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31.5.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE X



No dia seguinte, encontraram-se no laboratório, fizeram o teste e separaram-se quase sem se falarem. O resultado demoraria uma semana, e ele não pensava voltar a vê-la antes disso.
Ricardo seguiu para a sua empresa um tanto atónito. Tivera ocasião de ver a criança enquanto esperava para fazer o teste, e sentira-se impressionado com os seus olhos cinzentos, o cabelo negro e a cor morena. Não se parecia nada com a mulher, fosse ela tia, como dizia, ou mãe, como a criança lhe chamava.  Ele continuava muito desconfiado em relação aquela história. No entanto para ser sincero, diria que a criança se parecia bem mais com ele, do que com ela. Apesar disso estava de consciência tranquila. Não que ele não tivesse as suas aventuras, Mas nunca se envolveria com uma ninfeta, por muito bonita que fosse. Ele gostava de mulheres mais velhas. E além disso, tinha uma regra de ouro, que nunca, em circunstância alguma, quebrava. Nunca fazia sexo sem preservativo, ainda que a mulher lhe jurasse que tomava a pílula ou tinha o DIU. Podia estar com uma mulher muito bonita, e muito excitado,  mas se não tivesse um preservativo com ele, arranjava qualquer pretexto, ia para casa e tomava um banho gelado. Depois do que Ivone lhe fizera, ficara vacinado. Relembrou aquela história, que condicionou todo o seu futuro e ainda hoje, lhe doía. 
Na altura em que a conheceu, tinha apenas vinte anos, era "um miúdo" com as hormonas em ebulição e nenhuma experiência de vida.  Ivone, era tão linda quanto pérfida. Era apenas três anos mais velha, mas sabia mais da arte de sedução que muitas mulheres aos quarenta. Resultado, dois meses depois ela comunicou-lhe que estava grávida, e ele ficou louco de felicidade e pediu-a em casamento. Na altura, ainda nem tinha terminado os estudos, não tinha emprego, nem sabia como ia sustentar uma família, mas estava completamente fascinado por ela, de tal modo que o seu pai, propôs-lhe fazer o casamento e assumir as despesas com a sua casa, em troca dele ir trabalhar para a oficina e terminar os estudos à noite.
Porém logo depois de casados, Ivone deixou cair a máscara. Queria sair quase todas as noites e clamava que ele nunca estava disponível para isso e que se sentia como ave numa gaiola. Uma noite ainda não tinham dois meses de casados chegou a casa e não a encontrou. Sem saber onde a procurar esperou o seu regresso. Ela chegou quase à uma da manhã. Veio acompanhada por um casal, mas ainda assim ele não gostou de que tivesse saído e tiveram a primeira discussão séria. Depois dessa vieram outras, a sua vida transformara-se num inferno que ele só suportava por causa do bebé.  Seis meses mais tarde, já nem estranhava quando chegava à casa depois das aulas e não a encontrava. E estava tão cansado, que raramente dava pela sua chegada. Com a desculpa de que a gravidez a incomodava e não lhe dava qualquer prazer a intimidade, ela fizera com que ele fosse dormir para o sofá da sala. E já quase não se viam. Ele levantava-se cedo para ir trabalhar, almoçava com o pai, e no fim do dia quando ia a casa tomar banho e mudar de roupa para ir para as aulas, ela já não estava em casa. Por vezes sentia tanta raiva que lhe apetecia partir tudo. Outras ficava completamente indiferente. Às vezes surgia-lhe a ideia peregrina, de que tudo aquilo eram humores de grávida e que a situação mudaria quando o bebé nascesse e ele terminasse o curso. Teriam mais tempo um para o outro e a chama voltaria a acender-se. Por essa altura o casamento já tinha acabado há muito, só a sua ingenuidade ainda lhe dava esperanças.
Até que numa noite, ao ir deitar-se encontrou no sofá uma carta de Ivone. Nela lhe informava que ia partir com o homem da sua vida, o pai do seu filho. Dizia-lhe que nunca o amara, mas estivera três meses sem notícias do namorado, que se tinha ausentado do país. Ela pensara que ele a tinha abandonado. Como estava grávida, precisava de um pai para o seu filho, e dada a sua ingenuidade, não tinha sido difícil convencê-lo que o filho era dele.



E aqui temos o primeiro bocadinho da minha recente visita ao Algarve.  Se estiverem interessados em saber o que andei a fazer, vão até lá

30.5.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE IX


Ricardo estacionou o carro no seu lugar na garagem situada na cave do prédio onde vivia e entrou no elevador que o levaria ao seu apartamento no décimo piso de um moderno edifício no Parque das Nações.
Entrou em casa, poisou as chaves e o telemóvel no móvel de entrada, dirigiu-se à sala e preparou uma bebida. Com o copo na mão foi até à janela. A luz da lua dava reflexos de prata às águas do Tejo. Lá em baixo as pessoas aproveitavam a noite quente de final de Setembro, para andar na rua. Jovens namorados, ou recém-casados passeavam abraçados, indiferentes aos solitários que com eles se cruzavam a caminho de casa ou de algum bar.
Respirou fundo, deu a volta e foi-se sentar no enorme sofá que ocupava a parede fronteira à janela. Bebeu um gole do Whisky, e poisou o copo em cima da mesa. Estendeu as longas pernas, inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos.  Estava muito cansado. De manhã tivera que ajudar a reparar uma limusina, de tarde por duas vezes tivera que dar uma ajuda na oficina, primeiro com o Porsche, depois com o Bugatti. Os três estavam alugados para um casamento no próximo Domingo e os três enfermavam de pequenos problemas, cuja reparação ele quisera visionar pessoalmente. Pelo meio tivera aquela carta maluca e aquele encontro com uma mulher que dizia que ele tivera uma filha. Lembrou-se da raiva com que tinha saído da empresa para se dirigir à morada da carta. Sentia-se capaz de fazer qualquer disparate. Mas estranhamente a sua raiva não se manifestou devastadora, talvez por causa da referida mulher. Havia nela uma estranha calma, uma espécie de resignação que o impressionou e quebrou um pouco da sua raiva.
Depois, se aquela carta era verdadeira, se aquilo não era um esquema qualquer, se aquela Susana existira mesmo e se suicidara, ela não tinha culpa. Limitava-se a aceitar como verdadeiras as loucuras da irmã. Mal regressara ao escritório, telefonara ao seu amigo Artur Sampaio, deu-lhe o nome da mulher, a morada e pediu uma investigação tão rápida quanto possível sobre ela e sobre uma possível irmã. Artur era um ex-inspetor da polícia Judiciária, reformado, que entretinha as suas horas de ócio, com investigações para os amigos. Em poucos dias ele iria saber tudo sobre elas, tinha a certeza.
 À tarde estivera num laboratório e conseguira marcar o exame de ADN. Antes foi informado de que não era necessário a recolha de sangue, o exame podia ser feito com a saliva dos intervenientes ou cabelos. Eles tinham uns kits com o material de recolha e as instruções, podia levar, fazer a recolha e ir entregar, mas ele era um pouco desconfiado, preferiu marcar o exame de sangue para o dia seguinte e telefonar à tal Isabel a dar-lhe a informação do laboratório e da hora do exame.
Habitualmente chegava cedo a casa, tomava banho e saía para jantar, mas como saíra tarde da empresa, comera duas sandes de carne assada no café restaurante onde os seus empregados costumavam almoçar, pois não lhe apetecia jantar.
Levantou-se, apagou a luz da sala e foi para o quarto. Despiu-se, foi à casa de banho, tomou um duche e lavou os dentes, e voltou ao quarto. Despiu o roupão e completamente nu, deitou-se. Cinco minutos mais tarde, tinha adormecido.


