Seguidores

Mostrar mensagens com a etiqueta traição. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta traição. Mostrar todas as mensagens

13.7.18

O DIREITO À VERDADE - XXVI


- Minha filha! Meu Deus! Como é que a tua mãe foi capaz de semelhante maldade? Nunca lhe vou perdoar que me tivesse roubado a alegria do teu nascimento, as tuas gracinhas, o teu crescimento.
- Sem fazermos o exame não podemos ter a certeza.
- Faremos o exame se isso te deixa mais confiante. Por mim, não é necessário. Se nasceste nessa data, não tenho qualquer dúvida. Eu e a tua mãe éramos muito apaixonados, mas ela era muito insegura, achava que não era merecedora do meu amor e tinha uns ciúmes doentios. Disse que eu a traí, pediu o divórcio e foi para casa da irmã em Lisboa. Nunca mais me quis ver, nem ouvir, apesar dos meus esforços. E juro-te que nunca houve tal traição. É verdade que me viu abraçar uma mulher. Era uma prima em segundo grau que estava de partida para o Brasil, sem data de regresso. Não era um abraço de amantes nem beijo nem nada disso. Era uma despedida, duma familiar, que durou até hoje, pois nunca regressou. Tua mãe nunca aceitou sequer as minhas explicações. Mas conhecendo-a como conheci, sabendo do amor que me devotava, tenho a certeza de que nunca me teria traído. Estou em crer que nunca mais quis saber de nenhum homem.
- É verdade, nunca a vi interessada por ninguém.
- E dizes que faleceu há menos de um mês?
-Sim. Quando fui retirar as coisas do seu quarto para dar a uma instituição, encontrei este envelope. Há aqui também as vossas certidões de nascimento e encontrei também isto, - disse estendendo-lhe a caixa com o anel de noivado e a aliança.
Ele abriu a caixa, olhou as joias e voltou a fechá-la. Devolveu-lha
- Eram dela. Agora são tuas. Mas fala-me de ti, filha. Agora que a Natália morreu, com quem vives? E onde? Quero apresentar-te a toda a gente, levar-te lá para casa, mas tens que me dar algum tempo, a minha mulher tem estado doente, tenho que a preparar para esta notícia. Não posso dizer-lho assim de repente, pode sofrer algum choque não sei.
- Não precisa de me apresentar a ninguém. Eu só queria saber quem era o meu pai, já que a minha mãe sempre me disse que eu tinha nascido de uma aventura e que nem ela mesma sabia quem era o meu pai. Gostaria que fizéssemos o teste o mais rápido possível. Depois regresso a Lisboa, não quero atrapalhar a sua vida.
-Como podes pensar assim? Espero que não tenhas herdado a insegurança da tua mãe. A minha casa é a tua casa. Queres fazer o exame, vamos fazê-lo, embora ele seja desnecessário. És minha filha, e tens o direito a participar da minha vida, a conhecer a minha casa e a minha família. Queres fazer o exame na segunda-feira?
-Não tem que ser marcado?
- Não. Sendo particular penso que não. De qualquer modo eu vou agora passar pela clínica e confirmo. Depois telefono-te. Agora tenho de ir. Meu Deus, uma filha. Eu tenho uma filha linda e não sabia.
Pôs-se de pé. Por momentos ficou indeciso. Depois pediu:
-Posso dar-te um abraço?
Sem responder a jovem refugiou-se nos seus braços. As lágrimas rolavam pelas suas faces morenas. Emocionado, Jorge depositou um beijo na testa da jovem.
- Não chores filha. Tudo vai correr bem, vais ver.
Largou-a, e dirigiu-se à porta. A jovem ficou a vê-lo afastar-se.




Gente, vocês querem que eu continue com esta história o fim de semana? Ou querem descansar?

