Quem conheceu o Terreiro do Paço naquela época, sabe que em frente à estação fluvial que ligava Lisboa ao Barreiro, havia ali havia um verdadeiro mercado ambulante.
Mulheres e homens vendiam bananas, amendoins, bolos, lenços, roupas de bebé, bonecas, brincos, pentes, braceletes, rádios, óculos e muito mais. Os táxis, chegavam à porta da estação por uma rua, depois havia um passeio largo, outra rua por onde os carros saíam outro passeio e só depois a estrada principal junto aos edifícios ministeriais. Por esses passeios se amontavam vendedores ambulantes.
E então por entre o burburinho, ouvi de novo:
- Cinco cartas dez tostões!
Olhei e vi-a. Era uma mulherzinha que talvez não tivesse mais de quarenta anos, embora aparentasse muitos mais. Mas é sempre difícil, saber ao certo a idade das pessoas, para quem a vida foi madrasta. Envelhecem mais depressa, dos trabalhos e provações, do que com o passar dos anos.
Franzina, de pele morena. Poderia ter sido muito bonita na juventude, mas já não lhe restava nada dessa beleza. Seria até considerada uma mulher vulgar, não foram os seus maravilhosos olhos verdes, de brilho intenso, como se neles se concentrasse toda a juventude, que o seu corpo deixara para trás há muito.
Fiquei fascinada com aqueles olhos. Reparei como olhava repetidas vezes para o mar, porém não podia ficar ali mais tempo, pois estava na hora de ir para o trabalho.
Desde que a vi a primeira vez, não mais pude deixar de a procurar com o olhar, sempre que ouvia o seu pregão.
E então imaginava bonitas histórias, em que ela era a protagonista. Foi assim que um dia me apercebi que os olhos verdes da mulher ficavam às vezes de um tom azulado, tal como o mar em dias de calmaria.
E então imaginava bonitas histórias, em que ela era a protagonista. Foi assim que um dia me apercebi que os olhos verdes da mulher ficavam às vezes de um tom azulado, tal como o mar em dias de calmaria.
Chegou o mês de Agosto, e como em todos os anos, o laboratório encerrou para férias. Decidi passá-las em Lisboa em casa dos meus tios, já que não dispunha de verba, nem autorização dos pais para ir para qualquer lugar sozinha. Com os meus tios, gozava de ampla liberdade, desde que não tivesse namorado. Eu tinha-o, mas ele estava em África numa comissão, por isso eles me deixaram ficar lá em casa. Era a oportunidade de eu conhecer a cidade que me encantava desde menina. Como tinha passe, não parava em casa, sempre desejosa de novas descobertas. E foi nessa altura que me ocorreu descobrir, se as minhas fantasias a respeito da vendedora de cartas tinham algum fundamento. Tomada a decisão, logo a pus em prática.