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10.7.20

CILADAS DA VIDA - PARTE IV



Desde muito nova, Teresa sempre sonhou ser mãe, e depois que completou vinte e nove anos o sonho tornou-se cada dia mais premente. Porém, não queria envolver-se em nenhuma relação. A sua desconfiança em relação ao sexo masculino era genética. E a  única experiência sexual que tivera durante o tempo da Universidade, não fora de modo algum gratificante, ao ponto de desejar repetir o ato. De modo que depois de muito pensar, e apesar da opinião contrária de Inês, que se esforçara para a convencer, a iniciar uma relação, inclusive apresentando-lhe alguns amigos, ela decidira-se pela produção independente e recorrer à Procriação Medicamente Assistida,  a fim de conseguir engravidar. 
Falou com o seu médico assistente, que lhe indicou os passos a seguir e então dirigiu-se ao Centro Clínico especializado nesse método, e marcou consulta com um dos médicos, desse centro médico.
Depois de várias consultas, entrevistas e exames médicos, físicos e psicológicos, foi considerada como tendo o perfil necessário, para se submeter à Inseminação Artificial, e marcado o dia do procedimento, para o seu próximo período fértil
Isso acontecera na semana anterior, faria no dia seguinte dez dias, que o procedimento ocorrera, e esse era o prazo, que o médico lhe dissera, ser necessário, para saber se tinha ou não conseguido engravidar. Claro que o clínico tinha-a avisado, de que embora a percentagem de sucesso fosse bastante alta, a gravidez não era garantida. A maioria das mulheres engravidava, a primeira vez que recorria ao processo mas outras só o conseguiam em duas ou mais tentativas.
Todavia Teresa era uma mulher de fé e acreditava que tudo iria dar certo. Por isso, quisera passar aquele fim de semana, na casa onde nascera, e onde vivera grande parte da sua vida. Antes da viagem, comprara na farmácia dois testes, e estava desejando o nascer do dia seguinte, a fim de saber, se as suas esperanças se tinham ou não concretizado.
 Preparava o almoço, quando o telemóvel tocou. Atendeu
- Olá aldeã, já tens notícias? - perguntou Inês.
- Bom dia, Inês.  Só amanhã farei os dez dias e os testes. Até lá continuo convencida de que estou grávida. E vocês como estão? E o meu afilhado?
- O Martim está cada dia mais rabugento. Agora deu em acordar de noite, a chorar. Tem dois dentinhos a nascer, a minha mãe diz que é disso, não sei. E de resto estamos tão bem quanto possível.
- O que queres dizer com isso? Brigaram?
- De modo algum. Mas o Gustavo tem cada dia mais trabalho, tem dias que pede à secretária que lhe vá buscar qualquer coisa ao restaurante que fica perto do escritório, e nem vem almoçar a casa. E eu não nasci para fada do lar. Sinto falta de um emprego. Afinal fartei-me de estudar para nada. Mas não te preocupes isto passa. Telefona-me logo que tenhas feito o teste. Estou ansiosa por saber o resultado.
- Claro, mulher, a quem mais telefonaria? És a minha melhor amiga!
-Sou? Olha que honra, nem sabia que tinhas outras. – disse rindo Inês. Até amanhã então. Tenho que desligar, o teu afilhado já acordou. Beijo
Desligou sem esperar resposta.
Teresa terminou a salada fria que estava a fazer, e colocou-a na mesa, sentando-se em seguida para almoçar
Pensou na sua mãe, e no que ela pensaria, se fosse viva e soubesse da sua decisão. Tinha a certeza que tentaria demovê-la da sua ideia. Iria dizer-lhe que se queria uma criança, fizesse uma adoção. Afinal  as instituições estavam cheias de crianças abandonadas, ansiosas por alguém que as amasse. 
 Esse tinha sido também o argumento do Mário e da esposa. E ela tê-lo-ia feito se o seu organismo fosse estéril. Mas não era o caso. Queria sentir a sensação de carregar um filho no ventre, amá-lo muito antes de sentir a alegria e a emoção de o apertar nos braços  após o parto. Eram emoções que não conheceria numa adoção, embora tivesse a certeza de que iria amá-la muito. Depois ela também sabia que a menos que optasse por uma criança já com alguns anos, teria que entrar numa lista de espera e esperar talvez anos para ter um bebé por adoção.
Depois do almoço. lavou a loiça e foi para a sala. Sentou-se num sofá e abriu o livro que tinha em cima da mesa “O grande livro da Grávida” e pouco depois adormecia com o livro no colo.


