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20.5.19

UM PRESENTE INESPERADO





                                                    Prólogo


O dia apresentava-se invernoso naquele final de Novembro. Chovera quase todo o dia e o céu continuava muito escuro. Ao longe no horizonte, um arco-íris, punha uma nota de cor, na negrura das nuvens. O vento soprava forte, e o mar rugia, atirando as vagas de encontro à Falésia, como se estivesse lutando para derrubá-la.
Sobre ela, uma figura solitária, indiferente ao tempo, quiçá até à própria vida, parecia observar fascinada a dança louca das vagas.
Tinha vinte e dois anos, e uma vida de sofrimento atrás de si. Toda a vida foi uma inadaptada. Não conhecera o pai, de quem sempre sentira a falta, e embora a mãe se matasse a trabalhar para criar as duas filhas, ela nunca se sentiu feliz com a vida que tinha. Sentia-se infeliz por não ter roupas bonitas e caras como as suas amigas. Ela tinha que se contentar em usar as roupas que Isabel usara anos antes e que a mãe guardara religiosamente para ela. Tinham dez anos de diferença, quando chegava a vez dela já ninguém vestia semelhantes roupas.
Como ela gostaria de ser como a sua irmã Isabel, que se contentava com a vida que tinha e era feliz. Ela, Susana, vivia corroída pela inveja. Invejava as amigas que tinham o pai vivo, as que iam para a escola de carro, as que usavam roupas de marca, até o feitio manso da irmã ela invejava. E sonhava que um dia tudo ia mudar na sua vida.
Tinha quinze anos quando a mãe morreu e ficou sozinha com Isabel. A irmã assumiu as despesas da casa, e ela continuou a estudar, acabou o secundário e pensou entrar no mercado de trabalho, mas Isabel insistiu que lhe pagaria os estudos e que ela precisava continuar a estudar. Matriculou-se na Faculdade de Ciências, mas numa saída com colegas no segundo ano, conheceu Ricardo de Souto Medina, um empresário, rico e bem-parecido, por quem se apaixonou.
Ricardo, trinta e sete anos, sentiu-se lisonjeado com o fascínio que a jovem tinha por ele. Começaram a sair juntos, mas se Susana sonhava com o amor, e um casamento que lhe desse enfim a vida a que ela julgava ter direito, Ricardo pensava apenas em se divertir e aproveitar o que ela estivesse disposta a dar-lhe. Quando a novidade deixou de o ser, desapareceu, e não deu mais noticias.
Desiludida e deprimida, não queria sair de casa, deixou os estudos. Sentia-se mal, tinha náuseas, não lhe apetecia comer.
Quando Isabel preocupada conseguiu convencê-la a ir ao médico, descobriu que estava grávida de doze semanas. Ficou ainda pior.
A gravidez foi um suplício, dividia-se entre o amor pelo ser que ia dar ao mundo e a raiva por sentir que não tinha condições para criar um filho, nem queria que ele tivesse a mesma vida medíocre que ela tinha.
Um dia quase no fim da gravidez, encontrou Ricardo num Centro Comercial. Sentiu um baque no peito. Quem sabe, ele vendo-a grávida, voltasse para ela? Porque ele tinha de saber que o filho era dele. Dirigiu-se-lhe, mas ele fingiu não reconhecê-la. Ficou de rastos. Uma semana depois dava à luz uma menina, que Isabel adorava, mas de quem ela não conseguia gostar. Aliás ela não conseguia gostar de ninguém, nem sequer de si mesma. A única coisa que lhe apetecia era desaparecer.
Lentamente começou a caminhar na direção da falésia. Lá em baixo o mar agitado parecia chamar por ela. Susana… Susana…
De súbito o seu corpo voou, e por breves instantes sentiu-se livre e feliz. Logo depois foi tragada pelas águas revoltas, enquanto uma gaivota grasnava sobre a falésia.

