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11.9.18

HISTÓRIA DE ANTIGAMENTE - A FROTA BRANCA



O Maria da Glória, afundado por um submarino alemão. Foto Daqui


Durante a II Guerra Mundial, tornou-se perigoso ir à pesca por causa dos submarinos alemães que não davam tréguas aos barcos. Portugal era então um País neutral, mas não podia prescindir de uma das suas fontes de alimentação. A pesca do bacalhau. Mas também não podia permitir à sua frota a sorte dos veleiros "Delães" e "Maria da Glória"ambos afundados por submarinos alemães em 1942. Se a tripulação do Delães, se salvou, o mesmo não aconteceu com a tripulação do Maria da Gloria, que dos 44 tripulantes distribuídos pelos pequenos dóris, só encontraram 8. Os restantes 36 foram engolidos pelo mar. Para que o mesmo não voltasse a acontecer, o governo português conseguiu negociar com as forças do Eixo, a  autorização para mandar os seus 45 barcos de pesca bacalhoeira em dois comboios, de 20 e tal barcos cada um, comandados por dois oficiais de marinha embarcados respectivamente em dois navios de apoio, e para  evitar confusões decidiu-se ainda que todos os barcos seriam pintados de branco,e levariam o pavilhão nacional bem à vista. Até aí os barcos tinham cores variadas consoante os armadores a que pertenciam.  Este sistema de comboios durou até 1945 e ficou conhecido como "A Frota Branca."
Mas como se fazia a pesca do bacalhau nos bancos da Terra Nova e Gronelândia?
 Para rentabilizar a pesca, esta era feita por vários pequenos barcos cada um com vários pescadores,   que se situavam à volta do barco-mãe. 
 Mais tarde apareceram os pequenos barcos de fundo chato, "os dóris" que se empilhavam e ocupavam assim muito menos espaço. Quando chegavam ao local da pesca, o comandante mandava arriar os dóris e cada pescador partia a fazer a sua pesca. Com o aparecimento dos "dóris" cada barco passou a ter apenas um pescador, tornando-se numa atividade completamente solitária.



Foto da net

Era um trabalho muito duro e perigoso. Naquela zona os nevoeiros e o mau tempo são frequentes.
Inicialmente pescava-se o bacalhau com" zagaia," uma peça de chumbo com dois ganchos. Mais tarde apareceram os "trol" que mais não eram do que linhas com anzóis, que pescavam vários peixes duma vez.
Quando o bacalhau chegava a bordo, era -lhe separada a cabeça que depois de escalada era salgada. Chamamos-lhes "caras de bacalhau". Separavam-se os fígados e os buchos. Os fígados eram levados para uma caldeira de água a ferver, para fazerem o óleo de fígado de bacalhau.

Foto da net

Depois, os escaladores abriam o bacalhau da cabeça ao rabo. Mandavam-no então para o porão, onde os salgadores procediam á salga, e ao empilhamento do bacalhau. Esta era uma tarefa extremamente dura. O bacalhau era salgado e empilhado em camadas sucessivas até atingir o tecto do porão.
Como sabemos, o grupo Bensaúde, tinha adquirido  em 1891 a Azinheira Velha, na Telha, que pela sua localização privilegiada já tinha sido utilizada como feitoria, para as naus dos descobrimentos, e aí instalara uma das maiores secas de bacalhau do País, com modernas instalações para tratar do bacalhau em terra, sob o nome de Parceria Geral de Pescarias.
A Seca da Azinheira Velha, era composta por uma larga extensão de mesas compostas por cimento e fileiras de arame, onde o bacalhau era estendido ao sol para secar. Por um armazém enorme, com várias tinas, espécie de tanque, onde se lavava o bacalhau, três armazéns para guardar o bacalhau, enquanto não estava curado para enfardar, um armazém de enfardamento, um armazém frigorífico, para guardar o bacalhau quando era descarregado dos navios, e um armazém estufa para secar o bacalhau quando o inverno era muito rigoroso e não se podia secar ao ar livre.
Tinha ainda os escritórios, um armazém de lenha, uma oficina mecânica, um posto médico, e um posto de guarda-fiscal e um moinho de maré.


