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4.5.19

UM HOMEM DIVIDIDO - PARTE XXXVIII


- E foi tudo o que consegui saber.
As duas mulheres estavam sentadas à mesa da cozinha, cada uma com a sua chávena de chá. Cidália acabara de contar à enteada, tudo o que o marido lhe contara na manhã do dia anterior.
- Meu Deus, como pôde o meu pai acusá-lo de roubo, sem quaisquer provas?
- Não te recordarás,eras demasiado pequena, mas o teu pai era muito apaixonado pela tua mãe. Quando ela morreu, ficou desesperado. Dedicou-se aos negócios como se não houvesse amanhã. Com um único desejo. Esquecer. Tornou-se num homem insensível, cruel mesmo, em certas ocasiões. No escritório ninguém gostava dele, e ele sabia-o, mas isso não lhe importava. Naquela época nada lhe importava, nem mesmo tu. Aliás, disse-me que na altura te culpava indiretamente pela morte da tua mãe, já que ela teve um parto extremamente difícil, e nunca mais ficou boa depois disso. Nessa época, eu ainda não o tinha conhecido, mas quando o conheci, ele era detestável. Penso que descontava nos outros a dor e a raiva, pela perda da mulher amada. Ainda hoje não sei como pude apaixonar-me por ele, mesmo reconhecendo o seu mau génio. Talvez porque como disse Blaise Pascal, "o coração tem razões que a razão desconhece". Porque a verdade, é que apesar de reconhecer o seu mau feitio, me apaixonei por ele quase no primeiro dia em que fui trabalhar para a firma. 
Mas ele não casou comigo por amor. Casou porque percebeu os meus sentimentos e estava cansado e desorientado. Tu eras adolescente, tinhas entrado numa fase de rebeldia, e ele não sabia como lidar contigo.
-Mas, vocês pareciam tão apaixonados!
-Eu estava. E ele fingia na tua frente, porque eu lhe disse que se tu percebesses a nossa real situação não me ias aceitar, e eu nunca podia ser tua amiga e encaminhar-te na vida como ele desejava. Não foi nada fácil a minha vida na altura, mas eu tinha fé no meu amor por ele, e tu estavas faminta de amor, aceitaste-me muito melhor do que eu esperava, e ajudaste-me com o teu carinho. E acabei por conquistá-lo. Mas quando lhe pedi um filho foi outra luta. Ele temia que a história se repetisse, e só acabou cedendo quando lhe disse que se não me dava um filho, queria o divórcio. Mas tenho a certeza de que se me tivesse acontecido alguma coisa, o Miguel iria sofrer o mesmo, ou pior do que tu sofreste.
-Foi muito cruel. Ele perdeu a mulher, eu perdi mãe e pai, numa época em que qualquer criança precisa acima de tudo, do amor dos seus pais.
-Eu sei, querida. E sempre tentei compensar-te com o meu amor.
- Porque não me contaste antes?
- Porque não tinha a certeza se entenderias, tu não perdoavas a teu pai o quase desprezo com que te tratou, e tinha medo de que em vez de melhorar a vossa relação, a minha intervenção a piorasse. Estou a fazê-lo hoje, para que percebas a sua atitude naquela época. O que fez com o António, teria feito com qualquer outro empregado.
-Mas foi uma monstruosidade. Isso pode destruir a vida de qualquer um.
-Sei. E hoje o teu pai também sabe, e vive atormentado pelo remorso,todavia  o seu arrependimento não pode mudar o passado.
Por algum tempo, o silêncio reinou na cozinha. Paula lembrava as palavras do empresário a primeira vez que foi ao escritório, “arruinar o teu pai não paga um décimo do sofrimento que me causou” ou quando dias antes lhe entregara o envelope “desisti da vingança por ti. E também pela Cidália, porque me disseste que foi para ti a melhor das mães, e pelo Miguel que tanto te ama.” Será que realmente ele se importava com ela? Poderiam aquelas palavras no escritório serem realmente um declaração de amor? 
-Imagino que  António Ferreira deve ter sofrido muito, e compreendo a sua raiva - disse Cidália interrompendo-lhe os pensamentos.- Venho de uma família que nunca foi abastada, e sempre me lembro de ouvir meu pai dizer que a riqueza de um pobre era o seu nome honrado. Ele tinha muito orgulho do seu. Por isso entendo o seu desejo de vingança. O que não entendia, e me revoltava era o facto de ele te querer envolver nessa vingança. E que o teu pai, por medo da falência, estivesse disposto a pactuar com isso. Era imoral.