12.12.19

CONTOS DE NATAL - LUZES DE ESPERANÇA

                                                                                                  

                                                           


                                                            No pico do inverno finalmente aprendi
                                                           que havia em mim um invencível verão.

                                                                                              Albert Camus



 Foi-me diagnosticado um cancro em Outubro de 2004, o que implicava que os tratamentos iriam prolongar-se durante o mês de Dezembro.

Quimioterapia no Natal era algo de que eu não estava à espera. E assim rezava todos os dias para que o Natal não fosse arruinado nem pela minha doença nem pelos tratamentos.


Com duas crianças pequenas, e uma enorme necessidade de esperança, eu queria desesperadamente manter viva a magia natalícia. Mas o tratamento foi muito agressivo porque eu tinha apenas trinta e quatro anos de idade e o cancro estava numa fase inicial. A quimioterapia não me fez cair o cabelo, mas fiquei muito magra e a radioterapia retirou-me toda a energia. A perda de peso e a exaustão deixaram-me muito fraca e mal conseguia andar pela casa. Nos outros anos, nesta altura, já teria levado a árvore de Natal para casa mas agora mal conseguia carregar os ornamentos, e tive que encarregar a minha mãe e os meus filhos da decoração.

As luzes de Natal exteriores iam até aos meus vizinhos e o meu marido perguntou-me se queria sair e vê-las.” Não, a não ser que as consiga ver todas!” — respondi. Desejava tanto sair com a minha família para os tradicionais passeios natalícios noturnos, mas como iria conseguir se nem sequer era capaz de ir buscar o correio? Gostaria de dar umas voltas de carro na vizinhança, mas como poderia conduzir se isso me provocava enjoos? Só a simples ideia de me sentar em frente da casa, a observar os fios de luzes a piscarem ao longo da rua, me deixava deveras deprimida!

“Eu sei como poderás vê-las todas”, disse o meu marido Jeff, e correu para o telefone para falar aos pais. ”Mãe, Pai…ainda têm a cadeira de rodas do avô?”

Noite após noite, Jeff carregava-me na cadeira de rodas, cobria-me com grossos cobertores e levava-me para fora de casa pela porta da frente. A nossa filha de dois anos, embrulhada na sua pequena casaca cor-de-rosa, aconchegava-se debaixo dos cobertores comigo, e o seu calor acalmava os meus ossos que tremiam. O nosso filho, de quatro anos e muito maior do que a irmã, caminhava ao nosso lado e dava-me a mão, ou ajudava o pai a empurrar a cadeira. E assim, embrulhada no amor do meu marido e dos dois filhos, eu passeava pelas redondezas…

As luzes de Natal eram as mais bonitas de sempre! Coloridas, brancas, cintilantes e brilhantes, tremeluziam de promessas e alegria…. esperança e cura. O meu espírito elevava-se bem mais alto do que eu imaginava ser alguma vez possível! Por causa das luzes e por causa do amor que me permitia vê-las a todas.

A quimio curou o meu cancro, e não acabou com o meu Natal.

Kat Heckenbach

3.10.19

VIDAS CRUZADAS - PARTE XXII





- Olha só quem voltou. Vai buscar um pedaço de broa e um naco de presunto  que o Pedro deve estar com fome. E o almoço ainda demora muito?
E voltando-se de novo para o sobrinho. 
- Mas afinal porque voltaste? E porque é que a tua mãe não me avisou que vinhas? -voltou a perguntar andando nervosa à sua volta.
Pedro colocou o braço à volta dos ombros da tia e disse:
- Acalme-se tia. Vamos entrar que já lhe conto tudo.
Entraram e depois que a empregada se dirigiu à cozinha,  o jovem começou a contar tudo o que se passara consigo nos últimos meses, à tia que o escutava com o maior interesse. Quando terminou a senhora disse:
-Como deves ter sofrido, rapaz. Graças a Deus não contaste nada à tua mãe. Nem sei se ela resistiria à ideia de que ia ficar sem ti. Lembro-me bem como ela  ficou quando morreu o meu irmão. Muitas vezes pensei que se não fosses tu, ela teria ido atrás dele. Mas e agora? Como vais encontrar a rapariga? Devias ter sido sincero com ela.
- Ainda tenho a esperança de que o outro empregado tenha algum recado. Afinal era ele que estava na portaria quando a Rita partiu. Mas ele só entra às quatro. Agora se não se importa vou ligar à mãe. Já deve estar já em cuidado.
Quando terminou o telefonema, a empregada anunciava que o almoço estava pronto e dirigiram-se para a mesa.
Depois do almoço o jovem informou que ia dar uma volta pelas margens do rio, depois ia ao hotel e seguiria nesse mesmo dia para casa, pelo que se despedia já das duas. A tia insistiu para passar por lá antes da partida, a empregada ia arranjar-lhe um farnel para a viagem, porém o jovem recusou e  agradecendo a gentileza despediu-se das duas, prometendo dar notícias à tia quando tivesse novidades.
- E convida-me para o casório, se tudo correr bem,  - disse-lhe a tia quando ele já ultrapassava o portão.
- Claro - respondeu acenando num último adeus.
Pouco depois embrenhava-se no parque junto ao rio, recordando cada dia, cada gesto,  cada palavra trocada com Rita nos passeios que por ali fizeram.