Foto minha
Havia mais, mas isso fica para a próxima

20.8.18

FOLHA EM BRANCO - PARTE XXI

Depois do almoço, foram até à baixa. Passearam um pouco pela Avenida das Descobertas,  e sentaram -se na muralha que separava a avenida da ribeira de Bensafrim, que ali vinha desaguar no oceano. O verão terminara há muito, mas o outono mantinha-se ameno, pelo menos durante o dia, que à noite sempre se levantava vento, e fazia frio. Havia ainda muitos turistas em Lagos, e os barcos rumo à marina, ainda eram frequentes. Falaram de coisas sem importância, ou melhor, Miguel falou, a jovem limitava-se a ouvir, por vezes atenta, outras nem isso.
Por vezes  Miguel desesperava, e quase tinha vontade de desistir. Ir à sua vida e deixar a jovem ali perdida nos seus labirintos interiores. Mas logo se recriminava. Ele nunca fora homem de desistir de nada, não era agora que ia começar a sê-lo. Outras vezes recriminava-se  por não ter  naquele dia, quando saíram da falésia, acompanhado a jovem à polícia e ter dado  parte do acontecido. Mas logo se desculpabilizava, com o pensamento de que o facto de lhe ter salvo a vida, lhe dava a responsabilidade de a integrar nela. E ela só podia voltar verdadeiramente à vida quando recuperasse a memória. 
Levantou-se, e estendeu a mão à jovem.
-Vamos Teresa? São horas do lanche. E ainda precisamos fazer umas compras.
Depois do lanche, entraram numa papelaria. Miguel ia comprar um caderno de desenho e um lápis para que a jovem fizesse o que o médico lhe recomendara. Ela porém estacou à entrada, onde estavam algumas revistas expostas. Com uma breve mirada, Miguel viu que se tratava de revistas sem nada se interessante, revistas de programação televisiva, e de palermices sobre os artistas, as revistas habitualmente apelidadas de cor de rosa.
Depois de efectuada a compra, dirigiu-se à saída onde a jovem continuava na mesma contemplação.
Intrigado perguntou:
- O que há de tão interessante, nessas revistas?
- Não sei. Gosto desse, - e apontou a capa de uma pequena revista, com uma conhecida artista de novelas. Miguel olhou e leu em voz alta.
-Mariana. É isso? O nome de Mariana, diz-lhe alguma coisa?- Perguntou esperançado.
-Não sei,- respondeu ela confusa. Mas gosto dele.
- Pois a partir de hoje, será Mariana. E quem sabe não é esse o seu verdadeiro nome?





14.7.18

O DIREITO À VERDADE - XXVIII




“Senhor, vós sabeis que eu não sei orar. Nunca ninguém me ensinou, como dirigir-me a Ti, mas sempre ouvi que Tu sabes o que vai nos nossos corações. Acredito que assim seja, afinal somos obra Tua. 
Assim sendo, sabes o que a minha mãe fez. Quero dizer-Te que lhe perdoei, e não lhe guardo rancor. Não Sejas muito severo com ela, que já expiou na terra o seu pecado, porque como Sabes, nunca foi feliz.
Senhor, quero agradecer-Te pelo tio que me deste, e pedir- Te que alivias a sua tristeza e a sua dor. E acreditando que Jorge Noronha, é o meu pai, também Te quero dar graças por tê-lo encontrado e por ele ser a pessoa  integra e digna que é. Obrigado meu Deus.
Senhor; quero ainda falar-Te de um homem que conheci há dias e que não me sai do pensamento. Nunca tinha conhecido ninguém que me impressionasse tanto. Como decerto não vou voltar a vê-lo, Faz com que ele seja feliz e que eu o esqueça. Obrigado, Senhor.”
Ficou ainda uns momentos em silêncio olhando a imagem do Sagrado Coração de Jesus, como se esperasse ver algum sinal de que Deus a escutara. Depois persignou-se e abandonou o local. Desceu a escadaria, e olhou o largo e a rua que se seguia. Ao contrário de quando chegara, nos últimos dias de Agosto, em que a cidade fervilhava de gente a toda a hora, agora, terminadas as férias os emigrantes regressaram aos países onde ganhavam a vida, não se via naquele domingo ninguém nas ruas. É verdade que Setembro ia bastante quente, mas ainda assim uma semana antes havia muita gente pelas ruas.
Ali mesmo ao pé da Igreja, na rua do Coval, estava a Casa da Ribeira, um Museu Etnográfico, um espaço de memórias de outros tempos, outras gentes, outros saberes. Helena gostava muito de artesanato, não ia deixar de ver, tanto mais que a visita era gratuita. Encantou-se com as técnicas usadas na fiação e tecelagem do linho. Conversou com a artesã, que estava a tecer uma manta de trapos, num enorme tear manual. Viu como a peça que ela tecia ia crescendo, viu as fotos dos antigos barcos que traziam os romeiros para a Igreja de Nª Srª da Conceição, de onde ela saíra minutos antes. Aprendeu toda a técnica de trabalhar a lã desde a tosquia, até à fiação, passando pela lavagem, secagem, e cardação. Viu as almofadas com o pique e os bilros onde as rendeiras faziam a bonita e delicada renda, como demonstravam as fotos na parede, e também sobre uma mesa algumas rendas já feitas.
 Encantou-se também com os trabalhos de olaria expostos, e pelas fotos viu como era trabalhado o barro, a sua cozedura e todo o processo até finalizar a peça. E ainda belos trabalhos de cestaria, em vários objetos expostos.
Foram quase duas horas em que se esqueceu de tudo, menos do que via e aprendia. Como o Museu tinha uma secção de venda ao público, ela adquiriu uma miniatura de uma estatueta em olaria, que lhe chamara a atenção, como recordação daquela visita.



