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16.5.19

ESCRITO NAS ESTRELAS - PARTE II

Reedição.
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Decidido, foi até Santar, no distrito de Viseu e procurou a jovem que o acompanhara e lhe dera apoio moral nos últimos vinte meses.  
Simpatizaram, namoraram e casaram. Depois emigraram para França, lá trabalharam, tiveram filhos e netos. Fernanda foi uma grande companheira. Era boa esposa e boa mãe, e apesar de reconhecê-lo sabia que não se tinha dado por inteiro e por vezes o remorso assaltava-o. Mas não estava na sua mão, ele não conseguia amar sem reservas, com todo o seu coração. Porque uma parte dele não lhe pertencia. Ficara lá atrás, no passado, preso a uma garota que jurou ama-lo até à morte. Apesar disso, procurou sepultar essa parte de si mesmo, e dar à esposa, a felicidade que ela merecia. E ela foi uma mulher feliz até que o maldito cancro a levou.
Viúvo e prestes a ser reformado, Abílio sonhava voltar ao seu amado Portugal, rever as ruas onde crescera e vivera, sentir o cálido e luminoso sol de Lisboa, passear pela baixa, espraiar o olhar pelo Tejo. Porém os filhos e os netos eram franceses. Lá nasceram, cresceram se fizeram adultos, amaram, casaram. Abílio entendia que os filhos não quisessem alterar toda a sua vida, para irem para um país que nada lhes dizia, e que, não tinha condições, de lhes oferecer empregos, compatíveis com a vida que tinham no seu país natal. Mas como diziam na sua terra, amigo não empata amigo e por isso despediu-se dos filhos e netos, prometendo que passariam as datas mais importantes juntos, quer fosse em Lisboa, ou em Paris, e rumou a Lisboa, onde alugou uma pequena casa na Graça.
Nos primeiros tempos deambulou pela cidade, admirando-se com as enormes mudanças efetuadas desde a última vez que ali estivera para assistir ao funeral da mãe,vinte anos atrás.( O pai havia falecido, anos antes, enquanto ele estava em Moçambique). Depois disso, sempre que vinha de férias a Portugal, ficava-se pela casa dos sogros em Santar. Viveu feliz durante uns meses, até ao dia em que a solidão se apresentou na sua casa, sentou à sua mesa e deitou na sua cama. E não há pior amante que a solidão.
  A rua onde nascera estava irreconhecível, os amigos de infância tinham desaparecido, e nesta nova Lisboa, ele não conhecia ninguém.
O olhar tonou-se nostálgico, o sorriso foi perdendo naturalidade. Até os filhos e netos, notaram a diferença, nas longas conversas via Skipe.  Para o animar, Alexandre o neto mais velho, aconselhou-o a criar um perfil numa rede social muito em voga, e a procurar os seus antigos amigos pelo nome nessa rede.
“Hoje em dia, avô, só não está nessa rede, quem já morreu, ou não sabe ler. Vais ver que vais encontrar amigos, até talvez os teus antigos companheiros  de Moçambique”
Animado, Abílio assim fez. E começou uma busca, pelos seus amigos na Internet. Conseguiu encontrar alguns amigos de infância, mas apenas três residiam na cidade, os outros estavam espalhados pela Europa, para onde tinham emigrado em busca de melhores condições, tal como ele fizera. E então, antes de procurar os companheiros da tropa, ganhou coragem e procurou Ema. 
Encontrou-a a viver em Braga, e enviou-lhe uma mensagem a que ela respondeu no mesmo dia, com o seu número de telemóvel.
Nervoso e ansioso, sem saber se ela estaria empregada, esperou a noite para lhe telefonar. Emocionou-se ao ouvir a sua voz, que lhe contava que vivia ali com a irmã, e a sobrinha. Que voltara a viver em Lisboa, depois que os pais, morreram, mas que se mudara para Braga, quando a irmã ficara viúva a fim de a apoiar. Não, não tinha casado, nunca tinha encontrado alguém que a levasse a desejar fazê-lo.  Por sua vez, ele falou-lhe do tempo de guerra em Moçambique, das inúmeras cartas que lhe enviara e recebera de volta. Falou-lhe de Fernanda, do seu casamento, dos filhos e netos, luso-franceses, e da sua atual vida em Lisboa. 

Continua


21 comentários:

Roselia Bezerra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Roselia Bezerra disse...

Boa Noite de paz, querida amiga Elvira!
Aconteceu comigo bem semelhante no que se refere a uma mensagem respondida imediatamente e telefones trocados...
O Amor frutificou com raiz... creio na força do que há 'antes'...
O Amor que se cultiva como um jardim floresce por anos sem fim.
Tenha dias abençoados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

Pedro Coimbra disse...

Uma narrativa que nos remete para um tempo não assim tão distante.
Abraço

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Eu acredito no destino , e quando assim é nada há a fazer !!
JAFR

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Estou a gostar.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Tintinaine disse...

Bonita história. Ainda não tinha lido.
Gosto de Santar que além de ser uma terra com história, vivem lá antigos camaradas da Marinha e tem um vinho de se lhe tirar o chapéu (ou a rolha).

Larissa Santos disse...

Bem, pelo menos, encotrou-a e tenho a certeza que vai correr bem :))

Bjos
Votos de uma óptima Quinta - Feira

chica disse...

Que lindo! Viva a tecnologia que, quando bem usada, serve pra aproximar ou reaproximar...Estou adorando! beijos, chica

Isa Sá disse...

a passar por cá para acompanhar a história.

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Edum@nes disse...

Impossível será recuperar, o irrecuperável. Mas sendo possível o encontro com Ema, ambos poderão ainda, desse tempo matar saudades?

Continuação de boa semana amiga Elvira. Um abraço.

Cidália Ferreira disse...

lindo. Entretanto o tempo passou e já não lhes resta muito tempo. Mas espero um final feliz!

Acendem-se as luzes em esplendor...
Beijos e um excelente dia!

António Querido disse...

De volta às histórias da Elvira!

Desejando boa saúde.

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
O que as redes sociais vieram revolucionar!
Vai ser muito interessante o reencontro!
Estou a gostar imenso.
Um beijinho.
Ailime

Teresa Isabel Silva disse...

Quero saber mais sobre esta reedição!

Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

Os olhares da Gracinha! disse...

Li atentamente para absorver cada parágrafo... Bj

Kique disse...

Continuo a acompanhar
Bjs

Kique

Hoje em Caminhos Percorridos - Que desespero!!!

Janita disse...

Decididamente, esta história ainda não a li, caso contrário ter-me-ia lembrado!
Por vezes, o destino reserva-nos gratas surpresas. Apesar de se dizer que o melhor não vem para o fim, eu tenho muita fé que sim...!

Um abraço.

Janita disse...

Ah, esqueci-me de lhe dizer que as revistas "Crónica Feminina" e a "Flama" eram duas das que eu lia sempre. :)

Cantinho da Gaiata disse...

Acho que já tinha lido, nas nunca é demais, pois é sempre bom reler histórias bonitas.
Beijinho grande.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Agora tive a certeza: não tinha lido, mas estou amando e as redes sociais ajudam muito a encontrar amigos e parentes. Por meio delas, encontrei meus primos que moram em Goiás. Já aconteceu nosso encontro, foi lindo!
Beijos carinhosos!

Tais Luso de Carvalho disse...

Hum... retomei o conto, estou subindo!
Pois é, casou-se com outra e Ema, fiquei curiosa, vou ao outro capítulo, Elvira, está ótimo! Encontraram-se pelo Face, só podia!! rsss
bj