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31.10.17

A RODA DO DESTINO - PARTE XLIX






Mais tarde, apaziguado o vendaval da paixão, Anete repousa a cabeça no peito masculino. Com a mão, Salvador contorna-lhe o rosto numa suave carícia.
-És incrível querida. Uma autêntica caixinha de surpresas. Porque é que não me contaste?
- Se te tivesse contado, acreditavas?
- Sinceramente não sei. É tão surreal. Afinal estiveste casada mais de três anos. O que aconteceu? O teu ex-marido, é gay?
-Não. O nosso casamento foi um erro arranjado pelos nossos pais, e até pelos meus irmãos. Nós éramos inseparáveis, e eles pensaram que nos amávamos. E nós nem pensámos nas implicações de um casamento. Na intimidade. Estávamos entusiasmados com a festa, os convites, todas aquelas coisas que fazem parte  da cerimónia. Demos pelo erro na noite de núpcias. Afonso era para mim, o meu terceiro irmão, e eu era a irmã que ele nunca teve. Só a ideia de irmos para a cama juntos, nos pôs doentes. Sentá-mo-nos e combinámos que íamos preparar a família para o divórcio. O coitado dormiu no chão a semana toda, que estivemos no hotel, em lua-de-mel. Nunca pensámos estar casados tanto tempo, mas o pai dele adoeceu gravemente, não podíamos dar-lhe semelhante desgosto. Depois ele foi piorando e quando morreu a mulher teve uma grave depressão, esteve muito mal. Precisava da nossa ajuda, não era hora de pensar em nós, nem de sermos egoístas. Quando ela melhorou, pudemos enfim pensar em nós. O nosso divórcio, apanhou toda a gente que nos conhecia de surpresa. Todos pensavam que éramos um casal modelo. A minha ex-sogra, culpou-me pelo divórcio. E como mora na vivenda ao lado, da casa dos meus pais, era difícil ignorá-la. Essa foi uma das razões, que me levaram a vir viver para Lisboa. Já pensaste que se não viesse para cá, nunca me terias visto,  eu não saberia a minha história, não conheceria a minha irmã, nem estaria agora aqui?
- Querida, a minha mãe dizia, que quando um bebé nasce, põe em movimento a roda do destino. Ela pode sofrer desvios, pode entrar por atalhos, mas sempre encontra o seu caminho, e só pára, quando se dá o último suspiro. A tua andou por vários atalhos, mas agora encontrou a sua estrada. Nos meus braços, na minha vida. Vamos casar tão rápido, quanto a burocracia dos papéis nos deixe. Vamos procurar uma casa na periferia com bastante espaço, e um jardim para as crianças brincarem, e vamos ser muito felizes, mas agora…
Calou-se e começou a beijá-la, lentamente traçando um rasto de beijos, do rosto ao pescoço, e continuando a descer na direção dos seios.
-Agora? - Perguntou ela num sussurro, afagando-lhe a nuca.
- Vamos voltar a fazer amor, - respondeu as mãos movimentando-se pelo corpo feminino,em carícias apaixonadas, a boca descendo para o rosado mamilo...




