. intemporal . disse...

.

.

. e,,, .

.

. deixo beijos de abril .

.

. nesta que é a madrugada do dia dos cravos . que nos trouxeram a liberdade .

.

. feliz vinte e cinco de abril .

.

. um beijo meu .

.

.

Anónimo disse...

Boa noite estimada Elvira,

Há sempre uma primeira vez para tudo, e é verdade.
Hoje, estou a deixar, e pela primeira vez, um comentário neste seu blog.

Independentemente de estarmos em Abril, Maio ou Junho, venho conversar consigo, quando quero e me apetece. Foi o caso.
Li o seu texto e o poema e entendo-os, muito bem.
Embora não esteja, totalmente, de acordo, devo respeitar as suas afirmações.
Melhores dias hão-de vir, tenho a certeza.

A História não se repete, embora, alguns digam que sim, mas, "ninguém se banha duas vezes na mesma água do rio".

Tenha um resto de semana feliz.
Beijinhos à Mariana e à sua avó.

Unknown disse...

Elvira, boa noite!
Poema escrito pouco antes do 25 de Abril e continua tão actual, isto é que dói!
Minha amiga, eu costumo dizer, Abril sempre mas, de facto já não há o que festejar. Festejar o quê, se estamos mais acorrentados que nunca, põem e dispõem do que é nosso por direito e não querem sequer saber se temos o que dar aos filhos.

Bandidos estes ladrões que destruíram os sonhos e ideais conquistados há 38 anos.

Beijinho,
Ana Martins

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Boa noite Elvira!
Li seu texto e poema, fiquei triste com tamanha impiedade e injustiça.
Mas esteja certa que da justiça de Deus ninguém escapa!
Beijos de boa noite,
Mariangela

Anónimo disse...

38 de "Liberdade"... e Portugal está agora como está. Viva o 25 de Abril?

PS. Vou-lhe roubar o poema. Está simplesmente lindo.

Anónimo disse...

Levei comigo o cravo e vou breve postar seu Poema.
Dêem-me cravos, por favor,para alegrar o meu coração...
Obrigada,minha Amiga.
Beijo.
isa.

Isamar disse...

Como te compreendo, Elvira! Gostei muito do texto introdutório, um grito, um alerta para os dias que correm, mas temos de continuar a gritar que " o povo é quem mais ordena" para que não caiam no esquecimento os anseios, os desejos, a luta daqueles que , contra tudo e todos, enfrentaram os algozes na longa noite fascista. Há muita coisa que tem de mudar, os sacrifícios têm de ser repartidos proporcionalmente por todos, os ordenados e as pensões de miséria têm de acabar como têm de baixar os ordenados obscenos de que ouço falar e leio, os gastos supérfluos têm de ser definitivamente banidos... e novas medidas no que concerne ao trabalho e ao investimento têm de ser urgentemente tomadas...eu creio no 25 de Abril...eu ainda tenho esperança...mas o teu poema, tão antigo, reflecte uma realidade que parece actual...lamentável. Combatamos isto com quanta força tivermos e pudermos.

Beijinhossss

Bem-hajas!

p.s. Gostei do teu poema. A poesia também é uma arma.

FGV disse...

A comemoração de Abril nestes tempos que correm, para aqueles que andaram pelas ruas num turbilhão de esperanças, cansados da ditadura, é mais um recordar, já não é sequer um festejar.

Bonito poema, muito forte.

Um abraço

Zé Povinho disse...

O sonho comanda a vida e a esperança num mundo melhor continua a existir em mim, e vou tentando contribuir para que um dia aconteça.
Bom poema.
Abraço do Zé

Maria disse...

Querida Elvirinha:
Estou 100/º de acordo consigo.
O seu poema é lindíssimo.
Vou passar o dia em casa. A mesma, onde vivi o meu 25 de Abril. Hoje não há Zeca, nem Adriano, nem Manuel Alegre, nem a TV e o Rádio, ligados o dia inteiro.
Hoje, há silêncio.
Beijinhos
Maria

António Querido disse...

