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25.2.22

ARMADILHAS DO DESTINO - PARTE XVII



 Enquanto esperava por ela depois de ter pago as suas compras, Nuno observava, o rosto delicado, os cabelos soltos, a figura esbelta. Não tinha dúvidas de que era uma mulher muito bonita. A jovem que ele amara, dera lugar a uma mulher em toda a sua plenitude. Era estranho que estivesse sozinha. Segundo o seu pai lhe dissera, ela estivera casada pouco mais de um ano. Seria que tinha amado tanto o marido, que não queria atraiçoar a sua memória? De qualquer modo isso não lhe interessava. Ele não a deixaria entrar na sua vida, não a deixaria saber do seu acidente, nem a deixaria saber que ele já não era um homem por inteiro.

Não, ele só queria vingar-se de toda a amargura que ela destilara na sua alma. Hoje era só o que lhe restava. Saborear a vingança.
Luísa acabou de meter as compras nos sacos, pagou e saiu.
- Não devias ter esperado. Estás a atrasar-te.
- Não tenho pressa. É sábado. Não tenho urgências este fim-de-semana. E não respondeste ao meu convite. Almoçamos juntos?
- Não posso mesmo.
- E jantar? Não me vais dizer que também não podes. Não estou a pedir nada de especial. Apenas um jantar de amigos.
-Está bem, - concedeu sem se atrever a olhá-lo.
- Há algum sítio da tua preferência?
- Não. Escolhe tu.

Tinham chegado junto do carro dela. Abriu o porta bagagens, e começou a arrumar os  sacos de compras.
- Às oito vou buscar-te. Mas tens que me dizer onde moras.
- Na mesma casa que vivia naquela época. A casa de meus pais.
- Está bem. Lá estarei às oito. Até logo.
Fez-lhe uma leve carícia no rosto, e afastou-se em direção do seu carro.
Luísa, ficou uns segundos a vê-lo afastar-se, depois entrou no carro e manobrou para sair do estacionamento e seguir para casa. Estava perturbada com o encontro. Nuno fora o único homem que amara, e era também o único,  desde a morte do marido, cuja aproximação não lhe provocava pavor.

Mesmo tendo passado catorze anos, e muitas horas de tratamento psicoterapêutico, ela ainda não se sentia muito confortável na presença do sexo oposto. Com Nuno as emoções que ela sentia, não tinham nada a ver com medo.  
Continuava a ser um homem bonito e com uma presença marcante.
Estranho, era não ter casado, pois adorava crianças, e ela lembrava bem dos  projetos que partilharam no passado. Uma casa com jardim, e espaço suficiente para criar três filhos.




24.3.21

CASAMENTO POR PROCURAÇÃO - PARTE XIV

 





 Sentia-se nervosa.
Quim ainda foi à cozinha, mas o tio já se tinha retirado, e estavam apenas os dois jovens ajudantes, a fazer a limpeza e  preparando as coisas para o dia seguinte.

E finalmente regressaram a casa.
Como se previamente tivessem chegado a acordo, ambos se dirigiram à sala. Quim deixou-se cair no cadeirão, ela sentou-se no sofá. Após uns minutos de silêncio, ele pediu.
- Fala-me de ti.
- De mim? – admirou-se. Será que o pai dele, não lhe tinha falado dela? - O que queres saber?- interrogou por sua vez.

- Tudo. Por exemplo, porque aceitaste este casamento absurdo?
Ficou espantada. Absurdo? Se era assim que pensava porque tinha escrito ao pai e lhe pedira para o organizar?
- Se pensas que é absurdo, porque o propuseste?

- Não é essa a questão, Sofia. Pelas razões de que já falámos, sabes que eu não podia ir a Portugal. Mas tu és mulher. Uma mulher muito bonita por sinal. Os teus pais podem ser considerados abastados, num país com o nível do nosso, especialmente nas aldeias. E és filha única o que faz de ti um excelente partido a quem não faltariam pretendentes. Julgo saber, o que os pais nas nossas aldeias, são capazes de fazer com a vida dos filhos, especialmente quando são mulheres. Também sei que os nossos pais são amigos. O que quero saber, é se tu aceitaste este casamento, de livre vontade, ou se o teu pai to impôs.