Epílogo



Seis anos mais tarde, Anete, mais madura e mais bonita do que nunca, está sentada na plateia do salão de festas da escola, que as gémeas, Antónia e Maria frequentam.
Anete é uma mulher feliz. Adora o marido, tem uma excelente relação de amor e respeito com os irmãos, e duas filhas que são o seu enlevo. Duas vezes por mês a família vai passar o fim de semana a Coimbra, com os pais que adoram as gémeas. Três anos antes, Afonso conseguira enfim convencer Sara da sinceridade do seu amor. Anete e o marido foram convidados para padrinhos e Salvador, ciente do carinho fraternal que toda a vida unira a sua esposa, ao ex-marido,  aceitara sem problemas. Até a ex-sogra, vendo a felicidade do filho, acabou por aceitar que o divórcio dos dois, tinha sido um bem para ele.
Dentro em pouco, vai começar a festa que todos os anos a escola realiza antes do início das férias de Natal. As gémeas vão exibir-se com um número de ballet. Estavam tão bonitas nos seus tutus de tule, e tão nervosas que quase não conseguiam apertar as sapatilhas.
A seu lado, duas cadeiras estão vazias. Salvador foi buscar o pai que queria ver as netas dançar, e estão atrasados. Anete sorri ao lembrar-se da surpresa do sogro a primeira vez que a viu, quando Salvador lhe foi comunicar o casamento. O homem quase tinha um ataque, pensando tratar-se de Ana Clara.Viúvo, há quase vinte anos, e muito independente, o sogro continuava a viver sozinho, negando o convite dos filhos para viver nas suas casas.
O espetáculo está quase a começar, e Anete pensa que as meninas vão ficar tristes, se não virem o pai. Ana Clara e Raul não estão presentes. Os seus filhos também têm festa nesse dia, mas como são mais velhos já frequentam outra escola.
Eis que Salvador e o pai chegam. Anete levanta-se para os receber e lhes dar passagem. Sentado a seu lado, o marido sussurra-lhe:
- Desculpa querida. Está um trânsito infernal. Como estão as princesas?
- Nervosas, com medo que não chegasses a tempo. Mas vai correr tudo bem, agora que chegaste. Olha tenho um presente para te dar.
-Um presente de Natal? - Perguntou sorrindo.
-Não tão depressa. Digamos é mais um presente de Verão... – Pegou na mão do marido e colocou-a sobre o seu ventre.- Acabei de descobrir que a família vai aumentar.
- És uma bruxinha - sussurrou emocionado. - Dizes-me isso aqui, na frente desta gente toda? Sabes o que me apetecia fazer, para festejar? - Disse roçando os lábios pela orelha feminina.
-Sei,- disse sentindo o rosto afogueado. Quero o mesmo.
Nesse momento, ao som da Valsa da Bailarina, as gémeas entraram no palco a dançar. Com a mão presa, na do marido, e os olhos nas meninas, que evoluíam graciosamente no palco, Anete elevou aos céus uma prece de agradecimento pela enorme felicidade que sente.





FIM


Elvira Carvalho


E pronto, foi mais uma história que acabou. Eu sei que alguns de vós, quereriam que tivesse acabado bem mais depressa. Mas eu ainda tenho o sonho de um dia, escrever um romance.  Daí que vá trabalhando as emoções dos personagens, e nisso ocupe alguns capítulos, nestas histórias. Como um ensaio.  Espero sinceramente que tenham gostado desta história. 




27 comentários:

Fá menor disse...

Gostei muitíssimo!
Parabéns pelo talento.

Muita força! Sei que o romance chegará. Gostaria muito que publicasse em livro.

Beijinho.

noname disse...

Delícia. Um bom final, tá certo :-)

Para quando o próximo?

Beijoca, bom feriado

Andre Mansim disse...

Eita! Só porque eu falei que ia esperar esse acabar pra começar a acompanhar o próximo inteiro, esse foi grandão hein!!!!!!

Hahahahaha, parabéns minha amiga!!!

OQMDNT disse...

Excelente! Gostei mesmo!

Um beijo grande, Elvira :)

Edum@nes disse...

Tudo o que tem princípio terá fim. Foi o que aconteceu com a "RODA DO DESTINO". Depois de algumas perturbações. Muito felizes estarão os personagens. Ainda hoje se forem vivos?

Chegou ao fim a Roda do Destino,
a seguir o que sairá da forja?
Caminhando sem perder o tino
gostei, digo antes de ir embora!

Tenha uma boa noite amiga Elvira, um abraço.

Emília Pinto disse...

Parabéns, Elvira! Uma história muito boa, como sempre, aliás e com um titulo a combinar com o enredo; custou, mas foi bem escolhido. Agora, enquanto não chega o romance, esperamos o próximo conto. Obrigada pelos bons momentos que nos proporcionas. Saúde para todos aí, querida amiga. Beijinhos
Emilia

chica disse...

A-0lausos acalorados,Elvira! Belo final,belo enedo, linda trama e final! PERFEIÇÃO é teu nome! bjs, de volta,chica

Pedro Coimbra disse...

Gostei muito.
E fico à espera desse anunciado romance.
Um abraço

Tintinaine disse...

A história foi ainda para além do que eu esperava, uma nova geração de gémeas. Se a Elvira tivesse a pedalada do José Rodrigues dos Santos, não tardaria em começar a contar a história destas duas novas personagens.
E para escrever o romance é preciso começar depressa, pois a vida não dura para sempre. Mais vale seguir o ditado que diz "não deixes para amanhã ...".
Se o preço não for muito caro, encomendo já uma cópia do livro!

