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28.1.17

UMA NOITE DE INVERNO - FINAL



Luís sente-se muito cansado.
Não tem irmãos, os seus pais já morreram, não tem filhos. A mulher que foi tudo para ele na vida, companheira, mulher, amiga, amante, está presa algures, numa qualquer masmorra do seu cérebro doente. Sem esperança de se conseguir libertar.  E ele interroga-se: 




UMA NOITE DE INVERNO - PARTE VI






No início do tratamento, Alzira passou mal. Tinha tonturas, náuseas e até vómitos. Mas o médico tinha avisado que seriam efeitos passageiros e assim foi, já que duraram apenas dez dias.
 O pior é que as melhoras não apareciam e a maldita doença parecia continuar a agravar-se. Ela, já não era a mesma mulher de antes. Os seus olhos tinham perdido o brilho, o corpo ganhou peso, a conversa cessou quase por completo, os movimentos perdiam coordenação. A compaixão que Luís sentia pela esposa, ia substituindo cada vez mais o amor de outrora.

27.1.17

UMA NOITE DE INVERNO - PARTE V




Mas Luís sentiu um aperto no coração. Não conhecia ninguém que tivesse aquela doença, mas um amigo tinha-lhe contado que a cunhada dele sofria dela e o que lhe disse era suficiente para aterrorizar qualquer um. Fez perguntas ao médico, quis saber com que podia contar e se podiam fazer alguma coisa para impedir a doença de progredir.
E o neurologista explicou-lhe

26.1.17

UMA NOITE DE INVERNO - PARTE IV





Depois ele montou uma pequena oficina nas traseiras, e ela, voltou à costura. Como não tinham filhos, todos os anos faziam uma grande viagem. Passeavam sempre que podiam e lhes apetecia e os anos foram passando, mas se a idade, fez com que as labaredas da paixão, se fossem aos poucos transformando num fogo mais brando, eles estavam cada dia mais unidos, mais companheiros, mais cúmplices.

25.1.17

UMA NOITE DE INVERNO - PARTE III


Foi difícil. Alzira corava quando o marido lhe lançava um olhar mais atrevido, tinha vergonha de se despir na frente dele, quanto mais abandonar a posição de missionário por uma nova experiência, ou ficar de luz acesa na intimidade. Foi preciso muita paciência, muito amor, até que a esposa, percebesse que não há nada proibido, nem vergonhoso entre dois seres que se amam, e entendesse que contrariamente ao que a mãe lhe dizia, o caminho para o coração de um homem pode não ser exatamente o do estômago.

21.1.17

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE XXI


O casal estava sentado na sala, conversando sobre as últimas gracinhas da neta, que passara com eles aquele dia.
Ouviu-se um sinal de mensagem, e Francisca pegou no telemóvel e leu.
“Olá Mãe.
Estou em Paris. Tinhas razão. Às vezes é preciso arriscar.
A fogueira foi ateada. E arde igual dos dois lados. Conta ao pai. Cuida de que não lhe dê algum ataque cardíaco.
Amamos-te. Beijos”
Sorriu feliz enquanto pousava o telemóvel.
Afonso, olhava-a curioso. Não era hábito, a mulher receber mensagens, aquela hora. Teve vontade de perguntar de quem era, mas não o fez.
Francisca, levantou-se. Olhou para ele, como quem vai dizer algo, mas nada disse. Voltou a sentar-se. Brincou com as mãos, num gesto característico de que estava nervosa.
 O marido inquietou-se. A coisa parecia séria. Perguntou suavemente:
-De quem era?
- Da Ana. Está em Paris.
- Em Paris? Mas não disse que ia para Barcelona?
- Mudou de ideias
- Aquela rapariga mata-me. O que é que fez agora, para te deixar tão nervosa?
- Foi em busca da felicidade.
Começava a ficar impaciente.
- Em Paris? Ela arrependeu-se? Não sabia que o Paulo  estava em Paris.
- Não, querido, não é o Paulo. É o Simão
- O Simão? Que Simão? Não conheço... Interrompeu-se abruptamente. O nosso Simão?
- Sim
- Não pode ser. São irmãos!
- Não são. E tu sabe-lo melhor que ninguém.
- Sim, tens razão, mas é que é tudo tão estranho. Eu pensava que eles se amavam como irmãos.
De súbito lembrou-se da conversa que tinha tido com Simão no jardim, aquando da festa de aniversário. Percebeu então, a razão que o tinha afastado de casa e da família durante aqueles anos. Pensou que ele amava Ana, desde sempre. Apesar da estranheza, gostava da ideia. Fá-la-ia feliz, tinha a certeza.  Mas será que Ana, não ia desistir de novo?  
 - Achas que desta vez, vai ser diferente? Que ela não vai desistir de novo? Sabes como tem sido inconstante.
- Tenho a certeza. Desta vez ela não vai desistir.
- O que te dá tanta certeza?
- O coração, - respondeu sorrindo. Depois pegou no telemóvel e escreveu:
“O pai já sabe. O Carmo não caiu. Estamos muito felizes.
Beijos.”

