No dia seguinte, encontraram-se no laboratório, fizeram o teste e separaram-se quase sem se falarem. O resultado demoraria uma semana, e ele não pensava voltar a vê-la antes disso.
Ricardo seguiu para a sua empresa um tanto atónito.
Tivera ocasião de ver a criança enquanto esperava para fazer o teste, e
sentira-se impressionado com os seus olhos cinzentos, o cabelo negro e a cor
morena. Não se parecia nada com a mulher, fosse ela tia, como dizia, ou mãe, como a criança lhe chamava. Ele continuava muito desconfiado em relação aquela história. No entanto para ser sincero, diria que a criança se parecia bem mais com ele, do que com ela. Apesar disso estava de consciência tranquila. Não
que ele não tivesse as suas aventuras, Mas nunca se envolveria com uma ninfeta, por muito bonita que fosse. Ele gostava de mulheres mais velhas. E além disso, tinha uma regra de ouro, que nunca, em circunstância alguma, quebrava. Nunca fazia sexo sem preservativo,
ainda que a mulher lhe jurasse que tomava a pílula ou tinha o DIU. Podia estar com uma mulher muito bonita, e muito excitado, mas se não tivesse um preservativo com ele,
arranjava qualquer pretexto, ia para casa e tomava um banho gelado. Depois do que Ivone lhe fizera, ficara
vacinado. Relembrou aquela história, que condicionou todo o seu futuro e ainda hoje, lhe doía.
Na altura em que a conheceu, tinha apenas vinte anos, era "um miúdo" com as hormonas em ebulição e nenhuma
experiência de vida. Ivone, era tão linda quanto pérfida. Era apenas três anos mais velha, mas sabia mais da arte de sedução
que muitas mulheres aos quarenta. Resultado, dois meses depois ela
comunicou-lhe que estava grávida, e ele ficou louco de felicidade e pediu-a em
casamento. Na altura, ainda nem tinha terminado os estudos, não tinha emprego, nem sabia como ia sustentar uma família, mas estava completamente fascinado por ela, de
tal modo que o seu pai, propôs-lhe fazer o casamento e assumir as
despesas com a sua casa, em troca dele ir trabalhar para a oficina e terminar os
estudos à noite.
Porém logo depois de casados, Ivone deixou cair a
máscara. Queria sair quase todas as noites e clamava que ele nunca estava
disponível para isso e que se sentia como ave numa gaiola. Uma noite ainda não
tinham dois meses de casados chegou a casa e não a encontrou. Sem saber onde a
procurar esperou o seu regresso. Ela chegou quase à uma da manhã. Veio
acompanhada por um casal, mas ainda assim ele não gostou de que tivesse saído e
tiveram a primeira discussão séria. Depois dessa vieram outras, a sua vida
transformara-se num inferno que ele só suportava por causa do bebé. Seis meses mais tarde, já nem estranhava
quando chegava à casa depois das aulas e não a encontrava. E estava tão
cansado, que raramente dava pela sua chegada. Com a desculpa de que a gravidez
a incomodava e não lhe dava qualquer prazer a intimidade, ela fizera com que
ele fosse dormir para o sofá da sala. E já quase não se viam. Ele levantava-se cedo para ir trabalhar, almoçava com o pai, e no fim do dia quando ia a casa
tomar banho e mudar de roupa para ir para as aulas, ela já não estava em casa. Por
vezes sentia tanta raiva que lhe apetecia partir tudo. Outras ficava
completamente indiferente. Às vezes surgia-lhe a ideia peregrina, de que tudo
aquilo eram humores de grávida e que a situação mudaria quando o bebé nascesse
e ele terminasse o curso. Teriam mais tempo um para o outro e a chama voltaria
a acender-se. Por essa altura o casamento já tinha acabado há muito, só a sua
ingenuidade ainda lhe dava esperanças.
Até que numa noite, ao ir deitar-se encontrou no sofá uma
carta de Ivone. Nela lhe informava que ia partir com o homem da sua vida, o pai
do seu filho. Dizia-lhe que nunca o amara, mas estivera três meses sem notícias
do namorado, que se tinha ausentado do país. Ela pensara que ele a tinha
abandonado. Como estava grávida, precisava de um pai para o seu filho, e dada a sua ingenuidade, não tinha sido difícil convencê-lo que o filho era dele.
E aqui temos o primeiro bocadinho da minha recente visita ao Algarve. Se estiverem interessados em saber o que andei a fazer, vão até lá