E hoje dia 3 volto a ir à consulta a Santa Maria. Já tenho os exames quase todos feitos, falta-me só um que está marcado para dia 11. Vamos ver o que me diz o médico. Estou tão saturada disto. E  porque estamos em Outubro, uma lembrança para todas as minhas amigas...




12.7.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE XLVII

Boa noite, amigos.
Hoje falei com o neurologista que acompanha o meu marido. Disse-me que o registo do holter estava normalíssimo. Que amanhã fará a RM, na Segunda feira fará o dopler das carótidas e começará a ir ao ginásio a fim de fazer fisioterapia pelo menos uma semana. no dia 19 fará um ecocardiograma e se continuar tudo bem, virá para casa. Entretanto eu estou com uma tendinite no braço direito. Que mais nos acontecerá neste ano que tem sido tão aziago.






Sentiu que uma garra gelada lhe penetrava no peito e o rasgava de cima, abaixo.
- Perguntou quase num sussurro:
- Queres o divórcio? Estás apaixonada por alguém?
“ Meu Deus! Como pode ser tão inteligente para os negócios e tão burro para as coisas do coração?”- pensou Isabel, sentindo que tinha chegado a hora de abrir o seu coração, e deixar que ele visse o que a trazia atormentada.
-É claro que não quero o divórcio. Mas não sei onde arranjar forças para continuar a aguentar este arremedo de casamento. Perguntaste se estou apaixonada por alguém. É óbvio que estou. Estou apaixonada por um homem que me quer dar segurança material, mas não me dá o seu coração. Estou apaixonada por um homem, a quem dei tudo o que tinha, o meu corpo, o meu coração, os meus pensamentos, os meus sonhos. E o que me deu esse homem, em troca? Sexo. O sexo é bom, tão bom que me deixei deslumbrar e pensei poder viver do prazer que ele me dava. Mas depressa verifiquei que era uma triste imitação daquilo que o meu coração ansiava. O homem por quem me apaixonei, nunca me falou da sua vida passada, dos seus sonhos para o futuro, nada. Eu amo tanto esse homem, que o maior sonho da minha vida, é ter um filho seu. Mas em momento algum, ele mostrou desejo de ter esse filho, e assim tomo a pílula todos os dias, não vá ter uma gravidez que ele não deseje, e acabar com a pouca esperança que me resta, de que um dia sinta por mim, o mesmo amor que sinto por ele.
Estava descontrolada. Chorava copiosamente, mas nem por um momento pensou em se calar. As palavras saíam em catadupa, cheias de amargura.
Ricardo levantou-se. O seu rosto estava tão pálido quanto o de um defunto. As mãos trémulas, ansiavam por acariciar a mulher. Mas de algum modo, sabia que se o fizesse naquele momento, ela rejeitá-lo-ia. Virou-lhe as costas e caminhou até à janela, deixando que ela chorasse até se acalmar. Quando percebeu que o choro tinha perdido intensidade, ele retomou a conversa, sem se voltar para ela, o olhar perdido no Tejo.
Aquele homem de quem te falei, apaixonou-se uma vez quando era ainda estudante, um miúdo que acabara de completar vinte anos. Nessa idade, o mundo é demasiado pequeno para os nossos sonhos, e fazemos tudo em demasia. Comemos demais, bebemos demais, amamos demais. Ele apaixonou-se loucamente, por uma mulher um pouco mais velha, e sentiu-se o homem mais feliz do universo quando num momento, que ele pensava ser de paixão retribuída, fez amor sem tomar precauções. Pouco tempo depois ela disse-lhe que estava grávida. Ele ficou aflito, ainda estava na faculdade, não tinha como sustentar uma casa, mas nem por um segundo, pensou livrar-se dela ou do bebé, que amou desde o primeiro momento. Falou com os pais, e eles assumiram as despesas do casamento, em troca dele transferir a matrícula para a noite, e ir trabalhar com o pai para a oficina, pois nessa altura já era um bom mecânico.
Sem se voltar uma única vez, Ricardo contou tudo o que passou com aquele casamento, o que sofreu, quando tomou conhecimento de como aquela mulher e o tinha enganado, da dor que foi descobrir que aquele pequeno ser que tanto amava e que nunca iria conhecer, por quem aguentou aqueles seis meses de martírio, não era nada seu. 