Teresa Brum disse...

Parabéns querida Elvira pela linda história!
Com todo este talento não lhe será difícil escrever um romance.
Esperando mais uma história, beijinhos.

maria disse...

Parabéns mais uma vez! Uma Bonita história, que sendo ficção, nos remete para a vida real, porque a vida é isto mesmo, uma sequência de encontros e desencontros! A partir de agora vou ficar à espera do seu Romance, porque conhecendo-a,como julgo conhecer, não me parece que seja pessoa para desistir de um sonho e talento não lhe falta!!! Beijinhos!

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gostei bastante da história e espero que a minha amiga realize esse sonho de escrever um romance, fico à espera.
Um bom mês de Novembro.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Teresa Isabel Silva disse...

Gostei muito!
Vou esperar pela próxima história!

Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

Joaquim Rosario disse...

Boa tarde
um romance é sem duvida o ex libres de todo o seu talento para escrever .
esta historia começou um pouco confusa para as nossas cabeças , mas a autora sabia perfeitamente o que estava a fazer e acabou como sempre da melhor maneira possível não esquecendo sequer o pormenor das novas gémeas .
um beijinho muito cordial e os meus parabens .
Joaquim Rosário

Anete disse...


Li agora os últimos 4 capítulos... Amei do começo ao fim a história da Anete! E, como ela, também gostei muito de conhecer Sintra e os seus docinhos...

Parabéns por mais este drama-romance!
Bjs

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

gostei mesmo muito.
vinha aqui todos os dias para seguir e sinceramente gostei.
beijinhos
:)

Gaja Maria disse...

ostei muito como de resto de todas as histórias que já li aqui. Força com esse romance :) Abraço Elvira

aluap disse...

Até pensei que não ia acabar já.
Venha a próxima, esta foi muito boa.
Abraço.

Rui disse...

Adorei, Elvira !!! ... E eu que sempre tenho dito que não gosto de romances nem de ficção ! ... Assim contado e lido aos bocadinhos ainda consigo e sinceramente adorei !!!... Vendo um calhamaço, assusto-me e não me tento ! :)))

Os meus Parabéns !!! ... As suas qualidades para este tipo de escrita são notórias, Elvira e creio que estará mais que pronta para se abalançar pelos tais caminhos que ambiciona e que eu tenho a certeza que será bem sucedida !

Um grande abraço !

Cantinho da Gaiata disse...

Os meus mais sinceros Parabéns amiga Elvira, adorei mesmo esta história tudo ao meu jeito. Claro que ler em partes é doloroso, já sabe gosto de pegar e ler tudo de seguida, mas pronto aqui é diferente.
Estou desejando que saia esse romance, claro que o seu desejo de vai realizar.
Beijinho muito grande e venha o próximo.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Parabéns e inúmeros aplausos de pé pela sua sabedoria, criatividade, elementos que unidos nos brindaram com essa linda e emocionante história de amor. Foi um prazer acompanhar esse enredo maravilhoso que teve um final esplêndido.
Beijos e um feriado de paz e felicidade!

Os olhares da Gracinha! disse...

Um final feliz numa belíssima descrição final!!!bj

Odete Ferreira disse...

Começo pela tua nota final: tinha percebido que, nesta história, te demoravas nos pormenores; agora percebi a intenção e felicito-te por ela. Trabalha, pois, a dimensão psicológica das personagens, base fundamental para um romance.
Quanto à história, já não sei ser original: parabéns pela coerência narrativa e pela imaginação.
Bjinho, Elvira

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Uma historia linda, muito criativa e que me cativou.
Parabéns pelo seu enorme dom para a escrita.
Beijinhos,
Ailime

lourdes disse...

E como tudo o que é bom não dura sempre, este conto tambem acabou.
Muito bom, imaginação não te falta, portanto venha o romance.
Bjs.

Berço do Mundo disse...

Foi uma linda história, com um final muito feliz. Tem traços de romancista, cá aguardamos o seu livro.
Abraço e boa semana
Ruthia d'O Berço do Mundo

Rosemildo Sales Furtado disse...

Parabéns amiga Elvira! Maravilhoso! O final deste conto foi o que uma ótima escritora poderia oferecer aos seus leitores. Adorei!

Abraços,

Furtado