14.3.18

A TRAIÇÃO - PARTE XIX




Uma hora mais tarde passeavam junto à ria. Não como um casal, mas como dois amigos conversando serenamente. Como se ambos tivessem feito um pacto secreto de passar aquele fim-de-semana em paz e harmonia. A jovem que não conhecia a cidade estava encantada, e o marido estava contente por vê-la feliz. No seu coração, morava a esperança de que, se ela se sentisse feliz, não voltaria a abandoná-lo, quando a sua mãe já estivesse curada.
- Queres dar um passeio pela ria?- Perguntou
 Ela fitou-o. Não precisou responder, os seus olhos eram demasiado expressivos.
Ele pegou-lhe pela mão e puxou-a para o cais, mesmo em frente do belíssimo edifício do Museu Arte Nova, onde se encontravam os moliceiros, uns barcos muito bonitos, cheios de cor, que outrora eram utilizados na apanha do moliço.(1)  Com as obras de reconstrução da ria, o moliço quase desapareceu, e o pouco que restou é essencial à vida da mesma. Os barcos foram então adaptados ao turismo, e esses passeios são agora o sustento dos antigos apanhadores de moliço.
Entraram num dos barcos, já com meia dúzia de turistas, prontos para o passeio. Embalada pela beleza da paisagem, ou talvez porque tenha reparado no olhar intenso com que uma mulher atraente, brindara o seu marido, Odete encostou a cabeça no peito dele, que respondeu apertando um pouco o seu corpo de encontro ao dela.
Durante o passeio, ao mesmo tempo que admiravam da ria, o belo casario que se estende ao longo do canal, todos eles, foram brindados com a prova das raivas, um biscoito fino e crocante, com sabor a canela, enrolado à mão, uma especialidade da terra,  e uma tentação dos deuses.
Quando o moliceiro regressou ao cais de partida, ambos sentiram que o passeio tinha sido demasiado curto. Era como se tivessem voltado atrás no tempo à época em que eram um casal que se amava e respirava felicidade.
Odete estava entusiasmada, queria ver tudo, e João logo prometeu que voltariam depois do jantar. Era verão as noites estavam quentes, apetecia passear, e depois, à noite, a ria transformava-se num imenso espelho, onde a margem se reflete, exibindo vaidosa luzes e sombras. Porém agora eram horas de regressar. As duas idosas, eram rigorosas com a hora do jantar.


1) Moliço, nome dado ao conjunto de algas e outras plantas marinhas, que era depois usado para adubar as terras.