Sofia, pensou que a alusão dele à sua beleza, era um sinal de que tinha reparado nela. Respondeu sem saber onde ele queria chegar com semelhante interrogatório.
- O meu pai nunca me impôs que casasse contigo. Ele falou-me do teu desejo, de casares com uma moça da terra, e de que o teu pai gostava de mim para sua nora.  E eu aceitei. Só isso.

- Porquê? Para esqueceres alguém?
- Não há ninguém para esquecer, - respondeu irritada. Estava cada vez mais  nervosa. Porquê aquele interrogatório? Nem parecia o homem agradável que se mostrara até há poucos minutos.
- Desculpa. Não queria irritar-te. Apenas entender as tuas razões para te casares assim com um desconhecido. Eu sei que os casamentos por procuração são correntes no nosso país, mas geralmente são casais que já se conheciam, ou que foram namorados e por razões várias tiveram que se separar. Os casamentos entre desconhecidos, penso que serão bem mais raros.

11.11.19

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE XII


Pouco depois sentados à mesa do restaurante, Gil pergunta ao irmão:
- Como vai a tua relação com a Isabel?
- Que há nenhuma relação. Ela não acredita em mim, pensa que apenas quero seduzi-la para a levar para a cama.
- E tens a certeza de que não se trata disso?
- Absoluta. Desejo-a é claro, é uma mulher muito bonita, e eu não sou propriamente um santo. Mas o que sinto por ela é muito mais do que isso. É uma vontade de estar juntos, de partilhar emoções, de formar uma família. Tenho trinta e dois anos, e nunca soube o que era uma verdadeira família. Sei que a mãe nos amou muito, que era capaz de dar a vida por qualquer um de nós. Trabalhou até ao limite para que nunca tivéssemos fome, e o nosso corpo agradeceu, mas a alma cresceu sedenta de carinho. Não estou a censura-la. A vida era muito difícil na altura, especialmente para uma mulher sozinha com três filhos. Tu foste muito novo para o clube, tinhas um sonho, algo a que te agarrares. A princípio vinhas dormir a casa, mas quase só te via quando já estava a cair de sono.
Depois quando se aperceberam da tua genialidade, passaste a viver lá, só vinhas a casa ao fim-de-semana. Eu cuidava da Laura, para que a mãe continuasse a trabalhar. As suas brincadeiras, não me diziam nada, tínhamos gostos e sonhos diferentes. Tinha saudades tuas. E sonhava com uma família diferente. Com uma mesa onde estivéssemos com os nossos pais.
 E jurei que quando crescesse e arranjasse um emprego, procurava uma mulher e me casava. Sonhava com a minha casa, a minha mulher e um ou dois filhos. Nunca senti inveja de ti, do teu êxito, do muito dinheiro que ganhavas. Todavia senti um pouco de inveja quando te casaste. Ias ter uma família, e eu continuava mais só que nunca, pois a Laura crescera, entrara na Universidade, tinha a sua própria vida, e a nossa mãe já tinha entregado a alma ao Criador, alguns anos atrás.
Porém apesar do meu sonho os anos foram passando e nenhuma das mulheres que conheci, e conheci imensas, embora a maioria nem fosse capaz de recordar o meu nome. Só me procuravam na esperança de que tas apresentasse. Apesar disso nunca senti vontade de formar com alguma delas uma família, pelo contrário repugnava-me a ideia de poder viver o resto da vida com elas. Até conhecer a Isabel. Com ela eu desejo tudo. O corpo, e a alma. Quero adormecer todas as noites no calor do seu corpo, acordar com o seu sorriso. Se isto não é amor, então não faço ideia do que seja o amor. Infelizmente, apesar de acreditar que não lhe sou indiferente, ela não acredita em mim e não sei como convencê-la.
- Se a amas assim e acreditas que ela também gosta de ti, toma uma atitude drástica. Faz qualquer coisa que a surpreenda e lhe dê a certeza do teu amor.
-Que tipo de atitude? Tens alguma ideia?
- Compra-lhe um bonito anel de noivado. Depois convida-a para jantar, leva-a a um bom restaurante e durante o jantar, dás-lhe o anel e pede-a em casamento. Ou se achas que ela não vai aceitar o jantar, leva a Teresa e a Raquel ao escritório, e na presença delas, oferece-lhe o anel, e pede-a em casamento. Com duas testemunhas ela não vai duvidar das tuas intenções.
Tinham acabado de almoçar. Gil chamou o empregado, pagou a conta e saiu seguido do irmão.
Despediram-se já no exterior, com o jovem desejando sorte ao irmão antes de entrar no carro e seguir para o hospital.
Três dias depois, Gil voltou à empresa e desta vez chegou antes da hora de abertura, conforme combinado de véspera com Marco. O doutor Alcides só chegaria perto das onze horas, para que eles assinassem os documentos de doação e alteração do registo da empresa, mas Marco, seguindo o conselho do irmão ia pedir Isabel em casamento, e queria que ele estivesse presente, para que à jovem não restassem quaisquer dúvidas, sobre a seriedade do pedido. Na véspera, marcara uma reunião com as três mulheres, no início do dia, pelo que iriam abrir as portas um pouco mais tarde nesse dia.

