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17.1.20

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE XXVII




Desde essa data, tinham-se passado quase doze anos. E em todo esse tempo, Luísa só se ausentara por duas vezes. A primeira, para ir a Lisboa, a segunda ao Porto, aquando das duas exposições de pintura que realizara nessas cidades, ambas com um êxito considerável, se atendesse a que não só vendeu todas as telas em exposição, como recebeu algumas encomendas. Tinha feito obras na casa de modo a torná-la mais moderna e sobretudo mais confortável. Mas nela nunca entrou homem algum a não ser o seu irmão, que ultimamente, desde que se empregara e tornara oficial o noivado, deixara de aparecer. No final do mês, exatamente no último dia do ano, Luísa faria trinta e quatro anos. Uma vida quase de eremita, com exceção do tempo que o irmão passara com ela, e da amizade que fizera com a simpática dona Aurora, a esposa do médico da vila.  Não raras vezes, sentia o peso da solidão, mas que fazer? Nessas alturas, pensava que trocaria, alguns anos da sua vida, pela sensação de se sentir amada de verdade, e pelo sonho de ser mãe. Era uma mulher jovem saudável, e o seu corpo sentia desejo, quando ia à vila e os seus olhos poisavam num atraente corpo masculino, mas isso era normal, ou pelo menos ela pensava que era normal em qualquer mulher.  
Todavia ela não era capaz de procurar satisfazer esse desejo numa sessão de sexo pelo sexo, sem quaisquer outros sentimentos e Jorge tinha destruído a sua confiança nos homens, matando a sua capacidade de amar. 
Tentara-o uma vez, há cinco anos com o seu agente. Ele estava apaixonado, era muito carinhoso e ela sentia-se só. Pensou que podia dar certo, mas na hora da verdade, ela recuou. Não era capaz de se casar e muito menos de se deitar, com um homem, que ela considerava um amigo, quase um irmão.
Ele ficara muito magoado, afastara-se durante uns tempos, mas acabara por entender, e também por encontrar outro amor.  Sacudiu a cabeça, como se quisesse afastar aqueles pensamentos e dirigiu-se à cozinha. Tirou a roupa do desconhecido da máquina de lavar e secar, onde a tinha deixado antes de ir dormir, e examinou-a. A camisa de seda azul,e o colete cinzento,da mesma cor do fato, apenas precisavam ser passados. As calças apresentavam um rasgão quase junto à bainha de uma das pernas. Dobrou os boxers e as meias, e colocou-os de lado em cima de uma cadeira.  Por fim examinou o casaco que embora bem amassado, não apresentava qualquer rasgão.  E felizmente a roupa parecia não tinha encolhido. Procurou na caixa de costura uma tira de tecido autocolante e ligou o ferro de engomar. Com as calças do avesso e o ferro quente colou o tecido ao rasgão. Teria que ficar assim, a costura não era uma das suas habilidades e nunca aprendera a passajar. Depois passou-as a ferro, passou as restantes peças, pendurou o fato num cabide e levou-o para a casa de banho.
Bom, quando o homem se levantasse, podia vestir-se e seguir o seu caminho. Ah! E os sapatos? Bom ainda estavam molhados e enlameados. Com um pano húmido limpou-os e com o secador de cabelo secou-os o melhor que pôde.
Finalmente foi para a cozinha, fez duas torradas e café e sentou-se a tomar o pequeno almoço.
A chuva continuava a cair, embora não tão intensamente como durante a noite, mas em compensação o vento e a trovoada tinham regressado. Acabou de comer, e foi para a sala, acendeu a lareira e sentou-se no cadeirão a ler. Que outra coisa podia fazer com semelhante dia? A luminosidade não dava para pintar no pequeno estúdio que tinha nas traseiras.  Oxalá o tempo melhorasse. Não lhe agradava ter um desconhecido em casa, mas não se sentia com coragem para o mandar embora com semelhante tempo. Continuava intrigada com a razão que o faria andar por aqueles sítios em noite de tal tempestade.
Teria tido algum acidente? Mas se assim fosse não deveria ter ficado no carro, enquanto aguardava por socorro?
Acabou por largar o livro em cuja leitura não conseguia concentrar-se. Ajeitou as achas na lareira e recostou-se no cadeirão fechando os olhos. Acabou por adormecer.



