Seguidores

3.7.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE XXXIX


Mais tarde, quando  Natália e Artur chegaram, tornou-se evidente, a sua cumplicidade, um novo brilho no olhar de ambos e  antes que o casal fizesse alguma pergunta, eles deram a notícia com toda a naturalidade. Tinham decidido casar, mas não iam esperar pela cerimónia para assumir a relação. Já estavam juntos, desde aquela noite. O casal felicitou-os e depois separaram-se. Isabel e Natália foram para a cozinha, os homens ficaram na sala com a pequenita.
-Parece que a notícia não lhe agradou muito, Isabel - disse a amiga logo que se encontraram sozinhas.
- Se a Natália está feliz, eu também estou. Talvez tenha ficado um pouco preocupada, vocês mal se conhecem, e tenho receio de que venha a sofrer.
- Não é bem assim. Conheci o Artur no início de Outubro. Eu ia a sair com a  a Matilde, e ele perguntou-me se as conhecia, a si e à sua irmã. Disse-me que trabalhava para um empresário e eu pensei que seria algum daqueles onde a Isabel tinha ido à entrevista de emprego. Falei-lhe de si e da Susana. Só muito mais tarde ele me confessou que estava a investigá-las a pedido do Ricardo. Mas naquela altura simpatizámos logo um com o outro e desde aí ele passou a aparecer no parque sempre que eu lá estava com a Matilde.
-Nunca me disse nada. Pensei que só se tinham conhecido no meu casamento.
-A Isabel andava preocupada com os seus problemas, e eu não sabia as intenções do Artur.
Como sabe, fui casada durante trinta anos, e Deus sabe como gostava do meu marido, e como sofri quando ele morreu. Estou viúva há oito anos, acho  que não se pode dizer que não respeitei a sua  memória. Agora, penso que tenho direito, a aproveitar da melhor maneira possível, o tempo que me resta de vida. A solidão é uma companhia indesejável. É que apesar do meu corpo já não ter as formas bonitas de outrora, dos meus cabelos serem cada vez mais brancos, e das rugas que ao longo dos anos se foram instalando no meu rosto, o meu corpo continua a gostar de sentir o calor de outro corpo junto ao seu, e o meu coração gosta de ter alguém que me dê um abraço, ou simplesmente se sente junto a mim no sofá, para ver um filme, ou ouvir uma música.
 Os mais jovens, pensam que a gente da nossa idade, está velha, já nada nos interessa. Não é verdade. O corpo pode não ter o vigor da mocidade, não ser capaz de paixões intensas, mas o nosso coração é tão capaz de amar ou odiar como qualquer outro.
 E depois, como sabe, nem eu, nem o Artur, temos filhos a quem dar satisfações. Estou quase a  fazer sessenta anos, ele tem sessenta e três. Sabemos bem o que fazemos e o que queremos. E o que queremos, é viver juntos os poucos anos que nos restam, e é isso que estamos a fazer. O casamento será logo que a burocracia o permita, mas até lá não vamos perder tempo. A vida é demasiado curta para que a deixamos desperdiçar, por receio daquilo que os outros possam pensar de nós.
- A Natália tem razão, - disse a jovem abraçando-a. – Desejo-lhe a maior felicidade do mundo. A amiga merece-o.
- Tinha a certeza, que ia entender  - retorquiu retribuindo o abraço. E acrescentou tentando esconder a emoção.
-E agora que já nos entendemos que tal tratar do almoço?
- Já tenho o cabrito com as batatas no forno. Falta cozer os ovos, e preparar o Bacalhau que sobrou ontem para a  “Roupa Velha.”
- Então ponha lá os ovos a cozer e dê-me o Bacalhau que eu vou já prepará-lo.
Pouco depois enquanto os ovos coziam, e Natália tirava as espinhas e a pele ao Bacalhau, Isabel cortava as couves e as batatas conversando sobre as últimas novidades.
-Sabe que a Matilde já chama o Ricardo de pai? Foi ontem à noite pela primeira vez e ele ficou muito emocionado.
- Calculo que sim. Vê-se que gosta muito dela.

13 comentários:

chica disse...

!Que legal e emocionante mesmo ouvir pela primeira vez ser chamado assim...Lindo! bjs, chica

Janita disse...

Nem mais! As pessoas menos jovens também têm direito a ser felizes com alguém a seu lado, que as ame e respeite!
Estou encantada com a união da Natália e do Artur.
Não sei bem porquê, mas há algo que me afasta um pouco do casal mais jovem, de há um tempo a esta parte. Há coisas estranhas que não sei explicar. Enfim...

Tenham todos uma boa noite.
A Elvira que continue em descanso.

noname disse...

Ora, os mais velhos sem mais delongas decidem as suas vidas e pimba, aí vai disto que é uma pressa :)
Os mais novos começaram de modo errado, com uma falsa razão mas, acredito quer se saibam desembrulhar.

Boa noite, Elvira

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Este episodio tocou-me muito, particularmente porque me estou a ver numa situação muito idêntica , e a solidão é realmente difícil de suportar depois de muitos anos de companhia .
Que sejam muito felizes para o resto dos seus anos :
JAFR

Tintinaine disse...

Cabrito assado no forno e roupa velha no dia de Natal. Isso parece uma cópia do que se passa em minha casa.

Maria João Brito de Sousa disse...

Tudo parece encaminhar-se para um final em beleza, neste Presente Inesperado.

Forte abraço, Elvira

Larissa Santos disse...

Estive a ler os anteriores episódios que me faltava estou feliz com o desenvolvimento... Parabéns, Elvira:))

Hoje:-Castelos no ar...arco iris esplendoroso .

Bjos
Votos de uma óptima Quarta-Feira.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Estou a gostar e aproveito para desejar a continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Gaja Maria disse...

Estou a gostar do desenvolvimento da história. Veremos como fica Isabel...

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

O amor não tem idade, sempre é tempo de ser feliz, sentir-se amada e desejada.
Beijos!

Edum@nes disse...

Natália e Artur, foi amor à primeira vista. Sejam com tudo o que o destino lhes deu, muito felizes toda a vida!

Continuação de boa semana amiga Elvira. Um abraço.

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Um episódio muito bonito.
Nunca é tarde para amar e ser feliz!
Um beijinho.
Ailime

teresa dias disse...

Gostei!
A Natália e o Artur merecem ser felizes.
"Roupa Velha", hum, adoro!!!
Beijo.