27.7.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE IX


Mário ficou até tarde no escritório. Era seu hábito quando adquiria uma empresa, verificar todos os sectores, ver o que se produzia, ou se vendia mais, e o contrário. Verificar custos e margens de lucro, fazer novos planos de modo a que as empresas em pouco tempo estivessem no caminho do sucesso e claro a engrossar a sua conta bancária. Era o que pretendia fazer também nesse dia. Porém, o rever inesperadamente Teresa, e mais, saber que estava ali, sob as suas ordens, fazia com que não conseguisse concentrar-se no trabalho. Estava mais bonita que nunca. A jovenzinha de há dez anos atrás era hoje uma mulher capaz de fazer perder a cabeça a qualquer homem.
Teria casado? Não usava aliança. Mas será que isso queria dizer alguma coisa nos tempos atuais? De súbito lembrou-se. A ficha dos empregados. Rapidamente procurou a pasta. Leu-a avidamente.
Teresa Carvalho, trinta e um anos, solteira, licenciada em Gestão de Recursos Humanos. Seguia-se a morada e número de telefone.
Alegrou-se de saber que estava solteira, muito embora pensasse que isso não quereria dizer que estava livre.
Durante dois anos, viveram juntos, uma intensa relação de amor e nunca fora casada.
Abanou a cabeça, como se com isso conseguisse afugentar os pensamentos que lhe impediam a concentração.
Sentiu pena de si mesmo. Da sua solidão. De saber que chegava a casa, e a encontrava vazia.
Decididamente a idade mudava um homem. Noutros tempos quando se sentia só, ia até um qualquer bar e pouco depois estava em casa de alguma dama, ou num quarto de hotel. Na sua casa não. Na sua casa, jamais entrara outra mulher que não fosse Teresa, e isso fora há tanto tempo...
Ultimamente essas saídas, deixavam-lhe um travo amargo na boca.
Como se finalmente a sua alma acordasse de um longo sono e quisesse assumir o controlo da sua vida.
E ele, que sempre lutara para não lhe dar espaço, sentia-se impotente perante a sua revolta.
Desligou o computador, arrumou as duas pastas que tinha abertas na secretária e levantou-se decidido a ir-se embora.
Tinha fome, nem se dera conta das horas, era quase meia-noite.
Muito tarde para jantar. Comeria qualquer coisa em casa.
Antes porém escreveu numa folha de papel a seguinte mensagem.
“D. Luísa por favor, convoque uma reunião com todos os chefes de secção, para as onze horas, na sala de reuniões.
Mário”
Vestiu o casaco, guardou as chaves e o telemóvel, abriu a porta do escritório, e pousou sobre a mesa de Luísa a folha de papel.
Apagou as luzes e dirigiu-se à saída onde se cruzou com o segurança que efetuava a ronda de rotina.
Por fim saiu e dirigiu-se ao automóvel.
Os dias seguintes iam ser complicados.