Amiga Elvira, o cravo em figueira minha está murcho, quase a secar e assim deveria estar em todos os blogs, porque a única coisa que nos resta do 25 de Abril de 74, é somente a liberdade, até o São Pedro está triste e chorando, pelo caminho que conduziram o nosso país!
Gostei imenso do seu poema, abaixo quem quer destruir os valores de Abril...Viva a Liberdade!
O meu abraço

Edum@nes disse...

A voz que entoa
A voz da liberdade
Há 38 anos pelas ruas de Lisboa
Era uma realidade
O povo saiu à rua
Haviam militares por toda a cidade
Com cravos no cano das armas
As balas nos carregadores
Não tencionavam utilizá-las
Só pretendiam afastar do poder os ditadores.
Ficaram mais espinhos que flores!
Já estão de regresso
Os sonhos se perderem pelos corredores
Estes senhores têm virado o país do avesso?

Viva o 25 de Abril e a liberdade que nunca acabe.

Um abraço,
Eduardo.

Tite disse...

Tudo o que dizes, amiga Elvira, faz um sentido danado para ti, para mim e todos os da nossa geração.
Pena que nós (em sentido figurado) não tenhamos dado aos nossos herdeiros uma vida mais difícil para eles não malbaratarem, com seu voto ou sem ele, tudo o que lhes foi oferecido de bandeja. A Liberdade a Saúde e a Educação que correm o risco de perder ou terem que pagar com língua de palmo sem condições económicas já que até os seus salários (se ainda tiveram emprego) estão em vias de baixar consideravelmente.

Caminhamos a passos largos para uma situação idêntica à que tão bem verteste neste teu tão lindo como sentido poema.

Abraços cheios de esperança

tulipa disse...

ELVIRA
...
MUITOS PARABÉNS pelo belo poema!
...
dia 19 foi o meu aniversário
...
este ano finalmente consegui fazer o que há muito idealizava:
passar esse dia longe de tudo,
de todos,
num paraíso, no mundo
e consegui...!
...
hoje convido-a a ver o meu novo blog:
"Os meus pensamentos"
lá encontrará uma FOTO
das mil e tal que captei com a minha objectiva;
gosto daquela que escolhi para o post
é única, simples e para mim representa um momento lindo!
...
Vivenciei-o num rafting de balsa feita de canas de bambu pelo rio abaixo junto a uma floresta na Tailândia.
Indescritível.
...
Fez-me recordar os sons da floresta na "Minha África"!...
...
EU
..."Sou como as velhas árvores… preciso de silêncio, de estender os meus braços e escutar a voz do vento! Há verdes novos que vieram na viagem da luz e na visita da chuva..."

Beijos de saudade e muito carinho.
Tulipa Moçambicana (Ester)

Severa Cabral(escritora) disse...

Bom dia amada!
Entre todos os elógios que já recebestes terás o meu tbm...pois escreves divinamente...aplausossssssssssss
bjs

BlueShell disse...

Uma maravilha de post! Sei como foi...dói ver como é, hoje. O poema é divino!
Um bj
Isa

Unknown disse...

Também tivemos aqui uma luta contra a Ditadura, e agora temos os que lutaram contra ela no Poder. Voltamos a ter Ditadura no RS pois o Governador faz o que quer. E nosso Estado está sem educação boa, sem saúde e sem segurança. E no País a corrupção corre acelerada no Governo. Estão fazendo as coisas que condenavam.
É triste mas a nossa realidade está semelhante a de vocês.
Beijos.

MARILENE disse...

Encantei-me com seu poema e me surpreendi por ter sido escrito há tantos anos. Esse grito de revolta, envolvido em melancolia, é lindo em palavras e versos, mas sabemos o que significa no desencanto e na desesperança.

Bjs.

Elvira Carvalho disse...

