Naquele momento Francisca entrou na sala. Trocara o fato do casamento por um conjunto de calça e blusa azul-escuro, de corte simples mas elegante. Sem maquilhagem, a farta cabeleira presa numa trança, de sabrinas, parecia ainda mais jovem.
O homem levantou-se e avançou para ela.
- Estás mais calma? Não te preocupes, vai dar tudo certo. Ouves as crianças? Estão muito felizes com a brincadeira no jardim. Podes ir até lá, ou vê-las aqui da janela. A Graça está com elas. Tem tanto jeito para lidar com crianças que me admira de ainda não ter engravidado. – Olhou o relógio. São onze e quarenta, encomendei o almoço para o meio-dia e trinta. Vou tomar um duche, e trocar de roupa.
Afastou-se sem lhe dar tempo a responder. Francisca foi até à janela. Viu a cunhada com a pequenita no baloiço. Marta, a mais crescida descia o escorrega, seguida por João, rindo com aquela alegria que só as crianças têm. Abriu a porta e saiu para o jardim.
Simão perdia-se na perseguição de uma bela borboleta. Correu para ela mal a viu.
-Mãe, a “tia” Graça, disse que logo não voltamos para casa dos avós. É verdade que vamos ficar aqui para sempre?
- Sim filho, é verdade. A mãe já te tinha dito que estava a preparar o vosso quarto para ficarem a viver com a mãe.
- Mas não contaste que ias casar com o “tio” Afonso. Nem aos avós.
-Sabes filho, às vezes as pessoas têm segredos que não podem contar às outras. Mas depois vem um dia em que deixa de ser segredo e já se pode contar.
- Então o vosso casamento é segredo? Assim como o pai ser uma estrelinha no céu?
- Sim filho.
O menino com um ar sério disse:
- Fica descansada, não conto a ninguém.
Francisca acariciou-lhe a cabeça sorrindo.
-Vai brincar filho.
A criança não se afastou. Como se alguma coisa o preocupasse.
Perguntou:
- Também vais ser mãe da Ana e da Marta?
-De certo modo, sim filho. Tu sabes que todas as crianças devem ter um pai e uma mãe. A mãe delas, como o vosso pai é agora uma estrelinha no céu. Eu tentarei fazer o meu melhor, para que elas não se sintam tristes.
Naquele momento, chegou o almoço. Graça retirou a sobrinha do baloiço, e Francisca chamou as crianças que estavam no escorrega. Depois todos tomaram o caminho de casa.