 *****************************************************************************

Casaram dois meses depois, numa manhã de sol, na mesma igreja onde seus pais o tinham feito, há vinte e cinco anos atrás. Diz quem viu, que a noiva estava radiante de felicidade, o noivo muito emocionado, e a restante família muito contente. E que foi uma cerimonia muito bonita.

 Fim

Elvira Carvalho


Esta história chegou ao fim. Gostaria que aqueles que me leram assiduamente, ( e penso que terão sido muito mais do que os que comentaram, a acreditar nas visualizações deste conto, que contava desde o primeiro episódio até ontem com 3215.) me dessem a vossa opinião sobre ele no seu todo.
Uma noite de inverno, será a nova história que vos vou contar de segunda até ao fim do mês. Mais pequena, e muito diferente das duas últimas, mas que espero vos agrade.

BOM FIM DE SEMANA

20.1.17

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE XX


Durante um longo minuto, o silêncio caiu sobre eles. Por fim Ana falou.
- Eu queria sentir esse amor. Queria que me ensinasses a ser feliz, e a fazer-te feliz. Mas tenho medo Simão. Um medo irracional, que me sufoca.
- E de que tens medo, querida?
- De não ser capaz de corresponder às tuas expectativas. De não conseguir fazer amor contigo, porque de repente me lembro, que somos irmãos.
- Tu sabes que não é verdade, Ana.
 – Por favor, não me interrompas. Deixa que te exponha todos os meus receios. Supõe que não dá certo. Vou perder-te para sempre, magoar os nossos pais, e isso aterroriza-me.
Com imensa ternura, contornou os olhos brilhantes, numa carícia suave.
- Já chega. Não te atormentes. Eu não tenho medo. Acredito em nós, e na força do amor. Vieste ter comigo. Sabes o que sinto e o que desejo. Só tens que decidir se vieste para ficar, e viver este amor que tenho para te oferecer, ou se te vais embora agora, e dás outro rumo à tua vida. 
Era o momento derradeiro, a última hipótese de virar costas e procurar um caminho que lhe parecesse mais seguro, ou fechar os olhos e saltar o abismo em que o medo se transformara. Lembrou-se da mãe. “Às vezes é preciso correr riscos”
Prendeu-lhe o rosto entre as mãos, e  disse baixinho:
- Fico.
Ele engoliu em seco. A emoção era um garrote que lhe sufocava a garganta. Apertou o corpo tremente nos braços, e começou a beijá-la. Lentamente, como quem saboreia um doce, foi-lhe beijando os olhos, e o rosto, até aflorar os lábios femininos. As suas mãos pareciam ter vida própria. Percorriam-lhe os braços, as costas, infiltravam-se sob a blusa, em suaves caricias que a enlouqueciam.
O beijo, tornou-se mais intenso, atrevido e urgente. Simão concentrava toda a sua energia, todo o seu amor,  toda  a sua experiência e conhecimento do corpo feminino, na tarefa única, de a levar pelos secretos labirintos da paixão, até à mágica saída, na apoteose final.
As roupas desapareceram, como por magia, e os corpos livres, uniam-se, na mais famosa dança de todos os tempos, num reconhecimento que vinha desde os primórdios da humanidade.
Mais tarde, apaziguada a loucura que os envolvera, num gesto cheio de ternura, ela tocou com a ponta dos dedos, o rosto masculino. Ele segurou-lhe a mão e beijou-os.  Simão, era um homem experiente, sabia reconhecer quando a mulher que tinha nos braços, estava com ele na entrega sublime do amor. Ana tinha estado. Tinha-se entregado de corpo  e alma. Ele sentiu-o. Mas precisava ouvi-lo da sua boca. Saber até que ponto ela tomara consciência disso, saber se conseguira matar todos os seus fantasmas. 
- E, então, querida?- Perguntou num sussurro 
- Amo-te.
- Sem medos, nem fantasmas?
- Sim
-Tens a certeza?
- Nunca tive tanta certeza de nada na minha vida. É… incrível. Sei que é um lugar-comum, mas não me ocorre outra maneira de to dizer. Sinto-me a mulher mais feliz do mundo.


