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19.8.20

CILADAS DA VIDA - PARTE XXI



Teresa levantou-se cedo nessa manhã, embora não tão cedo como antes de ficar grávida, quando chegava à pastelaria antes das cinco da manhã.
No dia anterior, quando chegara a casa extremamente nervosa por todas as emoções que sofrera desde o momento que entrara no Centro Médico até à altura em que abandonou o parque da TecnInformática, depois da longa conversa com o empresário, tomara um duche, vestira um curto pijama de algodão e bebera um copo de leite. De seguida estendera-se no sofá para um curto descanso e adormecera. Quando acordou, eram quase dez da noite.
Embora sem fome, mas pensando no bebé fez uma refeição frugal, e foi para a cama. Porém, ou por causa das horas que tinha dormido anteriormente, ou porque só naquele momento conseguisse racionalizar o que lhe acontecera, levou horas para adormecer, e o pouco tempo dormido foi cheio de pesadelos, em que se via a ter o seu filho e quando depois do nascimento pedia que lho mostrassem, a enfermeira ria-se e dizia-lhe que o bebé não era seu, e que já o entregara ao pai.
Acordou transpirada e aflita. Tomou o duche, secou os cabelos, que prendeu numa trança e vestiu-se. Correu a persiana e abriu a janela para arejar o quarto. O céu mostrava um azul brilhante e sem nuvens e o ar era ameno.
-Outro dia de calor insuportável – murmurou
Olhou o relógio. Seis e um quarto e o sol já nascera. Os longos dias de Verão, eram a sua paixão, embora o calor infernal dos últimos dias a fizessem recordar com saudade os meses amenos da Primavera.
Enquanto tomava o pequeno almoço, recordou mais uma vez, a conversa com o empresário. Surpreendera-a. Depois de tudo o que lhe tinham dito, julgara-o um homem arrogante e convencido, inflexível na sua decisão de ir para a justiça e mentalmente tentara preparar-se para um duro confronto, a fim de conseguir convencê-lo a não prosseguir as investigações e a ida ao tribunal, porém fora muito mais fácil do que pensara.
Apesar da dureza latente no empresário, e de alguns avisos da sua parte, ele mostrara-se bem mais compreensivo e confiante do que ela esperara. Todavia não podia esquecer que os dois eram pais daquela criança e os dois a queriam, pelo que teriam de tomar uma decisão o mais justa possível, e essa decisão iria fazer com que os dois tivessem de conviver. Não era de modo algum, o futuro que sonhara, quando decidira ser mãe daquela forma.
Acabou o pequeno almoço, e depois de uma passagem pela casa de banho, para lavar os dentes, fez a cama, trocou os chinelos por umas práticas sandálias sem salto, fechou a janela, correu a persiana para evitar o aquecimento do quarto, e saiu. Olhou o relógio. Quase sete e meia. A Inês só chegaria perto das nove, mas ela tinha que verificar alguns documentos antes. Pegou nas chaves do apartamento e saiu. Como a pastelaria ficava no passeio contrário, a menos de cem metros de distância do apartamento, nunca usava o carro.
Sabia que ia sentir saudades não só do trabalho na pastelaria, mas também do convívio com os clientes. Salvo um ou outro turista, a esmagadora clientela era composta por moradores da avenida e ruas adjacentes, que ela conhecia desde os tempos em que era apenas mais uma empregada.  Eram muito mais do que clientes; eram amigos a quem ela tratava pelo nome.



16 comentários:

Janita disse...

Ansiedade e inquietação, não são emoções desejáveis durante os primeiros meses de gravidez. Esperemos que a futura mamã se acalme.

Boa noite e um abraço.

noname disse...

Boa noite, Elvira

Isabel disse...

Minha querida Elvira
A adorar o desenrolar da história
Continuação de bom mês de Agosto

Pedro Coimbra disse...

Deixar para trás uma vida para começar outra.
Conheço a sensação.
Abraço

Tintinaine disse...

Vai correr tudo bem, como diz o optimista!

Alexandra disse...

Uma noite mal dormida e nada recomendável. Adiante! :)

Abraço e saúde, Elvira.

Maria João Brito de Sousa disse...

Teresa está a sofrer por antecipação, mas... neste momento, metade dela é exactamente uma vida antecipada... é quase impossível exigir objectividade a uma gestante. Todas ou quase todas nós, mulheres, ficamos emocionalmente vulneráveis quando estamos grávidas...

Forte abraço, Elvira.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Mais um belo capitulo, gostei.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

chica disse...

Ela tem razão pra angústia e ansiedade sentir...Vamos acompanhando!beijos, tudo de bom,chica

Artes Ideias e Dicas disse...

Olá boa tarde...aguardamos o nascimento do bébé e por um final feliz.)

Edum@nes disse...

Após o diálogo que teve frente a frente com o empresário.Teresa parece estar mais esperançosa/confiante. Quanto ao futuro da criança, quando nascer. Se até lá não houver alguma, desagradável, reviravolta.

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

Cidália Ferreira disse...

Muito bom este episódio! :))
🌹🌼
.
Uma luz que serena a minha alma.
.
Beijo e uma excelente noite!

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Decerto Teresa anda angustiada, porque pensa que ainda poderá passar por momentos difíceis.
Espero que não e que ambos se entendam sempre o melhor possível.
Beijinhos,
Ailime

teresa dias disse...

Ora bem, leitura retomada desta história bem contada.
Beijo.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Muita ansiedade vai acompanhar toda gravidez, mas ela supera tudo isso.
Abraços fraternos!

João Santana Pinto disse...

E entre a evolução natural da história é-nos colocado mais um pequeno tema, muito usual na vida real, a relação cliente habitual que muitas das vezes parece ganhar características familiares.