Apertou fortemente a mão que o médico lhe estendia, e dirigiu-se à porta. Subitamente, a imagem daquele jovem alto e magro, de uma palidez extrema, que encontrara na primeira consulta, surgiu na sua memória. Voltou-se e perguntou:
- Diga-me Doutor, o doente era um jovem alto, magro, de grandes olheiras, e mãos trementes?
- Diga-me Doutor, o doente era um jovem alto, magro, de grandes olheiras, e mãos trementes?
- Como o sabe? - interrogou o médico por sua vez.
Não respondeu. Fez um gesto indefinido com a mão, voltou-se e saiu. Na rua, dirigiu-se para casa, e enquanto uma ligeira brisa lhe acariciava o rosto, deixou que as lágrimas lhe aflorassem aos olhos, sem qualquer espécie de preconceito.
Depois de algumas voltas pela rua, para se acalmar, Pedro entrou em casa. A figura franzina da mãe, saiu da cozinha, e veio ao seu encontro.
- Até que enfim, filho. O jantar está pronto há mais de uma hora
Agarrou na mão do filho e perguntou alarmada:
- Que se passa? Estás a tremer.
Levando-a pela mão, conduziu-a à sala, fazendo com que se sentasse no sofá.
– Deixe lá o jantar, minha mãe. Preciso contar-lhe tudo o que me atormentou nos últimos meses. Mas antes quero que me prometa, que não vai ficar aflita. Com a Graça de Deus, já tudo passou - disse sentando-se ao seu lado e segurando a mão da mãe entre as suas.
- Filho...
Havia um tal temor na voz da progenitora, que ele acrescentou:
- Não fique assim. Ou então não lhe conto nada. Não há nada a temer, agora tudo está bem.
E então o jovem falou. Contou tudo, desde a primeira consulta, as análises e do diagnóstico médico, falou da sua dor, da raiva e da revolta contra o seu destino, do medo de a deixar sozinha, de se ter despedido do emprego, da viagem para casa da tia, pensando que assim ela não assistiria ao seu sofrimento, da chegada às Termas, de como conhecera Rita, de quanto a amava, da maneira como fugira da casa da tia, para não ter que contar à jovem que não podia assumir um compromisso porque podia morrer de um momento para o outro. Falou-lhe do desespero que sentia, até porque cada dia se sentia melhor, e da sua decisão de voltar ao médico para fazer novos exames, coisa que fizera nessa mesma tarde. Por fim contou a conversa com o médico, as análises trocadas, e de como se sentia feliz, apesar de sentir pena daquele jovem que só vira uma vez e que morrera tão novo. A mãe ouvia-o, e as lágrimas corriam silenciosas pelas suas faces enrugadas, enquanto os pensamentos se lhe atropelavam no cérebro. Pobre filho, quanto sofrimento, e ela, que raio de mãe era ela, que não fora capaz de descobrir nada de grave na sua súbita decisão de mudar de ares? Por fim a voz do filho silenciou. Ela abraçou-o com força, e o soluço que estivera preso no seu peito irrompeu, sonoro como trovão em tempestade de Verão.
- Então, mãe acalme-se. Compreende agora que eu tenha de viajar amanhã cedinho para as Termas? A Rita vai-se embora no Domingo. E eu amo-a mãe. Não quero perdê-la.
E depositando um beijo na testa da mãe, acrescentou:
-Tenho a sensação dona Maria, que a senhora vai ter a nora que há tanto tempo me pede.
Não respondeu. Fez um gesto indefinido com a mão, voltou-se e saiu. Na rua, dirigiu-se para casa, e enquanto uma ligeira brisa lhe acariciava o rosto, deixou que as lágrimas lhe aflorassem aos olhos, sem qualquer espécie de preconceito.
Depois de algumas voltas pela rua, para se acalmar, Pedro entrou em casa. A figura franzina da mãe, saiu da cozinha, e veio ao seu encontro.
- Até que enfim, filho. O jantar está pronto há mais de uma hora
Agarrou na mão do filho e perguntou alarmada:
- Que se passa? Estás a tremer.
Levando-a pela mão, conduziu-a à sala, fazendo com que se sentasse no sofá.
– Deixe lá o jantar, minha mãe. Preciso contar-lhe tudo o que me atormentou nos últimos meses. Mas antes quero que me prometa, que não vai ficar aflita. Com a Graça de Deus, já tudo passou - disse sentando-se ao seu lado e segurando a mão da mãe entre as suas.
- Filho...
Havia um tal temor na voz da progenitora, que ele acrescentou:
- Não fique assim. Ou então não lhe conto nada. Não há nada a temer, agora tudo está bem.
E então o jovem falou. Contou tudo, desde a primeira consulta, as análises e do diagnóstico médico, falou da sua dor, da raiva e da revolta contra o seu destino, do medo de a deixar sozinha, de se ter despedido do emprego, da viagem para casa da tia, pensando que assim ela não assistiria ao seu sofrimento, da chegada às Termas, de como conhecera Rita, de quanto a amava, da maneira como fugira da casa da tia, para não ter que contar à jovem que não podia assumir um compromisso porque podia morrer de um momento para o outro. Falou-lhe do desespero que sentia, até porque cada dia se sentia melhor, e da sua decisão de voltar ao médico para fazer novos exames, coisa que fizera nessa mesma tarde. Por fim contou a conversa com o médico, as análises trocadas, e de como se sentia feliz, apesar de sentir pena daquele jovem que só vira uma vez e que morrera tão novo. A mãe ouvia-o, e as lágrimas corriam silenciosas pelas suas faces enrugadas, enquanto os pensamentos se lhe atropelavam no cérebro. Pobre filho, quanto sofrimento, e ela, que raio de mãe era ela, que não fora capaz de descobrir nada de grave na sua súbita decisão de mudar de ares? Por fim a voz do filho silenciou. Ela abraçou-o com força, e o soluço que estivera preso no seu peito irrompeu, sonoro como trovão em tempestade de Verão.
- Então, mãe acalme-se. Compreende agora que eu tenha de viajar amanhã cedinho para as Termas? A Rita vai-se embora no Domingo. E eu amo-a mãe. Não quero perdê-la.
E depositando um beijo na testa da mãe, acrescentou:
-Tenho a sensação dona Maria, que a senhora vai ter a nora que há tanto tempo me pede.