19.1.17

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE XIX


Acabara de fazer a mala. Pegou no telemóvel e fez uma chamada.
- Mãe vou a caminho do aeroporto. Parto dentro de duas horas, com destino a Barcelona. Sabes que há muito tempo desejava visitar esta cidade.
Escutou por momentos:
-A Paris? Para já não. Ainda não me sinto preparada. Quando o fizer digo-te. Vou dando notícias. Dá um beijo a todos por mim.
Desligou, e chamou um táxi.
No dia seguinte, estava em Barcelona, mas deu-se conta que não conseguia elaborar um programa cultural de visitas, pois não conseguia deixar de pensar em Simão.
É como dizia Horácio. "A negra preocupação monta sempre à garupa do cavaleiro".
Percebeu que não lhe adiantava fugir. Precisava descobrir o que se passava com ela. Que sentimentos albergava no seu peito.
 A visita a Barcelona seria de novo adiada. E nessa mesma tarde viajou para Paris. Mas contrariamente ao que tinha dito à mãe, não a avisou.
Tinha a morada de Simão, há dois anos. Tinha-lha dado o seu irmão João, numa altura em que pensava ir a Paris. Depois acabara por desistir da viagem. Não sabia se ainda morava no mesmo sítio, mas não tinha ouvido qualquer comentário sobre mudança. De qualquer modo, havia de encontrá-lo. Em último caso iria à galeria de arte, onde costumava expor as suas obras, e pediria a morada. Decidida, apanhou um táxi no aeroporto, para a morada que tinha.
A porta do prédio, estava aberta, e subiu as escadas até às águas furtadas. Uma tarefa complicada com os saltos altos e a mala de viagem. Sentia-se muito cansada, não sabia se pela longa escadaria, se pelo seu sistema nervoso. O coração batia-lhe tão forte que parecia querer saltar-lhe do peito. Por fim tocou a campainha. Pouco depois a porta abriu-se. Surpresa, alegria, emoção. O rosto dele, era um poema feito de emoções.
Descalço, envergando umas calças de ganga, o tronco nu, Simão passou a mão pelo cabelo murmurando:
- Vieste!
E ela tremente, sem deixar de o olhar:
-Vim.
Então ele baixou-se para apanhar a mala e disse:
- Entra. Desculpa receber-te assim. Não sabia que vinhas, estava a embalar as últimas telas para a exposição. Vêm buscá-las logo de manhã.
Pousou a mala junto à porta, pegou o polo abandonado sobre o sofá e vestiu-o. Depois calçou os ténis.
Reparou que continuava de pé.
- Senta-te. Deves estar cansada.
Pegou-lhe na mão e esse contacto fez com que tremesse da cabeça aos pés. Sentaram-se no sofá. Perguntou suavemente:
- Porque vieste, Ana?
- Porque não conseguia esquecer o teu beijo.
Assim, simples e direta, fizera a confissão. Abraçou-a emocionado. Sem deixar de a fitar disse:
- Sabes que te amo. Amo-te tanto que me dói o peito. O maior sonho da minha vida, é viver a teu lado. Deitar-me contigo, e acordar a teu lado todos os dias da minha vida, é a minha noção de felicidade.
Falava devagar, calmamente como quem fala com uma criança. Não queria assustá-la.


18.1.17

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE XVIII


Encontrou a mãe na sala, tricotando uma camisola para a neta. Recebeu o beijo que a filha lhe dava e disse.
- Senta-te. Esperava-te de manhã
Não se admirou. A mãe sempre sabia quando algo a atormentava. E também sabia que recorreria a ela com a mesma fé com que o naufrago se agarra à tábua de salvação que lhe estendem.
-Sabes o que se passa?
 Assentiu com a cabeça.
- Sabia-lo há muito tempo?
Voltou a acenar com a cabeça.
- Desde quando mãe?
- Pois não tenho a certeza, quando começou. Eu descobri-o nos seus olhos há cinco anos, na cerimonia de casamento dos teus irmãos.
- Era assim tão evidente?
- Para o coração de uma mãe, sim.
-Sabes que ele não regressa por minha causa?
- Sei.
- E não me odeias?
- Que ideia é essa, Ana? Sabes que sempre te amei como uma filha, muito embora não o sejas. Se tivesse que odiar alguém talvez tivesse de o fazer comigo. Pensas que não me sinto culpada? Se não tivesse fomentado entre vós esse arreigado sentimento de fraternidade, talvez agora estivéssemos todos mais felizes. Simão diz que não o consegues ver, senão como irmão.
- Desde ontem que o tento mãe. Contou-te que me beijou?
Negou com um movimento de cabeça.
 - Pois fê-lo. E esse beijo mexeu comigo como nada nem ninguém o tinha feito até hoje.
Abraçou a mãe e escondeu a cabeça no seu regaço, exatamente como quando era menina, e alguma coisa a preocupava. Francisca estendeu a mão e acariciou a cabeça da filha.
- Tenho medo, mãe.
- Medo de quê, Ana?
-Medo de me deixar embarcar numa ilusão que nos traga muito sofrimento. Ou que afunde a família.
- Pensas que não o amas, ou que podes vir a amá-lo?
-Não sei. O meu coração está desnorteado, a minha cabeça confusa. O Simão foi por mim o mais amado dos irmãos. Por isso estava tão zangada, por achar que já não gostava de mim. Mas nunca até ontem o vi como homem, nem nunca passou pela minha cabeça pensar nele como tal. Muito menos como o homem da minha vida. Mas desde que me beijou, tudo mudou. Imagino-o de mil maneiras, menos como irmão. Se isso é amor, não sei. Sinto-me desorientada.
É natural, Ana. Espera um pouco. O tempo ajuda a clarificar sentimentos.
- Sabes que não quero só alguém que me ame e me proponha casamento. Se fosse só isso, há anos que me tinha casado. Eu quero alguém que partilhe tudo comigo. A sua vida, os seus sonhos,  o seu amor. Que me enlouqueça.  Imagina que isso não acontece com o Simão. Perdi o irmão e não ganhei o amante. Entendes?
Acenou afirmativamente.
- É disso que tenho medo. De me expor, e de expor toda a família ao sofrimento. No fundo, o que eu queria, era viver um amor como o teu com o pai. Nunca conheci ninguém tão feliz como vocês.
- Nem sempre foi assim, Ana.
- Não? – Perguntou admirada.
-Vou contar-te como conheci o teu pai. É um segredo que nunca contei a nenhum dos teus irmãos, e que espero fique entre nós.  
E Francisca, falou do estranho contrato, celebrado com o marido, que estivera por base do seu casamento. 
Ana estava verdadeiramente espantada. Custava-lhe a aceitar a história que a mãe lhe contava.
- Foi muito arriscado. E se nunca se tivessem apaixonado?
 Viveriam uma vida sem amor, só por nossa causa?
- Era uma boa causa. Mas eu amei o teu pai desde o primeiro dia. E tinha a esperança de que um dia me correspondesse. E às vezes, para chegar ao cume da montanha,não basta ter um bom equipamento.   É preciso correr riscos.
Ana olhou a mãe tentando entender a mensagem.