1.8.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE XIII


Mário não tinha ido almoçar. Precisava estudar a carteira de clientes. Riscar algum que tivesse falido, contactar os que tinham diminuído as encomendas, procurar no mercado novos possíveis clientes. Não adiantava, pôr a empresa a produzir muito se não tivesse clientes para escoar o produto.
Apercebeu-se que o pessoal no escritório ao lado, tinha regressado do almoço. Premiu a campainha de chamada da sua secretária. Logo em seguida, bateram à porta e Luísa entrou.
- Chamou, senhor?                                           
- Sim. – Não levantou os olhos do que estava a fazer. – Pode trazer-me uma sandes e um café, por favor?
- Simples, ou mista?
- Mista. E o café bem forte, e sem açúcar.
- Muito bem, senhor. Volto já.
Efetivamente voltou pouco depois com uma bandeja, onde trazia, a sandes pedida, um guardanapo, uma chávena de café e um bule com o aromático líquido, que poisou sobre a secretária.
- Mais alguma coisa, senhor?
O homem levantou a cabeça e olhou para ela. Esboçou um sorriso.
- Sei que é a minha secretária pessoal. Vou precisar muito da sua colaboração, e vamos ter que trabalhar muitas vezes em conjunto. Sou exigente, mas sei reconhecer quem é eficiente. Irrita-me que me esteja a chamar senhor, de minuto a minuto. Isto não quer dizer que seja dado a intimidades com quem trabalha comigo, entendeu?
- Sim … claro – Ia dizer senhor, mas emendou a tempo.
- Muito bem. Pode retirar-se.
Uma hora mais tarde a luz da campainha acendeu-se de novo na secretária de Luísa. Levantou-se e …
- Chamou?
Sim. Pode levar a bandeja. E de seguida pesquise-me as empresas
que vendem os componentes de que precisamos. Não as atuais fornecedoras, mas outras que existam no mercado. Preciso de todos os nomes, e números de telefone aqui, o mais depressa possível. 
Levantou-se.
- Se precisar de mim, estou nos Recursos Humanos.
Foi impressão sua, ou ela sobressaltou-se? Ia jurar que um lampejo de medo perpassou pelo seu olhar.
Luísa saiu pela porta que dava para o escritório, e ele dirigiu-se à outra porta e fez o mesmo


BOA TARDE AMIGOS. AMANHÃ ESTAREI DE NOVO NA CLÍNICA EM LISBOA, PARA SABER O QUE OS MÉDICOS TENCIONAM FAZER COM O MEU OLHO. ESTOU CANSADA, E A  PERDER A ESPERANÇA.

30.7.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE XI




Às onze em ponto, Mário chegou à sala de reuniões. Saudou os empregados com um rápido bom dia, mandou que se sentassem e começou a expor a situação da empresa. Durante quase meia hora, mostrou mapas de produção dos últimos meses, registos das dívidas da empresa, notas das poucas encomendas em carteira, e fez perguntas sobre cada um das secções. Por fim fechou o portátil e disse.
- Agora, já sabem a situação real da “Tudilar”. Neste momento devem estar a pensar.”Se a situação é tão crítica, porque é que ele comprou a empresa”  A verdade é que reerguer esta empresa é um desafio, e eu sempre gostei de desafios. Depois porque acredito que daqui a algum tempo, ela vai ser uma empresa muito maior do que é hoje, talvez até a maior do país. Eu vou fazê-la crescer. A minha dúvida é se os senhores são capazes de me acompanhar.
Percorreu com o olhar um a um dos seus subalternos. Não era um olhar amistoso. Era um olhar duro, impiedoso, como o da ave de rapina, que estuda a sua vítima antes de se lançar sobre ela. Continuou.
- Quero que cada um de vós, estude com rigor a sua secção e me faça um relatório detalhado, sobre o que se pode melhorar, de modo a aumentar a produção, sem aumentar o preço final da produto, nem diminuir, a sua qualidade. Estes dois itens finais são muito importantes, pois são eles que nos vão levar para cima. Também quero que me especifiquem, cada componente da matéria-prima usada em cada produto. Se alguma das máquinas está obsoleta, enfim tudo o que entendam necessário, para que eu possa tomar medidas.  Preciso desse relatório, rápido. Creio que uma semana é suficiente para isso. É esse o vosso prazo. E devo avisá-los que não terei contemplações com falhanços. Só com gente competente à minha volta, posso fazer com que esta empresa cresça mais do que no passado e dar-vos o descanso de não pensarem no  desemprego. Com as encomendas, me preocupo eu e asseguro-vos que não vão faltar.
Olhou o relógio.
- Não tenho mais nada a acrescentar, está na hora do almoço, podem sair. Não esqueçam na próxima quinta-feira, quero os vossos relatórios na minha secretária. Bom trabalho.



