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14.9.19

VIDAS CRUZADAS - PARTE VI





- Um cancro, Doutor? - a voz saiu-lhe a medo, certo da resposta.
O médico assentiu em silêncio. Depois...
- Mais concretamente, uma leucemia. Existem vários tipos de leucemia e alguns são agudos, e estes são muito rápidos. Creio que é o seu caso atendendo a ser a primeira vez que se queixa e aos valores que as análises apresentam.
O silêncio que se seguiu parecia de chumbo. Por fim, Pedro perguntou:
- Não se pode fazer nada?
 –Com estes valores é impossível. Se me tivesse procurado mais cedo, eu podia enviá-lo para um hospital em Lisboa, onde lhe fariam um mielograma,  para terem uma noção exata do estádio em que se encontrava a doença, e com transfusões de sangue e quimioterapia, podiam controlá-la, até fazer um transplante de medula, única hipótese de cura.  Neste momento é demasiado tarde. A doença está na fase terminal, só um milagre o poderia salvar. Lamento, não sabe o que me custa dizer-lhe isto, mas como o senhor disse, tem direito à verdade. Segundo o laboratório diz aqui, porque os resultados eram muito graves eles tiveram o cuidado de os confirmar. Se quiser pode procurar outro médico. Num caso destes, está no seu direito de duvidar do meu diagnóstico.
- Obrigado Doutor, confio no senhor, não tenciono consultar mais ninguém.
Naquele momento, Pedro sentia vontade de gritar, de bater no médico, de destruir o mundo. À raiva inicial, seguiu-se uma enorme vontade de correr para casa, esconder a cara no regaço materno, e chorar como fazia em criança, quando alguma coisa o fazia sofrer. Por fim, sentindo a cada momento as forças a desmoronar dentro de si, perguntou:
- Quanto tempo? Quanto tempo me resta?
 – Não sei, ninguém pode dizer com precisão. Algumas semanas, um mês, no máximo uns três meses.
- Obrigado, Doutor, muito obrigado.
Levantou-se e dirigiu-se para a porta, sob o olhar consternado do clínico
 – As suas análises -lembrou o médico.
 Saiu sem se voltar, como se não o tivesse ouvido.  




11 comentários:

Janita disse...

Um drama que não deixa ninguém indiferente. :(

Um abraço, Elvira.

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
não sei se vou ter coragem para continuar a ler este conto .
Bom fim de semana.

JAFR

Ailime disse...

Bom dia Elvira,
Estive a por em dia a minha leitura do conto e logo me deparo com este gravíssimo quadro clínico de Pedro.
Acredito em milagres.
Um beijinho e bom fim de semana.
Ailime

Maria João Brito de Sousa disse...

Há casos - são casos excepcionais, eu sei - em que as leucemias entram em remissão e assim se mantêm por décadas, oferecendo aos doentes uma esperança de vida perfeitamente normal. Esperemos que seja o caso de Pedro.

Forte abraço, amiga.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

É sempre dramático o confronto com a doença, aproveito para desejar um bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Edum@nes disse...

A troca de análises, poderá ser esse o milagre?

Tenha um bom fim de semana amiga Elvira. Um abraço.

Larissa Santos disse...

Até estremeci...

Hoje:- Sentimento atroz. {Poetizando e Encantado}

Bjos
Votos de um óptimo Fim-de-semana.

Majo Dutra disse...

Li o episódio e fiquei curiosa.
Vou acompanhar.
Abraço
~~~~

Rosemildo Sales Furtado disse...

E se o resultado do exame foi trocado pelo de outra pessoa? Acho que a mãe dele não merece perder o filho.

Abraços,

Furtado

João Santana Pinto disse...

A dor, o choque, a aceitação e o viver a saber que tudo o que conhece está a chegar a um fim

Abraço

Gaja Maria disse...

ooohh! Uma sentença de morte é algo que tira o chão a qualquer um....