29.5.19

UM PRESENTE INESPERADO -- PARTE VIII







- Reparou bem nele? – a vizinha repetiu a pergunta assim que ela entrou na cozinha.
-Não. Vê-se que é um homem elegante e bem-parecido, mas só de pensar, que ele podia estar a pensar que o queria enganar, fez com que evitasse olhá-lo. Porquê?
- Ele já tinha tocado à porta antes da Isabel ter chegado. Falámos um pouco e eu reparei nos seus olhos cinzentos, nos cabelos negros e na cor da sua pele. E pensei logo que era o pai da Matilde. Acho-os parecidos - respondeu Natália.
- Estou muito confusa. Ele parecia tão sincero ao dizer que não conheceu a Susana. E diz que vai imediatamente marcar o teste do ADN. Deveria saber que se estiver a mentir, o teste o vai desmascarar. E ele está muito seguro de que o teste vai provar que não tem nada a ver com a menina. A Natália acha possível que a Susana me tenha enganado?
- Não creio. A sua irmã tinha aquelas manias de grandeza, sempre sonhou com a riqueza e sempre se revoltou com a vida que tinha, mas daí a inventar um pai rico para a filha, é demais. E depois, como é que ela ia saber o nome dele e todos os dados que deu para por no registo da menina?
-Bom, o melhor é não pensar mais nisso agora. A Natália pode ficar com a Matilde esta tarde? Tenho que ir ao centro de emprego.
- Claro que fico, pode ir descansada. Entretanto tomei a liberdade de trazer almoço para as duas. É que ontem fiz cozido à portuguesa e nunca fui capaz de fazer cozido para uma só refeição. São tantos ingredientes, que acabo sempre enchendo a panela. Isto se gostar de cozido, como é evidente.
- Gosto muito. E agradeço-lhe, na verdade fez-se tarde e já nem ia fazer almoço.
Durante o almoço continuaram a conversa, sobre os últimos acontecimentos. Natália conhecia a vida daquela família como conhecia a sua, já que os dois casais compraram as casas, com poucos meses de diferença. Isabel era nessa altura uma criança de poucos meses. Viu-a crescer, sempre muito educada e responsável, viu nascer Susana, apoiou a vizinha quando o marido morreu, mais tarde foi a mãe da jovem a retribuir o apoio quando ela também enviuvou.
Anos depois quando Carmo morreu, viu como Isabel assumiu a educação da irmã, aumentando em muito a admiração que já tinha por ela, tanto mais que cedo se apercebeu que Susana era uma jovem rebelde, com a cabeça cheia de sonhos de grandeza, e  desejosa de altos voos. Totalmente diferente da irmã.
Depois da sua trágica morte, Natália aproximou-se ainda mais de Isabel, sempre pronta a apoiá-la, tomando conta da menina enquanto Isabel trabalhava, ou procurava emprego depois que a empresa onde trabalhava fechou.
Por seu lado a jovem via na vizinha uma segunda mãe.


28.5.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE VII




- A sua irmã inventou essa história. Olhe para mim. Há dois anos tinha trinta e sete anos. Acha que me ia meter com uma jovenzinha de quem quase podia ser pai? Quem pensa que sou?
-Não sei. Não o conheço, mas não acredito que a Susana tivesse inventado semelhante história. Se não o conhecesse como iria saber da sua existência. De resto esta discussão não tem sentido. Basta que faça um teste de ADN e fica tudo esclarecido.
-Teste de ADN, pois claro. Como é que não me lembrei disso. Teria disponibilidade para fazer o teste amanhã?
-Hoje mesmo se quiser. Mas antes deixe-me dizer-lhe que não pretendo nada do senhor, e que só lhe dei conhecimento da existência da Matilde porque a minha irmã assim o desejava, e o deixou bem expresso, na carta de despedida como pôde ler. Ela acreditava que todas as crianças deviam conhecer e conviver com o pai. Espero que não tenha ideias de ma tirar, quando tiver a confirmação do teste. A Susana já estava em depressão quando ela nasceu, não tinha condições de tratar da sua pessoa, quanto mais de uma filha. E eu fui desde a primeira hora, a sua verdadeira mãe, a única que conheceu.
- Se a menina fosse minha, decerto que iria lutar por ela e trataria de lhe dar a melhor vida possível. Mas não corre esse risco, fique descansada. Esta tarde mesmo vou tratar disso. Pode dar-me um número de telefone para onde eu possa informar do dia e hora do exame?
Ela deu-lhe o número que ele registou no telemóvel. De seguida levantou-se e dirigiu-se para a porta. 
- Não quer ver a menina? perguntou Isabel
- Não há a mais remota possibilidade de que ela seja minha filha. Convença-se disso. E depois do teste vou impugnar essa certidão. Tenha a certeza.
Natália saiu da cozinha com a menina ao colo, logo depois que ela cerrou a porta, nas costas do empresário.
- Era o pai da Matilde? – perguntou enquanto lhe passava a criança para os braços.
- Não sei. Ele diz que nunca conheceu a Susana e afirma-se muito seguro disso. Inclusivo vai marcar um exame de ADN, para provar que não tem nada a ver com a menina. Disse-me que a Susana mentiu, que nunca se meteria com uma jovenzinha e se o fizesse assumiria as suas responsabilidades. E a verdade é que parecia sincero. Estou tão confusa.
- Está a querer fugir com o rabo à seringa, Como é que a Susana sabia da sua existência, para registar a menina em seu nome?
- Não sei Natália, ai, não puxes os cabelos à mãe, querida. Vamos já almoçar.
- Já lhe dei o almoço enquanto atendia o homem. Reparou bem nele?
- A Matilde está a cair de sono. Uma vez que já lhe deu o almoço, vou deitá-la e já conversamos.
Levou a menina para o quarto, mudou-lhe a fralda e deitou-a. Depois voltou à cozinha.