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OBRIGADA





17.1.17

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE XVII


Ana nem soube bem como chegou a casa. Sentia o corpo tremente como se estivesse cheia de febre. Como era possível que a sua vida se tivesse desmoronado assim em tão pouco tempo. Três meses antes ainda ela era uma rapariga alegre que saía quase todas as noites com um belo homem, que dançava, ria e sonhava com um futuro risonho, mais ou menos próximo. Depois, foi a desilusão, o perceber que Paulo nunca seria o homem da sua vida. Uma nova desilusão a juntar às duas anteriores. E agora, a sua vida tinha-se transformado num caos, um doloroso emaranhado de sentimentos que ela não sabia destrinçar.
Amara o irmão, como não tinha amado mais ninguém na vida. Ele era o seu ídolo, o seu anjo da guarda. Agora o irmão tinha morrido. Sim porque depois do amor que vira nos seus olhos, e sobretudo depois daquele beijo carregado de paixão, era uma imoralidade continuar a pensar nele como irmão.
Mas podia ela matar o irmão por uma ilusão de amor, que não sabia se não passaria disso mesmo?  A verdade é que o beijo, despertara-lhe sensações até aí desconhecidas. Mas isso seria amor? O que ia ser da sua vida daí para a frente? Saber que Simão se mantinha longe do país e da família por culpa dela, fazia-a sentir-se culpada, mas ao mesmo tempo, dava-lhe uma sensação de plenitude, saber que alguém a amava até aquele ponto.
Mas se depois de morto, o irmão, ela não fosse capaz de amar Simão como uma mulher ama o homem da sua vida?
Como poderiam conviver em família? Fosse como fosse sentia-se como um algoz, capaz de acabar com a felicidade de todos.
A meio da tarde do dia seguinte, ainda não tinha saído. Tinha os olhos vermelhos de chorar, estava mal-encarada, não tinha dormido nem comido nada desde o dia anterior.
Mas tinha tomado uma decisão. Tomou banho, carregou um pouco a maquilhagem, para disfarçar as olheiras, e bebeu um copo de leite frio. Pegou nas chaves do carro, na mala e saiu. Ia procurar refúgio junto da mãe. Francisca sempre a compreendera.


                                            

