O homem abriu a porta, e fechou-a atrás de si com um toque de calcanhar. Carregou no interruptor e o espaço encheu-se de luz. Estava numa pequena sala de entrada, com um único móvel de madeira escura, com tampo de mármore encimado por um quadro a óleo.
Junto à porta um bengaleiro.
Despiu o casaco e pendurou-o. Depois em passos largos encaminhou-se para a divisão seguinte.
Acendeu a luz, e sem se deter caminhou até um pequeno bar e segurando um copo serviu-se de uma dose de Uísque. De um pequeno frigorífico incrustado e dissimulado no bar, retirou e colocou no copo, duas pedras de gelo. Com o copo na mão sentou-se num dos brancos sofás que compunham a sala.
O homem que devia andar perto dos quarenta anos, era alto, e bem constituído. Tinha uns olhos escuros e cabelos pretos, mas nas suas têmporas, apareciam já alguns fios brancos. O rosto, moreno, dir-se-ia ter sido esculpido por um talentoso escultor dada a sua perfeição.
Vestia roupas de corte elegante de bom tecido. Decididamente era um homem rico, e bonito, capaz de ter tudo o que desejava, mas naquele momento, recostado no sofá, de olhos semicerrados e aspeto cansado, não aparentava ser um homem feliz. Pelo contrário, se por ali houvesse um pintor, em busca do tema ideal para retratar a solidão, decerto acharia que tinha encontrado o modelo perfeito.
Apesar do seu porte atlético, parecia demasiado pequeno na grande sala com os dois enormes sofás brancos, a parede atrás de si completamente coberta de livros, o bar do seu lado esquerdo, e o reposteiro que cobria toda a parede da frente possivelmente envidraçada.
Ouviu-se o som de um telemóvel. O homem abriu os olhos e procurou o aparelho. Lembrou que o tinha poisado, no móvel da sala de entrada.
Sem vontade, levantou-se e foi até lá. Atendeu. Era Diogo, o advogado.
-Que se passa? – Perguntou com brusquidão.
- Queria lembrar a hora da reunião amanhã com os donos da “Tudilar”
- Que é às dezassete, já me tinhas dito.- Replicou aborrecido. Espero que tenhas tudo pronto, Quero efetuar a compra amanhã. Estou a pensar viajar de novo em breve.
- Está tudo em ordem. Creio que não vai haver problema. Eles estão com a corda na garganta. É a venda ou a falência.
-.Está bem. Espero-te no meu escritório às quinze para revermos isso.
- Lá estarei, Mário.