19.3.18

A TRAIÇÃO - PARTE XXVIII




Fizeram amor ali mesmo, no sofá da sala, ansiosos demais para aguardar a chegada ao quarto. Mais tarde, acalmada a tempestade que traziam dentro de si, e já no leito, voltaram a fazer amor, desta vez com menos paixão e mais amor. Depois Odete deitou a cabeça no ombro do marido e suspirou. Ele sussurrou.
- Amo-te tanto. Ia enlouquecendo de saudades.
- Estranho amor que não impede a traição.
- Traição? O que queres dizer com isso?
-Tu sabes. A Inês.
- A Inês, o quê - Perguntou afastando-a e sentando-se na cama.
- Porque pensas que me fui embora? - Perguntou ela, finalmente disposta a pôr a nu a dor que guardou durante quase quatro anos. Descobri a tua traição, e não conseguia viver contigo sabendo que me enganavas.
Ele pôs-se de pé sem se preocupar com a sua nudez. Estava pálido e furioso.
- Quer dizer que me abandonaste porque meteste na cabeça que eu tinha alguma coisa com a Inês?
- Não meti nada na cabeça. Eu sei que vocês eram amantes.
- Nunca fui amante da Inês, fui seu noivo, antes de te conhecer, e isso, eu próprio te contei. Depois que casei contigo não me deitei com mais ninguém. Que raio de homem, pensas que sou? E que tipo de mulher és tu, que pensando que eu sou esse ser amoral e promíscuo, foste capaz de fazer amor comigo?
Estava tão zangado que por momentos ela pensou que estava a falar verdade. Mas como podia ser, se ela tinha a prova?
Ele pegou na roupa e disse.
- Podes dormir aqui. Eu durmo no outro quarto. Amanhã podes partir. A obrigatoriedade de viveres nesta casa, terminou neste momento.
Dirigiu-se à porta. Ela enrolou-se no lençol e foi atrás. Agarrou-lhe num braço.
- Espera João, não podes estar a falar a sério. Vamos falar, esclarecer as coisas.
- Deixa-me. A hora de esclarecimentos perdeu-se no tempo. Saber que me abandonaste por uma suspeita ridícula e sem fundamento, que não confiaste em mim, nem foste capaz de me falar sinceramente, deixa-me doente. És a maior desilusão da minha vida. Nunca mais quero ver-te.
Saiu batendo a porta com estrondo. Ela atirou-se para cima da cama e durante muito tempo, chorou amargamente. Naquele momento teve a certeza de que o marido estava a ser sincero. Mas e aquela carta? Tinha sido uma intriga de Inês para separá-los? Depois de ter visto a dor e a raiva nos olhos do marido, não tinha a menor dúvida, no entanto continuava a fazer-lhe confusão, como aquela carta foi parar ao bolso do casaco dele, sem que de alguma forma tivessem estado juntos.
Já passava da meia-noite quando se levantou, tomou um duche, vestiu um pijama e voltou para a cama, pensando que tinha afastado de si a única hipótese de ser feliz.
Agora não havia volta a dar. O marido nunca lhe perdoaria. 
Tudo acabara de vez.





Parece que a história acabou. Qual é a vossa opinião? Ponho aqui um fim? Ou continuo?



DIA 19 DE MARÇO - DIA DO PAI

Porque hoje é um dia triste, o meu pai partiu há 9 anos, não interrompi a novela para um post alusivo ao dia. Apesar disso quero desejar a todos os amigos que por aqui passam, um feliz dia.









13.3.18

A TRAIÇÃO - PARTE XVI






Às onze e meia, da manhã de sábado, Odete entrou na casa onde vivera os anos mais felizes da sua vida, e onde iria voltar a viver, a troco da saúde da sua mãe. Não sabia o que lhe reservava o futuro, mas sabia que ia ser doloroso, viver debaixo do mesmo teto que o marido, pois apesar da dor da traição, e do tempo que vivera longe, o seu amor por ele continuava intacto. Por mais que a razão tentasse esquecê-lo o coração não obedecia.
- Bom dia, - saudou-a o marido. Vejo que não esqueceste a chave. Como está a tua mãe?
- Bom dia. Como queres que esteja? Cada vez mais debilitada. Obrigado pelo que estás a fazer por ela.
- Não me agradeças. Os teus pais sempre me trataram como se fosse um filho. A única queixa que tenho deles, é a de não me revelarem o teu paradeiro, mas acredito que por imposição tua. Vai guardar a mala no quarto e prepara o suficiente para uma noite, vamos viajar.
- Não vou a lado nenhum. A minha mãe pode precisar de mim a qualquer momento.
- A tua mãe pode precisar de cuidados médicos e se assim for, a enfermeira avisar-me-á imediatamente e eu tomarei providências. Tenho um colega pronto a atendê-la se for necessário. Vai, faz o que te disse e não demores. Almoçamos pelo caminho.
Mordeu os lábios e engolindo a resposta agreste que lhe apetecia dar, pegou na mala, e dirigiu-se ao quarto de hóspedes. Ele que não pensasse que iam partilhar o quarto.
Mudou de roupa pôs o essencial numa maleta, e regressou à sala.
-Estou pronta, - anunciou
-Vamos, - disse tirando-lhe a maleta das mãos e dirigindo-se para a porta.
Entraram no carro e durante um certo tempo, mantiveram-se em silêncio
- Pode saber-se para onde vamos? - Perguntou ao ver que João entrava na autoestrada do norte.
-A Aveiro ver a minha mãe.
- A tua mãe está em Aveiro? A fazer o quê?
-Logo depois que desapareceste, a tia Margarida ficou viúva, e a minha mãe foi passar um tempo com ela para a animar. Gostou de viver lá e como as duas são viúvas resolveu ficar . Uma faz companhia à outra. Gosta muito de ti e pergunta-me sempre porque não te levo quando vou vê-la.
- Eu também gosto muito dela, foi sempre muito carinhosa comigo.
- Folgo sabê-lo.
O silêncio caiu de novo sobre eles. Intenso, sufocante. João mantinha-se sério, atento à estrada, ela estava espantada. Por que razão a sogra, perguntava sempre por ela? Acaso não sabia que se tinham separado? Será que João tinha escondido isso da mãe?  E porque razão o faria? Teria esperança de que ela voltasse?
Nessa altura, João saiu da autoestrada, na direção de Torres Novas, onde tinha decidido que iam almoçar.


