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9.5.19

UM HOMEM DIVIDIDO - PARTE XLV


Horas mais tarde, tendo posto uma máquina de roupa a lavar, e arrumado as compras, Paula confecionou uma salada de presunto e queijo parmesão para o jantar e enquanto comia recordou a conversa com Cidália. Preocupava-a a situação da firma do pai. Apesar de nunca ter havido uma grande ligação afetiva entre eles, depois que Cidália lhe falou do grande amor que ele tinha tido pela esposa e do desespero em que a sua morte o mergulhara, começou a olhar o seu progenitor de outra maneira. Mas havia outra coisa que a atormentava. A saudade que sentia de António, o desejo quase doentio de ouvir a sua voz, de sentir o calor da sua mão, de ver o brilho dos seus olhos. Embora o negasse a todos os outros, não podia negar a si própria que se apaixonara pelo empresário. Recordou os dias em que ele esteve no Algarve e lhe telefonava todas as noites, sem ter nada de especial para dizer. E ela esperava a chamada com ansiedade. Se ao menos pudesse acreditar que realmente ele gostava dela, e que todo aquele encantamento não era apenas mais uma maneira de se vingar do pai dela.
Acabava de jantar, quando o telemóvel tocou. Admirou-se com a chamada do pai. Não se lembrava de ele lhe ter telefonado alguma vez desde que há sete anos saíra da casa paterna para morar sozinha.
-Estou…
-Boa noite Paula! A Cidália disse-me que tinhas interrompido as férias. Está tudo bem contigo, filha?
Sentiu um nó na garganta. Desde que se lembrava de ser gente não tinha memória de ter ouvido o pai chamar-lhe filha. Sempre a tratava apenas pelo nome.
- Está, não te preocupes. Estou demasiado habituada à vida agitada da cidade, a paz alentejana cansou-me.  
- Bom, fico contente que seja esse o motivo. Vou passar o telefone ao teu irmão que está ansioso por te contar as peripécias da pescaria de hoje.
-Mana, sabes que apanhei dois peixes? – perguntou o menino  eufórico.
-Ah! Sim? E eram grandes?
-Não muito. E sabes de uma coisa? Fiquei com tanta pena deles que pedi ao pai para os devolver ao mar.
- E ele devolveu?
-Pois foi. Mas parece que agora não vamos mais à pesca. É que os outros meninos também pediram aos pais para devolverem os seus peixes e alguns até choraram. Então ninguém trouxe peixes e disseram que para a próxima ficávamos em casa.
-Ó que pena!
-Pois é. Porque nós gostámos de andar no barco e até de pescar. Só que os peixinhos coitados estavam tão aflitos. Devias ver como se torciam todos, para se libertarem.
- Deixa lá, a próxima vez que o pai for pescar, telefonas-me e levo-te ao cinema.
-Que bom! És a melhor mana do mundo. E eu gosto muito de ti.
-Eu também. Mas agora são horas de ires para a cama. Dorme bem. Beijinho.
Desligou enternecida. Adorava o irmão, que pela diferença de idades podia ser seu filho. Sentiu um nó na garganta, e uma imensa vontade de chorar, ao pensar que nunca iria ser mãe. Dentro de uma semana faria trinta anos. Passara quatro anos da sua vida fazendo projetos para uma vida que a traição de Adolfo fizera ruir. Mal se recuperara desse desaire, apaixonara-se por um homem em quem não se atrevia a confiar. Decididamente não tinha sorte com a vida amorosa.


14 comentários:

Os olhares da Gracinha! disse...

Vai recuperar_se e ser feliz por certo!!! Bj

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Concordo com a Gracinha.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
A solidão por vezes faz-nos pensar de uma forma estranha e só mesmo o dia a dia é que nos trás a realidade .
JAFR

Larissa Santos disse...

Pois... Mas o melhor pode estar para vira :))

Bjos
Votos de uma óptima Quinta-Feira

Janita disse...

Depois de almoçar polvo à lagareiro, um jantar de salada de presunto e queijo parmesão, é dose para leão! Uma saladinha mista e um bifinho de perú grelhado teria sido o ideal...:)

A vida dá muitas voltas, só o facto da jovem ter a certeza de estar apaixonada e sentir a falta do contacto com António, é meio caminho andado para um final feliz.

Um abraço.

Tintinaine disse...

Estão os dois à espera de ver quem dá o primeiro passo. Por vezes é apenas um pouco de orgulho (besta) que faz com que nenhum se decida a dar esse passo em direcção à felicidade.
Só a Elvira tem o poder de fazer isso acontecer.

chica disse...

Vamos ver qual deles se decide primeiro! beijos, tudo de bom,chica

noname disse...

E cá ficamos nos, a roer as unhas até ao cotovelo, de curiosidade para ver como isto vai acabar eheheheheh

Bom dia, Elvira

António Querido disse...

Aqui ficamos nós à espera da decisão final, e que seja feliz!

O meu abraço.

Cidália Ferreira disse...

Tudo muito bom, mas estou empolgada com o que virá a seguir! :)

Beijos e um dia feliz!

Gaja Maria disse...

É compreensível a angústia de Paula, mas tem de ir à luta e não deixar fugir o amor.
Abraço Elvira

esteban lob disse...

Es que la vida amorosa, Elvira, es una lotería.

Abrazo.

Edum@nes disse...

Entre o amor e a vingança,
António, um homem dividido
enquanto Paula tem esperança
onde é que ele estará metido?


Tenha uma boa amiga Elvira. Um abraço.

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Uma ternura este capítulo!
Adorei e claro que Paula ainda vai ver realizado seu sonho.
Beijinhos,
Ailime