24 comentários:

Roselia Bezerra disse...

Bom dia de nova semana, querida amiga Elvira!
Oxalá tenha sido um pensamento e não um suicídio.
Gostei muito do prólogo, vou continuar...
Tenha dias abençoados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

Sandra May disse...

Oi, Elvira!
Essa novela promete...
Gostei do prólogo, um esboço, já com tintas carregadas e intensas.
Também, como disse a Roselia, vou esperar que seja um sonho de Suzana. Mas tô achando que não foi.
Amanhã eu voltarei para acompanhar.
tenha uma ótima semana!

Pedro Coimbra disse...

Uma reedição?
Boa semana

Fatyly disse...

Acho que é uma reedição porque este prólogo já li algures no teu arquivo ou estarei a fazer confusão?

Beijocas e um bom dia

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
As falésias são lugares muito próprios para pessoas que por vários motivos tenham vontade de por fim á vida .
Não ficamos a saber se foi isso que aconteceu mas é mesmo isso que a nossa autora nos costuma a brindar . Suspense !!
JAFR

Os olhares da Gracinha! disse...

O final do capítulo é arrepiante!
Boa semana...

Anónimo disse...

Um prólogo prometedor, amiga.

Cá estarei amanhã de manhã para continuar a acompanhar este Pesente Inesperado.

Abraço,


Maria João

Tintinaine disse...

Bom dia e uma boa semana!
Amanhã passarei por aqui para ler o 1º capítulo desta nova novela!

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Um final trágico.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

chica disse...

Maravilhoso e intenso, carregado de emoções! beijos, linda semana! chica

noname disse...

Bom dia
Para início de semana, uma nova história com um início denso, vamos lá preparar para a sequência que virá.

Está tudo bem?
Bejinho

teresa dias disse...

Bom dia Elvira!
Esta história promete e eu não vou perder um episódio.
O que acontecerá à Susana naquele mar revolto?
Isabel, Susana e Ricardo, três personagens bem caracterizadas. E ainda não passámos do Prólogo...
Beijo, boa semana.


Anete disse...


Estou por aqui novamente para acompanhar o que escreve com tanta avidez...
Um suspense neste prólogo...
Grande abraço... BOA SEMANA...

Larissa Santos disse...

Muito bom e intenso...

Hoje :- Abri a janela e deixei os sonhos entrar.

Bjos
Votos de uma óptimo Segunda - Feira.

Edum@nes disse...

Mulher pobre que se apaixona por homem rico. Quase sempre acaba em tragédia. Não teria acontecido se em vez de homem rico. Fosse um rico homem?

Gostei. Tenha uma boa tarde amiga Elvira. Um abraço.

maria disse...

Como é que hei-de escrever isto, Elvira, vai de uma vez só. Gostei muito. Palmas para si.

Abraço e tenha uma boa semana.

António Querido disse...

Esse mergulho poderia ser evitado, se toda a gente fosse feliz!

Continuação de uma boa semana.

Janita disse...

Se isto é o Prólogo até estou a temer o Epílogo!
Esta novela vai doer...atenção aos nervos.

Não sei se tenho coração para tanta emoção, Elvira.

Um abraço.

Teresa Isabel Silva disse...

Este prologo foi muito intenso!

Bjxxx
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aluap disse...

Pode morrer ou não.
Um abraço.

Kique disse...

Uma nova semana uma nova historia
Bjs

Kique

Hoje em Caminhos Percorridos - Um brinde às mulheres

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Gostei imenso do prólogo, que promete ser uma grande história.
Vou ler o próximo capítulo.
Um beijinho
Ailime

Gaja Maria disse...

Um otimo começo que logo nos prende ao que aí virá.
Abraço Elvira

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Pelo prólogo essa novela promete grandes emoções e, mesmo já estando bem adiantada e eu super atrasada, vou acompanhando devagarzinho.
Beijos carinhosos!