Estou de volta, mais logo já vou visitar-vos. Ontem cheguei super cansada da minha visita de estudo. Vários museus e um castelo,  em S. Bartolomeu de Messines e Silves. Fartá-mo-nos de andar, e de subir com um calor abrasador. Trinta e quatro graus à sombra. Daqui a dias estarão as fotos no "As minhas imagens." 
A quem perguntou pelo meu cunhado, ele está a recuperar, foi transferido do S, José para e Curry Cabral, já começou a fazer fisioterapia.

27.5.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE VI






Olhou o relógio. Onze e meia. Dobrou a carta e meteu-a no bolso do casaco.
- Vou sair, qualquer emergência liga-me para o telemóvel – disse ao passar pelo gabinete da sua secretária.
Meteu-se no carro e dirigiu-se à morada indicada. Estacionou o carro no lado contrário da rua. Ao sair, observou o prédio. Notava-se que já tinha alguns anos mas estava bem conservado. Trinta e nove r/c direito dizia o envelope. Tocou a campainha. Uma senhora de meia-idade com uma criança ao colo, abriu-lhe a porta.
-Bom dia. A senhora é Isabel Sarmento?- perguntou.
- Se deseja falar com a Isabel ela foi ao centro de emprego, mas deve estar a chegar.
-Muito bem, eu espero no carro. Virou-lhe as costas e dirigiu-se à porta, mas quando a abriu viu uma mulher jovem do outro lado, e perguntou:
- Isabel Sarmento?
- Sim. Deseja alguma coisa?
- Falar consigo. O meu nome é Ricardo Medina.
A mulher ficou lívida e Ricardo teve a sensação que ela podia desmaiar a qualquer momento.
- Ri…cardo? O senhor é o Ricardo? Não pode ser! – balbuciou quase sem voz.
- Claro que não pode ser, - disse irritado. Como é que se atreveu a dar o meu nome a uma criança sem minha autorização?
-Senhor, - ela retorquiu, - não pudemos discutir este assunto no átrio do prédio. Se puder entrar, esclarecemos o assunto.
Abriu a porta e convidou-o a entrar. Indicou-lhe a sala. Natália, saiu da cozinha com a menina ao colo, e esta ao ver Isabel estendeu os braços para ela chamando, mãe, mãe… Isabel deu-lhe um beijo e disse: 
- A mãe agora não pode, meu amor. Natália por favor importa-se de lhe ir dando o almoço enquanto eu atendo este senhor?
-É bonita a sua filha - disse ele tentando ser amável.
- Não é minha filha, embora lhe queira como tal. É a Matilde e segundo a Susana, é sua filha.
Irritou-se de novo.
-Já lhe disse que não conheço nenhuma Susana. Porque não a chama e esclarecemos este assunto de uma vez por todas?
-Susana suicidou-se há dez meses. Se me der licença eu vou buscar a carta que ela me deixou. 
Retirou-se deixando-o atordoado. Que brincadeira mais idiota. Ele nunca conhecera nenhuma Susana. Tinha tanta certeza disso como tinha de saber que o sol nascia todos os dias.
Isabel voltou e estendeu-lhe a carta. Depois disse-lhe como uns pescadores encontraram o corpo irreconhecível entre as rochas e como o reconhecimento fora feito pelas roupas que ela vestia.
-Lamento - disse ele. Que idade tinha a sua irmã quando supostamente manteve uma relação comigo? E quando foi isso?
-Vinte anos. Há pouco mais de dois anos Susana disse que namorava consigo. Nunca a vira tão feliz e fiquei contente. Mas pouco tempo depois, disse-me que tinham acabado, caiu em depressão, e quando descobrimos que estava grávida já era tarde para um aborto. A menina tem quinze meses.


Amigos hoje vou sair bem cedinho para o Algarve, devo chegar já bem tarde, pelo que não estranhem a minha ausência.



26.5.19

PORQUE HOJE É DOMINGO




Um homem caminha pelo deserto a gritar:
-Água...Água... Estou a morrer de sede! Entretanto avista um homem que vem na sua direção:
-Amigo, água... Ajude-me!
-Lamento mas só vendo gravatas!
E o homem continua o caminho, desesperado, à procura de água. Já de rastos avista um bar no deserto.
-Água, por favor!
Diz o porteiro:
-Aqui só entra quem tem gravata!

                                                  
                                                            **************


No manicómio:
Digam-me o que entendem por objeto transparente.
Levanta-se um doido:
-É um objeto através do qual se pode ver!
-Muito bem! Dê-me um exemplo de um objeto transparente...
Resposta pronta:
-O buraco da fechadura


                                                           **************


Dois bêbados entram num elétrico. Confundem um oficial da marinha com o revisor e apresentam-lhe os bilhetes. E trava-se o seguinte diálogo:
- Eu não sou o revisor!
-Não é o revisor ? - pergunta um espantado
-Não. Eu sou oficial da marinha.
Volta-se o bêbado para o outro:
-E agora? Enganámo-nos. Isto é um barco! 


                                                        **************


Na escola:
Alguém me sabe dizer donde vem a luz elétrica? - Pergunta o professor
Responde o Joãozinho rápido:
- Da Selva.
-Da Selva? - Admira-se o professor. Explique-se.
-Pois. Ainda esta manhã o meu pai disse, quando estava a tomar banho : 
"Os macacos cortaram outra vez a luz"



                                                 ***************

Conversa entre marido e mulher
- Querido, você vai à pesca todos os fins de semana não é verdade?
- Sim meu amor. Porquê?
- É que o seu peixe ligou e diz que está grávida.






E não se esqueçam de ir às urnas...

25.5.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE V






Setembro chegava ao fim, todavia  o sol brilhava quente e intenso a lembrar o Verão que há dias tinha dado lugar ao Outono.
Ricardo despiu o fato-macaco com que estivera a trabalhar com um dos seus mecânicos numa limusina que tinha sido alugada para um casamento dois dias depois, lavou as mãos, e encaminhou-se para o escritório.
Era um homem alto, delgado, de ombros largos e longas pernas. Teria perto de quarenta anos, moreno de olhos cinzentos e cabelos negros. Um homem muito interessante, uma presença forte, marcante. Era o dono da "Impala," uma empresa de carros de luxo, para aluguer, com ou sem motorista. Empregava dez motoristas, quase todos também mecânicos, mas não raras vezes ele mesmo se ocupava da verificação de alguma reparação mais complicada.
Era um empresário bem-sucedido, os seus motoristas eram recrutados entre os melhores, e eram reconhecidos pela eficiência e educação. Talvez por isso tinha tantos clientes fiéis.
Já no seu escritório, verificou primeiro o correio eletrónico, e só depois as cartas que a sua secretária tinha colocado em cima da mesa. Cartas do banco, faturas para pagar, recibos de contas pagas. Por último uma carta dirigia a ele e não à firma. Ficou surpreso. Quem diabo lhe escreveria e o que quereria dele? Olhou o remetente. Isabel Penha Sarmento. Não conhecia ninguém com aquele nome. Bom, o melhor era abrir a carta e ver logo do que se tratava.
Abriu o envelope, e retirou duas folhas de papel. A primeira, escrita à mão com uma letra bem desenhada dizia:

