- Mas amor de há uns meses para cá nunca tens tempo para
nada. A semana passada fui sozinha à festa da Micá. Se hoje apareço sozinha, na
festa da Francisca, todas as minhas amigas vão reparar.
- E isso importa-te? Pois eu tenho mais com que me
preocupar do que com as tuas amigas.
- Já não te importas comigo, é o que é. Pois vou-te dizer
uma coisa. Se não me acompanhares vou
seduzir o homem mais bonito que por lá esteja. E depois não digas que não te
avisei.
- Faz como entenderes. E desculpa mas tenho de desligar.
Tenho um cliente ao telefone.
Desligou o telemóvel e levantando o intercomunicador, recomendou
à sua secretária.
- Rita, se a menina Cristina Barbosa ligar, diga-lhe que acabei de
sair. Não estou. Nem para ela nem para ninguém. Espero a vinda do doutor
Araújo, faça-o entrar logo que chegue.
Pedro Mesquita
desligou o telefone, levantou-se e caminhou até à janela. Era um homem alto,
moreno, cabelo castanho, ligeiramente ondulado, que ele usava penteado para
trás, deixando a descoberto uma testa alta.
Os olhos verdes, o nariz retilíneo e a boca bem desenhada,
faziam dele um homem capaz de fazer suspirar muitas mulheres. Se aliarmos a
tudo isso o extrato bancário da sua conta, não era de admirar que onde quer que
fosse as mulheres andassem à sua volta como abelhas de roda das flores. Coisa
com que ele lidara bem em tempos, mas que atualmente o aborrecia demais.
Pedro tinha trinta e oito anos, era um dos empresários
de maior sucesso no ramo da restauração. Aos vinte e cinco anos herdara do pai
um restaurante, em Setúbal, e parte de outro em Lisboa, que o seu pai mantinha
em sociedade com o cunhado. Sob a sua gerência e com uma apurada visão para os
negócios, naqueles treze anos, Pedro criara uma rede de restaurantes que se estendiam
de norte a sul do país, e aumentara em muito a sua fortuna. O tio, que
inicialmente fora seu sócio, morrera havia oito anos, e o seu filho Paulo Amado,
pusera à venda, a sua parte no negócio. O seu
primo não se interessava pelos negócios, o que ele queria mesmo era
dinheiro para gastar na borga, com os amigos e as mulheres. Naquela altura,
Pedro já tinha ampliado o negócio, com a compra de outros restaurantes, e não dispunha de dinheiro líquido para comprar a parte do primo, pelo que teve
que recorrer aos bancos, contraindo uma dívida que levara mais tempo a pagar do que o primo levou a delapidar o que recebera. Depois, sem
dinheiro, nem amigos, acabara por lhe pedir ajuda, e ele dera-lhe um emprego, ali nos escritórios, da empresa. Paulo falecera há seis meses num acidente de
carro, quando conduzia em excesso de velocidade completamente alcoolizado.