Como de costume a história só volta segunda-feira. 
Bom fim de semana.

24.7.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE VI




- Vens almoçar, Teresa?- perguntou Luísa espreitando à porta do seu gabinete.
- Se esperares dois minutos para acabar isto, vou. Não queres entrar?
- Não vale a pena. Vou indo para o refeitório. Espero lá por ti. – Disse fechando a porta.
Teresa acabou de imprimir o documento, procurou uma pasta e arquivou-o.  Pôs-se de pé. Era uma mulher muito bonita. Alta, esguia, sem ser demasiado magra, morena, de cabelo castanho doirado, que nesse momento tinha preso no alto da cabeça, num elegante carrapito. O rosto oval, os olhos amendoados, a boca pequena e carnuda, o ar sereno que ostentava, tudo contribuía para fazer dela uma mulher muito bonita. Vestia um camiseiro vermelho, e uma saia justa preta, que lhe moldava o corpo até aos joelhos, deixando à mostra um perfeito par de pernas. Completava o conjunto com uns sapatos pretos de salto alto que estilizavam ainda mais a sua figura.
Alisou a saia, e saiu do gabinete em direção ao refeitório, onde a amiga já a esperava.
Esta era também uma mulher bonita, embora junto de Teresa, a sua beleza ficasse um tanto ofuscada. Porém Luísa não se importava. Era a sua melhor amiga, a madrinha do seu filho, e sua confidente.
Eram amigas de longa data. Teresa tinha partilhado um quarto com a amiga, muitos anos atrás, quando estava na Faculdade, e Luísa já trabalhava na "Tudilar". Depois Teresa apaixonou-se e foi viver com o namorado, Luísa casou, pouco depois, mas sempre continuaram amigas. Anos mais tarde, teve a sorte de se empregar na mesma empresa, embora tivessem posições diferentes. Luísa era a secretária do chefe, Teresa a Gestora de Recursos Humanos.
- Sabes que vamos reunir esta tarde com o novo dono? – Perguntou Luísa, enquanto cortava uma porção do seu bife.
Teresa respondeu com outra pergunta:
-Então sempre é verdade que a empresa vai  ser vendida?
- Não tem outra hipótese. É vender ou declarar falência.
- E tu sabes quem são os novos donos?
-Não. Até agora, só conheço o advogado do homem.  Sei que se chama Mário qualquer coisa, que não lembro. Eu chamo-lhe o senhor Mistério.
- Porquê senhor Mistério?
- Porque nem o chefe parece saber muito sobre ele. Dizem que vive a maior parte do tempo no estrangeiro onde tem diversos negócios, embora o advogado diga que ele tem um escritório em Lisboa, mas parece que pouco pára por cá. Deve ser um velho excêntrico, que não sabe o que fazer ao dinheiro.
- Sabes se vai remodelar alguma coisa, prescindir de pessoal ou isso?
- Não. O advogado não deixou transparecer nada sobre as intenções do seu cliente. Deus queira que não seja daqueles que despedem toda a gente e metem pessoal novo.
-A que horas vêm?- Perguntou Teresa
Às dezassete. O advogado diz que ele quer conhecer todos os empregados ainda hoje, - retorquiu Luísa.
Tinham acabado a refeição e dirigiam-se para os seus gabinetes.



