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9.10.17

A RODA DO DESTINO - PARTE XXI



Entre a preocupação de Anete, e os esforços de Salvador, para encorajar a jovem, decorreu a viagem no dia seguinte. À chegada, Salvador despediu-se, pedindo para que Anete lhe telefonasse quando quisesse regressar a Lisboa.
Na hora do regresso ele cumprimentaria os pais dela, agora o assunto, era demasiado íntimo, para a presença de um estranho.
A jovem entrou em casa e depois de abraçar os pais, disse que tinha voltado porque precisava mostrar-lhes algo muito estranho.
Uma jovem, que era uma cópia sua, nascida no mesmo dia do mesmo ano, na mesma cidade de Leiria.
Retirou da mala o telemóvel e mostrou-lhes as fotografias, tiradas em casa de Ana Clara.
- Meu Deus! Exclamou a mãe, ocultando o rosto com as mãos. Deixou-se  cair no sofá e começou a chorar. Anete olhar para o pai, e reparou na sua palidez. Porém ele abriu os braços e ela correu a refugiar-se neles, com a mesma confiança de quando era menina.  Com  a voz embargada  pela emoção, ele disse.
- Senta-te. Chegou a hora de saberes a verdade sobre o teu nascimento. Há trinta anos atrás, tua mãe dera à luz, o teu irmão Luís. Ele não foi um bebé desejado, a tua mãe ficou grávida dele, seis meses depois de o Ricardo ter nascido. A gravidez foi de risco, e o parto muito complicado. O médico informou-nos depois, de que não podíamos ter mais filhos. Eu não me importei, afinal já tínhamos dois, mas a tua mãe teve um grande desgosto, pois sempre sonhou com uma menina. Meses mais tarde, uma amiga da tua mãe descobriu que a sua empregada estava grávida e despediu-a. A jovem era solteira, tinha acreditado nas promessas do namorado, e ele quando soube da gravidez desapareceu. Sabes como é a tua mãe, ficou cheia de pena da moça, e passou a ajudá-la. A jovem estava grávida de gémeos. Eram duas meninas, e ao saber do sonho da tua mãe, Antónia, disse-lhe que lhe dava uma das meninas, pois não teria possibilidades de criar as duas. Entre si combinaram tudo. Depois que as meninas nasceram, fomos com Antónia, ao registo, onde vos registámos. Ela escolheu os nomes, mas só registou Ana Clara como sua filha. E nós registámos-te como se fosses nossa filha biológica. Para evitar um processo de adoção que seria complicado pelo facto de serem gémeas. Antónia temia que ao dar uma para adoção lhe tirassem a outra, e nós temíamos que por termos já duas crianças tão pequenas a adoção não nos fosse concedida.Daí que não apareça no teu registo nada sobre adoção. Depois disso, Antónia ainda viveu connosco algum tempo, mas um dia despediu-se dizendo que o pai tinha morrido, e que ia pedir ajuda à mãe. Não o fizera antes, porque o pai era muito severo e tinha a certeza de que ele não quereria saber dela, nem da menina. Logo depois, a firma transferiu-me para Coimbra e mudá-mo-nos para cá.
Joaquim estava sentado num cadeirão. A filha sentada no chão, a seus pés chorava silenciosamente. Ele falava devagar, com voz cansada, enquanto com a mão tremente acariciava a cabeça da jovem.
- Nunca mais soubemos nada de Antónia nem da filha. Quando começaste a perguntar porque não eras loura como nós, quis contar-te a verdade. Mas a tua mãe disse que tu ias sofrer, que te ias julgar menos amada do que os teus irmãos, e acabámos inventando que te parecias com a minha mãe. Nunca pensei que um dia ias encontrar Ana Clara. E Antónia? Viste-a?
- Antónia morreu pouco depois. A mãe não deve tê-la aceitado, porque ela foi entregar Ana Clara numa instituição para adoção, quando sentiu que lhe restava pouco tempo de vida.
- Meu Deus! Se não tivéssemos perdido o contacto, poderíamos ter ficar com Ana Clara também, - disse a mãe, levantando-se do sofá, os olhos vermelhos do choro.
- Perdoa-nos filha. Fizemos o que pensávamos que era melhor para ti. Amamos-te tanto.
- Não há nada que perdoar, mãe. Sempre me senti amada por vós e isso é o que interessa. Além disso deram-me dois irmãos maravilhosos. E a propósito, como é que eles não sabiam de nada? Ou sabiam?
- Quando tu nasceste, o Luís tinha um ano, o Ricardo vinte e seis meses. Era impossível saberem.