5.1.19

PORQUE HOJE É SÁBADO


O Meu cavalinho




Num cavalo de cartão
Eu corria à desfilada
Nos campos sem fim
Do sonho
Entre rios de alegria
E montanhas de inocência.

Nas asas da imaginação
Via desfilar
Perante os meus olhos
De criança
Searas de carinho
Pão de liberdade.

E o mundo corria
Pintado de esperança.

Hoje
O meu cavalinho
Jaz morto
Num velho armário
Sepultado
Como velho traste
Sem préstimo.
E diante de mim
Não desfilam mais
Sonhos de esperança
Pão de liberdade
Diluída a alegria
Em dor
Perdida a inocência
De criança
Em verdades de adulto.


Elvira Carvalho



Ontem, com o comentário da Maria João de Brito de Sousa, chegámos aos 38.000 comentários. Muito Obrigada a todos que contribuíram para este número. 



E já agora uma pergunta. Quem de vós vive em Angra do Heroísmo?

26.10.18

ENTRE O AMOR E A CARREIRA - PARTE XLI








Com a bandeja nas mãos, voltou-se vagarosamente e encarou-a
- O que disseste?- Perguntou sem afastar o olhar do seu rosto.
- Disse para não ires. Por favor Ricardo, não quero ficar sozinha.
Não era a súplica de uma mulher apaixonada, ansiosa por uma noite de amor. Nos seus olhos Ricardo leu o medo. Naquele momento, Clara não precisava de um homem apaixonado. Precisava de um pai, um irmão mais velho, um amigo de confiança. Estava tão vulnerável como Soraia, quando acordava a meio da noite com os seus terríveis pesadelos. Pousou a bandeja em cima da cómoda, e aproximou-se do leito.
- Eu fico, se me prometeres que te portas como uma menina bonita e dormes. São quase quatro da manhã. Daqui a pouco amanhece e precisas descansar.
 Despiu o roupão, e enfiou-se na cama abraçando o corpo feminino e puxando-o para junto do seu de modo a que descansasse a cabeça no seu peito, consciente de que era aquilo que ela precisava, para acalmar a tensão acumulada nas horas passadas no hospital.
- Pronto, já aqui estou, - disse depositando um casto beijo no rosto feminino. - agora fecha esses olhinhos bonitos e dorme. 
Sentiu como aos poucos a sua respiração se ia tornando mais suave e o corpo relaxava, finalmente vencido pelo sono.
Ele permaneceu ainda um bom pedaço deitado de costas, pensando em tudo o que acontecera naquele dia. E no enorme desejo que sentira de proteger a mulher que repousava confiante a seu lado. Sentira no peito uma dor terrível, enquanto ela chorava no hospital. Se ele pudesse afastar dela aquela dor tê-lo-ia feito.
Espantado, descobriu que aquele sentimento era o mesmo que lhe fizera mover todas as influências para adotar Soraia. Aquilo era amor!
Não um amor paternal, mas amor de qualquer forma. O amor de um homem pela mulher que o completa.
Afinal o seu coração não estava seco como ele pensava. Era verdade, ele amava Clara, e essa verdade mudava tudo. Trazia uma nova esperança à sua vida. Pousou suavemente os lábios na testa feminina e murmurou docemente:
-Dorme, meu amor.
E finalmente adormeceu. Não dormiu muito. Menos de duas horas depois acordou. Clara dormia profundamente. Com o maior cuidado deslizou o corpo para fora da cama, vestiu o roupão e olhou o relógio.
Sete horas, as crianças não tardariam a acordar e ele não queria que acordassem a mãe. Abriu a porta de comunicação com o quarto das crianças, atravessou-o, abriu a porta que comunicava com o seu quarto e entrou.
Foi à casa de banho, tomou um duche rápido, vestiu-se e voltou a atravessar a porta de acesso ao quarto dos filhos precisamente quando Bernardo acordava.
- Olá pai.
-Bom dia, filho. És capaz de te lavar sozinho?
-Claro pai, já sou crescido. 
-Então vai, o pai vai buscar a roupa para vestires.
A criança entrou na casa de banho e ele tirou uma muda de roupa, e colocou-a em cima da cama do filho. Fez o mesmo com a roupa para a filha, depois fez-lhe uma carícia no rosto, que a levou a abrir os olhos e estender os braços para o seu pescoço.
- Bom dia, preguiçosa. Vamos a levantar, o mano já está quase despachado. Costumas lavar-te sozinha, ou a mãe cuida de ti?
A mãe só me lava a cabeça, no banho, mas só à tarde quando voltamos da escola.
- Então vai lá, que o mano já aí vem. E despacha-te, se não queres chegar tarde à escola.
Enquanto os ajudava a vestir, explicou-lhes que o tio Tiago tinha tido um acidente e estava no Hospital. A mãe estivera lá quase toda a noite e agora estava a descansar, por isso não podiam vê-la nessa manhã.
- Mas o tio não vai morrer, pois não? – Perguntou o filho.
- Não, claro que não. Mas foi ferido e tem que lá estar até ficar curado.
Agarrou nas batas e nas mochilas e dirigiu-se para a porta seguido dos filhos.
- Bom-dia, Adelaide, - saudou ao entrar na cozinha.
-Bom-dia senhor. Lamento o que aconteceu ao menino Tiago. Ontem a Antónia pediu-me para vir fazer o pequeno-almoço, - disse colocando na mesa, um recipiente com pão, um frasco com doce, um prato com queijo, um jarro com sumo de laranja, e duas taças com cereais para as crianças.
Comeram em silêncio, pois saberem que Tiago estava no hospital, tirara a habitual alegria às crianças.  
Quando acabaram, vestiu-lhes as batas, e entregou-lhes as mochilas.
- Vamos lá então, meninos.
 Já no carro, Bernardo perguntou:
- Podemos ir ver o tio Tiago, quando sairmos da escola?
- Não filho. O tio está no hospital e não deixam entrar lá meninos para não ficarem doentes.
Pouco depois chegavam à escola. Antes de os entregar à auxiliar que os estava a receber ao portão, baixou-se para lhes dar um beijo.
- Hoje picas, pai - disse a filha.
Só então se lembrou que com a pressa não fizera a barba.