“Caro Senhor:
Ricardo Souto Medina
Sei que não me conhece e decerto estará a pensar que lhe estou a roubar o tempo, que lhe é tão precioso por nada. Acredite que me custa imenso fazê-lo. Protelei esta carta durante dez meses, mas prometi a alguém que conheceu bem, mas que já partiu, que o informaria de que o senhor foi pai de uma menina em Junho do ano passado. Junto a cópia da certidão de nascimento da menina, e verá que ela tem o seu nome.
Lamento se esta notícia vai atrapalhar a sua vida, mas promessa é promessa e eu cumpro as minhas, mesmo quando elas me afetam.
Se tiver algum interesse em conhecer a sua filha, a minha morada está no remetente.
Isabel Sarmento”

Ricardo leu e releu a carta. Depois pegou na cópia da certidão de nascimento e leu Matilde Sarmento Medina filha de Susana Penha Sarmento e de Ricardo Souto Medina.
Largou a cópia como se ela queimasse. O seu rosto moreno tinha perdido a cor. Que raio de história era aquela? Como é que alguém que ele nunca conhecera se atrevia a dar o seu nome a uma criança? Aquilo era caso de polícia.


E AGORA? SERÁ QUE SUSANA ENGANOU A IRMÃ?




E porque amanhã é domingo, esta história volta segunda. Deixo um apelo aos meus amigos portugueses. Não engrossem a fileira dos abstencionistas.  Que adianta levar o ano inteiro a clamar se quando podemos fazer alguma coisa para tentar inverter a situação não o fazemos?

24.5.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE IV



Passou a mão pela testa, tentando afastar os pensamentos dolorosos. A vizinha tinha razão, ela devia entrar em contacto com o pai da criança. Afinal era isso que a irmã desejava que ela fizesse. Mas… e se ele lhe quisesse tirar a menina? Ela morreria de dor. Matilde era muito mais que sua sobrinha.
Tinha quase trinta e três anos, e o único namorado que tivera, acabara o namoro quando a sua mãe morreu e ela assumiu a responsabilidade de acabar de criar a irmã. Ele não estava disposto a começar uma vida com tal encargo. Depois disso, dedicara-se por completo à irmã, e depois à sobrinha. Acreditava que lhe queria tanto como se fosse sua filha. Por isso a criança lhe chamava mãe. Na verdade nunca conhecera outra.
Mas será que ele ia querer saber duma criança fruto de uma aventura passageira? E se lhe escrevesse uma carta e lhe mandasse a cópia da certidão de nascimento da menina? Assim era melhor, se não obtivesse resposta à carta, era sinal que ele não se interessava e pronto, assunto arrumado.
Ouviu o sinal de que a máquina acabara de lavar. Levantou-se e foi estender a roupa. Logo de seguida, ouviu a criança a chamar, e foi tirá-la da cama. Levou-a para a cozinha e deu-lhe o lanche. Depois mudou-lhe a roupa, e a criança riu feliz e bateu as palmas, quando lhe disse que iam ao parque.
Pôs no saco um biberão com água, colocou e prendeu a menina no carrinho, deu-lhe o seu peluche preferido, pegou na mala, nas chaves e saiu. Tocou a campainha do andar em frente e uns segundos depois a vizinha abria a porta.
- Vou ao parque com a Matilde. Quer vir connosco?
-Se esperar uns minutos, enquanto calço uns sapatos, e dou uma penteadela ao cabelo, vou.
-Claro que esperamos.
De facto, Natália, não demorou mais do que dois minutos a voltar. Fechou a porta e as duas saíram do prédio e encaminharam-se para o parque que ficava muito perto. No seu carrinho, Matilde palrava num alegre conversa com o seu peluche. Ficava sempre radiante quando ia ao parque. Gostava de andar de baloiço, e de atirar pedacinhos de pão para o lago. Ria alto e batia palmas sempre que algum dos patos apanhava o pão.
Tinha começado a andar há pouco tempo, ainda não conseguia dar mais que três quatro passos sozinha, mas agarrada aos móveis corria a casa toda. Também palrava imenso, mas palavras, dizia poucas. Pronunciava bem, mãe, e não. Depois havia outras palavras, que não sendo corretas se entendiam perfeitamente. " vó Taia” para chamar Natália, “Bias” o seu peluche preferido Tobias, (ão ão), cão (áua) água. As duas mulheres, tal como todas as mães e avós sorriam enlevadas a cada nova gracinha da bebé.

23.5.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE III




Isabel poisou o prato em cima da mesa da cozinha, retirou o babete à menina e pegando-lhe ao colo tirou-a da cadeira.
- Agora vamos mudar a fraldinha, e a Matilde  vai fazer ó-ó.
Levou a menina para o quarto, mudou-lhe a fralda e deitou-a. Fechou a persiana e saiu.
Lavou e arrumou a loiça do almoço, separou a roupa branca da escura e pôs a máquina a lavar.  Finalmente sentou-se um pouco no sofá. Estava cansada. Fechou os olhos e deixou-se levar pelas lembranças.
Isabel tinha dez anos, quando o pai falecera, vítima de atropelamento, quando regressava a casa, depois de um dia de trabalho, deixando a mãe com duas crianças pequenas. Ela e Susana então com três meses de idade. Fora uma vida de muitos sacrifícios para a mãe, mas apesar de não terem brinquedos caros, nem roupas de marca, nunca lhes faltou o necessário, embora a mãe tivesse que deitar mão a qualquer trabalho extra que lhe aparecesse já que o ordenado como operária numa fábrica de confeções, era curto para alimentar, vestir, calçar e educar duas filhas. Menos mal que o seguro de vida do marido pagou a casa, pelo que tinham um teto para morar e não tinham que se preocupar com a despesa da renda da casa.
Isabel compreendia a situação, e não tinha outro desejo que não fosse acabar o secundário e arranjar um trabalho que lhe desse pelo menos para as suas despesas. Assim quando acabou os estudos empregou-se numa retrosaria e matriculou-se na faculdade a fim de tirar o curso de secretariado e tradução. Mais tarde, pouco antes da morte da mãe, Acabado o curso, serviu-lhe para se empregar como secretária numa grande empresa, com um bom salário.
Susana sempre fora uma criança difícil. Talvez que lhe tivesse faltado a disciplina dum pai. A mãe trabalhava tanto que quase não tinha tempo para ela, e a irmã vivia desculpando a sua rebeldia.  Melhorou depois que foi para a Universidade, e principalmente durante o tempo que namorou com Ricardo.
Isabel não chegou a conhecer o empresário. Susana nunca o convidara a ir lá a casa, e ela suspeitava que a irmã tinha vergonha da casa delas, dos móveis antigos e fora de moda. Depois de repente, o namoro acabou e a irmã ficou ainda mais instável e deprimida. E se a gravidez foi vivida quase de forma apática, a situação piorou bastante depois do nascimento da filha, até que dez meses antes, Susana se suicidara, deixando-lhe aquela carta e a sua filha.
E como um mal nunca vem só, logo após da morte da irmã,talvez por conta do tempo de crise que o país vivia, a empresa onde trabalhava, abriu falência. Agora quase a terminar o subsídio de desemprego, ela precisava com urgência de arranjar um trabalho que lhes permitir-se sustentarem-se.