Rak Encarnação
E eu estava a pôr aspas e continuar o comentário, quando a frase passou a publicação!!!
Texto belíssimo sobre o entusiasmo de Abril em Portugal, dá-nos conta de uma desilusão contínua e com agravamento constante que nos leva a uma grande questão: o que ficou de Abril? E a autora disserta, com muita clareza e visão da realidade, (apesar de comentar que não sabe de política!!!) sobre o que deveria ter ficado de 25 de Abril e o que na verdade temos: Liberdade. Sim... " A Liberdade é sim muito importante, mas só por si não alimenta um povo."
Deviam ler, Amigos, é um comentário curto, conciso, cheio de verdadeira mensagem. E importante diz...no fundo o que todos pensamos
E o poema que o segue...excelente! Poesia séria , muito sentida e bem estruturada.
Obrigada Elvira.

Este texto foi deixado na minha pagina do FB por uma amiga que não conseguiu deixá-lo aqui.

poetaeusou . . . disse...

*
querida amiga,
concordo totalmente contigo,
,
se não é abuso,
ofereço-te, estas palavras,
,
25
abril
gritado
força maré
voo liberdade
esculpidos sonhos
transparente seara ao vento
pétalas avermelhadas do provir
na liberdade de madrugada subtraída
á negra prepotência das alongadas noites
sangue ondulante de cantada alforria
grito ao vento nas veias da cidade
anseio de aspiração vibrante
nas asas de um povo
em liberto sabor
nas torrentes
do amor
e sal,
nós . . .
.
conchinhas floridas,
deixo,
*

Teté disse...

O facto de a revolução de abril ter descambado nos tristes representantes que hoje nos governam, como se estivessem num gabinete de contabilidade a lidar com números (li qualquer coisa do género por aí), não retira o valor de todos aqueles que lutaram para termos um futuro melhor, em paz, liberdade e democracia!

Arriscaram a vida, o trabalho e o bem estar da própria família e isso não se pode esquecer nunca! Daí festejar sempre, enquanto a memória me deixar! :)

Abraço!

paideleo disse...

Aquí na Galiza estamos en caso case igual de desemprego, de perda de dereitos de traballadores, da sanidade, salarios e retiros que van para abaixo e aínda temos que manter a familia do rei e dos reis destronados de toda Europa que viven aquí do conto.
Vós polo menos non tendes que alimentar aos parásitos da realeza.

paideleo disse...

Aquí na Galiza estamos en caso case igual de desemprego, de perda de dereitos de traballadores, da sanidade, salarios e retiros que van para abaixo e aínda temos que manter a familia do rei e dos reis destronados de toda Europa que viven aquí do conto.
Vós polo menos non tendes que alimentar aos parásitos da realeza.

Olinda Melo disse...

Querida Elvira

Quanta verdade no seu texto! E as questões que apresenta no poema são tão actuais que até parece não ter passado tanto tempo, nem termos passado por tantas mudanças. Sim, de que nos vale a liberdade se mesmo assim não somos independentes, pois cada dia que passa estamos mais endividados dependendo de quem nos empresta dinheiro. E uma coisa leva à outra, aos jovens sem futuro, aos idosos sem condições de vida, na solidão e muitos na pobreza...

Muito obrigada.

Beijos

Olinda

Unknown disse...

Gostei dos sonhos que inventaste.Todos tem alma, mas se não tiverem vamos inventar uma porque eles não podem roubar-nos a nossa alma, a liberdade, a vida e o amor

Vamos Elvira não te deixes vencer e junta-te na rua aos que clamam pela democracia e pela liberdade, pela justiça e pelo respeito...

Cuidado não embarques nas palhaçadas dos senhores de fato e gravatas a quem estendem passadeiras vermelhas e eles estudam mais palavras para nos torturarem e discursos eivados de mentiras ...

São disse...

Minha linda, o poema é bom, como sempre.

A desilusão com o rumo que o país está tomando, partilho-a.

Mas não concordo com esse seu desalento : temos que resitir!

