Mais tarde, apaziguado o vendaval da paixão, Anete repousa a cabeça no peito masculino. Com a mão, Salvador contorna-lhe o rosto numa suave carícia.
-És incrível querida. Uma autêntica caixinha de surpresas. Porque é que não me contaste?
- Se te tivesse contado, acreditavas?
- Sinceramente não sei. É tão surreal. Afinal estiveste casada mais de três anos. O que aconteceu? O teu ex-marido, é gay?
-Não. O nosso casamento foi um erro arranjado pelos nossos pais, e
até pelos meus irmãos. Nós éramos inseparáveis, e eles pensaram que nos amávamos.
E nós nem pensámos nas implicações de um casamento. Na intimidade. Estávamos entusiasmados com a festa, os convites, todas aquelas coisas que fazem parte da cerimónia. Demos pelo
erro na noite de núpcias. Afonso era para mim, o meu terceiro irmão, e eu era a irmã que
ele nunca teve. Só a ideia de irmos para a cama juntos, nos pôs doentes. Sentá-mo-nos
e combinámos que íamos preparar a família para o divórcio. O coitado dormiu no
chão a semana toda, que estivemos no hotel, em lua-de-mel. Nunca pensámos estar casados tanto
tempo, mas o pai dele adoeceu gravemente, não podíamos dar-lhe semelhante
desgosto. Depois ele foi piorando e quando morreu a mulher teve uma grave
depressão, esteve muito mal. Precisava da nossa ajuda, não era hora de pensar em nós, nem de sermos egoístas. Quando ela melhorou, pudemos enfim pensar em nós. O nosso divórcio, apanhou toda a gente que nos conhecia de surpresa. Todos
pensavam que éramos um casal modelo. A minha ex-sogra, culpou-me pelo divórcio.
E como mora na vivenda ao lado, da casa dos meus pais, era difícil ignorá-la. Essa foi uma das razões,
que me levaram a vir viver para Lisboa. Já pensaste que se não viesse para cá,
nunca me terias visto, eu não saberia a minha história, não conheceria a minha
irmã, nem estaria agora aqui?
- Querida, a minha mãe dizia, que quando um bebé nasce, põe em
movimento a roda do destino. Ela pode sofrer desvios, pode entrar por
atalhos, mas sempre encontra o seu caminho, e só pára, quando se dá o último suspiro. A tua andou por vários
atalhos, mas agora encontrou a sua estrada. Nos meus braços, na minha vida. Vamos casar tão rápido, quanto a burocracia dos papéis nos deixe.
Vamos procurar uma casa na periferia com bastante espaço, e um jardim para as
crianças brincarem, e vamos ser muito felizes, mas agora…
Calou-se e começou a beijá-la, lentamente traçando um rasto de beijos, do rosto ao pescoço, e continuando a descer na direção dos seios.
-Agora? - Perguntou ela num sussurro, afagando-lhe a nuca.
- Vamos voltar a fazer amor, - respondeu as mãos movimentando-se
pelo corpo feminino,em carícias apaixonadas, a boca descendo para o rosado mamilo...
Epílogo
Seis anos mais tarde, Anete, mais madura e mais bonita do que
nunca, está sentada na plateia do salão de festas da escola, que as gémeas, Antónia e Maria
frequentam.
Anete é uma mulher feliz. Adora o marido, tem uma excelente relação de amor e respeito com os irmãos, e duas filhas que são o seu enlevo. Duas vezes por mês a família vai passar o fim de semana a Coimbra, com os pais que adoram as gémeas. Três anos antes, Afonso conseguira enfim convencer Sara da sinceridade do seu amor. Anete e o marido foram convidados para padrinhos e Salvador, ciente do carinho fraternal que toda a vida unira a sua esposa, ao ex-marido, aceitara sem problemas. Até a ex-sogra, vendo a felicidade do filho, acabou por aceitar que o divórcio dos dois, tinha sido um bem para ele.
Anete é uma mulher feliz. Adora o marido, tem uma excelente relação de amor e respeito com os irmãos, e duas filhas que são o seu enlevo. Duas vezes por mês a família vai passar o fim de semana a Coimbra, com os pais que adoram as gémeas. Três anos antes, Afonso conseguira enfim convencer Sara da sinceridade do seu amor. Anete e o marido foram convidados para padrinhos e Salvador, ciente do carinho fraternal que toda a vida unira a sua esposa, ao ex-marido, aceitara sem problemas. Até a ex-sogra, vendo a felicidade do filho, acabou por aceitar que o divórcio dos dois, tinha sido um bem para ele.