22.5.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE II



Mais tarde, Isabel dava o almoço à sobrinha. Matilde era uma bebé de quinze meses, grandes olhos cinzentos, provavelmente herança paterna, já que na sua família todos tinham olhos castanhos. Também o cabelo preto era diferente do cabelo da mãe da mãe e do seu, ambos, castanho-claro quase do tom do mel. No resto, a boca, o narizito arrebitado era semelhante à mãe. Que saudades, Isabel tinha da irmã, que se suicidara dez meses antes, deixando a menina então com cinco meses a seu cargo.
 Susana nunca fora psicologicamente muito forte. Desde menina nunca soube gerir as suas emoções, parecendo viver em constante conflito com o mundo inteiro, e com ela própria. Quando se apaixonara, parecia estar mais forte, mas o descobrir que não passara de uma aventura para o homem que amava, acabara por derrubá-la e entrou em depressão, que se agravara após o parto. Isabel cansara de insistir para que procurasse ajuda especializada, mas Susana sempre se escusara. Até ao dia em que tomou a trágica decisão de acabar com a vida.
Nesse dia, dissera-lhe que ia ter uma consulta, pediu-lhe para cuidar da sua filha e saiu. Quando mais tarde, ela fora ao seu quarto vira em cima da cómoda aquela carta.
Lera-a tantas vezes que a sabia de cor.


“Isabel vou sair daqui a pouco para não voltar. A vida para mim nunca fez sentido e hoje mais do que nunca, sinto que não é aqui o meu lugar. Deixo-te a Matilde. Sei que a amas muito. Na verdade desde que ela nasceu, tu foste muito mais a sua mãe do que eu. E é o imenso amor que sentes por ela, que a salva, pois o meu vontade, era levá-la comigo. Na cómoda do meu quarto está a sua certidão de nascimento. Registei-a com o nome do pai, e peço-te que logo que possas, faças com que se conheçam. Não lhe digas mal dele. Eu não lhe tenho rancor. Apesar de tudo, o tempo que passei com ele, foi o mais feliz da minha vida. Perdoa-me minha irmã, se te faço sofrer, mas acredita que a minha partida, será o melhor para ti e para a Matilde. Eu nunca seria capaz de a amar como tu.
Susana”


Quando acabou de ler a carta, ficou desesperada. Bateu à porta da vizinha, pedindo-lhe se tomava conta da bebé e saiu desaustinada para a rua tentando encontrar a irmã. Procurou nos arredores, telefonou a amigos. Debalde. Ninguém a tinha visto.
Regressou a casa, desalentada. Recriminava-se por não ter insistido mais com a irmã para procurar ajuda médica. A firma onde trabalhava como secretária há quase seis anos ia entrar em falência e ela estava preocupada com a certeza do desemprego que a esperava. Depois chegava a casa e tinha de cuidar da sobrinha de cinco meses, pois a irmã passava os dias na cama, e não ligava nenhuma à filha, que ia crescendo de boa saúde graças aos cuidados dela e de Natália, a vizinha que cuidava da menina enquanto ela estava no trabalho.
Não fora isso, e talvez ela se tivesse apercebido do abismo onde a irmã tinha caído.
-Mãe, não …
-Não queres comer mais, meu amor?
-Não – disse a criança, reforçando a palavra com um gesto negativo da cabeça.


Hoje não houve tempo para visitas. Passei o dia em Lisboa, entre tratar de documentos, ir ver o cunhado (Que teve um  AVC) ao hospital e levar horas retida por causa da greve dos barcos foi um dia complicado.

21.5.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE I




-Como é que ela se portou?- perguntou a jovem ao entrar em casa.
- Muito bem. É um amor. Não dá trabalho nenhum – respondeu a mulher com um sorriso. – Conseguiu alguma coisa?
-O costume. Darão uma resposta mais tarde. O pior é que já não posso esperar muito mais. Preciso de arranjar trabalho com urgência. O subsídio de desemprego está quase a acabar, o pouco dinheiro que tinha amealhado está quase no fim, e as necessidades dela são cada vez maiores.
- A Isabel sabe, que enquanto eu puder não lhe vai faltar nada, nem a si nem à menina. Não tenho mais família do que um sobrinho do meu falecido marido, que nem sei se ainda é vivo, pois desde que há dez anos emigrou para a Austrália, nunca mais deu notícias. E demais gosto das duas como se fossem realmente da minha família.
- A Natália é um amor, e eu agradeço muito, mas já basta cuidar da Matilde, sem cobrar nada. É uma grande ajuda, pois neste momento não posso pagar uma creche, e não posso continuar à procura de trabalho, com ela ao colo. Guarde as suas economias, não pode gastá-las connosco, nunca se sabe o dia de amanhã. Eu preciso mesmo de trabalhar, nem que seja a ganhar o ordenado mínimo. É apertado, mas desde que dê para as necessidades básicas, já me dou por feliz.
-Desculpe voltar ao mesmo. Mas custa-me vê-la nessa aflição. Não entendo porque a sua irmã não entrou em contacto com o pai da Matilde. Registou a bebé com o nome dele.
- Sabe como era a Susana, não se abria muito, não sei o que aconteceu para terminarem. Só me disse que o encontrou um dia no Vasco da Gama, e ele fingiu não a conhecer. A Susana ficou de rastos. Pôs o nome dele no registo da menina, por entender que a criança tem direito a saber quem é o pai. Penso que a minha irmã sempre sentiu falta do nosso pai, que ela não chegou a conhecer.
-Já me disse isso. Mas continuo a pensar que a Isabel devia procurar o pai da Matilde. Ele tem obrigação de ajudar, na criação da filha.
- E eu vou procurá-lo se não conseguir algum trabalho até ao fim do mês. Já podia ter começado a trabalhar na caixa do supermercado, mas queriam que fizesse turnos e por causa dela, não pude aceitar.
- Credo Isabel, caixa de supermercado com as suas habilitações?
-O que quer, Natália, se não consigo emprego, como secretária, tenho que me sujeitar ao que me aparecer. E ser caixa num supermercado não é desonra nenhuma. Há dez meses que estou inscrita no fundo de desemprego e só tenho feito cursos, e mais cursos, mas trabalho que é bom, nada.
-Claro que não, Isabel. De qualquer modo continuo a pensar que devia esperar um pouco mais, até arranjar uma coisa melhor. Foi uma pena que a empresa onde estava tivesse aberto falência. Já lá estava há tanto tempo!
-Seis anos. Mas enfim não vale a pena chorar sobre o leite derramado. Vou preparar o almoço. Quer almoçar comigo?
- Sobrou-me uma boa parte do jantar de ontem é só aquecer. De qualquer modo obrigada. A Matilde já dorme há mais de uma hora, deve estar quase a acordar.
-Mais uma vez muito obrigada. Vou preparar-lhe o almoço, porque quando acordar deve estar cheia de fome.
-Então até logo, Isabel. Se precisar de sair é só tocar a minha campainha.
- Até logo Natália. Não conto sair esta tarde, mas se precisar não esquecerei a sua oferta. A senhora é o nosso anjo da guarda.


