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6.1.17

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE VI




O homem semicerrou os olhos, analisando o ambiente que o rodeava. Na pista, vários casais dançavam alegremente como se estivessem celebrando a própria vida.
Pela quinta vez, a mulher perguntou:
- Vamos dançar, querido?
Esboçou um gesto de impaciência. Desagradava-lhe a insistência feminina. 
Naquele sábado tinha decidido misturar-se na multidão que se divertia. Entrara ali como podia ter entrado em qualquer outro recinto semelhante. Mas já se cansara.
Pousou o copo e levantou-se. Era um homem alto, bem proporcionado. Vestia umas calças justas, pretas, e uma camisa solta por fora das calças. Era moreno de cabelos e olhos escuros.
-Já vais embora?- perguntou a mulher que antes o interrogara.
- Já. Lamento não corresponder às tuas expectativas. Não me apetece dançar.
- Que pena! Ia gostar de te conhecer melhor.
Não respondeu. No fundo estava desejando sair dali.
Na rua, parou por breves instantes, aspirando profundamente o ar noturno. Depois encetou o caminho de regresso ao seu estúdio, seguindo pela margem do Sena, observando o movimento dos pares de namorados que por ali passeavam, entre silêncios e beijos. Tão diferente do movimento de dia, onde grupos, de amigos ou famílias faziam piqueniques, e conviviam em amena cavaqueira.
Ele também gostaria de passear por ali com a mulher que amava.
Porém sabia que isso não ia acontecer. Com tanta mulher bonita, logo tinha que se apaixonar pela única que nunca poderia ter.
Apertou os punhos ao pensar nela. Que estaria fazendo? Ia casar, ele sabia. Só não sabia quando. Que fosse em breve. Ele havia de sobreviver. E depois quem sabe, sabendo-a casada, deixasse de pensar nela e naquele amor maldito. Entrou no velho prédio e subiu as escadas de madeira, gastas pelo tempo até às águas furtadas, onde tinha o seu estúdio.
O local estava longe de ser luxuoso, mas da janela, ele tinha uma das mais belas panorâmicas do mundo. E uma esplêndida luz para as suas pinturas. Despiu a camisa, que atirou para o velho sofá, e em tronco nu, dirigiu-se à janela.
Enquanto a sua mente se perdia em tortuosas recordações, a seu lado, no cavalete, numa tela por acabar, uma jovem mulher, olhava enlevada o bebé que amamentava.
Era a última tela para a sua próxima exposição.



16 comentários:

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Continuo a acompanhar e estou a gostar.
Um abraço e Bom Dia de Reis.
Andarilhar

António Querido disse...

Já li, resta-me desejar-lhe rápidas melhoras e que tenha o sol a entrar-lhe pelas janelas e sorria por ser grisalha! Abraço.

Os olhares da Gracinha! disse...

Há histórias de amor assim!
Ainda não melhorou?
Bj amigo

Edum@nes disse...

Uns alegres outros tristes, porquanto, é assim na vida. "Quem me ama eu não quero, quem eu quero não me ama"!
Tenha um bom dia de Reis, amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Tintinaine disse...

Um salto até Paris. Muito bem, a história promete!

Rogério G.V. Pereira disse...

Telas
Sena
aguarda-se
a próxima cena

passo a página

Os olhares da Gracinha! disse...

Se tiver tempo...espreite aqui:
https://mgpl1957.blogspot.pt/2017/01/biblioteca-municipal-de-miranda-do-corvo.html

Bom fim de semana e cuide dessa saúde!!!

Isa Sá disse...

a passar por aqui hoje para desejar um bom fim de semana!
Isabel Sá
Brilhos da Moda

Anete disse...

Bom sábado, Elvira...
Acompanhando o capítulo de hoje e percebendo sentimentos confusos, conflituosos... Uma tela a pintar que traz esperanças...
Bjs

aluap disse...

O Simão está apaixonado pela irmã (adoptiva).
Interessante!

Gaja Maria disse...

A curiosidade aguça-se :)

Lua Singular disse...

Oi Elvira,
Alguma coisa não me cheira bem nesse trio de amigos.
Cá se saber o quê.
Beijos
Lua Singular

maria disse...

Vamos ver.. será que o facto de a ver casada o vai mesmo ajudar a esqucê-la?

Odete Ferreira disse...

Sempre um traço comum nos contos: a curiosidade que despertam. Aplauso!

Roselia Bezerra disse...

Boa noite, querida Elvira!
Contemplei o cenário e me coloquei no lugar do que já visualiza o próximo trabalho...
Bjm muito fraterno