Esclarecimento

Antes que os meus prezados leitores desencadeiem uma guerra de palavras, me puxem as orelhas, ou me chamem ignorante, devo esclarecer uns pontos. 
1º O que leem aqui é pura ficção.  Mas mesmo na ficção as histórias para obedecerem ao rigor, devem ser datadas, e esta não o é. Quer isto dizer que o organograma empresarial hoje é muito diferente do que era há trinta, quarenta anos atrás.  No século passado, e não é preciso recuar muito, as empresas de construção de alguma coisa, eram divididas em sectores ou secções, e em cada uma dessas secções havia um chefe, em algumas fábricas também designado por capataz, que recebia e dava contas da sua secção ao gerente. 
Foi baseado num esquema desses que eu elaborei a história, e o Mário, que aqui sendo patrão, atua também como gerente da empresa, reuniu não com os trabalhadores, mas com os chefes de Secção.
2º Se eu situasse esta história em 2019, provavelmente também não utilizaria o organograma empresarial delineado e optaria pela holocracia, por ser revolucionário, e muito mais produtivo, e como devem saber neste sistema, não existem gerentes, todos trabalham em torno do mesmo objectivo.

9.2.17

LONGA TRAVESSIA - PARTE XI




Às onze em ponto, Mário chegou à sala de reuniões. Saudou os empregados com um rápido bom dia, mandou que se sentassem e começou a expôr a situação da empresa. Durante quase meia hora, mostrou mapas de produção dos últimos meses, registos das dívidas da empresa, notas das poucas encomendas em carteira, e fez perguntas sobre cada um das secções. Por fim fechou o portátil e disse.
- Agora, já sabem a situação real da “Tudilar”. Neste momento devem estar a pensar.”Se a situação é tão crítica, porque é que ele comprou a empresa”  A verdade é que reerguer esta empresa é um desafio, e eu sempre gostei de desafios. Depois porque acredito que daqui a algum tempo, ela vai ser uma empresa muito maior do que é hoje, talvez até a maior do país. Eu vou fazê-la crescer. A minha dúvida é se os senhores são capazes de me acompanhar.
Percorreu com o olhar um a um dos seus subalternos. Não era um olhar amistoso. Era um olhar duro, impiedoso, como o da ave de rapina, que estuda a sua vítima antes de se lançar sobre ela. Continuou.
- Quero que cada um de vós, estude com rigor a sua secção e me faça um relatório detalhado, sobre o que se pode melhorar, de modo a aumentar a produção, sem aumentar o preço final da produto, nem diminuir, a sua qualidade. Estes dois itens finais são muito importantes, pois são eles que nos vão levar para cima. Também quero que me especifiquem, cada componente da matéria-prima usada em cada produto. Se alguma das máquinas está obsoleta, enfim tudo o que entendam necessário, para que eu possa tomar medidas.  Preciso desse relatório, rápido. Creio que uma semana é suficiente para isso. É esse o vosso prazo. E devo avisá-los que não terei contemplações com falhanços. Só com gente competente à minha volta, posso fazer com que esta empresa cresça mais do que no passado e dar-vos o descanso de não pensarem no  desemprego. Com as encomendas, me preocupo eu e asseguro-vos que não vão faltar.
Olhou o relógio.
- Não tenho mais nada a acrescentar, está na hora do almoço, podem sair. Não esqueçam na próxima quinta-feira, quero os vossos relatórios na minha secretária. Bom trabalho.



Esclarecimento

Antes que os meus prezados leitores desencadeiem uma guerra de palavras, me puxem as orelhas, ou me chamem ignorante, devo esclarecer uns pontos. 
1º O que leem aqui é pura ficção.  Mas mesmo na ficção as histórias para obedecerem ao rigor, devem ser datadas, e esta não o é. Quer isto dizer que o organograma empresarial hoje é muito diferente do que era há trinta, quarenta anos. No século passado, e não é preciso recuar muito, as empresas de construção de alguma coisa, eram divididas em sectores ou secções, e em cada uma dessas secções havia um chefe, em algumas fábricas também designado por capataz, que recebia e dava contas da sua secção ao gerente. 
Foi baseado num esquema desses que eu elaborei a história, e o Mário, que aqui sendo patrão, atua também como gerente da empresa, reuniu não com os trabalhadores, mas com os chefes de Secção.
2º Se eu situasse esta história em 2017, provavelmente também não utilizaria o organograma empresarial delineado nos vossos comentários e optaria pela holocracia, por ser revolucionário, e muito mais produtivo, e como devem saber neste sistema, não existem gerentes, todos trabalham em torno do mesmo objectivo.
Esclarecidos?