A quem me perguntou se esta história era uma reedição informo que não.
Fiquei tão baralhada que fui ler o inicio de todas as histórias que já escrevi e a única que tem uma jovem junto de uma falésia no início, é a "Folha em Branco" que começa com um pintor que vê uma jovem sobre a falésia, suspeita das suas intenções e a salva de mergulhar no espaço. Como verão com o avançar da história, o único ponto em comum é uma jovem e uma falésia.


20.5.19

UM PRESENTE INESPERADO





                                                    Prólogo


O dia apresentava-se invernoso naquele final de Novembro. Chovera quase todo o dia e o céu continuava muito escuro. Ao longe no horizonte, um arco-íris, punha uma nota de cor, na negrura das nuvens. O vento soprava forte, e o mar rugia, atirando as vagas de encontro à Falésia, como se estivesse lutando para derrubá-la.
Sobre ela, uma figura solitária, indiferente ao tempo, quiçá até à própria vida, parecia observar fascinada a dança louca das vagas.
Tinha vinte e dois anos, e uma vida de sofrimento atrás de si. Toda a vida foi uma inadaptada. Não conhecera o pai, de quem sempre sentira a falta, e embora a mãe se matasse a trabalhar para criar as duas filhas, ela nunca se sentiu feliz com a vida que tinha. Sentia-se infeliz por não ter roupas bonitas e caras como as suas amigas. Ela tinha que se contentar em usar as roupas que Isabel usara anos antes e que a mãe guardara religiosamente para ela. Tinham dez anos de diferença, quando chegava a vez dela já ninguém vestia semelhantes roupas.
Como ela gostaria de ser como a sua irmã Isabel, que se contentava com a vida que tinha e era feliz. Ela, Susana, vivia corroída pela inveja. Invejava as amigas que tinham o pai vivo, as que iam para a escola de carro, as que usavam roupas de marca, até o feitio manso da irmã ela invejava. E sonhava que um dia tudo ia mudar na sua vida.
Tinha quinze anos quando a mãe morreu e ficou sozinha com Isabel. A irmã assumiu as despesas da casa, e ela continuou a estudar, acabou o secundário e pensou entrar no mercado de trabalho, mas Isabel insistiu que lhe pagaria os estudos e que ela precisava continuar a estudar. Matriculou-se na Faculdade de Ciências, mas numa saída com colegas no segundo ano, conheceu Ricardo de Souto Medina, um empresário, rico e bem-parecido, por quem se apaixonou.
Ricardo, trinta e sete anos, sentiu-se lisonjeado com o fascínio que a jovem tinha por ele. Começaram a sair juntos, mas se Susana sonhava com o amor, e um casamento que lhe desse enfim a vida a que ela julgava ter direito, Ricardo pensava apenas em se divertir e aproveitar o que ela estivesse disposta a dar-lhe. Quando a novidade deixou de o ser, desapareceu, e não deu mais noticias.
Desiludida e deprimida, não queria sair de casa, deixou os estudos. Sentia-se mal, tinha náuseas, não lhe apetecia comer.
Quando Isabel preocupada conseguiu convencê-la a ir ao médico, descobriu que estava grávida de doze semanas. Ficou ainda pior.
A gravidez foi um suplício, dividia-se entre o amor pelo ser que ia dar ao mundo e a raiva por sentir que não tinha condições para criar um filho, nem queria que ele tivesse a mesma vida medíocre que ela tinha.
Um dia quase no fim da gravidez, encontrou Ricardo num Centro Comercial. Sentiu um baque no peito. Quem sabe, ele vendo-a grávida, voltasse para ela? Porque ele tinha de saber que o filho era dele. Dirigiu-se-lhe, mas ele fingiu não reconhecê-la. Ficou de rastos. Uma semana depois dava à luz uma menina, que Isabel adorava, mas de quem ela não conseguia gostar. Aliás ela não conseguia gostar de ninguém, nem sequer de si mesma. A única coisa que lhe apetecia era desaparecer.
Lentamente começou a caminhar na direção da falésia. Lá em baixo o mar agitado parecia chamar por ela. Susana… Susana…
De súbito o seu corpo voou, e por breves instantes sentiu-se livre e feliz. Logo depois foi tragada pelas águas revoltas, enquanto uma gaivota grasnava sobre a falésia.

19.5.19

PORQUE HOJE É DOMINGO




O Sr João, de 87 anos, apareceu na rua com uma muleta. A Dª Rosa, sua vizinha perguntou-lhe o que tinha acontecido e ele queixou-se de uma dor na perna direita.
-É da idade, -sentenciou a vizinha
-Não é não senhora - respondeu de pronto o Sr. João, argumentando - a outra perna tem a mesma idade e anda sem problemas!


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Numa aula de hábitos alimentares saudáveis:
- O melhor leite para os bebés é o leite materno, por três razões: é o mais fresco, o mais nutritivo, e aquele que tem uma embalagem mais atraente.

