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18.1.16

AMANHECER TARDIO - PARTE XXXII




Acabara de fazer quarenta e  cinco anos de uma vida intensamente vivida, minuto a minuto
No ano anterior, publicara o seu primeiro livro, "Amanhecer Tardio." Talvez por não ter muita confiança no sucesso do livro, ou porque não lhe interessava de momento, disse ao editor que não queria dar-se a conhecer, e por isso não houve fotografias nem no livro, nem nas notas da imprensa. Além disso fizera-se representar, por um advogado, já que na altura se encontrava na Índia.
 Apesar disso, o livro foi um grande êxito, já ia na sétima edição, e toda a gente andava meio doida, para saber quem era o escritor mistério. 
 E tinha já agendado a data de lançamento do segundo livro, para o fim do mês. Pelo meio ficava o projecto de reunir em livro algumas das suas reportagens, como documento histórico. E, no momento encontrava-se às voltas com uma telenovela, que o seu editor lhe fizera chegar, encomenda de um canal de TV. 
Esses projectos e a idade avançada dos pais, tinham-no levado à compra de casa em Lisboa, e a pensar que desta vez, talvez ficasse mais tempo do que habitualmente.
Começava a pesar-lhe a solidão. Como agora. Não é que estivesse a pensar em casamento ou constituir família. Não. Não era isso. Ainda não tinha chegado a esse ponto. 
O que ele queria, era  ter dois ou três amigos com quem sair, beber um copo, trocar ideias. Apenas isso. Era muito jovem quando partira de Portugal, e depois disso, sempre que vinha era de passagem, apenas para ver e abraçar os pais. Dos amigos da faculdade, que não via há mais de 20 anos, nem sabia se estavam no país, se tinham emigrado, ou mesmo se ainda se lembravam dele. E dos miúdos da sua rua, os seus companheiros de brincadeiras na infância, todos tinham casado, e partido para outros pontos da cidade, alguns até para o estrangeiro, atraídos por uma perspectiva de vida melhor. Parecia impossível, mas era a realidade. Tinha amigos espalhados pelo mundo, mas ali, na cidade onde nascera, não tinha um único amigo.E era disso, que ele sentia falta naquele momento. Alguém com quem trocar dois dedos de conversa.
Deu uma volta pela Praça do Comércio, totalmente diferente da última vez que ali estivera, foi até ao cais das colunas, admirou o manto de águas serenas, que a lua cheia beijava descarada, a ponte 25 de Abril, o Cristo Rei, do outro lado do Tejo,  e murmurou:
- Tanta beleza só é possível com a Tua bênção.
Mergulhou de novo nas suas memórias, ao mesmo tempo que iniciava o regresso ao hotel.


16 comentários:

chica disse...

Vim desejar uma linda semana! Esse conto peguei muito adiantado! Não posso ler agora.Espero o próximo! bjs, chica

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Pois é o tempo passa e fica difícil por vezes encontrar os antigos amigos e colegas.
Um abraço e boa semana.

AFlores disse...

O tempo passa depressa, ou nós andamos depressa demais no tempo.
Tentamos "não falar nisso"... no tempo, e da vida que o tempo nos levou.
Mas ainda vamos a tempo.

Boa semana.

Tudo de bom.

Anete disse...

Opa, os dois últimos capítulos são esclarecedores a respeito do personagem. Detalhes de uma vida que deseja mudanças!
Penso que ele andou por muito tempo fugindo de si mesmo e de um compromisso duradouro.
Uma boa semana, Elvira. Bjs

Anónimo disse...

É a primeira vez que venho ao teu blog, e adorei!
Continua!

xoxo,
www.wordsofsophie.com

São disse...

Agora também anda tudo muito intrigado com uma escritora italiana.


Beijinhos gratos

Edum@nes disse...

"Amanhecer tardio"
o tempo passa a correr
a vida é um desafio
se nasce para morrer!

De nada adianta pensar assim,
nem tão pouco surgiu no horizonte
esse conto longe ou perto dom fim
cada vez está mais interessante!

Tenha uma boa tarde amiga Elvira, um abraço,

Eduardo.

Ana disse...

com o passar dos anos a solidão aperta e o que não era tão importante na juventude de repente passa a sê-lo.
Boa semana!
Abraço

Teresa Brum disse...

Amigos verdadeiros com certeza preenche muito a vida. Um abraço.

Teresa Brum disse...

Amigos verdadeiros com certeza preenche muito a vida. Um abraço.

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Oi Elvira!
Ninguém pode viver sozinho tanto tempo...
A solidão pesa!
Precisamos ter alguém ao nosso lado, amigos verdadeiros.
Um grande abraço de uma boa noite!
Mariangela

José Lopes disse...

Luís encontrará o seu rumo e o seu porto seguro, é a sina dos Luíse...
Cumps

Janita disse...

Uma história de vida muito empolgante, apesar disso, e tal como na vida real, o tempo passa a correr.
Vai desculpar-me Elvira, mas estes dois episódios trouxeram-me à ideia o belo poema de João de Deus.

(...)
A vida é sonho tão leve
Que se desfaz como a neve
E como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
Mais leve que o pensamento,
A vida leva-a o vento,
A vida é folha que cai!

Oxalá o Luís encontre o seu porto de abrigo, sereno e seguro.
Estou a gostar imenso desta história.

Um abraço
Janita

Pedro Coimbra disse...

Um coração que se começa a abrir.

Ana Freire disse...

Adorando esta nova personagem... cuja construção da mesma é absolutamente admirável, Elvira! Uma vez mais, muitos parabéns! E prosseguindo na leitura...
Beijinho

Patrícia disse...

Um texto que revela bem os tempos de hoje e, muito possivelmente, os tempos futuros. Os amigos passam a ser meros colegas que se deixam afastar pela distância.
Os afetos estão em vias de extinção, como eu costumo dizer.

beijinho
www.blogasbolinhasamarelas.blogspot.pt