13.11.18

ESTRANHO CONTRATO -PARTE XXI




Francisca era muito bonita. A sua pele não tinha brancura da pele de Olga, a sua falecida esposa, mas nem por isso era menos bela. E era uma mulher de fibra. A maneira alegre e doce como tratava das crianças, a alma com que geria aquela casa, como tomava sobre os seus ombros todas as tarefas relativas, aos filhos para que ele não perdesse tempo, era admirável. Ele tinha muito trabalho, mas nem por isso lhe passava despercebido tudo o que se passava em casa. 
De súbito pensou que gostaria de passar os seus dedos pelo rosto adormecido. Sentir se a sua pele era tão macia quanto aparentava. 
Abanou a cabeça, como se assim expulsasse aquele pensamento inoportuno. Depois sem fazer barulho dirigiu-se à casa de banho. 
Pouco depois voltou. De pijama e chinelos, dirigiu-se à  cama e deitou-se. Apagou a luz. 
Não sabia quanto tempo dormiu. Acordou com o choro infantil.
Acendeu a luz. A porta do quarto ao lado estava aberta. Levantou-se. A cama estava vazia. Saiu para o corredor e viu que a luz estava acesa no quarto das filhas
Parou na porta. Francisca tinha Ana ao colo. Acariciava-a e murmurava palavras de conforto.
-Que aconteceu? – Perguntou em voz baixa.
- Não sei, talvez um pesadelo. Mas já está tudo bem. Não tarda a adormecer. Vai descansar.
Voltou para o quarto. Acordou às cinco da manhã. A cama no quarto ao lado continuava vazia. Levantou-se e foi ao quarto das filhas. Ana dormia profundamente, abraçada a Francisca. Fechou a porta sem fazer ruído e regressou à cama.

reedição


                                      

7.3.18

A TRAIÇÃO - PARTE VII





Três dias depois, João tinha acabado de atender a última doente daquela semana, pois no seu consultório só dava consultas às terças e quintas, e era precisamente quinta-feira, quando a sua assistente entrou no gabinete para lhe dizer que estavam duas senhoras na sala que queriam, porque queriam uma consulta para esse dia.
- Tentei marcar a consulta pela agenda, mas a senhora mais nova disse que era urgente e que é sua esposa.
Odete estava ali? Teve vontade de se levantar para a ir receber. Porém não fez um movimento. Com o ar mais indiferente que conseguiu arranjar, disse:
-À sim, ela tinha-me avisado que vinha e eu acabei esquecendo de lhe dizer. Mande-as entrar, e pode sair, mas não esqueça de fechar a porta da rua.
- Muito bem doutor. Bom fim-de-semana, para o senhor.
Ela saiu e João continuou a fazer anotações na ficha que tinha na frente, tentando aquietar o coração. Ia ver de novo a sua mulher depois de mais de três anos de silêncio absoluto da parte dela.
Uns segundos depois, uma leve batida na porta e esta abriu-se para dar passagem à sua mulher e à mãe. O seu olhar percorreu-a da cabeça aos pés. Estava mais bonita, mais madura, mas tinha um ar sério e triste que lhe tocou o coração.
- Boa noite João.
- Que surpresa Odete. Podias ter telefonado antes de vires, e não passavas pelo constrangimento de teres que dar explicações, à minha assistente.
- Se eu telefonasse atendias-nos?
- Porque não havia de atender? Acima de tudo sou um profissional. Que se passa? Estás doente?
-Não. É a minha mãe. Tem passado mal, tem dores no peito, dificuldade em respirar, cansa-se com facilidade. A médica de família, mandou fazer um Ecocardiograma e um registo de Holter e aconselhou a consulta com um cardiologista. Mas a consulta no hospital está demorada, e eu sei que és um dos melhores cardiologistas do país. Por isso aqui estamos.
Com o maior profissionalismo perguntou:
- Trouxeram os exames?
Ela tirou-os da mala e estendeu-lhos. Ele examinou-os, fez algumas anotações numa nova ficha e disse:
- Preciso examiná-la. Por favor senta-a na marquesa e ajuda-a a despir-se da cintura para cima. 
Durante algum tempo, ele concentrou-se na auscultação da sogra. 
Terminada a auscultação disse:
-Por favor deite-se aqui. Vamos fazer um ecocardiograma, preciso ver com exatidão o que há com o seu coração.




Aviso a quem me acompanha. No próximo dia 8 por ser o Dia Internacional da Mulher, a história será outra. Esta continuará no dia 9.