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O Sr. Zokovitch, grande magnata dos petróleos, contratou uma nova secretária. Jovem, loira e muito bela. Na hora de convocar uma reunião de acionistas, chamou a secretária e disse-lhe:
-Marca a reunião para sexta-feira.
-Sexta escreve-se com x ou com s - perguntou a secretária
-É melhor marcar para quinta-feira - responde o magnata


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As conversas da treta, começam sempre na obra prima do mestre e terminam na prima do mestre de obras


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Dois empresários de calçado, foram a África em viagem de negócios. Aterraram num país onde todos andavam descalços.
Os dois fizeram um relatório sobre oportunidades de negócio.
O pessimista escreveu:
"Andam todos descalços. Não há nada a fazer. Negócio furado"
O otimista escreveu:
"Andam todos descalços. Fantástico. Vamos vender milhões. Negócio de sucesso"


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Num café algarvio estavam numa mesa, um inglês, um alemão, e um português. A certa altura entra um freguês e diz o inglês:
-Aquele tipo é igualzinho a Jesus Cristo. A barba, o cabelo, a túnica...vou falar com ele.
-Dirigiu-se ao homem e tanto insistiu que ele acabou confessando ser efetivamente Jesus Cristo, mas pediu para ele guardar segredo, não queria que ninguém soubesse.
O inglês fez chantagem, e exigiu que Ele o curasse de ser coxo ou contaria a toda a gente.
Jesus Cristo fez o milagre.
O alemão que era cego de um olho ao ouvir o inglês, levantou-se e foi ter com Jesus, exigindo a cura do olho em troca do seu silêncio. O milagre foi feito e o alemão feliz contou aos outros. O português ouviu mas não se mexeu.
Intrigado Jesus Cristo, foi ter com ele e poisou-lhe a mão no ombro. O português levantou-se de um salto gritando-lhe:
- Tira a mão de cima de mim que estou de baixa!

BOM DOMINGO

Os meus parabéns a todos os amigos benfiquistas que passam por aqui..

17.5.19

ESCRITO NAS ESTRELAS - PARTE III

Reedição



A partir daí, durante uma semana, todos os dias se falavam pelo telefone, cada um abrindo um pouco mais, a janela da sua alma para o outro.
Na Sexta-feira, da semana seguinte,  Ema anunciou que ia passar o fim-de-semana a Lisboa. Não informou quando chegaria, nem como, apenas pediu para ele ir ter com ela a um conhecido centro comercial,no sábado seguinte, local para onde se dirigia naquela manhã de Domingo.
Nessa noite, Abílio quase não dormiu de tanta excitação. O cabelo embranquecera, o rosto enrugara, mas o coração mostrava-se tão apaixonado, como se tivesse vinte anos. Abriu a velha caixa que o acompanhara toda a vida, mirou e remirou o monte de cartas amarelecidas pelo tempo, presas com um laço azul, sem saber se devia ou não levá-las para o encontro.  No Sábado perto da hora do almoço, sentiu-se mal. Tinha ido à rua buscar o pão e o jornal e de súbito, no regresso a casa, o dia escureceu de repente, o chão fugiu-lhe debaixo dos pés, sentiu que devia segurar-se a qualquer coisa, mas não foi capaz e depois de um estranho bailado acabou estatelando-se junto da porta do vizinho.
Incomodado com o barulho, este abriu a porta, e vendo o que se passava apressou-se a chamar os bombeiros que o levaram para o hospital, onde foi medicado, fez uma série de exames e ficou em observação. Sem ter como avisar Ema, temia que desiludida, ela voltasse para Braga sem se encontrarem. Finalmente já depois das dez da noite, convencidos os médicos, de que tudo não passara de um episódio provocado pela ansiedade e que não havia a temer, nenhum mal maior, foi-lhe dada alta.
Regressou a casa num táxi, e lá chegado mandou uma mensagem a Ema explicando-lhe  o sucedido. Ela respondeu-lhe que relaxasse, dormisse descansado e se encontrariam no mesmo local no dia seguinte às onze horas para almoçarem juntos.
Fosse pela resposta, ou pela medicação tomada no hospital o certo é que adormeceu rápido.
A meio da noite, sentiu que não estava sozinho. Abriu os olhos e a figura à Fernanda envolta num manto tão branco que feria os olhos, sorria-lhe junto da cabeceira da cama.  Transpirando, sentindo que estava a morrer, estendeu-lhe a mão. Mas ela não lhe pegou. Com uma voz doce, disse:
“Não meu querido, ainda não. Ainda tens um pedaço de vida para cumprir. Vim para te libertar desse remorso, que parece querer levar-te,  antes que o teu tempo se cumpra. Sempre soube que no teu coração havia outro amor. Mas nem por isso fui infeliz. Porque apesar disso, do jeito que podias e sabias, sempre me amaste, como amaste os nossos filhos, e nunca em momento algum senti que não estavas comigo. Fui muito feliz contigo, não tens que pedir perdão nem recriminar-te. Agora é hora de te libertares e viveres esse grande amor que já estava escrito nas estrelas, muito antes de eu chegar à tua vida. E quando pensares em mim, que eu seja uma doce lembrança, e não motivo de sofrimento. Agora vou, mas estarei sempre por perto para te proteger. Na brisa que te acaricia o rosto, na espuma que te molhe os pés na praia, no sorriso de uma criança no desabrochar de uma flor. Vai meu amor, vai ser feliz”
Acordou sobressaltado, com um raio de sol sobre a face. Oito horas? Mas como era possível ter dormido tanto? E a presença de Fernanda no quarto, afinal não passara de um sonho? Mas parecia tão real.
Levantou-se, tomou banho, vestiu umas calças de ganga, e uma suéter azul, uns ténis e saiu para a rua. Ia à padaria, mas antes tinha que bater à porta do vizinho para lhe agradecer tê-lo socorrido no dia anterior.
Às onze em ponto, entrou no local combinado para o encontro e o coração acelerou quando a viu. Ema tinha sessenta anos, mas não aparentava mais de cinquenta. Era uma bela mulher, e ao olhá-la, sentiu aumentar os seus receios. Sentia-se como se em vez de cinco anos os separassem vinte. Nesse momento sentiu uma impressão no rosto, como o suave roçar de uma pena, lembrou do que Fernanda lhe dissera no sonho e avançou confiante.
- Desculpa o atraso, querida. Nunca me tinha acontecido uma coisa assim- disse depositando na bela face um suave beijo.
- Esperei por ti toda a vida, - disse ela sorrindo. Mesmo quando ainda não tinha consciência disso. Que diferença faz, meia dúzia de horas mais?
Sem mais explicações, deram as mãos e afastaram-se de dedos entrelaçados.