16.1.17

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE XVI



Simão permaneceu algum tempo no escritório, tentando acalmar-se.
Quando saiu procurou a mãe na sala. Francisca fechou o livro e perguntou:
- Contaste-lhe?
Olhou a mãe, surpreendido. Pensava que tinha conseguido esconder de todos os seu segredo.
- Como sabes?
- Uma mãe, sabe sempre o que vai no coração dum filho. Há muito que sei que é esse amor que te mantem longe de nós. A Ana saiu sem se despedir. Nunca o faz. Devia estar muito transtornada. Disseste-lhe?
- Não foi preciso. Ela leu-o nos meus olhos.
- E…
- Ficou indignada. Disse que é uma infâmia. Que somos irmãos.
- Não é verdade! Ela sabe-o, tal como tu.
- Não é verdade, no sangue. Mas é-o nos sentimentos. Ela sente-o assim no coração. Foi assim que sempre me amou. E contra os sentimentos é impossível lutar, - disse amargurado
-Apesar dos seus vinte e sete anos, Ana é uma menina, que sonha com o amor, mas que ainda não o encontrou. Conheço-a melhor que a qualquer de vós. Não quero que sofra. Sei que seria muito feliz contigo, mas como ela mesmo me disse, “o amor é uma fogueira, que não arde só de um lado” Oxalá consigas esquecê-la. Gostaria de te saber feliz.
Acariciou-lhe o cabelo como fazia quando ele era menino.
- Obrigado mãe. Perdoa-me se te faço sofrer.
- Não te atormentes. A vida às vezes leva-nos por estradas sinuosas. Vai cuidar das tuas coisas. Faltam poucas horas para o teu avião.
Não pode deixar de abraçar a mãe. Admirava-a tanto. Sempre tão serena, tão doce, tão compreensiva.
- Cuida dela mãe. Vou sentir-me melhor se souber que o fazes.
- E não o fiz toda a vida, filho? Vai descansado. E que Deus te ajude.
Ficou a ver o filho afastar-se com uma secreta sensação de culpa. Se eles não tivessem fomentado tanto aquele parentesco. Se os tivessem criado normalmente, sem enfatizarem um laço que não existia na realidade, quem sabe agora não estavam a sofrer daquela maneira.


15.1.17

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE XV


Em menos tempo do que se leva a escrevê-lo, Simão estava atrás dela, abraçando-a com firmeza. Intensificou-se o choro feminino, o frágil corpo sacudido pelos soluços.
Não chores Ana. Não suporto ver-te chorar, - murmurou atormentado.
Ela voltou-se. Continuava presa nos firmes braços dele. Ergueu o seu rosto choroso, e fitou-o. Ele não desviou o olhar. Durante alguns segundos, que aos dois pareceu uma eternidade, permaneceram assim, olho no olho, deixando que a alma aflorasse ao olhar e desvendasse  todos os seus segredos.
Com suavidade ela afastou-se. Voltou-lhe as costas murmurando.
-Não pode ser. É uma loucura.
- Eu sei, - respondeu ele, a voz rouca pela emoção. Percebes agora porque fui viver para Paris? Porque evito aproximar-me de ti?
Voltou-se. Olhou-o tentando mostrar uma serenidade que não sentia.
- Nunca me passaria pela cabeça. Não pode ser. Estás a confundir tudo e a deixar-me confusa. Somos irmãos. Os melhores irmãos do mundo, lembras-te? Tens que esquecer isso que pensas sentir. Temos que esquecer. Temos que esquecer,- repetiu
- Se repeti-lo vezes sem conta, servisse de alguma coisa, já o tinha esquecido há muito tempo, - disse ele com amargura.
Sentia-se indigno dela, dos pais, dos irmãos. Traíra a confiança de todos albergando aquele sentimento. Não lhe servia de consolo, saber que não estava a cometer um pecado, aquele sentimento não era incestuoso, eles não eram irmãos. Porque na verdade, não importava que o não fossem, se era assim que ela e toda a família o sentiam.
- Dadas as circunstâncias, peço-te que me perdoes a minha insistência. Desejo, que consigas esquecer, e perdoar-me. Não irei logo ao aeroporto. Despeço-me aqui.
Aproximou-se dele como fazia antigamente. Com a mesma confiança, de outrora, ofereceu-lhe o rosto para um breve beijo de despedida.
Como podia fazê-lo, com um homem que estava doido de amor por ela? Como podia ser tão ingénua para não pensar que ele seria incapaz de resistir, a provar as delícias da sua boca, agora que ela tinha descoberto o seu segredo?
Subitamente envolveu-a nos braços, e a sua boca aprisionou a  dela, num beijo intenso, onde deixava bem expresso o amor que lhe atormentava a alma.
Inicialmente recebeu-o surpresa, depois indignou-se.
Empurrou-o com força.
- Como pudeste fazer isto? É infame. Nunca te perdoarei.
E saiu a correr, fechando a porta atrás de si.



