- Minha filha! Meu Deus! Como é que a tua mãe foi capaz de
semelhante maldade? Nunca lhe vou perdoar que me tivesse roubado a alegria do
teu nascimento, as tuas gracinhas, o teu crescimento.
- Sem fazermos o exame não podemos ter a certeza.
- Faremos o exame se isso te deixa mais confiante. Por mim, não é necessário. Se
nasceste nessa data, não tenho qualquer dúvida. Eu e a tua mãe éramos muito
apaixonados, mas ela era muito insegura, achava que não era merecedora do meu
amor e tinha uns ciúmes doentios. Disse que eu a traí, pediu o divórcio e foi
para casa da irmã em Lisboa. Nunca mais me quis ver, nem ouvir, apesar dos meus
esforços. E juro-te que nunca houve tal traição. É verdade que me viu abraçar uma mulher.
Era uma prima em segundo grau que estava de partida para o Brasil, sem data de
regresso. Não era um abraço de amantes nem beijo nem nada disso. Era uma
despedida, duma familiar, que durou até hoje, pois nunca regressou. Tua mãe nunca aceitou sequer as minhas explicações. Mas conhecendo-a como conheci, sabendo do amor que me devotava, tenho a certeza de que nunca me teria traído. Estou em crer que nunca mais quis saber de nenhum homem.
- É verdade, nunca a vi interessada por ninguém.
- E dizes que faleceu há menos de um mês?
- É verdade, nunca a vi interessada por ninguém.
- E dizes que faleceu há menos de um mês?
-Sim. Quando fui retirar as coisas do seu quarto para dar
a uma instituição, encontrei este envelope. Há aqui também as vossas certidões
de nascimento e encontrei também isto, - disse estendendo-lhe a caixa com o
anel de noivado e a aliança.
Ele abriu a caixa, olhou as joias e voltou a fechá-la.
Devolveu-lha
- Eram dela. Agora são tuas. Mas fala-me de ti, filha. Agora
que a Natália morreu, com quem vives? E onde? Quero apresentar-te a toda a
gente, levar-te lá para casa, mas tens que me dar algum tempo, a minha mulher
tem estado doente, tenho que a preparar para esta notícia. Não posso dizer-lho
assim de repente, pode sofrer algum choque não sei.
- Não precisa de me apresentar a ninguém. Eu só queria
saber quem era o meu pai, já que a minha mãe sempre me disse que eu tinha
nascido de uma aventura e que nem ela mesma sabia quem era o meu pai. Gostaria
que fizéssemos o teste o mais rápido possível. Depois regresso a Lisboa, não
quero atrapalhar a sua vida.
-Como podes pensar assim? Espero que não tenhas herdado a
insegurança da tua mãe. A minha casa é a tua casa. Queres fazer o exame, vamos fazê-lo, embora ele seja desnecessário. És minha filha, e tens o direito a participar da minha vida, a conhecer a minha casa e a minha família. Queres fazer o exame na segunda-feira?
-Não tem que ser marcado?
- Não. Sendo particular penso que não. De qualquer modo
eu vou agora passar pela clínica e confirmo. Depois telefono-te. Agora tenho de
ir. Meu Deus, uma filha. Eu tenho uma filha linda e não sabia.
Pôs-se de pé. Por momentos ficou indeciso. Depois pediu:
-Posso dar-te um abraço?
Sem responder a jovem refugiou-se nos seus braços. As
lágrimas rolavam pelas suas faces morenas. Emocionado, Jorge depositou um beijo
na testa da jovem.
- Não chores filha. Tudo vai correr bem, vais ver.
Largou-a, e dirigiu-se à porta. A jovem ficou a vê-lo
afastar-se.
Gente, vocês querem que eu continue com esta história o fim de semana? Ou querem descansar?