Esta história que como todos já perceberam está na reta final, volta segunda feira. 
Entretanto espero poder já amanhã mostrar-lhes um pouco do meu passeio. Entretanto amanhã tenho agendada uma visita pelo complexo da antiga CUF aqui mesmo no Barreiro, o estudo da importância que teve para o País aquela que foi a empresa maior da Península Ibérica, e a sétima maior da Europa. com visita à antiga residência do Alfredo da Silva, a visita ao seu mausoléu e  a visita ao museu industrial do Barreiro. E no Domingo a festa da nossa Universidade. Mas não deixarei de os visitar, embora seja um tanto de fugida e às vezes a horas impróprias. As minhas desculpas.

29.3.18

LAÇOS (TIES) - PROJECT DIRECT





Este pequeno filme não é novo, mas eu gosto imenso dele, e como se trata de uma história de amor e esperança, pensei que se enquadrava nesta época. Espero que gostem.

6.3.18

A TRAIÇÃO - PARTE VI


João caiu no desespero. Nem ele próprio, se tinha dado conta, da intensidade do amor que tinha pela mulher. Mandou a sua assistente desmarcar todas as consultas, que tinha agendadas e fechou o consultório. Sentia vontade de largar tudo e desaparecer. E se não o fez, foi porque o sentido do dever para com os seus doentes, impunha-se mesmo ao seu desgosto. Não pediu o divórcio, se ela queria ser livre, que o pedisse. Durante meses, esperou todos os dias por isso, mas ela nunca o pediu, e ele também não. Como se adivinhasse o que se tinha passado, Inês que há algum tempo tinha regressado à cidade, divorciada, e já tinha tentado reatar a relação, sem qualquer sucesso, intensificou os seus esforços,  tentando cercá-lo numa teia de sedução, e recuperar o seu amor. Ele não lhe deu qualquer esperança. Para ele, ela morrera no dia em que descobrira a sua traição.
Durante quase um ano, sentiu-se no inferno, e só não caiu na depressão, graças à ajuda ao seu amigo Manuel, um excelente psicólogo, e a única pessoa a saber que a esposa o abandonara. Quando conseguiu enfim dominar o desgosto, reabriu o consultório, mas agora apenas duas vezes por semana. Os anos foram passando, e já lá iam quase quatro desde aquele dia em que Odete partira. João tinha agora, trinta e nove anos. Os cabelos apresentavam-se grisalhos e as rugas à volta dos olhos tinham-se acentuado. Profissionalmente tinha recuperado o prestígio de outrora. Mais. Era agora o diretor do hospital onde sempre trabalhara. No seu consultório, a sua assistente estava a marcar consultas, com três meses de espera. Ele não se importava. Quem tivesse urgência, procurasse outro cardiologista. Ele não voltaria a entrar naquela espiral de excesso de trabalho. Afinal para quê? Tinha mais dinheiro do que aquele que precisava para ter uma vida de qualidade. Não tinha filhos e já tinha perdido as esperanças de os vir a ter.  O facto de Odete não ter pedido o divórcio, criou no seu coração a secreta ilusão de que um dia ela voltaria.  E essa ilusão, dava-lhe forças para se manter vivo.
Abriu os olhos e endireitou-se. Pegou a garrafa de cerveja, e levou-a à boca. Bebeu um pouco e cuspiu de imediato para a garrafa. Estava quente e choca. Levantou-se e foi à cozinha, despejou a cerveja na lava loiça e pôs a vasilha no receptáculo da reciclagem. Introduziu uma cápsula na máquina e tirou um café. Precisava espantar o cansaço. Tinha que entrar em contacto com um colega espanhol por causa de uma técnica inovadora que ele usara no tratamento de um doente, e precisava estar bem desperto. Eram quase oito horas, a hora combinada para falaram. Foi ao quarto vestiu uma camisa, penteou os cabelos e dirigiu-se ao escritório onde abriu o computador.