14.1.17

UMA HISTÓRIA DE AMOR -- PARTE XIV


Aproximou-se perigosamente dele.  
-Que se passa contigo, Simão? O que foi que eu te fiz? Porque me odeias? Desde menina, sempre foste o meu irmão preferido. Aquele em quem confiava de olhos fechados. Depois já adolescente, eras o meu ídolo. Ficava tão feliz quando nos ias buscar à escola e nos trazias para casa. Imaginas o que choramos, eu e Matilde quando foste para Paris? O quanto nos sentimos desamparadas sem ti?
A Marta não. A Marta era muito extrovertida, tinha muitos amigos, uma legião de admiradores, primeiro na escola, depois na Universidade. Ela não deve ter sentido a tua falta. Eu e a Matilde eramos diferentes. Mais tímidas. Tínhamos um certo receio de nos juntarmos aos outros. Tu eras a nossa tábua de salvação. E deixaste-nos à deriva.
As últimas palavras foram como um lamento. Simão amaldiçoou-se em silêncio. Queria consolá-la e não o podia fazer. Se lhe tocasse, não ia resistir. 
Ela revoltou-se. Porque não dizia nada? Sentiu vontade de lhe bater:
- Porquê, Simão? Porque o fizeste? E porque o fazias hoje? Fala pelo amor de Deus. Desde quando começaste a odiar-me?
- Eu não te odeio.- A sua voz soou rouca. Pelo esforço em se conter, ou pela emoção? Ele não sabia. Do que tinha a certeza é que estava utilizando todas as suas forças para resistir à tentação de a apertar nos braços e a beijar até à exaustão.
- Não? Então o que é? Desprezas-me? É isso? Porquê?
“Meu Deus fá-la calar. Não aguento mais” – implorou ele mentalmente
- Não sei de onde tiraste essas ideias absurdas, Ana. Porque não vives a tua vida e me deixas em paz?
- Vês? O Simão de antigamente, nunca me falaria assim.
Ia começar a chorar. E ele não ia conseguir conter-se.
- Por Deus Ana. Deixa de remoer o passado. O tempo não passa incólume por ninguém. Todos mudamos.
Semicerrou os olhos. Não queria que ela surpreendesse aquilo que ele teimava em esconder.
De súbito ela voltou-se para a janela. Estava cansada. E muito triste. A sua vida era um desastre. Precisava de se ausentar rapidamente. Ver outras terras, conhecer outras gentes. Para não sentir aquele terrível vazio no peito.
Deixou escapar um soluço.


13.1.17

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE XIII







Chegou uns minutos depois.
- Desculpem. Atrasei-me um pouco. Vou só lavar as mãos, volto já.
O almoço decorreu animado. Matilde, queria saber tudo, fazia muitas perguntas.
Simão respondia brincando com a irmã. Os pais sorriam felizes, e Ana comia calada. Sentia-se marginalizada. Porque é que o irmão, não tinha sido assim simpático com ela, como o estava sendo com Matilde?
Acabado o almoço, o pai voltou ao escritório. A irmã, que tinha combinado ir ver uma casa com o noivo, despediu-se dizendo que iria à noite ao aeroporto.
Simão, também se aprestava para sair, quando ela disse:
-Espera. Quero falar contigo.
A empregada, levantava a mesa, e a mãe que se dirigia para a sala, disse.
- Porque não vão para o escritório do pai? Lá podem conversar à vontade.
Nenhum dos dois respondeu, mas Ana encaminhou-se para o escritório, e ele seguiu-a.
Ela entrou e aproximou-se da janela. Ele fechou a porta e apoiou nela as costas.
Semicerrou os olhos. Como era linda. Assim, vista na contraluz da janela, era como uma aparição.
Decorreram uns momentos de espera até que ela se voltou. Estava zangada. Ele sabia. Conhecia-a, como se conhecia a si mesmo. Escondeu as mãos nos bolsos, para que não se desse conta dos punhos cerrados, quando ela se aproximou.
- Vais ficar aí especado sem dizer nada? A porta não cai.
- Eu? – Procurou parecer indiferente. - Estou à espera. Afinal foste tu que quiseste falar comigo.
- Vais-te embora hoje e não me dizias nada. Soube pelo pai. -  queixou-se ela.
- Não tinha que te dizer, Ana. Sabias que ia estar poucos dias, tenho uma exposição na próxima semana. Tens a tua vida, a tua casa, que nem sei onde fica, não ia ao escritório para to comunicar. Além disso, supus que o pai o fizesse.
- Não é desculpa, Simão. Os telefones também servem para as pessoas se comunicarem. E não me venhas dizer que não sabias o número. Qualquer pessoa desta casa, to daria.
Era verdade. Ele sabia que lho devia ter comunicado. Porém preferia partir sem se despedir dela. Era menos doloroso. E ele sabia o quanto lhe doía.  