6.6.17

JOGO PERIGOSO -- PARTE XX








Deu meia volta na cama, e encontrou-se com o olhar profundo de David. Sentiu que corava como uma adolescente. Ele sorriu-lhe.
Estendeu a mão, afastou-lhe uma madeixa de cabelo da cara e puxou-a para si.
- Dormiste bem?
-Sim. 
- Estava a observar-te. Dormias serenamente e estavas tão bonita. És uma mulher fantástica, inteligente e muito apaixonada. Foi a noite mais feliz da minha vida. Quero dormir e acordar contigo o resto da minha vida.
Afastou-se tensa. Saltou da cama e envergonhada reparou que estava nua. Puxou o lençol e enrolou-se nele. A sua voz soou fria ao perguntar:
-Que queres dizer com isso?
David ficou atônito com a reação dela. Sentou-se na cama, sem se preocupar com a sua nudez.
- Que quero dizer? Que havia de querer dizer senão que te amo, que desejo casar contigo, e partilhar contigo o resto dos meus dias? Pensei que isso tinha ficado mais que evidente ontem à noite.
Arrancando forças ao desespero que a invadia, respondeu com  desfaçatez:
-O que aconteceu ontem, não tem nada a ver com amor. Foi o aplacar de um intenso desejo sexual irreprimível.
Sentia as palavras como facas retalhando-a, mas não podia fraquejar, mesmo que se sentisse a morrer por dentro.
Viu como os olhos masculinos escureciam, e o rosto empalidecia.
- Queres dizer que para ti, foi só o aplacar do desejo sexual? Que aquilo que vivemos não teve nada a ver com sentimentos? Que podia ter acontecido com outro qualquer? Usaste-me, porque estava à mão?
Começou a vestir-se furioso. Daniela sentia-se destroçada. Não conseguia vê-lo assim. Não depois de o ter conhecido como o conhecera nessa noite. Não depois de descobrir que estava apaixonada por ele. Mas não podia recuar. Não queria iludir-se para ser abandonada mais tarde, quando ele descobrisse a sua esterilidade.
- Desculpa, não sabia que te ias sentir ferido. No fim de contas, sempre viveste rodeado de belas mulheres, deves estar habituado a esquecê-las na manhã seguinte.
- Enganas-te. Nunca pedi a uma mulher que casasse comigo. Nem nunca dormi na cama de nenhuma mulher, apesar de ter tido muitas. Com quem passava algumas horas agradáveis, do dia ou da noite, desfrutando do que me ofereciam, mas sempre voltava à minha cama, onde dormia sozinho. Mas isso agora não interessa. Aconselho-te a comprares um vibrador. Há modelos muito interessantes. Para não correres o risco de meteres na tua cama algum psicopata, quando voltares a ter desejos irreprimíveis,  – disse com raiva, e saiu atirando com a porta.
Ela atirou-se para cima da cama e chorou como nunca o tinha feito na sua vida.






Pronto! Eu não disse que isto estava a ir depressa demais?  E agora? Como é que vamos resolver isto? Alguém tem uma ideia?


