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27.2.18

CARLOTA - PARTE V


O comportamento de Francisco começou a mudar seis meses depois. Primeiro foram as saídas à noite. Depois o dinheiro que lhe dava para a casa que foi encurtando até deixar por completo de lhe entregar dinheiro. Carlota fazia limpezas em duas lojas, mas o ordenado não chegava para as despesas da casa. Começou a questionar o marido, e ele tornou-se agressivo. 
A poucos dias de comemorarem um ano de casados, levou a primeira sova. 
Ficou com um olho negro, e várias equimoses espalhadas pelo corpo. Tudo porque ela queria dinheiro para pagar, a conta no talho e na mercearia.  
Por vergonha escondeu de todos o que se passava.  Até mesmo quando questionada pela irmã, ela disse que tinha caído na rua. Dias depois, o marido chegou a casa com um ramo de flores, pediu-lhe desculpa, jurou que nunca mais lhe fazia mal, deu-lhe dinheiro, e durante algum tempo tratou-a com carinho, parecendo o homem dos primeiros tempos de casado.
Para mal dela, essas alterações, tornaram-se rotina. Ora lhe batia, ora lhe suplicava perdão e jurava mudar de comportamento. Ora lhe dava dinheiro, ora lho tirava e a deixava sem um tostão em casa. Carlota contou à irmã o que se passava, e disse-lhe que se queria separar do marido. A irmã disse-lhe que era uma vergonha, nunca ninguém na família se separara, o povo ia dizer que ela era uma perdida, e depois ela sabia que “quem se obriga a amar, obriga-se a padecer”. Carlota chorou, mas resignou-se, especialmente depois que descobriu que estava grávida.
Infelizmente não teve tempo para contar ao marido o que se passava. Naquela noite, ele disse-lhe que ia sair e pediu-lhe o dinheiro, que dias antes, entregara para a casa. Ela negou, e depois de duas violentas bofetadas, o marido dirigiu-se à gaveta onde ela guardava o dinheiro.
Com as notas na mão encaminhou-se para a porta. Carlota tentou impedi-lo e ele deu-lhe um encontrão que a derrubou na sua frente. Como se não chegasse ainda lhe deu um pontapé, que a apanhou em cheio na barriga.
Depois abriu a porta e saiu. A jovem ficou no chão contorcendo-se com dores. O filho, aflito, sem forças para a levantar, chamou uma vizinha.
A mulher ajudou-a a erguer-se e ao fazê-lo, Carlota deu-se conta que estava com uma hemorragia. A vizinha ofereceu-se para ir ao café chamar uma ambulância, (naquele tempo poucas pessoas tinham telefone em casa).
No hospital Carlota soube que acabara de perder o filho que esperava.  Ficou internada, pois surgiram complicações, foi operada e informada de que não mais podia engravidar.
O marido ia vê-la todos os dias. Chorava, pedia perdão, fazia promessas. Ela já não acreditava nele. Pensava que ele tinha uma amante. E se assim era, pois que fosse para junto dela. Soube depois que não havia tal amante. O marido era viciado no jogo. Contou-lhe a vizinha quando a visitou no hospital. Fora um sobrinho que lhe contara, “ele está empregado num desses sítios onde se joga,  e diz que já o viu perder muito dinheiro” dissera ela.
De qualquer modo ela estava decidida. Não voltaria para casa. Só precisava falar com, a irmã, e  pedir se lhe cuidava do filho. Ela não tinha dinheiro para alugar uma casa, para  viver com ele. Nessa altura, dava graças a Deus, por Francisco nunca ter cumprido a promessa de perfilhar o garoto.
Assim, não podia exercer qualquer chantagem por causa dos direitos sobre o filho.
Depois, ela havia de se arranjar. O trabalho nunca lhe metera medo.



19 comentários:

Joaquim Rosario disse...

boas
coitada da carlota , tudo na vida lhe tem corrido mal , não estou mesmo a ver forma de ela ser feliz.
vamos ver o que o destino lhe reserva agora !!!
JAFR

Larissa Santos disse...

Realmente, nenhuma mulher merece sofrer assim. Conheço casos reais do género. Aqui, só a separação. E, a Carlota que siga o seu caminho. Quiçá ainda irá ser feliz.

Hoje: - Magia sem sumo
.
Bjos

Votos de boa Terça-Feira

Cidália Ferreira disse...

Este episódio meteu-me nervos. Monstro!

Que a Carlota futuramente tenha melhor sorte.

Beijinhos

Rui disse...

Que brutalidade tremenda ! :(... E o problema é que estas coisas são mais vulgares que o que possa parecer.
O vício do jogo, que quantas vezes começa com pequenos hábitos (telefonemas, raspadinhas,... e eu até conheço casos disso e que muitas vezes acabam nas "máquinas" dos casinos ! ) :( ... que se vão tornando incontroláveis de cada vez de maiores dimensões !

chica disse...

Pobre Carlota! Esse animal não merece nada além de punição! beijos,chica

Os olhares da Gracinha! disse...

Uma vida de sofrimento!!!bj

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Coitada, nasceu para sofrer!!! É uma história dramática que prende nossa atenção!
Abraços afetuosos!

Cantinho da Gaiata disse...

Coitada, tanta desgraça já merecia uma vida melhor.
Bjs

Edum@nes disse...

A vida de Carlota,vai de mal para pior. O melhor a fazer é separar-se se é que não quer continuar a levar porrada. Porque, o marido não terá emenda?

Tenha uma boa noite amiga Elvira.
Um abraço.

BIBLIOTECA MADRE ÓDILA MAROJA disse...

Olá Boa noite!
Parabéns pela bela postagem , dá gosto de vir aqui apreciar.
Hoje tem postagem nova no blog, uma aluna nossa que inspirada em suas leituras, escreve lindas e românticas poesias, dentro do Projeto Alunos leitores e Escritores.
Seu incentivo no comentário será muito importante.
Abraços

Bell disse...

Infelizmente ainda há agressão contra a mulher dentro de casa.
O marido desconta sua frustração, no mais frágil.

bjokas =)

Diana Fonseca disse...

Espero que as coisas melhorem para ela.

lis disse...

Achei interessante 'quem se obriga a amar, obriga-se a padecer'.
Essa não Elvira rs
Com agressoes ficou dificil para Carlota,agora melhor será nao dar ouvidos ao que pensa os outros e separar desse homem.
Complicado isso !
_e longe de ser so imaginação,porque temos muitos casos iguais por todo canto
seguindo quase em tempo real Elvira
beijo

Pedro Coimbra disse...

E quanto são os casos de violência que ainda permanecem inclusivamente entre pessoas com habilitações literárias ao nível do Ensino Superior?? :(

Isa Sá disse...

a passar por cá para acompanhar a história!


Isabel Sá
Brilhos da Moda

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Está a ficar dramático.
Um abraço e continuação de boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Manu disse...

Uma história triste, mas infelizmente ainda habitual nos nossos dias.

Abraço

Rosemildo Sales Furtado disse...

É, parece que a Carlota nasceu mesmo para sofrer ou, talvez estes sejam os baixos da vida e que os altos devem estar por vir. Curioso e aguardando.

Abraços,

Furtado

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Que triste. O que mais me fere é que hoje ainda há situações gravíssimas como a de Carlota.
Beijinhos,
Ailime