E hoje é Sexta- Feira ...  13




12.1.17

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE XII


Três dias depois, Ana encontrava-se no escritório, estudando um processo de um divórcio litigioso, quando o pai lhe perguntou se ia nessa noite ao aeroporto despedir-se de Simão.
Sentiu raiva. Então o irmão ia-se embora nessa noite, e não lhe dissera nada? Verdade que não voltaram a encontrar-se depois da festa, mas ainda assim, ele podia ter-lhe telefonado. Não era justo que não o fizesse. Afinal fora ele a levantar as hostilidades, era ele quem tinha de pedir desculpas. De todos os irmãos, Simão sempre fora o seu preferido. Porque era o mais velho? Porque sempre tratava as irmãs com todo o cuidado como se elas fossem delicadas flores de cristal? Porque estava sempre perto dela, para a acalmar e a proteger de todos os perigos imaginários? Não sabia.
E agora? Tinham sido cinco anos sem o ver. Tinha saudades dele. Teria desejado contar com o seu apoio, e a sua compreensão, para lhe ajudar a fase de desilusão em que se encontrava, com a recente desilusão amorosa. E ele não só não lhe ligara nenhuma, como até se mostrara desagradável.  E agora ia-se embora assim? Ah! Não. Não ia ser assim tão fácil. Arrumou o processo:
- Pronto pai está aqui o processo que me pediste e todos os apontamentos necessários para a elaboração da defesa. Sempre posso contar com os quinze dias de férias que me prometeste?
- Claro. Vais viajar?
- Vou. Hoje mesmo vou marcar passagem. Preciso afastar-me. Espairecer. Pensava começar amanhã. Dispensas-me esta tarde? Preciso tratar de muitas coisas.
- Está bem, Ana. Porque não vais almoçar connosco? A mãe ia ficar contente de te ver, e se não vais logo ao aeroporto, aproveitavas para te despedir do teu irmão.
- Está bem.
O resto da manhã decorreu quase sem dar por isso, empenhada em deixar em ordem todos os processos que tinha entre mãos. Separou aqueles que pela proximidade das datas, não poderia tratar e combinou com os colegas, quem os ia assumir.
Quando chegaram a casa, a mãe e a irmã, mostraram grande alegria por vê-la. Mas não viu o irmão.
Ouviu o pai perguntar:
- O Simão não almoça connosco?
- Disse que sim. Deve estar a chegar. – Respondeu a mãe.



UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE XI






-Vai-te embora, Ana.
A voz saiu-lhe seca e rude como um tiro. Assustada, a jovem largou-lhe o braço e deu um passo atrás.
- Outra vez? Estás muito instável. Não pensei que depois de cinco anos voltasses assim. Não podes ser o Simão. És apenas parecido com ele. O Simão que eu conheço não me trataria assim. 
Afastou-se a correr, para que ele não visse as lágrimas que embaciavam o seu belo olhar.
Ele ficou no jardim vendo-a afastar-se. Doía-lhe o corpo e a alma. Sentia-se impotente para dominar os seus sentimentos. Apertou os punhos. Que podia fazer? Correr atrás dela e confessar-lhe… o inconfessável? Não podia fazê-lo. Ia odiá-lo. E com ela toda a sua família. Tinha que se dominar. Disfarçar. Fingir.
Mas ele nunca fora bom a fingir. Desde menino sempre quis saber a verdade das coisas e ser verdadeiro com os seus sentimentos e as pessoas que o rodeavam. Sentou-se e fechou os olhos.
Sobressaltou-se ao sentir uma mão no ombro.
- Que se passa, filho? Porque não entras e te divertes como os teus irmãos? Convivem tão pouco.
- Não se passa nada, pai. Estava aqui a recordar. A lembrar da primeira vez que entrei nesta casa, para cá morar. Até aí, vivia com os meus avós.
-Sim? Tinhas cinco anos. Não julguei possível que te recordasses.
-Pois. Mas na verdade até lembro, da primeira tarefa que me deste. Disseste para vir para o jardim com os manos, tomar conta deles, e ter especial cuidado com a Ana porque era ainda um bebé.
- E tu passaste a manhã toda com ela ao colo, - sorriu Afonso
- Ela gostava. E eu sentia-me tão importante com isso.
O pai sorriu e mudando de conversa, perguntou:
-Quando é que pensas, deixar Paris e voltar para casa? A mãe sofre, com a tua ausência.
- Sinceramente ainda não pensei nisso.
- Tens alguém lá que te prenda? – Perguntou encarando-o.
-Não. – Respondeu com firmeza, devolvendo o olhar
- Então filho, juro que não te entendo. Sei que Paris é uma cidade linda, com uma grande concentração de artistas de todo o mundo, muitas tertúlias, muita boêmia. Mas será que um homem pode ser feliz só com isso? Já realizaste algumas exposições e todas foram um êxito. O teu nome anda sempre associado ao talento. Então, o quê, ou quem, te mantem exilado da tua pátria e daqueles que te amam?
Engoliu em seco. Mas não respondeu.
Afonso sentiu que havia qualquer coisa que impedia o filho de regressar. Qualquer coisa de muito doloroso. Era advogado há muitos anos. Conhecia a natureza humana. Estava habituado a descobrir nos silêncios, coisas que lhe queriam esconder. E o filho escondia-lhe alguma coisa. Talvez precisasse da sua ajuda e não se atrevesse a pedir. Tinha que estar alerta.
- Vamos Simão. Está na hora do jantar.
E os dois homens entraram em casa.