Dentro em pouco, vai começar a festa que todos os anos a escola
realiza antes do início das férias de Natal. As gémeas vão exibir-se com um
número de ballet. Estavam tão bonitas nos seus tutus de tule, e tão
nervosas que quase não conseguiam apertar as sapatilhas.
A seu lado, duas cadeiras estão vazias. Salvador foi buscar o pai que queria ver as netas dançar, e estão atrasados. Anete sorri ao lembrar-se da surpresa do sogro a primeira vez que a viu, quando Salvador lhe foi comunicar o casamento. O homem quase tinha um ataque, pensando tratar-se de Ana Clara.Viúvo, há quase vinte anos, e muito independente, o sogro continuava a viver sozinho, negando o convite dos filhos para viver nas suas casas.
O espetáculo está quase a começar, e Anete pensa que as meninas vão ficar tristes, se não virem o pai. Ana Clara e Raul não estão presentes. Os seus filhos também têm festa nesse dia, mas como são mais velhos já frequentam outra escola.
A seu lado, duas cadeiras estão vazias. Salvador foi buscar o pai que queria ver as netas dançar, e estão atrasados. Anete sorri ao lembrar-se da surpresa do sogro a primeira vez que a viu, quando Salvador lhe foi comunicar o casamento. O homem quase tinha um ataque, pensando tratar-se de Ana Clara.Viúvo, há quase vinte anos, e muito independente, o sogro continuava a viver sozinho, negando o convite dos filhos para viver nas suas casas.
O espetáculo está quase a começar, e Anete pensa que as meninas vão ficar tristes, se não virem o pai. Ana Clara e Raul não estão presentes. Os seus filhos também têm festa nesse dia, mas como são mais velhos já frequentam outra escola.
Eis que Salvador e o pai chegam. Anete levanta-se para os receber e lhes dar passagem. Sentado a seu lado, o marido sussurra-lhe:
- Desculpa querida. Está um trânsito infernal. Como estão as princesas?
- Nervosas, com medo que não chegasses a tempo. Mas vai correr tudo bem, agora que chegaste. Olha tenho um presente para te dar.
-Um presente de Natal? - Perguntou sorrindo.
-Não tão depressa. Digamos é mais um presente de Verão... – Pegou na mão do marido e colocou-a sobre o seu ventre.- Acabei de descobrir que a família vai aumentar.
-Um presente de Natal? - Perguntou sorrindo.
-Não tão depressa. Digamos é mais um presente de Verão... – Pegou na mão do marido e colocou-a sobre o seu ventre.- Acabei de descobrir que a família vai aumentar.
- És uma bruxinha - sussurrou emocionado. - Dizes-me isso aqui, na frente desta gente toda? Sabes o que me apetecia fazer, para festejar? - Disse roçando os lábios pela orelha feminina.
-Sei,- disse sentindo o rosto afogueado. Quero o mesmo.
Nesse momento, ao som da Valsa da Bailarina, as gémeas entraram no palco a dançar.
Com a mão presa, na do marido, e os olhos nas meninas, que evoluíam graciosamente
no palco, Anete elevou aos céus uma prece de agradecimento pela enorme felicidade que sente.
FIM
Elvira Carvalho
E pronto, foi mais uma história que acabou. Eu sei que alguns de vós, quereriam que tivesse acabado bem mais depressa. Mas eu ainda tenho o sonho de um dia, escrever um romance. Daí que vá trabalhando as emoções dos personagens, e nisso ocupe alguns capítulos, nestas histórias. Como um ensaio. Espero sinceramente que tenham gostado desta história.
Elvira Carvalho
E pronto, foi mais uma história que acabou. Eu sei que alguns de vós, quereriam que tivesse acabado bem mais depressa. Mas eu ainda tenho o sonho de um dia, escrever um romance. Daí que vá trabalhando as emoções dos personagens, e nisso ocupe alguns capítulos, nestas histórias. Como um ensaio. Espero sinceramente que tenham gostado desta história.