Fim


Maria Elvira Carvalho




16.5.19

ESCRITO NAS ESTRELAS - PARTE II

Reedição.
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Decidido, foi até Santar, no distrito de Viseu e procurou a jovem que o acompanhara e lhe dera apoio moral nos últimos vinte meses.  
Simpatizaram, namoraram e casaram. Depois emigraram para França, lá trabalharam, tiveram filhos e netos. Fernanda foi uma grande companheira. Era boa esposa e boa mãe, e apesar de reconhecê-lo sabia que não se tinha dado por inteiro e por vezes o remorso assaltava-o. Mas não estava na sua mão, ele não conseguia amar sem reservas, com todo o seu coração. Porque uma parte dele não lhe pertencia. Ficara lá atrás, no passado, preso a uma garota que jurou ama-lo até à morte. Apesar disso, procurou sepultar essa parte de si mesmo, e dar à esposa, a felicidade que ela merecia. E ela foi uma mulher feliz até que o maldito cancro a levou.
Viúvo e prestes a ser reformado, Abílio sonhava voltar ao seu amado Portugal, rever as ruas onde crescera e vivera, sentir o cálido e luminoso sol de Lisboa, passear pela baixa, espraiar o olhar pelo Tejo. Porém os filhos e os netos eram franceses. Lá nasceram, cresceram se fizeram adultos, amaram, casaram. Abílio entendia que os filhos não quisessem alterar toda a sua vida, para irem para um país que nada lhes dizia, e que, não tinha condições, de lhes oferecer empregos, compatíveis com a vida que tinham no seu país natal. Mas como diziam na sua terra, amigo não empata amigo e por isso despediu-se dos filhos e netos, prometendo que passariam as datas mais importantes juntos, quer fosse em Lisboa, ou em Paris, e rumou a Lisboa, onde alugou uma pequena casa na Graça.
Nos primeiros tempos deambulou pela cidade, admirando-se com as enormes mudanças efetuadas desde a última vez que ali estivera para assistir ao funeral da mãe,vinte anos atrás.( O pai havia falecido, anos antes, enquanto ele estava em Moçambique). Depois disso, sempre que vinha de férias a Portugal, ficava-se pela casa dos sogros em Santar. Viveu feliz durante uns meses, até ao dia em que a solidão se apresentou na sua casa, sentou à sua mesa e deitou na sua cama. E não há pior amante que a solidão.
  A rua onde nascera estava irreconhecível, os amigos de infância tinham desaparecido, e nesta nova Lisboa, ele não conhecia ninguém.
O olhar tonou-se nostálgico, o sorriso foi perdendo naturalidade. Até os filhos e netos, notaram a diferença, nas longas conversas via Skipe.  Para o animar, Alexandre o neto mais velho, aconselhou-o a criar um perfil numa rede social muito em voga, e a procurar os seus antigos amigos pelo nome nessa rede.
“Hoje em dia, avô, só não está nessa rede, quem já morreu, ou não sabe ler. Vais ver que vais encontrar amigos, até talvez os teus antigos companheiros  de Moçambique”
Animado, Abílio assim fez. E começou uma busca, pelos seus amigos na Internet. Conseguiu encontrar alguns amigos de infância, mas apenas três residiam na cidade, os outros estavam espalhados pela Europa, para onde tinham emigrado em busca de melhores condições, tal como ele fizera. E então, antes de procurar os companheiros da tropa, ganhou coragem e procurou Ema. 
Encontrou-a a viver em Braga, e enviou-lhe uma mensagem a que ela respondeu no mesmo dia, com o seu número de telemóvel.
Nervoso e ansioso, sem saber se ela estaria empregada, esperou a noite para lhe telefonar. Emocionou-se ao ouvir a sua voz, que lhe contava que vivia ali com a irmã, e a sobrinha. Que voltara a viver em Lisboa, depois que os pais, morreram, mas que se mudara para Braga, quando a irmã ficara viúva a fim de a apoiar. Não, não tinha casado, nunca tinha encontrado alguém que a levasse a desejar fazê-lo.  Por sua vez, ele falou-lhe do tempo de guerra em Moçambique, das inúmeras cartas que lhe enviara e recebera de volta. Falou-lhe de Fernanda, do seu casamento, dos filhos e netos, luso-franceses, e da sua atual vida em Lisboa. 

Continua


15.5.19

ESCRITO NAS ESTRELAS - PARTE I

REEDIÇÂO


Amigos, para a semana terão uma nova história.  Até lá vou reeditar, uma pequena história (3 dias). Alguns talvez se lembrem outros por serem leitores recentes não a terão lido. É uma história diferente por se tratar de gente sénior. Espero que vos agrade
                                                           




                                                                 I


O homem estacionou o carro e entrou no centro comercial apressado. Tinha sessenta e cinco anos, era alto e delgado. Com o uma farta mas bem curta cabeleira completamente branca, e algumas rugas apresentava ainda uma certa beleza apesar da idade. Os olhos azuis, qual pedaço de céu em dia ensolarado, o nariz retilíneo e a boca bem desenhada, eram parte do seu encanto. Apesar da idade, e das rugas, era ainda um homem muito interessante.
No olhar inquieto e no movimento das mãos, notava-se que apesar da sua presença forte, estava nervoso. Vinha para um encontro, que podia mudar toda a sua vida, mas… com quase vinte e quatro horas de atraso.
Quando Abílio tinha vinte anos, namorara Ema, uma rapariga da vizinhança, cinco anos mais nova.
 Ele sabia que ela era uma menina, mas gostava do jeito da gaiata, da sua personalidade,e pensara que como tinha uma vida à sua frente, podia esperar uns anos para que a rosa que se adivinhava naquele botãozinho, crescesse e desabrochasse esplendorosa.
Porém o pai da jovem não esteve pelos ajustes, proibiu o namoro, e ameaçou que o denunciaria às autoridades como pedófilo, se voltasse a vê-lo com a filha. Por essa altura Abílio foi para a tropa, e alguns meses mais tarde partiu no paquete Vera Cruz para uma comissão no norte de Moçambique.
Abílio não esquecia a sua pequena Ema, e tinha esperança de quando acabasse a comissão e regressasse a Portugal, o pai dela tivesse mudado de ideia, e não pusesse obstáculos ao seu namoro com a filha.
Isso mesmo escreveu numa carta amorosa, em que lhe falava das saudades que tinha dela, e lhe pedia uma fotografia para o acompanhar naquele tempo de provação.
A carta veio devolvida pouco tempo depois, como vieram as restantes que escreveu durante seis meses, até se convencer que era tempo perdido. 
Então um dia numa revista de espetáculos, viu umas páginas em que vários soldados pediam madrinhas de guerra, e resolveu escrever para a revista com o mesmo pedido. Aguardou impaciente, com um certo receio de não receber nenhuma carta, mas recebeu muitas.
 Ou era chique, ou moda, as moçoilas terem um afilhado de guerra. De todas as cartas, ele escolheu a de Fernanda, uma jovem de Santar, uma vila beirã de que nunca tinha ouvido falar até à data, mas cuja carta lhe pareceu a mais atilada de todas. 
De regresso à Pátria, ansioso por ver a sua amada Ema, sofreu o desgosto de saber que se tinham mudado para parte incerta, logo após a sua partida para África. Guardou no coração, todos os seus sonhos do futuro, e a recordação de um amor que nada mais lhe dera do que um terno e ingénuo beijo, e decidiu levar a vida em frente.


continua