8.12.16

O NATAL E AS VELAS






O uso das velas acesas na noite de Natal é conhecido de todos nós. Mas sabemos porquê?
Conta-se que um pobre sapateiro, que vivia numa encruzilhada, algures em qualquer parte do planeta, tinha por hábito, todas as noites pôr uma vela acesa na janela da sua cabana, a fim de servir de referência a qualquer caminhante perdido.
Um dia, começou a guerra, e todos os homens válidos da aldeia foram para a guerra, deixando a aldeia, mais triste e pobre do que já era.  Mas o velho sapateiro continuava a acender todos as noites a sua vela, como se quisesse iluminar o caminho daqueles que tinham partido. Vendo a persistência do pobre sapateiro que apesar de velho e doente, não deixava de lado a esperança, as mulheres da aldeiam resolveram imitá-lo e naquela noite de Natal, a aldeia encheu-se de pequenas luzes que tremeluziam nas janelas de todas as casas.
Então à meia noite os sinos da Igreja começaram a tocar.  Mas nessa noite o toque era diferente dos outros anos, quando o padre tocava para anunciar o nascimento do Menino. Desta vez, ele anunciava o fim da guerra.
- Milagre, milagre, - gritava a população em coro. É o Milagre das velas.  E desde aí,  acender uma vela na noite de Natal, tornou-se um simbolo de paz e união em todo o mundo.

A propósito, a Cáritas vende as pequenas velas da foto acima. Chamam-lhes a "vela da paz" e custam apenas um euro. Este ano, a receita da venda destas velas destina-se a ajudar as crianças refugiadas da Síria.  Porque não ajudar comprando uma ou mais velas, que podeis oferecer aos vossos filhos, ou netos?


2.3.16

MANEL DA LENHA - PARTE XXII




No final de Setembro chegou o Gazela, e poucos dias depois, o Argus, o Crioula, e por fim o Hortense. A Seca encheu-se de trabalhadores e a vida ganhou outro colorido para quem esperava esta época, com um misto de desespero e esperança, como o condenado que espera o perdão.
 A meio de  Outubro,Piedade se foi. De manhã enquanto tomava o pequeno-almoço, simplesmente deixou de respirar. Vítima de um ataque cardíaco, dissera o médico. O Manuel mandou as crianças para casa do cunhado, José Varandas, para que não vissem o funeral da avó. O João o irmão que felizmente vivia bem melhor, e a irmã Laurinda, trataram das despesas, e o féretro partiu numa fria e seca manhã, na carroça do ti’Abel, a urna coberta com uma colcha de algodão rosa, e todo o pessoal da Seca em cortejo a pé, até ao cemitério do Lavradio.  À noite, as crianças voltaram para casa, sem entender a tristeza dos pais, nem a ausência da avó. Agora para que o casal, pudesse continuar a trabalhar, deixavam os três filhos fechados num dos quartos, pois se o gerente permitia que pudessem levar para o trabalho, uma criança de peito, ou uma já crescidinha, não deixavam que fossem os três. E deixá-los soltos  na rua era perigoso por causa da proximidade do rio. Fechar apenas a porta da rua, e ficarem soltos no salão também era perigoso. Havia facas, martelo, serra, fósforos, e a casa como bem se lembram era um barracão de madeira. A solução era ficarem fechados no quarto. 
Mas o que não lembra ao diabo, lembra às crianças . E um dia a mais velha descobriu que puxando a ponta da porta para ela, a porta feita de tábuas finas, abria um buraco. Então ela e a irmã puxavam a ponta da porta em baixo, utilizando toda a sua força, e o irmãozito mais pequeno e magrinho passava por esse buraco para o lado de fora. Aí punha um banco e em cima sele corria o fecho que fechava a porta, pois que não haviam quartos com fechadura, eles fechavam por dentro ou por fora, com um fecho de correr, muito utilizado na época, em vez das fechaduras, pois eram bem mais baratos. 
À solta as três crianças mexiam em tudo, desarrumavam tudo. 
Perto da hora do almoço, as irmãs metiam-se no quarto, e procediam à operação inversa. 
Fizeram isto durante mais duma semana, perante a apreensão cada vez maior dos pais, que encontravam os filhos fechados como os deixaram e a casa toda mexida. Até que um dia, a Gravelina pediu ao capataz para ir a casa a meio da manhã, expondo-lhe o problema. E claro veio encontrar os três filhos na maior brincadeira, fora do quarto. 