10.1.17

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE X


Ana soltou uma gargalhada cristalina
-Pelo amor de Deus. Não posso acreditar nisso.
- Acredita no que quiseres. – Disse com aspereza, voltando-lhe as costas.
Ela franziu o sobrolho. Que se passava com ele? Parecia zangado. Mas porquê?
- Ouve,- agarrou-lhe a manga do casaco mas ele não se voltou. - Que raio se passa contigo. O que foi que eu disse para ficares assim? 
- Desculpa, - era evidente que estava a fazer um enorme esforço para parecer natural. Não foi nada contigo. Sou eu que não ando bem.
Recomeçou a andar pelo jardim. Ela pendurou-se no se braço como quando ele ia busca-la à escola.
-Sabes o que é isso? É solidão. Precisas arranjar alguém. Nunca pensaste em casar?
- Não, - respondeu com voz rouca
- Não entendo. Um homem bonito como tu. Simão… tu és gay?- Perguntou de repente.
- Não. Que disparate é esse, Ana?
- Desculpa. Ocorreu-me que o facto de não pensares em casar e o tempo que levas em Paris sem nos visitar,  podia ser por isso, ou não ?
- Podia. Mas não é. O meu interesse sexual sempre se manifestou pelo vosso sexo.
-Desculpa, mano. Mas insisto. Devias pensar em arranjar alguém. Já passaste dos trinta.
-  Queres fazer o favor de mudares de assunto? Porque é que não me falas antes de ti. Porque é que ainda estás solteira? A mãe disse-me que estavas noiva. Mas vejo-te sozinha
- Acabou.
Havia uma nota triste na voz dela, ou era impressão sua?
- E porque acabou?
- Não interessa.
- A mim, sim.
-Tu és meu irmão, e há coisas que uma mulher não conta a um irmão.
Sentiu uma dor aguda no peito. Era como se lhe tivesse cravado um punhal invisível no coração.

9.1.17

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE IX






Chegara finalmente o dia do aniversário de casamento de Francisca e Afonso.
Segundo a vontade dos dois, era uma festa intima, que contava com a presença dos filhos, e netos, dos pais da nora e do genro, e dos dois advogados, do escritório do Afonso com as respetivas esposas.
Simão chegara perto do meio-dia, e os pais estavam muito contentes por tê-lo enfim de volta, após aqueles longos cinco anos.
As prendas que os filhos trouxeram, deixaram-nos encantados, pelo significado de cada uma delas. Uma em especial, tinha-os emocionado. Tratava-se de um quadro, que reproduzia uma foto tirada há muitos anos atrás por Afonso. Francisca, bem mais jovem, estava sentada no sofá, com Ana ao colo, tendo Simão de pé, a seu lado, enquanto João e Marta brincavam no chão à sua frente.
Era um quadro muito enternecedor, e Simão reproduzira fielmente as expressões de cada um, deixando não só os pais mas os próprios irmãos muito emocionados.
Ele próprio, sentia o mesmo. Estava feliz por estar com os irmãos e sentia-se encantado com os sobrinhos. Dos irmãos, Matilde era a que se mostrava mais feliz com a sua presença. Pendurou-se no seu braço e disse que não mais o largaria, se ele não prometesse que voltava para assistir ao seu casamento.
- Claro que virei ao teu casamento, maninha. Mas esperava mais da minha irmã mais nova.
- E que esperavas?- Perguntou sorrindo
-No mínimo que me convidasses para padrinho.
- E como ia fazê-lo se tu nem apareces nem notícias dás? És um mau irmão. – Respondeu como quem amua
- Tens razão, -disse com seriedade. Ultimamente não me tenho portado muito bem convosco. Um pouco pelo trabalho, tenho uma importante exposição dentro de dez dias, mas também um bocado por preguiça. E depois, todas as semanas falo com a mãe, e ela sempre diz que estão todos bem.
- E é sério o que disseste? Queres mesmo ser o padrinho?- Perguntou esperançada. E acrescentou. - Eu ficaria muito feliz.
- Pois então, deixa de me enrolar e faz o convite.
Feliz, ela abraçou-o e disse:
- Obrigado mano. És um anjo. Vou contar à mãe.
Ele deu uma volta pelo salão e depois saiu para o jardim.
Apesar de tudo estava contente por ter vindo. Era sempre um balsamo para o seu coração observar como os pais se amavam e eram felizes.
Um amor assim era o seu sonho de felicidade.
Olhou o baloiço, o escorrega novo, e pensou que os pais deviam ter comprado aqueles para os netos. Mas ele gostaria de ter encontrado os da sua infância.
- Um cêntimo pelos teus pensamentos.
Voltou-se devagar.- Ana sorria-lhe.
- É muito pouco. Merecem mais – disse fixando-a.
Ela riu.
- Estava a observar-te. Estás muito sério. Pensando em alguém que ficou em Paris?
- Não tenho ninguém em Paris.