NOTA:
Está encontrado o nome desta história. Normalmente os títulos das minhas histórias, são sempre retirados da própria história. Desta vez eu estava indecisa entre este, e uma frase do Salvador que virá lá mais para a frente e que é "Não se pode amar por dois" 
 Agradeço a todos a vossa colaboração, mas realmente nenhum dos títulos sugeridos se impôs a este. E pronto está escolhido. 
Muito obrigada a todos.


19 comentários:

Joaquim Rosario disse...

bom dia
acho o titulo muito bom embora a canção vencedora do festival da Eurovisão seja precisamente o contrario. " Amar pelos dois ".
pode ser que a nossa autora um dia escreva uma historia com este titulo.
JAFR

Tintinaine disse...

Ora aí está! Desvendado o mistério e sem traumas de maior.
O título para mim está bem, nunca lhe dou grande importância, é como o embrulho de um presente, o que interessa é o que está dentro do embrulho.

chica disse...

Tudo descoberto e desvendado entre elas...Que bom e achei o titulo perfeito! Adorando ler! beijos, chica, linda semana!

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Bem escolhido o titulo.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Isa Sá disse...

a passar por cá para acompanhar a história!

Isabel Sá
Brilhos da Moda

António Querido disse...

Como já alguém disse o que mais interessa é o conteúdo! Que nos faz visitar a "Sexta feira", todos os dias da semana!

Uma ótima semana, fiquem com o meu abraço.

Edum@nes disse...

Quem é que ainda tem duvidas. Nesta curta viagem pelo mundo. De que não é o destino que nos conduz?

Teresa Brum disse...

Bom dia Elvira!
Está excelente sua estória.
Vamos ver o que nos espera o final.
Parabéns! Beijinhos.

noname disse...

Por certo o nome escolhido, far-me-à sentido, mais para a frente, no desenrolar da história.

:-) Beijo

Os olhares da Gracinha! disse...

Gosto do título e a explicação encontrada!!! Bj

Odete Ferreira disse...

Já me pronunciei sobre o título no episódio de ontem, mas, afinal, "Deus escreve direito por linhas tortas" pois, apesar dos desencontros e da institucionalização da Ana Clara, a vida sorriu-lhes.
Bjinho

aluap disse...

Escolhi simplesmente "ALIANÇA", mas a Roda do Destino parece-me que fica bem.
Boa semana.

Anete disse...

O título tá bem coerente, gostei!
Tudo está se esclarecendo e ficando nitidamente compreensivo, que bom...
Gosto também do nome Anete nesta história de vida e descobertas...
Beijinhos e abrações

Bell disse...

Espetacular minha amiga.
Com isso a gente aprende que nada fica em oculto a vida.
A verdade sempre vem.

bjokas =)

Cantinho da Gaiata disse...

Mais uma história quase a chegar ao fim, estou a adorar.
Foi mesmo fácil confronta-los com a realidade,pensei que fosse mais complicado.
O título está excelente.
Bjs

Gaja Maria disse...

Achoo título bastante adequado à história. Gostei da escolha :)

redonda disse...

Estava já a antecipar que poderia ser algo assim

Rosemildo Sales Furtado disse...

Desvendado o mistério, e entre mortos e feridos, escaparam todos. Rsrs. Continuo gostando e querendo mais.

Abraços,

Furtado

Berço do Mundo disse...

Tinha imaginado uma história mais tenebrosa, afinal, só existe amor aqui... a pôr em dia a leitura
Beijinho
RUthia d'O Berço do Mundo