12.3.18

A TRAIÇÃO - PARTE XV


Desabafou com a irmã, o que não se tinha atrevido a contar à mãe. Laura recriminou-a por ter fugido daquela maneira. Segundo ela, deveria ter fingido que não sabia de nada e lutar com todas as suas armas para reconquistar o marido. Mas uma vez que decidiu abandonar a luta, devia pelo menos enfrentar João e confrontá-lo com a sua traição. Odete sabia que seria assim que a sua irmã faria, mas ela não tinha essa coragem. Estava demasiado ferida para confrontos. Ele que pedisse o divórcio e fosse viver a sua vida, ela trataria de lamber as suas feridas longe dele. Precisava arranjar trabalho com urgência, pois não levantara um cêntimo sequer da conta conjunta, e o dinheiro que tinha guardado ao longo daqueles três anos estava a acabar. Felizmente para ela, Denis, o cunhado da irmã, andava à procura de uma Educadora de Infância, para a sua creche, e como ela dominava o inglês, em breve estava empregada.
Em vão esperou que o advogasse lhe comunicasse o pedido de divórcio apresentado pelo marido, mas ele nunca o fez.  
Até que há quinze dias, tinha recebido um telefonema do pai. Em breve ia partir com uma carga para França, e a saúde precária da mulher, fazia-o recear deixá-la sozinha. Odete que estava prestes a iniciar as suas férias, pediu a antecipação e regressou. Com a situação atual, ela tinha que avisar de que não ia voltar. Felizmente tinha acabado o contrato, contava renová-lo depois das férias, avisando Denis, ele poderia com tempo arranjar uma substituta.
O que realmente a preocupava agora era a cirurgia a que a mãe, ia ser sujeita, e a vida que ela teria dali para a frente, na sua antiga casa. O peso das recordações ali vividas, a convivência com o marido, e as perseguições que decerto iria sofrer, por parte de Inês.
Cansada acabou por adormecer. Acordou às sete horas. Levantou-se e foi tomar banho. De passagem olhou-se no espelho. As olheiras profundas denunciavam a noite mal dormida e cheia de pesadelos que tivera. Teve a sensação de que tinha envelhecido uns bons anos.
Depois de se arranjar, dirigiu-se à cozinha, onde já encontrou a mãe a fazer as torradas para o pequeno-almoço.
Fê-la sentar enquanto dizia:
-Então mãe, a fome é tanta que não podia esperar por mim. O médico disse que não se pode cansar. Eu trato disto.
-Também não posso estar, todo o dia deitada, ou sentada, -retorquiu a mãe. Faz-me dores no corpo. E depois tenho muito tempo para estar deitada quando estiver no hospital. Chegaste a falar com o teu pai ontem? – Perguntou.
- Falei. Ele já estava quase a chegar à fronteira. Mais dois dias e está em casa.
- Ainda bem. Não gostaria de ir para o hospital sem o ver.


Bom agora já  toda a gente sabe o que separou o casal. E pelos vossos comentários, verifico que as opiniões se dividem. Uns acreditam na traição do doutor, outros julgam que foi um estratagema de Inês para os separar. Quem será que tem razão?
Entretanto ultrapassámos os 31000 comentários. Bem Hajam.

