- É verdade, eu já vi isso num filme.
Antes da partida, Esperança quis dar-lhe, duas coisas. Era tudo o que tinha de valor. Uma medalhinha em ouro que a mãe lhe dera dias antes de morrer, dizendo que era para lhe dar sorte, e a sua virgindade.
Ele aceitou emocionado, e partiu chamando-lhe “a minha mulherzinha”. Ela ficou no cais sonhando com o dia em que fosse ela a embarcar, para ir viver com o seu homem.
No Brasil, o Chico foi bafejado pela sorte. Conheceu um conterrâneo, antigo amigo de seu pai, que já tinha “feito a vida” e que queria regressar. Simpatizou com ele e deixou-lhe um pequeno restaurante, para que o Chico começasse a vida. Ele nem queria acreditar, mas o homem dissera que, como não tinha filhos, podia ajudar o filho do homem, que muitos anos atrás fora seu companheiro de brincadeiras. Ele tinha mais do que precisaria para regressar e viver bem até ao fim dos seus dias.
Quando a vida começa a ser muito fácil, um homem perde-se. O Chico tinha condições agora para chamar a mulher que lá longe, só sonhava com esse dia. Mas não o fez. Quis mais. “Quando eu for rico, a chamarei e lhe darei uma vida de rainha” pensava.
Trabalhou dia e noite, rodeou-se de alguns bons colaboradores, e em pouco tempo o restaurante, era ampliado. Mais tarde comprou outro e depois outro.
Então decidiu aventurar-se noutros negócios, e fez sociedade com um fazendeiro, que possuía também uma fábrica de queijos.
O sócio, um viúvo idoso, só tinha uma filha. Demasiado mimada, e com muito dinheiro. Laura, a filha do sócio, engraçou com o Chico e tentou seduzi-lo. Se ele se deixou seduzir pela beleza da jovem, ou pela riqueza que ela herdaria como filha única, não sabemos. Mas que o Chico esqueceu a promessa feita a Esperança e casou com Laura, foi um facto.