Foto de um aerograma, rebaptizado pelos militares de "bate-estradas"
Descansada com o filho, de novo em casa da irmã, Carlota dirigiu-se a casa dos antigos patrões, e contou à antiga patroa o que lhe tinha acontecido. A senhora ficou com pena dela, afinal estivera lá em casa quase dez anos, e deu-lhe uma carta de recomendação para uma amiga, que ela sabia andar à procura de uma pessoa competente e de confiança. Só que era em Cascais.
Descansada com o filho, de novo em casa da irmã, Carlota dirigiu-se a casa dos antigos patrões, e contou à antiga patroa o que lhe tinha acontecido. A senhora ficou com pena dela, afinal estivera lá em casa quase dez anos, e deu-lhe uma carta de recomendação para uma amiga, que ela sabia andar à procura de uma pessoa competente e de confiança. Só que era em Cascais.
A jovem não se importou. Ela queria e precisava trabalhar. Claro que a dona da casa ao ler a carta de recomendação lhe deu trabalho na hora.
Carlota, regressou à vida de cuidar da casa e dos filhos dos outros, tentando esquecer a triste experiência, porque tinha passado, e cada dia mais descrente na humanidade.
A casa era grande e farta. Além de Carlota, havia uma cozinheira e uma ama para os meninos, que a ajudava nas tarefas da casa, quando eles estavam no colégio.
Dois anos depois, o patrão, diplomata, foi colocado em Paris. Carlota bem como as restantes empregadas, foram convidadas a acompanharem os patrões.
Em Portugal, não havia divórcio pelo que Carlota continuava casada, e embora nem sequer soubesse onde o marido parava, não podia viajar sem autorização dele. Parece ridículo, hoje, mas antes da revolução de Abril, era assim em Portugal.
Por isso, Carlota não pode aceitar. A patroa, passou-lhe então uma carta de recomendação, para uma amiga em Lisboa e assim não ficou sem trabalho. Os anos foram passando, o filho tinha completado dezoito anos, alistara-se no exército como voluntário, e o seu coração de mãe, vivia o pavor de saber que mais dia, menos dia, ele seria destacado para a guerra nas colónias. E o que tanto temia, aconteceu em Janeiro de mil novecentos e setenta e três, quando o jovem foi para a Guiné, integrado numa companhia da PM.
Como Carlota não sabia ler nem escrever, quando começaram a chegar os aerogramas do filho, pedia a uma colega, Dorinda, a trabalhar na casa vizinha, para lhe ler as notícias e escrever as cartas de resposta. Tornaram-se amigas e surgiram as confidências.
Por essa altura, a amiga, recebeu a visita de António, um irmão que regressara de França onde estivera emigrado por doze anos. António, ficara viúvo aos trinta e sete anos, quando a mulher morrera em consequência dum parto complicado, de uma menina que já nascera sem vida. Destroçado, António só queria partir para um local bem longe da tragédia. Foi por isso que emigrou. Primeiro para Espanha, onde trabalhou dois anos, e depois para França onde estivera mais dez. Quase a completar cinquenta anos, a mágoa atenuada pela passagem do tempo, António sentira que era chegado o momento de voltar, e de arranjar uma companheira para o resto da vida. Fora à terra ver a família, pais, irmãs, cunhados e sobrinhos. Aí lhe deram a morada de Dorinda, a irmã mais nova que vivia em Lisboa, na casa dos patrões para quem trabalhava.
Foi visitá-la, e ao conhecer Carlota, logo se interessou por ela. Contrariamente ao que seria de supor, Carlota, não ficou indiferente ao interesse de António. Bem pelo contrário, corava como uma menina, e sentia as pernas a tremer, quando ele a olhava com intensidade. Pela primeira vez na vida, Carlota estava apaixonada.A todos os que leram A Culpa, conto que estava a concurso, informo que o resultado saiu ontem.
Eis a cópia do mail que me mandaram
Boa noite
Aqui estamos para comunicar o resultado da decisão do júri
para o 11º Concurso Literário Papel D´Arroz Editora
Resultado - 11º Concurso Papel D´Arroz Editora
- A CULPA -
1º Classificado - Paulo Vaz
2º Classificado - Mª Elvira Carvalho
3º Classificado - Maria Estrela do Mar
Parabéns ao Vencedor!
O Autor vencedor terá a edição de um livro - de sua Autoria - sem custos - Edição da responsabilidade de Papel D´Arroz Editora - Grupo Múltiplas Histórias