13.2.18

A VIDA É ...UM COMBOIO - PARTE XXXIX







- Foi o Martim, não foi? Eu devia ter desconfiado.
- O Martim? – Paulo estava verdadeiramente surpreendido. – O que é que tem o Martim?
Desta vez foi Ricardo quem ficou surpreso. Interrogou a irmã:
- Não lhe contaste do Martim?
- Não. Ainda não, - disse Amélia corando.
-O que é que há com o Martim? O que é que eu devia saber?
Percebendo que havia uma nuvem naquela sala que precisava ser dissipada, Olga disse:
- Vou dar um beijo ao Martim e certificar-me que ele não vai aparecer de surpresa e ouvir algo que não deva.
Quando ela saiu, Amélia deixou-se cair no sofá, como se de repente lhe tivessem faltado as forças.
- O Martim não é filho do meu falecido marido, - disse sem se atrever a olhar para o noivo.
- Não? – Ele arqueou uma sobrancelha em sinal de perplexidade.
- Não. Mas não penses mal de mim, - disse fitando-o com firmeza. Afonso morreu há quase doze anos. Quando ele morreu eu estava grávida, mas pelo desgosto da sua morte, ou porque tivesse de ser, perdi o meu bebé. Foi um grande desgosto. Depois descobri a traição de Afonso e decidi que nunca mais queria saber de homem algum, mas queria o meu bebé. Decidi recorrer a um banco de esperma, mas a lista de espera era enorme. Então pedi ao Ricardo, que me arranjasse entre os seus amigos, um homem bonito e honesto para dador. 
Calou-se ao ver o olhar amoroso de Paulo, e o seu sorriso radiante. Olhou para o irmão e viu-o comovido. Foi com se de repente um enorme clarão iluminasse tudo à sua volta. Levantou-se, e estendeu a mão ao noivo.
- Tu! Tu és o pai do Martim?
Ele abraçou-a feliz.
- Sim querida, o Martim é meu filho. Bem que mo dizia o coração. Olhava para ele e sentia-me na infância. Como se visse nele parte de mim. Bendita sejas, nunca me senti tão feliz em toda a vida. E ele pensa que o pai morreu...
-Eu sempre lhe disse que o pai tinha ido viajar. Ele é que meteu na cabeça essa ideia quando soube que eu era viúva.
-Temos que lhe contar. Hoje mesmo, Amélia, hoje mesmo.
As lágrimas corriam pela face feminina, enquanto abraçava o noivo e o irmão.
- Já chega de emoções por hoje, - disse Ricardo. - Acho que estou a precisar de uma bebida forte. Também querem?- perguntou dirigindo-se ao bar.
Paulo beijou docemente a noiva e voltando-se para o amigo disse:
- Devia estar zangado contigo. Mentiste-me. Felizmente parece que os astros conspiraram contra ti.
- Vou chamar a Olga e o Martim. Vamos jantar antes que o assado fique sem graça. E, querido, acho melhor contarmos a verdade ao Martim amanhã. Se o fizermos hoje, a excitação vai tirar-lhe o sono.
- Tens razão. Vai então chamá-los.
Pouco depois, davam início ao jantar que decorreu muito animado. Depois do jantar, levantaram a mesa e meteram a loiça na máquina. Martim despediu-se e foi para a cama, e os quatro adultos sentaram-se na sala para um pouco mais de conversa.


Ora bem aqui está o episódio tão esperado.  Porém a história ainda não acaba aqui. Porém amanhã é um dia especial. É o dia dos namorados, pelo que a história será interrompida. A propósito já viram que maldade maior o dia dos namorados, cair na quarta feira de cinzas, dia de jejum. e abstinência? Nem quero ouvir as recomendações do D. Manuel Clemente.

E continuando a minha brincadeira, Cá estou eu hoje de Rainha Má.