14.1.16

AMANHECER TARDIO - PARTE XXVIII




A campainha tocou e a senhora levantou-se rapidamente. O coração dizia-lhe que era o filho. Abriu a porta e uns braços fortes levantaram-na e rodopiaram com ela.
- Pára filho. Pões-me tonta.
- E como está a mulher mais linda do mundo? – Perguntou Luís enquanto a punha de novo no chão
Parecia impossível que a mulher pequena e franzina pudesse ser a mãe daquele homem.
- Há quase 15 dias que não apareces nem dás notícias, - queixou-se a mulher. Tinha acabado de comentar com o teu pai, que afinal estares em Lisboa ou na Índia, para nós era a mesma coisa.
Entraram na sala e Luís abraçou o homem que se levantara ao vê-lo entrar. Foi um abraço forte emocionado que fez os olhos da mulher encherem-se de água. Era sempre assim quando se encontravam. Os dois grandes amores da sua vida.
Luís era fisicamente muito parecido com o pai. A mesma altura, embora o pai fosse mais magro. O desenho da boca e o queixo voluntarioso. Da mãe herdara os belos olhos cinzentos.
- Íamos jantar. Jantas connosco?
- Claro, mãe. Porque julgas que apareci a esta hora? - Riu. Não me apetecia jantar no hotel. E depois tenho novidades para vos contar.
- O casal trocou um olhar onde havia uma ténue esperança, mas nem um nem outro se atreveu a dizer nada.
- Fiz hoje a escritura da minha casa. Já contratei um decorador. Dentro de duas semanas deve estar pronta. Depois vão lá conhecê-la, e retribuo o jantar.
  - Que bom filho. Fico tão contente. Estar num hotel é bom em férias. Mas para viver é muito frio, muito impessoal, - disse a senhora. E acrescentou: - Isso quer dizer que estás a pensar assentar?
- Se por assentar, queres dizer, passar uma temporada em Lisboa, talvez sim. Se te referes às ideias do costume digo-te já que não.
A mãe dirigiu-se à cozinha. Luís sentou-se no sofá, ao lado do pai, e encetaram uma animada conversa. Luís gostava da casa dos pais, admirava o amor que os unia, sentia-se bem entre eles, e mesmo quando andava em viagem, muitas vezes se surpreendia a pensar neles. O pior era a mania que a mãe tinha de querer vê-lo "arrumado".
A mãe voltou chamando-os para a mesa.
 Foi um jantar animado. A senhora não se cansava de fazer perguntas, e quase não jantou, mais preocupada em olhar com enlevo o rebento, ainda que o frango de cabidela estivesse uma delícia.