Tenho pena das gerações vindouras, mas a nossa soube lutar em circunstâncias bem adversas...elas terão que, se for caso disso, lutar também pelos seus direitos!

UM abraço com perfume de cravo e luta.

gaivota disse...

partilho, concordo, estou AQUI nestas palavras e nestes sentimentos... um abril esmorecido com um cravo atraiçoado!
beijinhos, amiga

Mar Arável disse...

Ai de nós quando desistirmos dos sonhos

Abril olhos postos no Maio
Sempre

esteban lob disse...

Significativa poesía, amiga Elvira.

Como siempre te mando un gran saludo austral.

manuela barroso disse...

Um belíssimo poema Elvira numa época em nunca foi tão cara a justiça!
Um grande abraço

Luis Eme disse...

bonito poema.

mas bom é não deixar fugir a esperança.

abraço Elvira

vendedor de ilusão disse...

Elvira,vim em visita para desejar-lhe que tenhas um excelente final de semana, e me deparo com uma postagem magnífica; és uma inspirada, haja visto esse maravilhoso e tocante poema escrito com propriedade, o que ratifica minha impressão de que sua criatividade em expor sentimentos e ideias vem de há muito...
Aceite meus sinceros parabéns!

http://odeclinardosonhos.blogspot.com disse...

Este é realmente o retrato do nosso povo: triste, desiludido, sem esperanças ou perspectivas
Como não começar a ficar indiferente a uma data que nos levou a vibrar quando aconteceu?...
Que nos respondam os nossos jovens...
Beijo amiga

Paulo Cesar PC disse...

Elvira, maravilhoso e belo texto minha amiga. Um grande beijo nesse seu rico coração.

Luma Rosa disse...

Normal esse desencantar, pois com o tempo, as ilusões vão caindo por terra e os políticos contribuem em muito para destruir qualquer sonho de grandeza - Digo grandeza me referindo aos grandes ideiais da humanidade. Queremos uma vida descente para todos!!
Deixei um comentário na postagem de sua participação no BookCrossing Blogueiro.
Bom fim de semana!! Beijus,

Duarte disse...

Sempre Abril!!!
O teu poema reúne a beleza dum nobre sentir.
A alma é o mais sublime do ser, por isso faz que ames.
Oxalá a ilusão dessa luz de Abril chegue a brilhar algum dia.

Um abraço enorme

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Li o capítulo XXVII, que me comoveu, pela tristeza dos acontecimentos. Amanhã virei, para continuar acompanhado a sua narrativa, tão rica de pormenores.
Para a que acabei de ler, meus parabéns pelo belo poema, com tantas maravilhosas invenções, com as suas palavras.

Um abraço, Elvira.
Até amanhã!

Vitor Chuva disse...

Olá, Elvira!

O 25 de Abril já lá vai; este último no sentido literal, o primeiro no sentido figurado.

Passei-o na escola em Vila Franca,onde à altura era formador. E na noite de 25 para 26 ficámos lá todos fechados. Mas ninguém se importou; o ambiente era então de festa,de celebração, acreditando que o que vinha a seguir só poderia ser melhor, que o futuro poderia ser tudo o que nós quiséssemos, com a chegada da democracia.

Sonho lindo, que pouco a pouco foi perdendo a cor, e hoje é futuro bem cinzento,que se celebra com um misto de alegria e tristeza.

Belo texto; e parabéns pela frontalidade da abordagem.

Beijinhos; bom fim de semana.
Vitor

Lilá(s) disse...

O poema está soberbo! quanto ao texto, não podemos desmoralizar, já deixamos que tudo nos façam e isso é muito mau, temos que arranjar forças para continuar lutando, baixar braços é que não...
Bjs

Kim disse...

Amiga Elvira!
Com as palavras que já antes havias inventado, nascia um sonho.
Com as que inventas agora, nascerá a esperança de dias melhores.
É verdade tudo o que dizes e, às vezes, até me esqueço que foi bom ter havido um 25 de Abril.
Beijinho