Bom Carnaval 

27.9.17

A RODA DO DESTINO - PARTE IV




Ele podia e tinha perdoado a traição de Ana Clara, quando o “trocou” pelo irmão. Afinal ninguém escolhe por quem se apaixona, e não havia qualquer compromisso entre eles, que não fosse apenas atribuído a uma saudável amizade. Queria até acreditar que ela nem sequer se tivesse apercebido dos seus sentimentos. Mas a recém-descoberta traição dela, matara tudo de bom que havia no seu coração. Ela não traíra apenas o marido. Traíra-o também a ele, às suas emoções, os seus sonhos, à sua fé nas mulheres. O seu coração estava cheio de raiva, e o seu maior desejo era ir a casa do irmão e contar-lhe tudo. Impediam-no a lembrança dos sobrinhos, duas inocentes crianças, que não tinham culpa dos erros da mãe, mas que ele sabia seriam os primeiros a sofrer as consequências. O irmão, iria sofrer sem dúvida, mas era jovem, bonito, e dono de uma inegável simpatia. Logo encontraria alguém disposto a fazê-lo esquecer a má experiência. O mesmo não aconteceria com os miúdos.
Tinha que se concentrar neles. Arranjar uma solução que lhes evitasse todo e qualquer sofrimento.                   
Indeciso, sem saber muito bem, o que fazer com a “bomba” que tinha nas mãos, desejando e receando ser ele a detoná-la, com um importante julgamento agendado para aqueles dias, Salvador não conseguia concentrar-se no processo.
Continuava de pé, junto da janela, olhando sem ver a rua, onde aquela hora o movimento tinha decrescido bastante.
Olhou para o bonito e caro relógio de pulso. Eram vinte e trinta. Franziu o sobrolho. Como é que o tempo passara tão depressa? Afinal, ficara até mais tarde para quê? Não fizera nada depois que o horário de expediente acabara. E duvidava que conseguisse fazer.                                           
Era imperioso que tomasse uma decisão. Não podia continuar a atormentar-se daquela maneira. Era sua obrigação contar ao irmão o que se passava. Mas pensando melhor, e especialmente por causa dos sobrinhos, decidiu não o fazer. Pelo menos por agora. Depois do julgamento, procuraria Ana Clara, e teria uma conversa séria com ela. Faria com que jurasse nunca mais ver aquele sujeito. E talvez assim, conseguisse não só salvar o casamento do irmão, como impedir que as crianças viessem a ter uma infância triste, sem a companhia e o apoio dos pais.  Porque ele conhecia bem o irmão. Tinha a certeza de que ele partiria para um divórcio litigioso e tentaria evitar todo o contacto dos filhos com a mãe. E ele sabia melhor que ninguém como certos casais se serviam dos filhos, como armas de arremesso para se ferirem um ao  outro, sem pensarem no mal que estavam fazendo às crianças. Na sua profissão já se deparara com vários casos. Tomada que foi a decisão, o seu corpo relaxou. Endireitou os ombros, suavizaram-se-lhe os músculos faciais, a concentração voltou. Porém eram quase nove horas da noite, o seu estômago revoltava-se, irritado com a falta do almoço, e os inúmeros cafés.
Decidido guardou o processo, apagou a luz e saiu do escritório apagando a luz.   



E se fosse convosco, que decisão tomariam? Fariam de conta que não tinham visto nada? Contariam ao marido a traição? Ou fariam como Salvador?


E A LISTA DE NOMES SUGERIDOS AUMENTOU

O filho Pródigo
A lei e a vida
O tribuno
A força da Lei
Disputa de irmãos
Amor e direito
Duelo entre amigos
Duelo das feras
A balança da lei
Defesa transcendente
Prova  da inocência
A verdade vencerá
Sucesso, meu irmão
Aliança
Tenacidade e coragem
Audácia
Deus escreve direito por linhas tortas
Julgamento decisivo
A carreira não é tudo.
A sentença
Nos caminhos da lei
Encruzilhada
Entre o amor e o rigor
O processo.
Culpado ou inocente
A justiça dos homens, 
Fez-se justiça, 
Amor no tribunal
Para lá do que os olhos vêem 
Destino Traçado.
A escolha
Traição




                                                