3.6.17

JOGO PERIGOSO - PARTE XV







Do sítio onde se encontrava, jantando sozinho, coisa rara nele, David viu o grupo que entrava no restaurante, e se dirigia para a longa mesa sobre a qual havia o dístico de reservado.
Lançou sobre o grupo um olhar vago, mas de repente, ficou rígido. Um das mulheres, parecia-se extraordinariamente com Daniela. “Ou era ela?” Interrogou-se mentalmente. Parecia mais nova. E mais bonita, apesar da sua sócia o ser muito. Recostou-se na cadeira, procurando observar o grupo sem dar nas vistas, quando ela virou o rosto para o companheiro, e ele teve a certeza, de que se tratava de Daniela.
Com aquele vestido negro, que lhe moldava o corpo, e o cabelo solto, estava linda. Ficou sem respiração, quando ela se encaminhou para o seu lugar na mesa, e ele pode observar que o vestido deixava a descoberto as costas na sua totalidade. Praguejou baixinho. Como era possível que ela fosse assim para um lugar público?
Quase não comeu, completamente pendente da mulher que se encontrava na outra mesa. Tinha vontade de se levantar, ir até lá, pegar-lhe na mão e trazê-la para junto de si.
Não sabia o que se passava com ele. Desde que a conhecera, nunca mais se interessara por mulher alguma. Só pensava nela, era como uma doença. Queria apertá-la nos braços e beijá-la até a fazer desfalecer de paixão. Amaldiçoou-se. Que raio de sentimento era aquele? Como é que podia ter-se apaixonado por uma mulher que nem sabia se era comprometida?
Daniela estava sentada entre uma mulher e um homem. De onde estava, podia ver que conversava indiscriminadamente com os dois. Logo deviam ser amigos. Se ela tivesse namorado, estaria ali. Pelo menos era o que ele faria se fosse seu namorado.  
De repente soube que queria aquela mulher para ele. Não para uma aventura como costumava ter com as inúmeras mulheres que passaram pela sua vida, mas como a sua mulher, sua amiga, sua amante para o resto da vida.
Sorriu com ironia. Desde quando não sabia o que fazer para conquistar uma mulher? “Desde que te apaixonaste” respondeu-lhe o seu subconsciente.
 De súbito, um homem jovem, alto e louro, aproximou-se da mesa, onde o grupo jantava, e David reparou que Daniela perdia o sorriso. O homem em questão, fez um cumprimento geral, trocou algumas palavras com Daniela, e despediu-se com um aceno.



30.5.17

JOGO PERIGOSO - PARTE XI


Duas horas depois, o assunto estava resolvido. Louis era um bom amigo, não teve de se esforçar muito para que lhe atendesse o pedido. Glória iria receber em breve a proposta e depressa estaria em Paris.
 Pensou em Daniela. A imagem da jovem assaltara-o várias vezes, desde que a conhecera dez dias atrás. Aquela sim era uma mulher interessante. Bonita, inteligente, e cheia de personalidade. Gostaria de saber mais coisas sobre ela. Mas como fazê-lo? Claro, um detetive, dir-lhe-ia tudo sobre ela. Porém sem saber porquê repugnou-lhe a ideia de saber que um outro homem andasse a espiar a jovem. Passou a mão pela testa.
Tinha-lhe deixado o seu número e em dez dias ela não lhe telefonara. Que se passava? Será que ia fazer de conta que ele não existia? Mas não era possível. Ele não lhe passara nenhuma procuração, ela ia precisar da sua assinatura, para novas compras. Mais do que isso, ele tinha direito a ser informado sobre o funcionamento da fábrica. Pegou no catálogo, guardou o telemóvel e saiu.
- Vou sair. Liga-me se necessário, - disse a Rita ao passar pelo seu gabinete. Vou à fábrica de tecelagem.
Rita fez um movimento de assentimento com a cabeça, e ficou a pensar que qualquer coisa não estava bem com o último negócio efetuado pelo patrão. Conhecia-o demasiado bem.
Ele estacionou o carro no parque da fábrica e entrou. Cumprimentou, Madalena com um aceno de cabeça, e abriu a porta do gabinete sem se preocupar em bater.
- Boa tarde
Ela olhou-o furiosa.
-Não te ensinaram a bater à porta?
- Porquê? Este espaço também é meu.
-Tens razão. Mas se pensas proceder sempre assim, deixa de ser meu. Amanhã passarei a ocupar o gabinete da Madalena. Ela não deve importar-se de trabalhar no escritório com as outras duas empregadas.
Ficou furioso. Sabia que não procedera bem. Tinha-o feito de propósito para a ver irritada e ela devolvera-lhe a jogada na mesma proporção.
- Não precisas sair. Não voltará a acontecer. Irritas-me, sabes?
Atirou com o catálogo para cima da sua secretária, e voltando-lhe as costas, aproximou-se da janela.
Ela não disse nada. Como podia ela, irritar um homem tão poderoso, tão cheio de confiança em si mesmo? Nervosa, brincou com a esferográfica, e esperou.