6.1.16

AMANHECER TARDIO - PARTE XXI

foto do google


Quando na manhã seguinte Amélia chegou à agência, Isabel já se encontrava na sua secretária, analisando alguns documentos.
- Bom dia saudou. Caíste da cama?
- Bom dia, - respondeu Isabel. 
-  Estive quinze dias fora. Foi muito tempo. Preciso ver como estão as coisas. Há aqui dois clientes novos?
- Potenciais clientes, Isabel. Com a crise, as pessoas retraem-se e não compram. Por isso alguns empresários começam a investir em campanhas mais agressivas. Esses dois querem algo assim. Agora que chegaste vou marcar uma reunião para veres o que desejam e tentar fazer o contrato.
- E a Luísa?
- Ah! Esqueci de te dizer. A Luísa só vem de tarde. Foi chamada à Segurança Social. O tempo de estágio termina no fim do mês. Vais contratá-la?
- Estou a pensar nisso. Estamos a precisar de alguém e ela mostrou-se competente. É responsável e criativa o que no nosso trabalho é muito importante. Não vamos meter outra estagiária e estar a ensinar tudo de novo.
Ela já é a quarta estagiária que tivemos. As outras não tinham grande aptidão para o lugar. Agora que encontrámos uma competente, é uma estupidez mandá-la embora.
Durante uns segundos ficaram em silêncio. Depois…
- Isabel é verdade que não aconteceu nada nas férias?
Levantou a cabeça e olhou-a franzindo as sobrancelhas. Mas não respondeu.
Segundos depois Amélia insistiu:
- Ontem senti-te estranha. De vez em quando parecias ficar ausente. Entre nós nunca houve segredos. Sempre pensei que devias arranjar um namorado. E tu, tinhas dito poucos dias antes das férias, que te começava a pesar a solidão. Tinha esperança de que arranjasses alguém. Todas as vezes que te liguei senti que tudo estava igual. Mas ontem não. Até o Afonso comentou comigo que estavas estranha. Aconteceu alguma coisa? Não queres falar disso agora?
- Não há nada para falar, Amélia. Aconteceu que tive dois ou três encontros casuais com um homem no qual penso mais do que devia e isso desorienta-me. Na vida só amei o Fernando. Depois disso sempre que pensava refazer a vida, a imagem dele e as recordações sobrepunham-se ao meu desejo. Parecia-me que estava cometendo uma traição. Isso fazia com que logo desistisse.

12.11.15

FOLHA EM BRANCO - PARTE XXVI


                                          foto do google
. -Muito bem doutor. Mas, eu não posso ficar mais tempo na cidade. É imperioso que regresse a Lisboa. Posso viajar com a Mariana?- Perguntou Miguel.
- Do ponto de vista médico, claro que pode. Em Lisboa existem bons médicos, ela pode perfeitamente ser acompanhada lá. Pode inclusive ser melhor para o restabelecimento da normalidade cognitiva da paciente, se o factor causa-efeito, estiver nesta cidade. O afastamento do local, de uma tragédia, não faz com que ela seja menor, mas faz com que pareça menos trágica. Agora, do ponto de vista legal, pode ser problemático, uma vez que uma pessoa em amnésia, não tem vontade própria, e segundo me disse, a paciente não é sua parente. Mas isso, claro, não é comigo.  E sim com o senhor e as autoridades.
-Compreendo. E o doutor poderia recomendar-me algum colega, em Lisboa?
- Claro que sim. Se quiserem aguardar um pouco na sala, eu vou escrever uma carta a um colega meu. Convém que levem a RM. Se não puder esperar, passe pela clínica, deixe a morada que eles enviam-na pelo correio. Se não o fizer, o colega vai pedir-lhe para ir fazer outra e não há necessidade disso.
-Muito obrigado, doutor.
- Boa sorte! - Respondeu o médico.
Aguardaram alguns minutos na sala, até que a assistente, lhes veio trazer uma carta endereçada a um tal doutor João Serra, na rua António Augusto de Aguiar.
Consulta paga, e já na rua, Miguel perguntou:
-Está desiludida, Mariana?
-Não devia estar? Retorquiu com amargura.
- Não. Já sabemos que não tem nada físico, o que podia tornar irreversível o seu estado. Então é preciso não perder a esperança.
Amanhã vou despachar as telas para Lisboa, e depois seguimos nós. Precisamos comprar uma mala para as suas coisas. Vai gostar da minha casa em Lisboa. Fica num sítio muito bonito, e tem outras condições que esta não tem. E, preciso contratar alguém para ir consigo ao médico e lhe fazer companhia. Vou estar muito ocupado nos próximos tempos. Tenho uma exposição para fazer, e estou muito atrasado. Tenho que ver o espaço, na galeria, escolher as telas que vou expor, mandar fazer os folhetos de apresentação, os convites,  contactar a imprensa, um sem fim de coisas.
Calou-se ao ver que a jovem chorava.
- Mau. O que é isso agora?
- Estraguei a sua vida. Deixou de pintar, de ir às suas tertúlias, está farto de gastar dinheiro comigo. Devia ir-se embora sem mim.
Estacou, zangado:
-Não digas, asneiras, - disse tuteando-a pela primeira vez




Amigos, porque amanhã é Sexta-Feira 13, o Miguel e a Mariana estarão de folga. Mas se quiserem passar por aqui, tenho a certeza que gostarão da história que tenho para vos contar. Trata-se de uma história verídica, alusiva ao dia.