25.11.16

A TI ESPERANÇA DOS OLHOS VERDES PARTE I


- Cinco cartas dez tostões!        
Todas as manhãs ao desembarcar no Terreiro do Paço era sempre aquele, o primeiro pregão que ouvia. Procurei com o olhar a dona do pregão. Não consegui vê-la. Mas sabia que ela lá estava como de costume. A sua voz fazia-se ouvir entre o burburinho dos que todas as manhãs faziam a travessia do Tejo, nos barcos da CP. Gente que morava na progressiva vila do Barreiro, mas que trabalhava em Lisboa, como eu.
Estávamos a meio dos anos sessenta, e eu que nascera no Barreiro, tinha começado a trabalhar em Lisboa, pelo que de Verão ou Inverno fazia aquela travessia, todos os dias excepto aos fins-de-semana. Trinta e cinco minutos em barcos que tinham o nome de alguns distritos de Portugal. Durante a travessia, encantava-me olhar o Cristo-Rei- Lembrava-me da primeira vez que o vimos da nossa casa, à noite iluminado. Era ainda uma miúda, mas de lá, na outra margem do rio, era tão pequenino que mais parecia um brinquedo. E agora, uns anos depois, tinha oportunidade de vê-lo um pouco mais de perto. Até me ter empregado em Lisboa, se vinha à cidade, era para ir a algum hospital, e nada conhecia da sua beleza, mas encantava-me olhar para as grandes montras, onde tudo era novo e maravilhoso para mim. Confesso que nessa altura, não eram o belíssimo arco da Rua Augusta, ou a estátua do D. José, cercado de automóveis por todo o lado que me encantavam. Mas os maravilhosos vestidos e belos sapatos, que enfeitavam as montras que me faziam sonhar.
Às vezes imaginava-me vestida e calçada assim, e sonhava que era uma qualquer princesa de um reino imaginário. Mas logo a minha mãe, me puxava por um braço, trazendo-me de volta à terra.
Porém o tempo é uma máquina inexorável, que não para nunca, e os anos foram passando, o corpo foi-se transformando, e o primeiro trabalho no Armazém da Lenha, seguido do outro na Seca do Bacalhau, acabou com grande parte do meu romantismo, mostrando-me a realidade nua e crua da vida do povo nessa década de sessenta.
Bom, a falar verdade eu sempre vivi dentro dessa realidade, mas a pouca idade, e os sonhos que acalentava, faziam com que quase ignorasse a fome, e os pés tantas vezes descalços.   
E então cresci. Agora, com vinte anos, e depois da passagem pelo trabalho numa fábrica de cortiça, tinha conseguido arranjar trabalho num laboratório de produtos farmacêuticos em Lisboa. Por isso, todas as manhãs fazia aquela travessia, a caminho do trabalho. Outra coisa que me espantava, era a beleza da ponte Oliveira Salazar, inaugurada no Verão anterior. Quando a olhava do meio do rio, parecia-me ver um enorme carreiro cheio de formigas de várias cores que se deslocavam rapidamente no seu tabuleiro.
As duas fotos são da net, não lhes vi nenhum nome de autor.



Amigos, aqui vai mais uma história. Bem mais pequena que a anterior, para não perderem o fio à meada. Esta história só não é bem uma reposição, porque entretanto foi um pouco mais trabalhada do que na primeira vez que a publiquei aqui há uns cinco ou seis anos, não mudou de direção, pelo que espero que no final, não me desanquem.

12.4.16

MANEL DA LENHA -PARTE XLVIII


                                               foto do google


Em Agosto toma posse o novo governo de Salazar que haveria de ser o último do ditador, pois poucos dias depois cai de uma cadeira, no forte de Santo António da Barra no Estoril e isso é o início do fim de Salazar.
No princípio de Setembro, dá os primeiros sinais de que mentalmente não está bem, e dias depois é operado de urgência ao cérebro. As notícias dizem que tudo está bem mas a 16 desse mesmo mês, sofre uma trombose.
No dia seguinte há reunião de Conselho de Estado, onde se discute a nomeação imediata de um novo Presidente do Conselho, e Américo Thomaz inicia conversações que terminam com a nomeação de Marcelo Caetano para o lugar.
Enchem-se de esperanças os corações dos trabalhadores. Confiam em que vai haver mudanças e a vida vai melhorar para o povo. 
Toma posse no dia 27 desse mesmo mês de Setembro mas para quem esperava uma mudança de política, foi uma decepção. Marcelo opta pela continuidade e apenas muda dois ou três ministros.
E chegou Outubro, voltaram os barcos carregados de bacalhau, voltaram do norte os amigos do Manuel para a Safra.
Por essa altura, ele andava triste pois o seu irmão João estava cada vez pior da asma que o acompanhara toda a vida. Como já referi várias vezes, João fora sempre um apoio moral, e em alguns casos de maior aflição, também material, para o Manuel. A irmã Laurinda a viver no Fogueteiro, raramente vinha à Seca, ver os irmãos, e Manuel, talvez pela diferença de idades, ou por ser rapariga, nunca tivera uma grande ligação afectiva à irmã.
Dias depois, o ti Abel trouxe uma má notícia para o Manuel. Uma carta do cunhado, dizia-lhe que o filho, que tinha ido para a guerra em Angola, zona de Cabinda, sofrera uma emboscada, tinha uma bala na coluna, estava no hospital de Luanda à espera de ser evacuado para Lisboa, onde iria ser operado.