-Não seria melhor deitar o bebé um pouco no sofá? – Perguntou assim que a secretária saiu. - Deve estar cansada, e além disso pode ser perigoso, que beba o chá com ele ao colo. Ajudou-a a levantar-se e ficou a observar o cuidado com que deitava o bebé no sofá. Quando se voltou e encaminhou para a mesa, não pode deixar de reparar que apesar de não ser uma mulher alta, tinha um corpo escultural.
- Açúcar? - Perguntou.
Ela negou com a cabeça. Não sabia o que fazer ou dizer,
sentia-se pouco à vontade na presença daquele homem poderoso, e desconcertante,
que ainda há poucos minutos parecia disposto a maltratá-la, e agora se mostrava
afável. Pegou na chávena que lhe estendia e levou-a à boca, pensando quão
injusta fora a vida para a sua irmã, para ela, e para o menino que naquele
momento dormia de novo.
Ele estendeu-lhe a mão dizendo:
- Ainda não me disse o seu nome. O meu já sabe, sou Pedro
Mesquita, dono desta empresa.
- Joana Teixeira, - respondeu retribuindo o cumprimento.
- Agora que já nos apresentámos, gostaria de saber.
Conheceu o pai do bebé? Se foi algum dos meus empregados talvez eu possa
ajudar.
-Claro, - ela tirou da mala o telemóvel, procurou uma
fotografia, e estendeu-lhe o aparelho dizendo. – Aqui está. Esta foto, foi
tirada dois dias antes do seu desaparecimento.
Ele pegou no telemóvel e sentiu que os seus piores
receios se confirmavam. Desde menino, o primo sempre tivera o costume de se
desculpar com ele, quando fazia qualquer asneira. Mas manter o hábito já
adulto, e chegar ao ponto de engravidar uma jovem enganando-a quanto à sua
identidade era demais.
- Este homem trabalhou aqui sim. Mas o seu nome era Paulo
Amado e não Pedro Mesquita. Morreu num acidente há seis meses. Lamento,- disse estendendo-lhe o aparelho.
- Meu Deus! Então o seu abandono não foi propositado,
como nós pensávamos. Pobre criança que não chegou a conhecer pai nem mãe.
Pedro não teve coragem para lhe dizer que o primo era um
cafajeste, que nunca iria assumir o filho, porque se as suas intenções fossem
nobres, não teria trocado o nome. Afinal o primo estava morto, não valia a pena
manchar mais a sua memória. Olhou o relógio. Dezoito e quarenta e cinco. O dia
estava a acabar, não tinha nada pendente, para acabar nesse dia. Tomou uma
decisão.
- Veio de carro?- Perguntou
- Vim de metro.
- Pegue o bebé, eu levo isto, - disse agarrando a bolsa,
onde ela carregaria decerto as coisas do menino. Venha, levo-a a casa.
-De modo algum. Já perdeu imenso tempo comigo.
- Não discuta comigo. Afinal a criança é filha de um
empregado meu. De certa forma sinto-me responsável. E a senhora deve estar
muito cansada.
Esperou que ela acomodasse o bebé numa espécie de bolsa,
no colo, e depois apontou-lhe a porta, e seguiu-a. Ao passar pelo gabinete onde
a sua secretária desligava o computador, e se preparava para sair despediu-se
com um simples até amanhã, e seguiu para o elevador atrás de jovem