Porque amanhã é dia das mães, esta história volta Segunda-feira

14 comentários:

noname disse...

Hummm, a coisa estará perto de dar uma reviravolta. Esperemos até segunda.

Boa noite, Elvira

Edum@nes disse...

Paula já sabe porque é que o António se queria vingar de seu pai. Será que alguma coisas entre ela e António vai mudar?

Bom fim de semana amiga Elvira. Um abraço.

Janita disse...

Não há nada como o bom entendimento entre duas mulheres para esclarecer os assuntos. Vão directas ao cerne das questões e não estão com meias-medidas.

Estou aqui com uma dúvida, Elvira. A Cidália, madrasta de Paula, referiu-se ao ex-empregado do marido, como António Ferreira. Então o apelido do actual empresário não é Maldonado? Tinha ideia que sim, mas também me posso ter enganado e trocado os respectivos apelidos. :)

Um abraço e bom Domingo

chica disse...

Tu sabes como ninguém dar toques e criatividade às histórias! Lindo! bjs, chica

Larissa Santos disse...

Estou com receio que esta história não tenha um final feliz como as outras... As peças estão a encaixar.


Bjos
Votos de um óptimo Sábado.

Tintinaine disse...

Um passado escabroso tem o pai da nossa heroína! Espero que ela não tenha herdado nada desse feitio senão ainda vai infernizar a vida do nosso herói. E nós queremos que esta novela acabe com o já conhecido e foram felizes para sempre!

Cesar disse...

Confissões e mistérios. A trama é um convite à seguirmos lendo.
Nosso dia das mães é só no próximo domingo... Vocês merecem. Que seja nesse, no próximo, no seguinte, que não esqueçamos jamais de homenageá-las e agradecê-las. Feliz Dia das Mães. Ótima semana.

Anónimo disse...

Alertada pelas palavras do seu sublinhado, dei um passo atrás e cheguei a este capítulo que, efectivamente, ainda não tinha lido, apesar de ter visitado o Sexta-Feira ontem de manhã.

Vejamos o que acontece agora, depois desta conversa que tantas lacunas veio preencher.

Outro forte abraço,


Maria João

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Todos os episódios são importantes , mas este toca mesmo lá no nosso fundo , e somos obrigados a refletir sobre ele.
JAFR

Meu Velho Baú disse...

A trama está implantada ....venha outro episódio para o ler com muita atenção.
Beijinhos

aluap disse...

Muito bom: relembrar como tudo começou.
Como outro comentador disse agora a Paula já sabe porque é que o António se queria vingar de seu pai. Vamos ver o que vai acontecer entre eles.
Bom domingo.

Cantinho da Gaiata disse...

Olá amiga Elvira!
Passando para ler mais uns episódios, que muito gosto de ler de seguida.
Será que com esta revelação, vão finalmente dar a volta ao amor que já anda no ar? Vamos ver se amanhã temos novidades.
Bjs e até breve.

Gaja Maria disse...

Vamos lá ver se agora Paula já compreende tudo

Arte & Emoções disse...

Enquanto o Antônio perdoou, a Paula, agora que sabe do acontecido, poderá passar a odiar o pai. Continuo gostando e aguardando os futuros acontecimentos.

Abraços,

Furtado