Seguidores

Mostrar mensagens com a etiqueta serão. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta serão. Mostrar todas as mensagens

23.10.17

A RODA DO DESTINO -PARTE XXXVI




Na terça-feira, à tarde, Anete recebeu uma mensagem de Afonso. Dizia-lhe que no dia seguinte iria a Lisboa, e precisava falar com ela. Convidava-a para almoçar. Respondeu que estava a trabalhar, só tinha uma hora para o almoço, da uma às duas, costumava almoçar num café perto da clínica.
“Combinado, lá estarei.” - Respondeu ele.
Anete, ficou curiosa, por saber o que é que Afonso queria com ela. Tinha-o visto, duas vezes em Coimbra no domingo anterior e ele não lhe dissera nada.
Bom, a verdade é que, não houve oportunidade de falarem a sós.  A primeira vez que se viram, no adro da igreja, ele estava acompanhado pela mãe, e na segunda ela estava com a irmã, facto que o deixou espantado e não houvera maneira de falarem. Reparara no seu espanto quando as vira juntas, e ela lhe dissera que eram irmãs. Mas nada dissera, e decerto não seria por isso que queria falar com ela,
- Passa-se alguma coisa, Anete? – Perguntou Diana
Sobressaltou-se.
-Não. Porquê?
- Tens duas pessoas para atender e não chamaste nenhuma.
- Tens razão, estava distraída, - disse carregando no botão que chamava o número seguinte.
E o dia decorreu sem mais incidentes. `
À noite depois do banho e do jantar, telefonou à irmã a saber como estavam, e depois pegou no livro e leu os três capítulos finais.
Os dois últimos capítulos eram de uma violência extrema, e ela receou que a protagonista da história, acabasse morta às mãos do psicopata do marido, e ficou feliz por assim não acontecer e o romance acabar com a esperança de um futuro feliz. Apesar de toda a angústia que a parte final do romance lhe transmitira, ela gostara dele e disse a si mesma que queria ler outras obras daquele autor. Recordou que Salvador, lhe dissera, que a irmã tinha quase todos os livros dele. Na próxima vez que estivessem juntas, iria pedir-lhe se lhe emprestava algum.  E por associação de ideias, perguntou-se por onde andaria Salvador. O que estaria a fazer? Já teria tomado alguma decisão? Tinha sido tão estranho aquele serão quando regressaram de Coimbra. O que o levara a abrir-se com uma pessoa que conhecera há tão pouco tempo? E agora Afonso também queria falar com ela, Que quereria ele? Só lhe faltava agora, virar ouvido para confidências masculinas.
Foi à casa de banho, escovou os dentes e deitou-se.
Acordou no dia seguinte, com a cabeça pesada. Tinha tido um sonho bizarro. Via-se numa terra estranha, tentando fugir de dois homens que a perseguiam. Salvador e Afonso.
A manhã de trabalho intenso, só abrandou um pouco depois das onze.
 A clínica não fechava para a hora de almoço. Diana, ia almoçar ao meio-dia e quando regressava à uma, ia Anete. Durante aquela hora, uma tinha que assegurar o trabalho da outra, e executar o seu, o que só era possível porque era a hora de menos movimento.
Naquele dia não foi diferente, e quando Anete saiu para o almoço já Afonso a esperava à porta.
Cumprimentaram-se e seguiram para o café em frente.

Bom a Internet voltou. Mas não sei por quanto tempo. Esta manhã virá de novo o técnico. É a quarta vez num mês.Já refizeram a instalação, já mudaram o modem. Que será que vão fazer agora?


21.2.16

MANUEL DA LENHA - PARTE XII




                                                      Foto do google

Nessa altura, quando o tempo ia bom, eles faziam serão de manhã e à noite. 
Às cinco e meia da manhã, o vigia batia na porta das "maltas" e das casas da seca gritando:
- Serão.
O pessoal saltava da cama à pressa, passava uma água fria no rosto, para acordar, vestia-se e engolia à pressa um naco de pão de véspera, empurrado com um copo de vinho, que àquela hora o fogão ainda não foi aceso e por isso não há café.
Já sabiam que mais tarde, volta das oito, o gerente sempre mandava distribuir  o "mata-bicho". Dois ou três, figos secos e um cálice de aguardente.
Começavam a estender o bacalhau na rua às seis, para que a seca estivesse já quase cheia ao nascer do sol. 
Nos dias gélidos de Inverno, manuseando o bacalhau molhado, as mãos enchiam-se de frieiras. Mas ninguém recusava um serão pois sempre eram mais uns escudos no fim de semana.  E à noite depois de recolher o bacalhau, se havia pouco lavado, os trabalhadores faziam serão a lavá-lo e a salgá-lo. Era preciso aproveitar ao máximo o bom tempo, nunca se sabia quando o tempo mudava, e o trabalho parava. 
 O bacalhau não ficava seco num dia, nem pouco mais ou menos, eram necessários vários dias de seca. 
Quando começava a secar, havia meia dúzia de homens, os escolhedores, que andavam de mesa em mesa, separando o bacalhau por categorias. Juntavam em pequenos montes, de pele para cima, o graúdo, separado do crescido, do corrente e do miúdo. Faziam-no sem qualquer balança, sopesando-o apenas nas mãos. O que ainda não estava bem seco ficava na mesma estendido, nas compridas mesas de arame, de pele para baixo. Mais tarde quando se ia apanhar o bacalhau, apanhava-se primeiro o que ainda não estava bem seco, que regressava ao armazém donde tinha saído, e só depois se apanhava o dos montes, que era levado para pilhas diferentes, consoante a sua categoria, e deixado noutro armazém que era só para o bacalhau seco. Neste armazém, havia dois elevadores, monta-cargas, e o bacalhau era levado para o primeiro andar, onde era pesado e amarrado em fardos de 60 kg, e metido em sacos de serapilheira. Era o enfardamento. Uma mulher cozia depois a “boca” do saco e estava pronto para partir. 
Mais tarde, esses fardos, desciam por uma tábua de escorrega, muito semelhante às que se usam nos parques infantis, para uma mesa, onde dois homens, um de cada lado da mesa, lhe pegava pelas "orelhas" e  os colocavam em carros de mão, que as mulheres levavam à "cabeça "da ponte, onde por outro escorrega, desciam para o bojo de um fragata, que depois os levava para os grandes armazéns de Lisboa.
As mulheres seguiam em carreira cada uma com seu fardo,na ida pela direita dos carris, na volta pela esquerda, sempre em fila indiana,  lembrando um carreiro de formigas gigantes.

 Mas naquele ano, por causa da guerra, e dos submarinos alemães, os navios tinham trazido pouco peixe e o tempo sem trabalharem devido ao mau tempo, fez com que ao acabar a safra, quase não tivessem dinheiro para o comboio de regresso. E o nosso Manuel lá foi de novo para a terra, trabalhar para o Sr. Américo, aguardando que os meses até Setembro passassem rápidos, pois que a vida da aldeia, já não tinha atractivos que o prendessem.