17.1.16

AMANHECER PARTE XXXI


foto do google



Seis meses depois, teve a sorte de ser destacado para a Sagres que ia partir em viagem, à volta do mundo, por um ano. Um facto que mudou completamente o seu modo de encarar a vida. Aprendeu o que é viver dias e dias sem avistar terra, ao sabor do humor da natureza, ora num suave embalo, ora numa dança louca que lhe revolvia as entranhas e lhe punha o estômago às voltas, dia após dia a olhar para as mesmas caras, dando as mesmas ordens, executando as mesmas tarefas, numa rotina, da qual não há como escapar, perdidos na imensidão do mar, sob um sol intenso, ou um frio de rachar, sempre ansiando pelo próximo porto. Mas também aprendeu o fascínio que aquela farda tem sobre as mulheres, mesmo que sejam de outros continentes, e com outros costumes. Viu gentes e culturas que em nada se pareciam com as suas, mas que despertaram nele o seu espírito aventureiro e a certeza de um regresso.
E foi assim que após o serviço militar cumprido, partiu à descoberta do mundo. Para se sustentar fez de tudo um pouco. Foi servente de pedreiro, empregado de mesa em cafés e restaurantes, entregador de flores, e até empregado de uma funerária. Em Paris, teve a sorte de ver uma das suas crónicas publicadas, no Le Monde. Depois, conseguiu um lugar de estagiário na redacção desse mesmo jornal. Aproveitou o estágio para se inscrever num curso intensivo de jornalismo, aprimorando e pondo em prática conhecimentos adquiridos na universidade.  Conheceu Sara, uma conterrânea a estudar arte contemporânea, com quem viveu uma conturbada história de amor, que durou pouco mais de um ano. Conturbada, porque Sara pretendia muito mais do que aquilo que ele queria, ou podia dar. O povo diz que gato escaldado de água fria tem medo. A traição de Odete, rasgara-o interiormente. Acreditava que nunca mais iria confiar noutra mulher. E Sara queria uma relação estável e douradora. Um dia despediu-se, comprou um auto caravana e rumou para África. A partir daí passou a trabalhar sempre como jornalista  independente. Mas as suas crónicas e reportagens publicavam-se em vários jornais, um pouco por todo o mundo. Especialmente as que fizera no Iraque, Timor e Myanmar. Vira e vivera situações, que até o diabo temia.
O seu espírito aventureiro, o seu físico, os belos olhos cinzentos, aliados ao seu ar trocista, acicatavam a imaginação feminina. Daí que aventuras amorosas, não lhe faltassem.
Aventuras  que duravam horas ou dias e que não faziam qualquer mossa nos seus sentimentos nem convicções. Sara fora uma excepção, pelo tempo que durou.



6.1.16

AMANHECER TARDIO - PARTE XXI

foto do google


Quando na manhã seguinte Amélia chegou à agência, Isabel já se encontrava na sua secretária, analisando alguns documentos.
- Bom dia saudou. Caíste da cama?
- Bom dia, - respondeu Isabel. 
-  Estive quinze dias fora. Foi muito tempo. Preciso ver como estão as coisas. Há aqui dois clientes novos?
- Potenciais clientes, Isabel. Com a crise, as pessoas retraem-se e não compram. Por isso alguns empresários começam a investir em campanhas mais agressivas. Esses dois querem algo assim. Agora que chegaste vou marcar uma reunião para veres o que desejam e tentar fazer o contrato.
- E a Luísa?
- Ah! Esqueci de te dizer. A Luísa só vem de tarde. Foi chamada à Segurança Social. O tempo de estágio termina no fim do mês. Vais contratá-la?
- Estou a pensar nisso. Estamos a precisar de alguém e ela mostrou-se competente. É responsável e criativa o que no nosso trabalho é muito importante. Não vamos meter outra estagiária e estar a ensinar tudo de novo.
Ela já é a quarta estagiária que tivemos. As outras não tinham grande aptidão para o lugar. Agora que encontrámos uma competente, é uma estupidez mandá-la embora.
Durante uns segundos ficaram em silêncio. Depois…
- Isabel é verdade que não aconteceu nada nas férias?
Levantou a cabeça e olhou-a franzindo as sobrancelhas. Mas não respondeu.
Segundos depois Amélia insistiu:
- Ontem senti-te estranha. De vez em quando parecias ficar ausente. Entre nós nunca houve segredos. Sempre pensei que devias arranjar um namorado. E tu, tinhas dito poucos dias antes das férias, que te começava a pesar a solidão. Tinha esperança de que arranjasses alguém. Todas as vezes que te liguei senti que tudo estava igual. Mas ontem não. Até o Afonso comentou comigo que estavas estranha. Aconteceu alguma coisa? Não queres falar disso agora?
- Não há nada para falar, Amélia. Aconteceu que tive dois ou três encontros casuais com um homem no qual penso mais do que devia e isso desorienta-me. Na vida só amei o Fernando. Depois disso sempre que pensava refazer a vida, a imagem dele e as recordações sobrepunham-se ao meu desejo. Parecia-me que estava cometendo uma traição. Isso fazia com que logo desistisse.